O eleitorado de Campina Grande entendeu que a polarização é melhor do que a unanimidade. Ele vê como positivo ter dois grupos políticos disputando a liderança dos poderes executivo e legislativo da municipalidade. Se só um tiver a hegemonia política pode ter a sensação de que nada precisa fazer para ter a necessária legitimidade que torna a governabilidade factível.
Os grupos que protagonizam a disputa pela prefeitura estão sendo instados a entender que precisam “mostrar serviço” sob pena de perderem apoios. A população constatou que quanto mais dividida mais eles terão que trabalhar em prol da comunidade. Entendeu que ter os governos do estado e da cidade disputando, através da atuação, sua preferência é algo que só a beneficia.
Essa racionalidade eleitoral contrasta (mas não nega) o comportamento apaixonado da população campinense nos períodos eleitorais. Claro, ele é bem mais conseqüência da cultura política local do que algo demandado pelos atores e partidos políticos.
Campina Grande é, hoje, o proscênio da política eleitoral paraibana. Uma coisa é o grupo liderado pelo governador Cássio Cunha Lima estar, também, à frente do segundo colégio eleitoral do estado e outra é o grupo que lhe faz oposição ter a primazia em Campina. São cenários diferentes, com correlações de forças alteradas. E em João Pessoa, o maior colégio eleitoral estadual, Ricardo Coutinho firmou-se com uma vitória inquestionável e pode ser o fiel da balança nos próximos embates. Também é bom não desconsiderar que as relações políticas endógenas do grupo liderado pelo senador José Maranhão sofreram abalos – este não se fez presente fisicamente à campanha do prefeito Veneziano e ainda teve a defenestração do ex-senador Ney Suassuna.
Agora temos duas pesquisas que corroboram com a análise e reforçam as características desta eleição: a exacerbada polarização e a incerteza quanto ao resultado.
Pela pesquisa IBOPE temos um sintomático empate. O prefeito Veneziano Vital e o deputado Rômulo Gouveia têm os mesmos 47%. Os indecisos e os votos branco/nulo são de 3%. A margem de erro, de 4 pontos percentuais, não esclarece nada, pois os dois ficam entre 43% e 51%. Na pesquisa CONSULT temos uma diminuta diferença e uma novidade. Pela primeira vez, desde o início da campanha, Rômulo aparece na frente com 50,25% e Veneziano o segue de perto com 49,7% dos votos válidos. No entanto, a margem de erro de 3,3% mantém a incerteza.
A quem quiser desacreditar dessas aferições, recordo que elas são coerentes com o resultado do 1° turno, quando Veneziano teve 106.844 contra 104.440 votos de Rômulo. Isso corresponde a 48,88% e 47,78% dos votos válidos respectivamente.
A pesquisa CONSULT indica onde este complexo jogo poderá ser desempatado. 86,7% responderam que não mudam seu voto. 6,9% dos entrevistados (que declararam ter candidato) admitiram mudar de opinião e 3,1% disseram que, dependendo das propostas, podem mudar de idéia. É por aí que o enigma se decifra. Se somarmos o percentual dos que podem mudar de opinião com a diferença entre os candidatos, então chegamos a um valor que pode sim decidir a eleição. Simples assim, pois essa eleição será decidida nos mínimos detalhes – essa é a única certeza.
Apresentando-se repartido ao meio, o eleitorado campinense oferece aos atores políticos envolvidos na disputa uma sábia lição – a unanimidade pode até ser mais cômoda aos grupos políticos, mas não satisfaz aos interesses e necessidades de grande parte da população.
Esta análise não deve ser transposta para outros processos eleitorais em outras cidades brasileiras. Eleições locais têm características e variáveis próprias que devem ser respeitadas. Aguardarei o fim das eleições para analisar o mapa político-eleitoral brasileiro na perspectiva das eleições de 2010.
Mas, alguma coisa pode ser adiantada:
PT e PMDB deverão ser os grandes vencedores no G79, o universo composto por 26 capitais e 53 municípios com mais de 200 mil eleitores. Isso representa 46,8 milhões ou 36,4% dos eleitores do país. É o espectro que pesará nas articulações visando às eleições de 201
O PT ganhou, no 1° turno, em 13 cidades e poderá vencer em mais 7. Isso significa governar algo em torno de 8,6 milhões de eleitores. O PMDB venceu em 9 cidades e está na disputa em 12. Pode governar cerca de 15 milhões.
O PSDB ganhou em 9 municípios no 1° turno, está na disputa em 10, mas parece só ter chances de vencer em 2. Se for assim, governará 5,1 milhões eleitores, pouco para quem em 2004 tinha 17 prefeituras com cerca de 14 milhões de eleitores.
O DEM aposta na vitória de Kassab em São Paulo, para compensar o pífio desempenho que teve no 1° turno – ganhou em apenas 4 cidades do G79, o que representa 1,2 milhões de eleitores. Se ganhar em São Paulo, passará para 9,4 milhões de eleitores – algo nada desprezível.
O PV poderá ser uma grande surpresa. Venceu, no 1° turno em Natal, e pode ganhar no Rio de Janeiro – obtendo a governança sobre algo em torno de 4,8 milhões de eleitores.
Outubro/2008.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário