sábado, 26 de abril de 2025

AS POSTAGENS DA SEMANA.

 


 



COLLOR DO ALTO DE SUA DECREPITUDE É, FINALMENTE, CONDENADO EM ALGUMA COISA.

 Collor não foi julgado, condenado e culpado pelas situações, como diria Chico Buarque, criminosas de seu governo. Ele não vai vai começar a cumprir uma pena pelos casos escabrosos de corrupção de seu governo, que o levaram ao impeachment. Muito menos está sendo penalizado por ter confiscado a poupança do povo brasileiro. Collor foi condenado numa ação que é um desdobramento da Lava Jato. Ele foi denunciado pela PGR em 2015 por ter recebido R$ 20 milhões em propinas (entre 2010 e 2014) para viabilizar, por meio de indicações políticas, um contrato de troca de bandeira de postos de combustível celebrado pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. É isso! Quem sabe se agora a justiça não resolve abrir a questão do estelionato eleitoral que Collor aplicou no povo brasileiro quando confiscou a poupança mesmo tendo prometido que não o faria. 


RINDO FEITO DOIS CONDENADOS.

 Eles tem muito em comum! Ambos são de direita, essencialmente anticomumistas e simpatizantes do nazifascismo. Eles são absolutamente corruptos e contra eles pesam crimes de toda sorte. Ambos cultuavam o hábito de andarem de Jet Ski enquanto o povo padecia das mazelas criadas por eles e pela classe dominante. Ambos fizeram governos desastrosos após serem ELEITOS com apoio decisivo de vários setores da sociedade, a mídia corporativa principalmente. Ambos enfrentam o ocaso de suas carreiras. Collor está sendo recolhido hoje para cumprir sua pena. Espero que Bolsonaro vá preso em breve. Hoje experimento uma sensação de conforto ao ver esse criminoso do Collor sendo preso, pois vivi a época do confisco da poupança, sei bem o que foi aquilo.

 


E QUEM SERÁ O PRÓXIMO?

sexta-feira, 25 de abril de 2025

CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA - Parte 4.

SOARES, Gilbergues Santos. CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA -  Gilbergues Santos Soares. In: GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque; NORMANDO, Roberto Jeferson. ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande. Campina Grande (PB): Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2025.


PARTE 4

 

Tratava-se de uma entidade com mecanismos e reivindicações específicas, mas que pautava sua atuação pelas lutas políticas nacionais. O CEC possuía um “mini-legislativo” com 21 representantes [79] que semanalmente se reunia. Esses representantes, que podiam ser ligados a partidos políticos, debatiam ideias e apresentavam projetos (Nascimento, 1990). É sintomático que muitos deles tenham enveredado para a política institucional, como é o caso de Ronaldo da Cunha Lima, para ficar em um exemplo. Talvez seja por isso que a entidade fosse chamada, para o bem e para o mal, de “escola de líderes” (Santos, 2015).

Media-se a relevância do CEC, para a cidade de Campina Grande, pela forma como as eleições para sua diretoria mexiam com a cidade. Os partidos e políticos tradicionais se envolviam na disputa, lutando aberta ou disfarçadamente em prol das chapas ligadas às suas agremiações. Os candidatos à presidência iam às salas de aula dos diversos colégios, públicos e privados, participavam de debates e comícios à porta das escolas ou na Praça da Bandeira. Ainda se faziam passeatas e distribuíam boletins e panfletos, além dos carros de propaganda circulando pela cidade. No dia da eleição, ônibus e automóveis transportavam os “eleitores” dos bairros para os locais de votação (Nascimento, 1990).

Até meados de 1963, o CEC era, em geral, presidido por estudantes ligados aos partidos e políticos tradicionais. Com golpe de 1964, ou por causa dele, estudantes de esquerda, ligados em sua grande maioria ao PCB, passaram a dirigir a entidade. Como nos diz Oliveiros: “O CEC era grande, por isso mesmo fecharam e acabaram com ele. Naquele tempo, não havia cursos universitários e os secundaristas mandavam na cidade” (Oliveira, 1999, p. 9). Atenta à conjuntura, a entidade se concentrou em ações, como os protestos públicos contra a ditadura militar e manteve-se ativa até a edição do Ato Institucional Nº 5. Com uma intervenção, em 1969, o CEC fechou suas portas para nunca mais abri-las, até porque muitos de seus militantes partiram para outros tipos de atuação política (Santos, 2015).

Como o movimento estudantil, as Ligas Camponesas também se organizaram em Campina Grande. A mais relevante delas foi a Liga do Bairro do Tambor, liderada pela advogada Ofélia Amorim, ligada ao deputado federal Francisco Julião que esteve algumas vezes em Campina participando de manifestações e reuniões (Almeida, 1999). Importa enfatizar que militantes do PCB, juntamente com membros da Igreja Católica, atuavam junto às Ligas. “Não é coincidência que o processo de formação inicial das Ligas ocorreu no início da década de 50, quando o PCB começou a trabalhar no sentido de capacitar teoricamente seus militantes, ou seja, criar quadros para a luta política” (Aued, 1986, p. 53).

Campina Grande, como todo o país, entrou em ebulição em 1963. Na eleição desse ano, Newton Rique foi eleito prefeito pelo PTB com uma plataforma nacionalista e popular. Rique aprovava as propostas reformistas de João Goulart e mantinha clara mensagem desenvolvimentista, influenciado que foi pelos economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), onde ocupou o cargo de diretor entre 1960 e 1962.

Após a posse de Newton Rique, nacionalistas da cidade promoveram manifestações em favor das reformas de base e pressionaram deputados federais do Estado para que votassem a favor delas no Congresso Nacional. Mas, com o golpe civil-militar, eles foram desarticulados e já, em junho de 1964, Rique teve seu mandato cassado por um decreto do governo militar de Castelo Branco. A justificativa para sacá-lo da prefeitura foi a acusação, nunca comprovada, de ele ter cometido irregularidades nas contas da administração pública (Sylvestre, 1988).

Cassar Newton Rique foi a forma dos militares para desarticular o movimento nacionalista campinense. Militantes do MNB local, que atuaram junto a Rique efetivando projetos reformadores, foram afastados da administração municipal, pois o prefeito que assumiu, João Jerônimo da Costa, havia se comprometido com o governo militar que implantava uma ditadura. Campina Grande entrou nos anos 1970 sobre intervenção militar, sendo governada por um major do Exército.

Os movimentos e organizações políticos aqui descritos foram todos desarticulados por uma brutal repressão estatal. Isso foi o começo do fim. Foi a partir da ditadura militar que Campina Grande foi deixando de ser “sinistra” para se tornar “destra”, mas isso já é história para outro momento.

 [79] Cada escola secundária de Campina Grande elegia um representante para compor o conselho da entidade.

Referências
ALMEIDA, Ana Rita. Ana Rita Almeida: entrevista [ago. 1999]. Entrevistador: Gilbergues Santos Soares. João Pessoa. 284 min.
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964/1984). 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1984.
ARROXELAS, Antônio Augusto. Antônio Augusto Arroxelas: entrevista [jul. 1999]. Entrevistador: Gilbergues Santos Soares. João Pessoa. 222 min.
AUED, Bernardete W.  A vitória dos vencidos (Partido Comunista Brasileiro - PCB - e Ligas Camponesas). Florianópolis: Ed. da UFSC, 1986.
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda. São Paulo: Editora Unesp, 1995.
 CARONE, Edgar. O PCB - 1922/1943. v. I. São Paulo: Difel, 1982a.
 _______________. O PCB - 1943/1964. v. II. São Paulo: Difel, 1982b.
 _______________.  O PCB - 1964/1982. v. III. São Paulo: Difel, 1982c. 228
FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de A. Neves. (Organização). O Brasil Republicano – O tempo da experiência democrática, da redemocratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
GURJÃO, Eliete de Queirós. Morte e vida das oligarquias. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1994.
NASCIMENTO, Gilmar dos Santos. O Centro Estudantal Campinense: 1955/1960 - Estudo sobre uma geração de lideranças políticas de Campina Grande. Dissertação apresentada no curso de Mestrado em Sociologia da UFPB: Campina Grande, 1990.
OLIVEIRA, Oliveiros Cavalcante. Oliveiros Cavalcante de Oliveira: entrevista [ago. 1999]. Entrevistador: Gilbergues Santos Soares. João Pessoa. 263 min.
SANTOS, Gilbergues. Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido? A atuação das organizações de esquerda em Campina Grande – 1968-1972. Campina Grande-PB: Editora da UEPB, 2015.
SOUZA, Mª do Carmo Campello. Estado e partidos políticos no Brasil (1930/1964). São Paulo: Alfa-ômega, 1983.
SYLVESTRE, Josué. Nacionalismo e Coronelismo (1954 a 1964) - Fatos e Personagens da História de Campina Grande. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico. 1988.
 ________________. Lutas de vida e de morte (1945 a 1953) – Fatos e Personagens da História de Campina Grande. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico. 1981.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA - O ANTÍDOTO DAS EXATAS AO ÓDIO


Após os acontecimentos na Universidade Estadual da Paraíba, com as repugnantes manifestações onde o ódio é a tônica, e com as suásticas nazistas sendo desenhadas pelas paredes da UEPB, além da descoberta de células, na Paraíba, em que pessoas se preparavam para atos terroristas, o pessoal do Projeto de Extensão Química na Rede preparou a roda de conversa "CIÊNCIA COM CONSCIÊNCIA - O ANTÍDOTO DAS EXATAS AO ÓDIO".
Será no dia 30 de abril, quarta feira, às 09 horas no Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da UEPB - Campus I (Campina Grande).

CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA (parte 3).

SOARES, Gilbergues Santos. CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA -  Gilbergues Santos Soares. In: GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque; NORMANDO, Roberto Jeferson. ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande. Campina Grande (PB): Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2025. 


PARTE 3

 

As teses nacionalistas entraram em Campina Grande através do “Grêmio Literário Machado de Assis”, frequentado por intelectuais de esquerda e seguidores do deputado federal José Joffily do PSD e da FPN. O Grêmio serviu de base para a criação, em agosto de 1957, do Movimento Nacionalista Brasileiro – Seção de Campina Grande, que tinha, como o nacional, uma composição heterogênea. O MNB local participou dos movimentos políticos da cidade de 1958 até o golpe de 1964 e das eleições municipais de 1959 e 1963 (Sylvestre, 1988).

Os militantes do MNB campinense atuavam para inserir os problemas da cidade no contexto das questões nacionais. Dessa forma, o alvo de suas ações eram as empresas estrangeiras Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro SA (SANBRA) e Anderson Clayton, que possuíam filiais em Campina Grande, e atuavam no processo de industrialização do algodão e do sisal, produtos caros à economia da cidade. O MNB acusava essas duas empresas de impedirem que pequenos industriais paraibanos comercializassem seus produtos e de se apropriarem da produção local. Devido a desleal concorrência que promoviam, graças ao poder econômico que possuíam, as empresas criavam problemas para os produtores locais, como a dificuldade de manter e renovar maquinário. Segundo o MNB, “a força monopolista da ‘SANBRA’ e ‘Clayton’ é dirigida contra agricultores na imposição dos preços do algodão e do sisal de acordo com interesses estrangeiras” (Sylvestre, 1988, p. 77).

O MNB campinense se desenvolveu a ponto de criar, em 1958, o Jornal Evolução que chegou a circular diariamente no início de 1960. Possuía, também, um programa semanal de rádio chamado “Voz Nacionalista”. Os dois divulgavam as ideias e ações do movimento nacionalista, em nível local, estadual e nacional. O jornal Evolução se ocupava, também, do sindicalismo. Os apresentadores do “Voz Nacionalista” enfatizavam que “numa cidade onde o entreguista Assis Chateaubriand conta com duas emissoras de rádio e um diário, um programa desse tipo é uma verdadeira arma popular!” (Sylvestre, 1988, p. 104). De fato, entre as décadas de 1950 e 1960, o movimento nacionalista campinense funcionava como uma espécie de caixa ressonância, para a sociedade local, do que ocorria no país (Santos, 2015).

Porém, é na década de 1960 que se vê bem a característica campinense de asorver movimentos políticos nacionais. Um bom exemplo foi quando do impasse institucional criado pela renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961. Setores das Forças Armadas, e da sociedade civil, não aceitaram a posse do vice-presidente eleito João Goulart. Criou-se, então, a “Cadeia da Legalidade”, liderada pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola e pela União Nacional dos Estudantes (UNE) (Ferreira, 2016).

Em Campina Grande, aconteceram movimentos em defesa da legalidade. O CEC decretou greve geral dos estudantes e lançou, junto com sindicatos, o “Manifesto ao Povo Campinense”, onde o nacionalismo é a marca. A Câmara Municipal de Vereadores aprovou moção em defesa da legalidade e se declarou em sessão permanente até que fosse selado o acordo político-militar que permitiu a posse de João Goulart (Sylvestre, 1988).

Inclusive, existia, no legislativo campinense, um bloco nacionalista composto por sete vereadores. Um deles, Ronaldo da Cunha Lima [76], apresentou projeto de lei para que o espaço físico entre os edifícios da Câmara dos Vereadores e da Prefeitura Municipal fosse denominado “Largo da Legalidade”, com aposição de um busto de Leonel Brizola. Já o vereador Williams Arruda [77] apresentou um requerimento à Mesa Diretora da Câmara Municipal para que as emissoras de rádio da cidade integrassem à “Cadeia Nacional da Legalidade”. Além dessas ações, durante os dias 26 e 27 de agosto de 1961, foram organizados comícios e passeatas pela cidade contra as tentativas de impedir a posse de Goulart (Sylvestre, 1988).

A década de 1960 iniciou-se movimentada em todo o país. Eclodiam movimentos políticos e sociais tendo as reformas de base como objetivo central e em Campina Grande não era diferente. (Santos, 2015). Entre 1960 e 1968, o movimento estudantil ganhou força devido à atuação do CEC, fundado, em 1937, por estudantes que conheceram o Centro Estudantil Cearense, numa viagem a Fortaleza, e resolveram fundar uma entidade análoga em Campina Grande. [78] Já na década de 1940, os militantes do CEC participaram de manifestações a favor da redemocratização e da anistia. Na década de 1950, realizaram passeatas em protesto ao assassinato de Félix Araújo e em favor dos movimentos nacionalistas (Nascimento, 1990). 

A atuação do CEC se intensificou com a campanha pela posse de Goulart. A partir daí liderou greves contra os aumentos das passagens de ônibus e das entradas de cinemas. Claro, o CEC focava suas atenções nas questões da educação. Assim, organizou movimentos a favor da equiparação do curso básico de comércio ao ginasial e para que os concluintes do Curso Técnico e de Comércio pudessem prestar vestibular para faculdades. Pelo seu nível de organização, influenciava, e até mediava, questões sociais e políticas da cidade, além de “importar” discussões e movimentos que aconteciam nos grandes centros urbanos do país. Por isso mesmo, funcionava como uma espécie de porta-voz das demandas e problemas comunitários, sem, no entanto, perder de vista as questões nacionais (Nascimento, 1990).


[76] Ronaldo da Cunha Lima foi vereador e prefeito de Campina Grande nos anos 1960, tendo sido cassado por força do Ato Institucional nº 5 de dezembro de 1968. [77] Foi prefeito de Campina Grande entre os anos de 1964-1969. [78] Esta versão é apresentada por Josué Sylvestre. Mas, existe outra versão, não documentada, que diz que os fundadores do CEC resolveram mudar a grafia da palavra estudantil já que o país vivia sob a ditadura do Estado Novo. Os estudantes teriam optado por uma grafia diferente como forma de burlar a vigilância dos órgãos de repressão. Para eles, “estudantil” teria conotação comunista, já “estudantal” remeteria a uma entidade esportiva, cultural ou mesmo de lazer.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

SOARES, Gilbergues Santos. CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA -  Gilbergues Santos Soares. In: GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque; NORMANDO, Roberto Jeferson. ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande. Campina Grande (PB): Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2025. 

PARTE 2

 

Afastado do PCB, Félix Araújo atuou como vereador até julho de 1953, quando foi assassinado por João Madeira, segurança do então prefeito da cidade Plínio Lemos. Ao que parece, o crime teve implicações políticas, já que Félix presidia uma comissão investigativa que vinha encontrando irregularidades nas contas da administração municipal. O fato é que o assassinato ganhou proporções políticas. Identificado com as lutas da esquerda, além das manifestações nacionalistas que cresciam país afora, Araújo tornou-se símbolo desses movimentos em Campina Grande (Sylvestre, 1981, p. 70).

Importa encorpar a discussão sobre o PCB, pois falar em movimentos políticos e ideológicos em Campina Grande, entre os anos 1940 e 1960, e não relevar a atuação do PCB local é algo temerário. Interessa notar que o partido cresceu na cidade desde que passou a defender uma atuação pacífica e reformista, valorizando a participação nas instituições democráticas, principalmente no parlamento. Com esse espírito, e lastreado pela atuação que vinha sendo feito desde a democratização de 1945, o PCB elegeu (em 1955) Oliveiros Cavalcanti de Oliveira o primeiro vereador comunista de Campina Grande (Oliveira, 1999). Apesar de ter sido candidato pela Coligação Social Trabalhista, composta por PSD e PTB, Oliveiros era membro do Comitê Municipal do PCB e foi eleito com os votos desse partido. [70]

Os comunistas campinenses atuavam no meio sindical, no movimento estudantil e nas Ligas Camponesas. Como tinham o gabinete do vereador Oliveiros na Câmara Municipal, dispunham de facilidades, sobretudo financeiras, para promover atividades como a organização da celebração do 1º de Maio e para criarem entidades como as Associações de Amigos de Bairro. Além disso, desenvolviam atividades de agitação e propaganda, como o pichamento de muros e a distribuição de panfletos nas portas das fábricas existentes na cidade, mesmo que a atividade central fosse a realização de reuniões e assembleias (Oliveira, 1999).

Os sindicatos mais atuantes, e que estavam sob a liderança de militantes do PCB, eram os dos trabalhadores na indústria, no comércio e nos bancos. No Sindicato das Indústrias atuava-se, principalmente, pela manutenção de direitos trabalhistas, como 13º salário, férias proporcionais remuneradas e assinatura da carteira de trabalho. A estratégia dos comunistas era organizar pequenas paralizações nas fábricas [71], através da mobilização que as células do partido, compostas por operários, conseguiam realizar (Oliveira, 1999). O PCB campinense orientava seus militantes sindicalizados a levarem para os sindicatos as palavras de ordem do partido, sendo que a recíproca nem sempre deveria ou poderia ser verdadeira (Santos, 2015).

No movimento estudantil, os estudantes ligados ao PCB, participavam de diretorias do Centro Estudantal Campinense (CEC) entre 1955 e 1964, bem como de diretórios acadêmicos universitários, como o da Faculdade de Direito da Universidade Regional do Nordeste (URNE) onde, segundo o ex-militante do PCB Antônio Arroxelas, dispunha-se de um núcleo bem-organizado para liderar atividades políticas (Arroxelas, 1999). O PCB atuava, ainda, junto às Ligas Camponesas, deslocando militantes para o trabalho político na cidade de Sapé [72]. Foi assim que teve contatos com outras organizações e lideranças da esquerda. No final da década de 1950, o advogado Francisco Julião despontou em Pernambuco como liderança do movimento camponês. Sua atuação contribuiu para que o PCB campinense tivesse contato com discussões travadas entre reformistas e revolucionários em nível nacional. É o próprio Oliveiros quem fala das discussões sobre como se junto às Ligas Camponesas. É onde se percebe como se dava a luta pela hegemonia do movimento em torno da reforma agrária.

Nas Ligas, o partido atuou pelo comando e pela ação parlamentar de seus representantes. [...] tinha divergências porque Julião era radical e intervinha no processo, provocando a luta armada sem possibilidades de vitória. O partido não se afastava para não perder o contato com as massas, mas sentia que não daria certo. Quando Julião entrou, muitos membros do partido aderiram, era o grupo que defendia a reforma agrária na lei ou na marra. Durante os primeiros anos das Ligas, na Paraíba, o partido conquistou grandes vitórias: acabou com formas feudais de exploração da terra - meia, terço, cambão, pagamento do salário em comida, o barracão (Oliveira, 1999, p. 9-10).

Mas, os militantes comunistas locais ainda se incumbiam de outras tarefas mais restritas, principalmente a partir do golpe civil-militar de 1964, como a rganização de reuniões orgânicas e o acolhimento de militantes, vindos de outros Estados para desenvolverem atividades políticas ou por estarem sendo perseguidos pela polícia. Antônio Arroxelas conta como acolheu, em sua residência, um dirigente nacional que veio, clandestinamente e com pseudônimo, a Campina Grande participar de uma reunião representando o Comitê Central do PCB em meados de 1967 (Arroxelas, 1999).

Havia, ainda, a militância do dia a dia, corriqueira, que demonstra um nível de organização bastante avançado: “O trabalho aqui era de pichamento de muro, lançamento de foguetes e faixas, ajudar movimento operário na celebração do 1° de maio, transformar clubes em organismos de defesa dos interesses populares” (Oliveira, 1998, p. 12).

Após o golpe de 1964, os comunistas locais estruturaram gráficas clandestinas para confeccionar material de propaganda, boletins e jornais que eram distribuídos em Campina Grande ou enviados para outras cidades (Oliveira, 1999). Em duas oportunidades, segundo reportagens do Diário da Borborema, foram apreendidos materiais de organizações de esquerda em ônibus que se dirigiam para outras cidades, saindo de Campina Grande. Na primeira matéria, fala-se de livros de autores marxistas encontrados em um ônibus que ia de Campina Grande para João Pessoa. [73]. Na segunda reportagem, relata-se a apreensão de farto material, como panfletos, jornais do PCB e material de estudo em um ônibus com destino à cidade de Caruaru. [74]. Já em setembro de 1971, o mesmo Diário da Borborema trouxe a seguinte reportagem:

Fontes da Polícia Federal, dão conta que todos os seis membros do aparelho terrorista, desbaratado no mês de agosto passado, estão presos incomunicáveis, a disposição da auditoria da 7ª Região Militar, no Recife, aguardando julgamento. Eles eram responsáveis pela publicação de um jornal clandestino, ‘Voz Operária’, de caráter subversivo, que era impresso em Campina Grande e distribuído para todo o Nordeste. [75]

A estrutura orgânica do PCB de Campina Grande se assemelhava a do partido em nível nacional. Existia um Comitê Municipal que se encarregava da direção e células que se organizavam de acordo com o local de trabalho, estudo ou moradia dos militantes. Nas épocas em que a repressão política estava mais acirrada, as células podiam ser subdivididas, ou somadas, de acordo com as necessidades de segurança de seus militantes. Inclusive, havia total subordinação da estrutura local em relação ao Comitê Central do partido. Oliveiros Oliveira relata como se dava o processo decisório no partido:

O partido tinha suas organizações de base, sua direção regional e nacional, mas todas as diretrizes vinham de cima. Em 1950, lançaram o Manifesto de Agosto, e eu fui a uma reunião em João Pessoa para discuti-lo. Lá disseram que quem discordasse seria expulso, que não tinha nada a adicionar e disseram: ‘Dê uma opinião’. Eu respondi: ‘Não, tem opinião não. Se discutir não vai ser expulso? Então é aceitar. É crer ou morrer (Oliveira, 1998, p. 9, grifos do autor).

Na volta dessa reunião, Oliveira reuniu militantes do PCB de Campina Grande e comunicou que existia um documento intitulado Manifesto de Agosto. Nele, determinava-se que o caminho para a transformação social seria a luta armada, que o dever dos comunistas era organizá-la e que não deveria haver divergências. Segundo Oliveira, todos aceitaram a diretriz, mas, convencidos de sua nulidade, mantiveram suas atuações em seus respectivos sindicatos, ocupados com as questões trabalhistas. Quando questionado por que os comunistas locais aceitavam permanecer num partido que não levava em consideração a opinião das bases, Oliveira foi lacônico: “Pela crença e pela fidelidade ideológica” (Oliveira, 1998, p. 11). Na década de 1950, a tese de que o subdesenvolvimento do Brasil era fruto da dependência econômica que o país tinha perante o capital financeiro internacional ganhava adeptos. Vários setores da sociedade começaram a defender que o Brasil deveria se tornar independente, de fato, para ter total alcance sobre suas riquezas e sobre seu desenvolvimento. O exemplo disso foi a campanha em defesa do monopólio estatal do petróleo (Ferreira, 2016). Defendendo ideias como essas, surgiram em Campina Grande entidades como a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), reunindo deputados de vários partidos, e o Movimento Nacionalista Brasileiro (MNB), que reunia militares, liberais, comunistas, socialistas e católicos (Sylvestre, 1988).

[70] PCB não tinha registro no Tribunal Superior Eleitoral que lhe permitisse funcionar legalmente. A estratégia dos comunistas era filiar seus candidatos em partidos de centro esquerda ou afins. Os partidos aceitavam tal estratégia, pois ganhavam votos dos comunistas para suas legendas e candidatos a cargos majoritários (Carone, 1982a). [73] “Material considerado subversivo apreendido no ônibus”. In: Diário da Borborema, 25 de setembro de 1969. [74] Manchete do Diário da Borborema, em 24 de junho de 1971: “Exército apreende material subversivo no Tambor”. [75] Manchete do Diário da Borborema, em 07 de setembro de 1971. “Terroristas do jornal já estão presos”.

sábado, 19 de abril de 2025

"CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA"

SOARES, Gilbergues Santos. CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA -  Gilbergues Santos Soares. In: GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque; NORMANDO, Roberto Jeferson. ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande. Campina Grande (PB): Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2025.

 

PARTE 1


Ao final das eleições de 2014, com a presidenta Dilma Rousseff reeleita e Aécio Neves ficando em 2º lugar, a distribuição dos votos pelas regiões brasileiras pedia nossa atenção. Enquanto o Norte e o Nordeste apareciam majoritariamente em vermelho, as cores do Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma, o Sul e o Sudeste mostravam-se na cor azul, do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) de Aécio. Na época, muito se falou daquele pontinho azul, “perdido” no mapa eleitoral nordestino, absolutamente encarnado [62]. Era Campina Grande única cidade paraibana onde o candidato do PSDB ficou em 1º lugar [63]. Isso já tinha acontecido em 2010 e se repetiu em 2018, quando o candidato da extrema-direita de tipo fascista, Jair Bolsonaro (PL), defensor da tortura e da ditadura militar, do racismo, da homofobia, dentre outras coisas, venceu nos dois turnos em Campina Grande. 

Mas, nem sempre foi assim! Esse viés conservador e de “la destra” do eleitorado campinense é relativamente recente. Neste artigo, pretendo demonstrar como historicamente Campina Grande apresentou características políticas e ideológicas progressistas e de “la sinistra”. [64]. A intenção é reunir informações para que possamos entender como a cidade pôde, por exemplo, abrigar organizações de esquerda revolucionárias que lutaram contra a ditadura, implementada com o golpe civil-militar de 1964. Importa analisar a ambiência política que deu lastro à atuação de uma entidade que congregava estudantes, de um movimento nacionalista e de organizações em defesa das Reformas de Base e das Ligas Camponesas. Também, interessa atentar para como o Partido Comunista Brasileira (PCB) se organizou e atuou na cidade, considerando a efeméride dos 100 anos de sua fundação.

Até o início dos anos 1940, Campina Grande não se diferenciava de outras cidades do interior nordestino. A política local era marcada pela presença de grupos políticos tradicionais que se alternavam no poder, sempre a serviço de seus próprios interesses. Como não existiam os partidos nacionais, cada grupo local/regional criava sua agremiação para poder controlar a distribuição de favores. Em “Morte e Vida das Oligarquias” vemos que “são pequenos partidos organizados, sob o esquema clientelístico, mantendo-se, assim, a forma de autoridade fundamentada na máquina coronelística”. (Gurjão, 1994, p. 27). Assim, existiam o Partido Republicano da Parahyba e o Partido Progressista da Parahyba. Foi tentando se libertar disso que a sociedade campinense chegou ao início da segunda metade do século XX.

Como em todo país, as mudanças causadas pelo final da 2ª Guerra Mundial e da ditadura do Estado Novo (1937 e 1945) alteraram a vida da cidade e trouxeram novos atores políticos para o cenário municipal. Setores da sociedade brasileira reivindicam o fim da ditadura getulista, que era associada ao nazifascismo derrotado na Europa. Queria-se, também, anistia para presos políticos, falava-se em eleição e em uma nova constituição. Os brasileiros pareciam cansados dos autoritarismos totalizantes, pareciam querer algo democrático. Atores políticos nacionais mais relevantes, a exemplo de Getúlio Vargas e Luis Carlos Prestes, entenderam bem as demandas políticas da sociedade e passaram a de fender eleições (Santos, 2015).

Em maio de 1945, a anistia política foi aprovada, libertando os que tinham feito oposição ao governo ditatorial de Vargas. O caso mais famoso é o de Prestes, que estava preso desde 1935, com o fracasso da “Intentona Comunista” (Souza, 1994). A democratização de 1945 encontrou partidos nacionais como União Democrática Nacional (UDN), Partido Social Democrático (PSD) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em processo de organização em Campina Grande. O PCB [65] é um deles, aparecendo inicialmente com outra identificação. Primeiro em João Pessoa e logo depois em Campina Grande, surgiu, em 1945, a União Socialista da Paraíba (USP) que um ano depois já seria o PCB. Para marcar seu aparecimento, no cenário político da cidade, a USP lançou um manifesto no jornal A Voz Diária, em 24 de maio de 1945:

O povo de Campina Grande não poderia permanecer alheio à renovação política nacional e mundial, oriunda da derrota do fascismo e da crescente importância das massas na vida dos povos. Por isso mesmo, acaba de organizar-se o núcleo local da União Socialista da Paraíba, com o fim de, oportunamente, filiar-se ao Movimento Socialista Nacional, liderado por Luís Carlos Prestes (Sylvestre, 1981 p. 38).

As intenções dos manifestantes, em nome de um “Comitê Provisório”, eram claras. Pretendiam, a partir da nova conjuntura política, participar de forma organizada dos movimentos liderados pelos comunistas. O trabalho da USP começou cedo a render dividendos políticos em Campina Grande. Já nas eleições de dezembro de 1945, Yedo Fiúza, candidato a Presidente da República pelo PCB, teve 1.455 votos na cidade. Na mesma eleição, Prestes [66] e João Santa Cruz [67] tiveram 1.501 e 1.494 votos, respectivamente. Em 1947, nas eleições para o legislativo estadual, Félix Araújo, ligado ao PCB, teve 885 votos, ficando na 1ª suplência de João Santa Cruz, eleito com 1.654 votos. Considerando que Campina Grande tinha 18.304 eleitores neste período, e que estamos tratando de um movimento em formação, essas não deixam de ser, relativamente, boas votações. [68]

Em 1951, Félix Araújo foi candidato a vereador em Campina Grande, sendo eleito em primeiro lugar com 2.797 votos. [69] O curioso é que ele não foi candidato pelo PCB, e sim por um certo Partido Libertador. O motivo é que a permanência de Araújo no PCB foi muito curta. Segundo Sylvestre (1981), ele teve os primeiros contatos com o partido comunista e com o marxismo-leninismo alguns anos antes de ir para Itália, como voluntário da Força Expedicionária Brasileira, lutar na 2ª Guerra Mundial. Na volta, participou, sempre em Campina Grande, de campanhas a favor da anistia e pelo fim do Estado Novo. Mesmo não sendo oficialmente filiado ao PCB, Félix recebia votos que o partido dispunha em setores sindicalizados, estudantis e em bairros populares.

Todavia, constantes desentendimentos entre Félix Araújo e a direção estadual do PCB vinham ocorrendo desde as eleições de 1947, pois ele enfrentava os dilemas de receber “ensinamentos da filosofia marxista-leninista, sendo de formação cristã” (Sylvestre, 1981, p. 65). Considerando uma manifesta vocação libertária e democrática, saiu do PCB para “livrar-se da rígida disciplina partidária” (Sylvestre, 1981, p. 66). A saída dele, em outubro de 1948, foi o ápice de uma polêmica travada, pela imprensa, com as “figuras da ortodoxia do PC paraibano”. Na oportunidade, divulgou uma nota em que justificou seu afastamento nos seguintes termos: “Em face da campanha de calúnia e de injúrias desfechadas pelos comunistas contra minha dignidade pessoal, declaro ao povo paraibano que, por uma questão de honra, desligo-me, neste momento, do PCB” (Sylvestre, 1981, p. 68).


[62] No Atlas das Eleições Presidenciais, no Brasil, é possível encontrar dados sobre processos eleitorais municipais, estaduais e federal a partir de 1945. Atlas das Eleições Presidenciais no Brasil (google.com). [63] A imprensa paulista alcunhou Campina Grande de “A Ilha Tucana”. Para ver maissobre isso: https://www.uol.com.br/eleicoes/2014/noticias/2014/10/25/nordeste--tem-ilha-tucana-em-cidade-conhecida-como-a-sao-paulo-da-regiao.htm[64] Norberto Bobbio, pensador político, discute os significados de ser de direita e de esquerda em “Destra e Sinistra – Razões e significados de uma distinção política”. [65] Uma explicação semântica, mas que importa nos estudos sobre a esquerda brasileira. O que surgiu em março de 1922 foi o Partido Comunista do Brasil (PCB) - Seção da 3ª Internacional Comunista com sede na URSS. Em 1947, PCB passou a se chamar Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla. No início dos anos 1960, um grupo deixou o PCB e fundou (ou refundou) o Partido Comunista do Brasil, com sigla PC do B, existente até hoje. Por cerca de 40 anos, tivemos dois partidos com legendas parecidas, PCB e PC do B. (Carone, 1982). [66] Legislação eleitoral da época permitia que um mesmo candidato concorresse tanto à Câmara como ao Senado Federal. Prestes foi candidato a senador pelo Rio de Janeiro e a deputado por vários Estados, inclusive a Paraíba. [67] Militante comunista da cidade de João Pessoa, candidato a senador da República. [68] Dados do Arquivo do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. Departamento de Imprensa, 1973. [69] Idem.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Entre Lutas e Resistências: Histórias, Memórias e Perspectivas da Esquerda em Campina Grande.

Acabou de sair o nosso e-book dedicado às memórias da esquerda em Campina Grande, pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB). "Entre Lutas e Resistências: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande", foi organizada Bruno Rafael Gaudêncio e Roberto Jeferson nos últimos dois anos e meio, e conta com 36 colaborações (artigos científicos e jornalísticos, memórias e crônicas), de diversos autores, entre pesquisadores, historiadores, sociólogos, militantes, artistas e jornalistas.

Contribuo com essa coletânea com um artigo sobre quando Campina Grande era uma cidade progressista, com forte tendência à esquerda, e que valorizava a cultura popular. O artigo fala de um tempo em que não se imaginava que essa cidade ainda se tornaria o “pasto da cunhalimagem bolsonarista”. Meu artigo intitulado "CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA" está na página 215.



APRESENTAÇÃO “A ESQUERDA EM CAMPINA GRANDE: O ANTES, O AGORA E O DEPOIS

 Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio e Roberto Jeferson Normando

 


É com grande satisfação que entregamos ao público campinense esta coletânea de ensaios, artigos, perfis, relatos e crônicas intitulada “Entre lutas e resistências: histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande”, constituída por vinte e seis diferentes textos, fruto de extensa pesquisa e dedicação de diversos estudiosos, entre pesquisadores acadêmicos, jornalistas, memorialistas, militantes sociais, todos comprometidos com a história progressista e política da cidade de Campina Grande.

Iniciada em 2022 e concluída só agora em 2024, desde seu início nosso compromisso foi organizar um livro dedicado a registrar uma tradição política de esquerdas na cidade de Campina Grande, em uma perspectiva de longa-duração, do início do século XX a contemporaneidade. Composta por diferentes gêneros, a obra pretendeu sistematizar os principais momentos da história campinense e o papel do pensamento progressista na formação de uma identidade política local.

Evidentemente que não foi possível dar conta de tudo. Muitos personagens, fatos, eventos, eleições e partidos ficaram de fora. Diversos colaboradores nestes mais de dois anos, envolvidos em campanhas e na militância direta, não conseguiram concluir os seus textos ou organizar suas memórias. Desta forma, as páginas deste livro procuraram trazer a necessária reflexão sobre as esquerdas de Campina Grande, elaborando diversos olhares sobre o seu passado, com uma visão crítica dos acertos, erros e adiamentos… 


Por isso, o fazer memória é um dos objetivos principais desta obra, revisitando o passado, seja na leitura de quem viveu os fatos pretéritos, seja por quem tem estudado e refletindo este passado. Partindo da premissa de que entender o presente exige compreender o passado, esta coletânea mergulha, portanto, nas raízes da tradição progressista que moldou e colaborou para parte da identidade social desta cidade ao longo do século XX e continua a influenciar seu panorama contemporâneo, procurando desconstruir certa historiografia tradicional e anacrônica que afirma que a história de Campina Grande não possui raízes esquerdistas em sua trajetória.


Basta clicar no link abaixo para baixar a versão e-book do livro e terminar de ler esta apresentação.

https://eduepb.uepb.edu.br/teste-2025/

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Porque o ódio nazi-fascista é tão disseminado em Campina Grande


Não é ao acaso, muito menos coincidência, que em Campina Grande, e na região por ela monopolizada, tenha acontecido tantas manifestações em torno do nazismo e do fascismo, com a descoberta de células em que pessoas se preparavam para atos terroristas, onde o ódio é a tônica, e com as suásticas nazistas sendo desenhadas pelas paredes da Universidade Estadual da Paraíba.

De fato, Campina Grande se tornou uma espécie de "laboratório" da extrema direita bolsonarista para a execução de seus interesses ideológicos e políticos. É bom lembrar que a cidade vem sendo governada pelo bolsonarismo desde 2013. Também, não esqueçamos que Campina Grande foi um dos primeiros municípios a aprovar a tal "Lei da Mordaça", ainda na gestão do prefeito bolsonarista Romero Rodrigues.

Ainda, temos que lembrar que um dos principais membros do "Gabinete de Ódio" de Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud, que foi alvo de operação da Polícia Federal, é de Campina Grande.

 

A chamada "Lei da mordaça" se refere a projetos de lei que propunham a limitação de procedimentos democráticos como a liberdade de expressão. A cidade de Campina Grande foi uma das primeiras, em todo o Brasil, onde a Câmara Municipal de Vereadores aprovou uma lei (em 2018) que proibia se falar sobre a "ideologia de gênero" nas escolas municipais.

A tal “Lei da Mordaça” se baseava nas ideias da “Escola sem Partido”, um dos principais pontos de atuação da extrema direita de tipo bolsonarista no Brasil inteiro, que propunha uma reação a uma suposta "doutrinação ideológica" que a esquerda faria nas escolas.

 

Novas Leis em CG acendem debates sobre a censura e Estado Laico

https://portalcorreio.com.br/novas-leis-em-cg-acendem-discussao-sobre-censura-e-estado-laico/

10/09/2019 15:41

Duas recentes leis voltadas à religião e sancionadas pelo prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), têm gerado discussões sobre censura e Estado Laico. De um lado, uma lei proíbe o “teor pornográfico em exposições artísticas nos espaços públicos do mesmo município e ainda desautoriza as que atentem contra simbolismos religiosos”, publicada no último domingo (8). Do outro, uma lei que sugere a leitura da Bíblia nas escolas de Campina Grande, sancionada no último dia 2 de setembro. De acordo com a Lei nº 7.290 (página 11), aprovada pela Câmara de Vereadores, o teor pornográfico de que trata a publicação são as “expressões artísticas ou culturais que contenham fotografias, textos, desenhos, pinturas, filmes e vídeos que exponham o ato sexual e a performance com atrizes ou atores desnudos”.

Também são barradas exposições que atentam contra elementos e objetos cultuados pelas diversas matrizes religiosas que representam o sagrado e a fé de seus seguidores. O descumprimento da lei implicará multa no valor de 500 UFR-PB, que equivalem a R$ 25.290. A multa será em dobro (R$ 50.580) para os casos de reincidências. Já a Lei nº 7.280 (página 13), sugere a leitura da Bíblia nas escolas públicas e particulares de Campina Grande. A publicação diz que essa prática tem o objetivo de trazer o conhecimento cultural, geográfico e científico, além de fatos históricos bíblicos.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Queria ter 40 anos em 1969 - Parte II

 Da Série "Um artigo para chamar de meu" - Publicado em junho 2009 no www.paraibaonline.com.br 


Tivemos as estréias do Concorde, do Boeing 747, da ArpaNet, embrião da Internet, e se isolou um gene. Nada como Neil Armstrong pisar em solo lunar e dizer a tal frase que, acho, não foi de sua lavra. Os soviéticos não vacilaram e a Soyuz 6 foi dar uma voltinha no espaço. De quebra, foi à primeira transmissão de televisão via satélite para o mundo. Contava minha mãe que assistiu aquilo tudo, emocionada, enquanto eu resumia 1969 ao precioso líquido que jorrava do peito dela. 


Para o bem e para o mal, estreou o Jornal Nacional da Rede Globo, com Cid Moreira, que já tinha cabelos brancos, e Jackie Stewart foi campeão na Fórmula 1. Com o alterego de Edson Arantes do Nascimento, que fez seu milésimo gol, o Santos foi campeão e meus times, Campinense Clube e Flamengo, não ganharam nada – resguardavam-se para me alegrar no futuro.

 Nos EUA, Charles Manson mandou os fanáticos de sua seita assassinarem a atriz Sharon Tate e a imprensa usou o fato para desviar a atenção das atrocidades que o exército cometia no Vietnã, como o massacre de My Lai em 1968. Nixon entrou na Casa Branca e foi lépido e fagueiro até o desastre da guerra. 250.000 pessoas marcharam em Washington pedindo o fim da Guerra do Vietnã. Na Líbia, Kadhafi tomou o poder com um golpe e teve sólida carreira de ditador. O Congresso Nacional Palestino apontou Yasser Arafat como líder da OLP e Charles de Gaulle renunciou à presidência devido às ebulições do “maio francês”. Prova que 1968 acabou e foi sucedido por 1969, goste-se ou não disso. O processo histórico é assim mesmo. 

A VPR, de Lamarca, e a ALN, de Marighella, sequestraram o embaixador Elbrick. Puderam, por momentos, emparedar a ditadura. Mas, ela deu o troco e fuzilou Marighella no final do ano. Morria um ícone da esquerda, daí tantos amaldiçoarem 1969. Já Lamarca desertou do quartel onde servia e foi à luta armada, fez uma imperceptível cirurgia plástica e namorou a musa da revolução, Iara Iavelberg. Tudo em 1969, não dava para perder tempo, logo ele, também, seria morto. 

Achando o AI-5 limitado, Costa e Silva decretou 11 Atos Institucionais em 1969 e outorgou a 7ª Constituição Brasileira, que incorporou todos os atos e decretos desde o golpe de 1964. A ditadura era legalista, o suprassumo do autoritarismo era disposto em lei. Pródiga em crises institucionais, teve uma séria quando Costa e Silva teve uma trombose e afastou-se. Assumiu uma junta de três militares, logo alcunhada de “os 3 patetas”, que impediu o vice (civil) Pedro Aleixo de assumir para ele aprender a não ser “do contra”, pois tinha se recusado a assinar o AI-5. Os “patetas” baixaram o AI-14, instituindo a Lei de Segurança Nacional – que previa pena de morte, prisão perpétua e banimento. A linha dura bancou a candidatura de Médici, tido como o pior dos ditadores, mas outro qualquer seria igual, era a lógica da época. Para moldar a geração que viria (a minha) o Decreto-Lei nº 869 pôs “Educação Moral e Cívica” no sistema educacional. E para encerrar o ano político de 1969, Paulo Maluf assumiu a prefeitura de São Paulo, iniciando uma eficiente carreira de predador do Estado. 


Sinto inveja de Benjamin Button, o personagem de Scott Fitzgerald que nasce velho e morre bebê. Poderia ter nascido em 1929 com 80 anos. Regredindo, em 1969 teria 40 anos e veria os fatos aqui descritos. Assistiria a um show de Chico Buarque e refletiria sobre as canções, ao invés de ir para os shows de hoje onde se pede para ²tirar os pezinhos do chão e jogar as mãozinhas para cima². Ouviria os lançamentos da época: Abbey Road, Led Zeppelin II, Tommy, Ummagumma, discos de Chico, Caetano e Gil, ao invés de ter que aturar o excremento que a indústria musical atual produz. Acompanharia as lutas e fatos políticos da época, ao invés de assistir a pasmaceira previsível que se tornou a política atual. Me preocuparia com o “pequeno” passo de Armstrong, ao invés da gripe suína, do aquecimento global e da corrupção no Brasil. Gostaria de ter 40 anos em 1969 e acompanhar tudo in loco. Mas, assim, tal qual Button, hoje eu teria dois meses de vida e seria inane. Como diria Lennon & McCartney, let it be... 

Dedico este artigo a minha “Daisy” (eterna namorada). “No curioso caso de Benjamim Button”, Daisy (Cate Blanchett) é sua paixão. Enquanto ele rejuvenesce, ela envelhece, mas o amor deles resiste a tudo, principalmente ao tempo. Em meu caso, minha Daisy não envelhece. Com seu amor, ternura e alegria oxigena minha vida, impedindo que eu mesmo envelheça. Assim, nosso amor nos eterniza!


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