Da Série "Um artigo para chamar de meu" - Publicado em junho 2009 no www.paraibaonline.com.br
Tivemos as estréias do Concorde, do Boeing 747, da ArpaNet, embrião da Internet, e se isolou um gene. Nada como Neil Armstrong pisar em solo lunar e dizer a tal frase que, acho, não foi de sua lavra. Os soviéticos não vacilaram e a Soyuz 6 foi dar uma voltinha no espaço. De quebra, foi à primeira transmissão de televisão via satélite para o mundo. Contava minha mãe que assistiu aquilo tudo, emocionada, enquanto eu resumia 1969 ao precioso líquido que jorrava do peito dela.
Para o bem e para o mal, estreou o Jornal
Nacional da Rede Globo, com Cid Moreira, que já tinha cabelos brancos, e Jackie
Stewart foi campeão na Fórmula 1. Com o alterego de Edson Arantes do
Nascimento, que fez seu milésimo gol, o Santos foi campeão e meus times,
Campinense Clube e Flamengo, não ganharam nada – resguardavam-se para me
alegrar no futuro.
A VPR, de Lamarca, e a ALN, de Marighella, sequestraram o embaixador Elbrick. Puderam, por momentos, emparedar a ditadura. Mas, ela deu o troco e fuzilou Marighella no final do ano. Morria um ícone da esquerda, daí tantos amaldiçoarem 1969. Já Lamarca desertou do quartel onde servia e foi à luta armada, fez uma imperceptível cirurgia plástica e namorou a musa da revolução, Iara Iavelberg. Tudo em 1969, não dava para perder tempo, logo ele, também, seria morto.
Achando o AI-5 limitado, Costa e Silva decretou 11 Atos Institucionais em 1969 e outorgou a 7ª Constituição Brasileira, que incorporou todos os atos e decretos desde o golpe de 1964. A ditadura era legalista, o suprassumo do autoritarismo era disposto em lei. Pródiga em crises institucionais, teve uma séria quando Costa e Silva teve uma trombose e afastou-se. Assumiu uma junta de três militares, logo alcunhada de “os 3 patetas”, que impediu o vice (civil) Pedro Aleixo de assumir para ele aprender a não ser “do contra”, pois tinha se recusado a assinar o AI-5. Os “patetas” baixaram o AI-14, instituindo a Lei de Segurança Nacional – que previa pena de morte, prisão perpétua e banimento. A linha dura bancou a candidatura de Médici, tido como o pior dos ditadores, mas outro qualquer seria igual, era a lógica da época. Para moldar a geração que viria (a minha) o Decreto-Lei nº 869 pôs “Educação Moral e Cívica” no sistema educacional. E para encerrar o ano político de 1969, Paulo Maluf assumiu a prefeitura de São Paulo, iniciando uma eficiente carreira de predador do Estado.
Sinto inveja de Benjamin Button, o personagem de Scott Fitzgerald que nasce velho e morre bebê. Poderia ter nascido em 1929 com 80 anos. Regredindo, em 1969 teria 40 anos e veria os fatos aqui descritos. Assistiria a um show de Chico Buarque e refletiria sobre as canções, ao invés de ir para os shows de hoje onde se pede para ²tirar os pezinhos do chão e jogar as mãozinhas para cima². Ouviria os lançamentos da época: Abbey Road, Led Zeppelin II, Tommy, Ummagumma, discos de Chico, Caetano e Gil, ao invés de ter que aturar o excremento que a indústria musical atual produz. Acompanharia as lutas e fatos políticos da época, ao invés de assistir a pasmaceira previsível que se tornou a política atual. Me preocuparia com o “pequeno” passo de Armstrong, ao invés da gripe suína, do aquecimento global e da corrupção no Brasil. Gostaria de ter 40 anos em 1969 e acompanhar tudo in loco. Mas, assim, tal qual Button, hoje eu teria dois meses de vida e seria inane. Como diria Lennon & McCartney, let it be...
Dedico este artigo a minha “Daisy” (eterna namorada). “No curioso caso de Benjamim Button”, Daisy (Cate Blanchett) é sua paixão. Enquanto ele rejuvenesce, ela envelhece, mas o amor deles resiste a tudo, principalmente ao tempo. Em meu caso, minha Daisy não envelhece. Com seu amor, ternura e alegria oxigena minha vida, impedindo que eu mesmo envelheça. Assim, nosso amor nos eterniza!