SOARES, Gilbergues Santos. CAMPINA GRANDE: UMA CIDADE QUE JÁ FOI SINISTRA - Gilbergues Santos Soares. In: GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque; NORMANDO, Roberto Jeferson. ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS: Histórias, memórias e perspectivas da esquerda em Campina Grande. Campina Grande (PB): Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2025.
PARTE 4
Tratava-se de uma entidade com mecanismos e
reivindicações específicas, mas que pautava sua atuação pelas lutas políticas
nacionais. O CEC possuía um “mini-legislativo” com 21 representantes [79] que semanalmente
se reunia. Esses representantes, que podiam ser ligados a partidos políticos,
debatiam ideias e apresentavam projetos (Nascimento, 1990). É sintomático que
muitos deles tenham enveredado para a política institucional, como é o caso de
Ronaldo da Cunha Lima, para ficar em um exemplo. Talvez seja por isso que a
entidade fosse chamada, para o bem e para o mal, de “escola de líderes”
(Santos, 2015).
Media-se a relevância do CEC, para a cidade de Campina
Grande, pela forma como as eleições para sua diretoria mexiam com a cidade. Os
partidos e políticos tradicionais se envolviam na disputa, lutando aberta ou
disfarçadamente em prol das chapas ligadas às suas agremiações. Os candidatos à
presidência iam às salas de aula dos diversos colégios, públicos e privados,
participavam de debates e comícios à porta das escolas ou na Praça da Bandeira.
Ainda se faziam passeatas e distribuíam boletins e panfletos, além dos carros
de propaganda circulando pela cidade. No dia da eleição, ônibus e automóveis
transportavam os “eleitores” dos bairros para os locais de votação (Nascimento,
1990).
Até meados de 1963, o CEC era, em geral, presidido por
estudantes ligados aos partidos e políticos tradicionais. Com golpe de 1964, ou
por causa dele, estudantes de esquerda, ligados em sua grande maioria ao PCB,
passaram a dirigir a entidade. Como nos diz Oliveiros: “O CEC era grande, por
isso mesmo fecharam e acabaram com ele. Naquele tempo, não havia cursos
universitários e os secundaristas mandavam na cidade” (Oliveira, 1999, p. 9).
Atenta à conjuntura, a entidade se concentrou em ações, como os protestos
públicos contra a ditadura militar e manteve-se ativa até a edição do Ato
Institucional Nº 5. Com uma intervenção, em 1969, o CEC fechou suas portas para
nunca mais abri-las, até porque muitos de seus militantes partiram para outros
tipos de atuação política (Santos, 2015).
Como o movimento estudantil, as Ligas Camponesas
também se organizaram em Campina Grande. A mais relevante delas foi a Liga do
Bairro do Tambor, liderada pela advogada Ofélia Amorim, ligada ao deputado
federal Francisco Julião que esteve algumas vezes em Campina participando de
manifestações e reuniões (Almeida, 1999). Importa enfatizar que militantes do
PCB, juntamente com membros da Igreja Católica, atuavam junto às Ligas. “Não é
coincidência que o processo de formação inicial das Ligas ocorreu no início da
década de 50, quando o PCB começou a trabalhar no sentido de capacitar
teoricamente seus militantes, ou seja, criar quadros para a luta política”
(Aued, 1986, p. 53).
Campina Grande, como todo o país, entrou em ebulição
em 1963. Na eleição desse ano, Newton Rique foi eleito prefeito pelo PTB com
uma plataforma nacionalista e popular. Rique aprovava as propostas reformistas
de João Goulart e mantinha clara mensagem desenvolvimentista, influenciado que
foi pelos economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE),
onde ocupou o cargo de diretor entre 1960 e 1962.
Após a posse de Newton Rique, nacionalistas da cidade
promoveram manifestações em favor das reformas de base e pressionaram deputados
federais do Estado para que votassem a favor delas no Congresso Nacional. Mas,
com o golpe civil-militar, eles foram desarticulados e já, em junho de 1964,
Rique teve seu mandato cassado por um decreto do governo militar de Castelo
Branco. A justificativa para sacá-lo da prefeitura foi a acusação, nunca
comprovada, de ele ter cometido irregularidades nas contas da administração
pública (Sylvestre, 1988).
Cassar Newton Rique foi a forma dos militares para
desarticular o movimento nacionalista campinense. Militantes do MNB local, que
atuaram junto a Rique efetivando projetos reformadores, foram afastados da
administração municipal, pois o prefeito que assumiu, João Jerônimo da Costa,
havia se comprometido com o governo militar que implantava uma ditadura.
Campina Grande entrou nos anos 1970 sobre intervenção militar, sendo governada
por um major do Exército.
Os movimentos e organizações políticos aqui descritos
foram todos desarticulados por uma brutal repressão estatal. Isso foi o começo
do fim. Foi a partir da ditadura militar que Campina Grande foi deixando de ser
“sinistra” para se tornar “destra”, mas isso já é história para outro momento.
[79] Cada escola secundária de Campina Grande elegia um representante para compor o conselho da entidade.
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