Eleições possuem muitos ingredientes e um deles é a incerteza. Um pleito só é democrático se seus atores políticos não tiverem certezas quanto ao resultado final. Referia-me a isso quando afirmava que na disputa pela prefeitura de Campina Grande cautela é a palavra de ordem. Mesmo quando ponderava sobre as chances de Veneziano vencer no 1° turno, alvitrava que proclamar o resultado ex-antes facto é temerário.
Outro ingrediente, fruto da incerteza, é a surpresa. Veja-se que, em São Paulo, Kassab tem muitos pontos sobre Marta na disputa do 2º turno; e que Gabeira disputa, com Eduardo Paes, o 2° turno no Rio de Janeiro. Ontem, azarões, hoje, podem ganhar.
Foi surpreendente a votação que Érico Miranda teve no 1° turno – 2,52% dos votos válidos. As pesquisas não atribuíam mais do que 1 ponto percentual a ele. Se a diferença entre Veneziano e o Rômulo foi de 2.395 votos e Érico teve 5.516 sufrágios, claro está que este capital eleitoral influiu para levar a disputa para o 2° turno.
Devemos analisar os condicionantes dessa votação, pois não estou convencido que o discurso da neutralidade de Érico tenha persuadido tantos eleitores assim, até porque ele quase não apresentou propostas. Se o presidente Lula, do alto de sua popularidade, tem dificuldades em transferir votos o que dirá Érico e Sizenando?
Érico é uma incógnita. Suas declarações são contraditórias. Afirmou que orientaria seus eleitores a anularem o voto, depois que escolheria uma das duas candidaturas, mas que não revelaria qual, e por fim disse que seu partido (PHS) deixaria seus filiados livres para escolherem. Não se estranhe se ele mudar mais uma vez de opinião, consciente do papel que teve e tem nesta eleição.
Sizenando demonstrava que no 2° turno iria defender o voto nulo. Mas, seu partido (PSOL) decidiu liberar seus filiados para escolherem em quem votar. É a ambigüidade costumeira de quem não tem um projeto político-eleitoral bem definido.
Somando os votos de Rômulo, Erico e Sizenando temos 111.758 votos. Se subtrairmos desse total a votação de Veneziano (106.844) obteremos 4.914 votos. Esse é o norte, i.e., esta eleição deverá ter uma diferença máxima de 5.000 votos. Pouquíssimo, se considerarmos que o universo eleitoral de Campina Grande é composto de 266.515 pessoas e que no 1° turno 87,09% compareceram às urnas.
Em prol do 2° turno pesou, também, as denúncias do Ministério Público sobre desvios de verbas da prefeitura para contas de campanha. Já houve quem comparasse a atual situação eleitoral de Campina Grande com aquela que levou Alckmin a disputar o 2° turno com Lula em 2006. Ali a população preferiu adiar a decisão para o 2° turno, não para dar chances a Alckmin, mas para que Lula se explicasse melhor. Não parece ser este o caso de Campina Grande, pois temos uma polarização que se acirra a cada nova eleição. Tivéssemos um 3° turno e esse estado de coisas continuaria.
Enquanto esperamos novas pesquisas, vejamos duas aferições sobre a disputa no 2° turno. Lembrando que elas não previam a surpresa do fator Érico e que são, como toda pesquisa, retratos de um dado momento.
A primeira, do Instituto CONSULT (19/8), trazia Veneziano com 46,3%, Rômulo com 35,9%, os indecisos com 9,2% e os brancos/nulos com 8,5%. Já a segunda, do IBOPE (12/09), atribuía 50% a Veneziano, 42% a Rômulo, 4% aos indecisos e 5% aos brancos/nulos. Numa a diferença pró-Veneziano era de 10,4% e na outra de 8%. Essas aferições eram coerentes com os números que iam aparecendo sobre a disputa do 1° turno. Agora, temos outro jogo. Os atores políticos trazem novas estratégias, o enfrentamento é aberto e qualquer diferença decidirá o jogo.
A luta se dá em torno de um filão diminuto de votos. Veneziano e Rômulo correm atrás dos eleitores de Érico e de Sizenando e dos indecisos, i.e., se batem por alguma coisa em torno de 10.000 votos, já que existe uma forte tendência do eleitor que anulou ou votou em branco no 1° turno de repetir a ação no 2°. Também, e devido à polarização, é pouco provável que um eleitor que votou em Veneziano no 1° turno, venha a votar em Rômulo no 2°, sendo a recíproca absolutamente verdadeira.
Prudentemente, a diferença de pouco mais de 2.000 votos não pode ser subestimada, muito menos aquela de cerca de 800 votos da eleição de 2004. Elas são referências para desarmar os espíritos mais exaltados.
Conscientemente, é preciso aceitar que o eleitorado campinense optou pela polarização, pois vê nisso algo positivo no sentido que oferece opções ao invés da sempre perigosa unanimidade.
Outubro/2008.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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