Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
domingo, 26 de dezembro de 2010
AFINAL, O QUE VOCÊ FEZ?
lembra que o natal chegou e pergunta: “O QUE VOCÊ FEZ?”
Este ano completou-se 30 anos do dia em que, como falou Milton Nascimento, “... um simples canalha matou um rei”. Nada, ninguém, poderia ter feito a bala parar.
E assim é a nossa vida: as balas que atiramos não voltaram e nem voltarão.
Por isso é que John Lennon perguntava o que se tinha feito!
Como não dá para parar as balas atiradas, por que não lembrar delas
e refletir se foi realmente necessário atirá-las?
Mas, não façamos estardalhaços. Nada de promessas mirabolantes, planos revolucionários ou mesmo ações grandiosas que muito provavelmente não conseguiremos por em prática.
Sugerimos apenas que no próximo ano não mais atiremos as mesmas balas desnecessárias, pois claro está que uma vez atiradas elas não retornam para a arma de quem as atirou.
O natal é sim um grande símbolo. Sempre penso em simbologias por estes dias, pois cada um de nós relaciona o natal a alguma coisa bem particular e não só ao fato de que este dia é o do aniversário de Jesus Cristo.
Confesso que no passado não gostava do Natal por relacioná-lo a coisas ruins que aconteceram em minha vida – tinha lá meus motivos. Mas, hoje é bem diferente. Relaciono o Natal a coisas boas.
O Natal, hoje, é tudo aquilo que posso fazer de bom para as pessoas que amo e tudo aquilo que elas fazem de bom para mim.
É isso, então, que desejo para vocês todos – que seu natal possa ser relacionado a coisas maravilhosas.
Gostaria de deixar para todos nós uma frase de uma das músicas
que meus verdadeiros heróis (The Beatles) fizeram: “E no final, o amor que você receb e e do mesmo tamanho do amor que você deu”.
Feliz Natal (oh, oh, oh) e muitas coisas boas em 2011.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Um país de Tiriricas.
Seria, para nossa história republicana, alvissareiro ter tantas eleições não fossem os quinze militares presidentes; os quatro presidentes empossados e depostos, os três que renunciaram e dois que, eleitos, não foram empossados, além de sete que governaram sem ter voto algum. Foram nove eleições indiretas (com votações no Congresso Nacional) e quatro golpes de Estado bem sucedidos, para não falar das tentativas. Nosso processo eleitoral evoluiu manquitolando. Em 1960, última eleição antes do golpe de 1964, 6 milhões de eleitores votaram. Na seguinte, 29 anos depois, foram 120 milhões de eleitores. Crescíamos quantitativamente enquanto desaprendíamos a votar.
Lidamos com a democracia em termos quantitativos e não cuidamos de sua qualidade. Ainda não atentamos para o fato de que eleição é condição necessária, porém insuficiente das democracias. Há tanto exercendo o sufrágio universal o que sabemos sobre a representatividade? Ao ver o palhaço Tiririca eleito com mais de 1 milhão de votos, a resposta é pouco, quase nada! Seguimos sem saber o real significado de contratar a representação política pelo sufrágio.
Useiros e vezeiros na “arte” da representação nos blasonamos dos números exacerbados, mas não da qualidade. Ufanamo-nos da eficiência do sistema eleitoral com suas urnas eletrônicas e a rapidez com que saem os resultados, i.e., valorizamos a forma, não o conteúdo. Tivéssemos uma essência democrática, Tiririca não seria siquer candidato, quanto mais eleito. Mas, porque ele não poderia ser candidato? Por que é semi-analfabeto ou coisa que o valha? Em hipótese nenhuma, não!
Em tempo, no Dicionário Aurélio o verbete Tiririca possui três significados: (1) erva daninha que invade velozmente terrenos cultivados ou caule tuberculoso que dificilmente se erradica, a não ser com poderoso herbicida; (2) pessoa furiosa; (3) punguista, batedor de carteiras.
Tiririca não existe, é criação de Francisco Oliveira Silva – um imigrante nordestino que, ido tentar a sorte em São Paulo, resolveu fazer graça de sua miserabilidade econômica, social e intelectual e fez-se famoso por (des)graça da indústria do entretenimento que transforma o nada em tudo. Votou-se neste tal Francisco Silva ou em um palhaço que não tem a menor graça? Quantos votaram conscientes? Quantos votaram para protestar ou desvalorizar o sistema eleitoral brasileiro?
Tiririca não tem méritos para reivindicar uma cadeira no parlamento. A forma risível como se apresentou diz muito do que pretende. O escárnio o qual trata a instituição que fará parte justificaria não obter votos. Seus bordões de campanha retratam o descompromisso para com res pública. Ao dizer “vote em Tiririca, pior não fica”, avisa que o tipo de representação que temos é ruim, que vai piorar e que se esforçará neste sentido. Ao zombetear: “Você sabe o que faz um deputado federal? Eu não sei, mas vote em mim que eu te conto”, sinaliza que pretende se locupletar do erário. Os que elegeram Tiririca não pensaram na qualidade da democracia, nem no que ele pode fazer em nome da representação. Claro, o que quer que ele faça é responsabilidade, também, de todos os “tiriricas” que nele votaram.
A revista Época trouxe matéria mostrando que pouco se sabe das funções de um deputado. Em uma pesquisa, 60% dos entrevistados afirmaram que um parlamentar serve para arrumar empregos, ajudar aliados em negócios com o governo e promover eventos de lazer. A lógica é tacanha mesmo - o deputado não serve para aprovar leis ou fiscalizar os atos do governo, ele seria a mão invisível que retira do Estado benesses (e outras coisas mais) para si e para seus aliados. Tiririca dizia que queria ser deputado para ajudar os miseráveis, a começar pelos seus parentes.
Agora, a dúvida é em qual das três categorias, dispostas no Aurélio, ele se encaixará. Será uma erva daninha dificilmente erradicável? Um deputado furioso? Será um contumaz punguista das finanças públicas? Ou as três coisas juntas? Aguardemos, o tempo nos dirá. Mas, por favor, não façamos apostas, pois as três opções são péssimas.
Assim, resta-me o Jus esperniandis – o direito de protestar ex-post facto. Tiririca, os ex-jogadores de futebol, as “mulheres-frutas”, os cantores escatológicos e os néscios de toda sorte diziam a mesma coisa: “Quero me eleger para me dar bem”. Foram eleitos por um sistema que quase tudo aceita e que se recusa a fazer uma reforma política que impeça que a palhaçada se instale no Congresso Nacional como erva daninha. Esses tiriricas expuseram a face mais ridícula, antidemocrática e cruel de uma sociedade que costuma fazer pouco caso de suas instituições.
Em 1953 Robert Dahl cunhou o termo poliarquia para denominar um tipo de democracia representativa moderna. Um sistema político dotado de instituições democráticas, com funcionários eleitos, eleições livres, justas e freqüentes, onde a liberdade de expressão, as fontes de informação diversificadas, a autonomia para a associação e a cidadania inclusiva sejam de fato e de direito. Esta poliarquia não poderia preceder desses elementos e a falta de apenas um deles deixaria o conceito capenga. Como se vê, estamos bem longe de sermos uma poliarquia.
Com tantas tiriricas a solta, empestando nossas instituições como ervas daninha ou coisa pior, como podemos denominar nosso sistema político? Palhaçocracia?
Outubro/2010.
Apenas, escute e se emocione....
Nada para comentar, nada para analisar,
Apenas, escutemos e nos emocionemos!!!!
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Torturando dados e analisando fatos – Parte III
Com uma carreira política pautada por boas atuações (já foi vereador e prefeito de João Pessoa, além de deputado estadual), que lhe valeram boas avaliações, Ricardo tem (ou tinha) como marca o fato de se colocar como alternativa aos dois grupos políticos hegemônicos na Paraíba – o liderado pelo governador José Maranhão e o capitaneado pelo ex-governador Cássio Cunha Lima. A médio e longo prazos, acumulando experiência, além de cargos em nível federal, ele se tornaria popular pelo estado e poderia vir a ser candidato a governador em situação amplamente favorável, até porque estes dois grupos políticos já demonstram esgarçamento de seus materiais políticos.
Mas, Coutinho apressou-se e ao invés de ser a alternativa “a tudo isso que aí está” (como ele mesmo dizia), pavimentando sua carreira em bases sólidas, aliou-se ao que ele dizia ser diferente. Aliás, não esqueçamos que Ricardo contou com o apoio de José Maranhão, quando foi candidato a prefeito de João Pessoa, e agora se coligou com Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, de quem já foi um critico feroz. Ricardo deixou de ter coloração própria, diluiu-se no cenário político e, pior, perdeu apoio junto a uma fatia importante do seu fiel eleitorado da capital – a classe média, que o respeitava exatamente por ser diferente e alternativo.
Em março deste ano isso era depreendido pelas pesquisas. Numa delas, Ricardo aparecia com apenas 3 pontos percentuais (dentro da margem de erro, portanto) a frente de Maranhão na cidade de João Pessoa, i.e., onde se esperava que ele largasse com algo em torno de pelo menos 20 pontos de vantagem ele dava sinais de estagnação. Já em Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral do estado, a situação era parecida – Ricardo só ficava 2 pontos a frente de Maranhão. E em várias outras regiões do Estado, Maranhão abria um frente de 15 a 20 pontos.
Em julho, o Instituto Consult aferiu que Maranhão tinha 47,5% das intenções de voto e que Ricardo contava com 30,5%. Já em agosto, Maranhão tinha 48% e Ricardo 32%, segundo o IBOPE. Mas, nem sempre foi assim. Em setembro de 2009, pesquisa IBOPE dava a preferência de Ricardo no patamar de 38% e a de Maranhão em 37%. Na medida em que o eleitorado foi percebendo a descoloração político-partidária de Ricardo ele foi caindo nas pesquisas. Prova disso é que sua rejeição, que até março desse ano ficava em torno de 18% pontos, foi a 27% no final de julho – aquele limite perigoso para os candidatos como já vimos.
Assim, caminhamos para o desfecho eleitoral, considerando que o processo estadual está atrelado as (in)definições da questão judicial que cerca a candidatura de Cássio Cunha Lima. Aliás, um dos problemas que Ricardo enfrenta é esse, pois o PSDB local, e sua liderança maior, não estão nesta campanha com força total. A coligação PSB/PSDB/DEM era para Coutinho a possibilidade de contar com uma robusta estrutura de campanha mediante a popularidade e o capital eleitoral de seus novos aliados. Mas, isso não aconteceu, pois resignadamente esperam pela decisão judicial.
Cássio vai mantendo sua candidatura enquanto espera o julgamento dos recursos impetrados no âmbito da justiça federal. Sabe-se que quanto mais tempo levar-se para julgar a sua impugnação, nos quadros da Lei Ficha Limpa, mais tempo ganhará para ver se chega no dia da eleição podendo ser votado. Essa situação traz um estado de insegurança para todos, pois se ele for eleito e for considerado “ficha suja” não poderá ser diplomado, portanto não tomará posse. E, neste caso, as urnas não vão absolvê-lo, pois elas não têm esse poder - não lhes demos tais prerrogativas em nossos arranjos institucionais.
Cabe, aqui, um esclarecimento. O que acontece se Cássio for eleito e não puder tomar posse? Pela legislação vigente, se ele tiver obtido mais de 50%, a justiça terá de convocar novas eleições para senador, mas só para uma das vagas em disputa. Se ele não conseguir alcançar tal patamar, a justiça terá que dar posse ao primeiro da lista dos votados que não foi eleito. Seria de bom alvitre que a justiça logo se definisse para que o jogo político-eleitoral na paraibana pudesse se resolvido nas urnas e não nos tribunais.
Setembro/2010.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Torturando dados e analisando fatos – Parte II
Em um dado momento a tese do “pós-Lula” até funcionou a contento. Vinha dando certo a ideia de tratar FHC, Lula e Serra como o produto mais bem acabado dos 25 anos de redemocratização. Serra tentava ser a síntese dos 16 anos de governos de FHC e Lula, uma consequência natural de um processo de aprendizado coletivo. Retirava o que os dois tinham de ruim, focava nos bons atributos, e ainda ficava acima das diferenças e preferências partidárias. Um mundo perfeito, onde Serra seria a opção (melhor) a Dilma. Além disso, diluía o que há de específico do governo Lula, que na verdade é o que lhe dá a popularidade nas nuvens, para “desplebiscitar” a eleição. Mais um erro de Serra é não compreender (ou não aceitar) que a popularidade de Lula deve-se, dentre outras coisas, as qualidades de seu governo.
Mas, a tese da díade, da comparação entre dois projetos, dois partidos e, fundamentalmente, entre dois homens, era imbatível. Nós, brasileiros, não resistimos a um bom e velho embate onde a luta do “bem” contra o “mal” novelístico seja o centro da discussão. Continuamos a preferir eleições em preto-e-branco, não em cores vivas. Assim, o atual processo eleitoral se dá em dois patamares. Em um, a candidata da situação resume tudo a figura do seu guia e, portanto, na sua despersonalização. E no outro, o candidato da oposição encerra sua campanha em explorar o tema da saúde e da quebra de sigilo fiscal. A eleição vem sendo amornada, beirando a frieza.
Não temos um debate profícuo. Não temos uma saudável exploração dos projetos de governo. Também, não conseguimos detectar a importância de outras candidaturas, como a de Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), pela variedade de temas que vão tentando apresentar naquele exíguo espaço de tempo do guia eleitoral, mediante as espartanas regras impostas aos candidatos nos debates televisivos. A democracia brasileira não é, ainda, suficientemente madura para comportar em seus embates eleitorais uma candidata com um perfil complexo como o de Marina Silva. Nosso sistema político gosta de rotular os candidatos e ela é “inrotulável”. Comprometida até a medula com a defesa do meio ambiente e de um tipo de desenvolvimento sustentável não deixa de tratar dos temas da economia, ciência e tecnologia. Evangélica, defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Vindo da floresta amazônica, sobreviveu à miséria e ao analfabetismo, mas não endureceu e comporta-se com leveza, parece não pedir nada, apenas que a escutem. Marina é a candidata que marqueteiros não conseguem plastificar, ela tem uma couraça própria e isso nossa frágil democracia ainda não aceita, se é que um dia aceitará.
Serra, o Cristiano redivivo
Desse estado de coisas depreende-se que Serra está sendo acometido do velho fenômeno da política nacional – a "cristianização", surgida na eleição presidencial de 1950. O PSD e o PTB queriam Vargas como candidato por sua popularidade e chances de vitória, mas ele demorou a decidir por qual dos dois sairia candidato. O PSB cansou de esperar e lançou a candidatura de Cristiano Machado. Tendo a vitória de Vargas (que se lançou pelo PTB) como certa, os líderes do PSD abandonaram Machado à própria sorte, usando o sortilégio de, reconhecendo sua postulação, apoiarem Vargas. Desde então, sempre que um partido (e aliados) abandona sua candidatura oficial e migra para outra com chances de vitória, afirma-se que ele "cristianizou".
Se Serra não está sendo cristianizado, porque o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, liberou prefeitos da base aliada de quase uma centena de cidades de Pernambuco para votarem em Dilma? E porque, em Minas Gerais, Aécio Neves trabalha em favor do voto “dilmasia”, onde o eleitor consagra apoio a Antônio Anastásia (candidato a reeleição pelo PSDB) e a Dilma?
No Ceará, Tasso Jerreisatti não usa a imagem de Serra em seu material de campanha. Yeda Crusius não citou José Serra no lançamento de sua campanha à reeleição ao governo do Rio Grande do Sul. O senador Agripino Maia, do Rio Grande do Norte, além de não citar Serra, não para de elogiar Lula. Em Alagoas, o tucano Teotônio Vilela tenta reeleger-se governador se mostrando íntimo de Lula. No Espírito Santo, o tucano Luiz Paulo trata apenas sua candidatura e seu jingle abusa do nome Luiz, ao ponto de não se saber de qual Luiz se fala. No Paraná, Beto Richa (PSDB) faz poucas referências a Serra em seu material de campanha. Com aliados desse naipe, o sonho de Serra ser presidente parece ter virado um grande pesadelo.
Em São Paulo, Serra só aparece ao lado de Geraldo Alckmin na fachada do comitê de campanha. Coincidência ou não, Alckmin lidera a disputa para o governo - segundo o Datafolha (num levantamento recente) ele tem 49% das intenções de voto, contra 23% de Aloizio Mercadante (PT); mas Dilma tem uma vantagem de mais de 26% sobre Serra no estado. Ao que tudo indica, Alckmin cobra com juros e correção o desgaste que sofreu na eleição de 2006.
Aqui mesmo na Paraíba, não é diferente. Vêem-se pouquíssimas referências dos candidatos do PSDB e do DEM a candidatura de José Serra. O ex-governador Cássio Cunha Lima (candidato a senador) trabalha em faixa própria sem referir-se a candidatura de seu partido em nível nacional. O candidato a governador Ricardo Coutinho (PSB) utiliza a imagem de Lula e Dilma em seu guia eleitoral, num gritante conflito de interesses, pois seu vice é Rômulo Gouveia do PSDB. Por sinal, vejamos em quantas anda a eleição no estado da Paraíba.
Continua em breve ....
sábado, 18 de setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Torturando dados e analisando fatos – Parte I
Já se disse que na estatística se tortura os dados até que falem. “Supliciarei” dados sobre as eleições considerando que pesquisas são pouco preditivas e que (apenas) ponderam resultados num dado momento. Elas não falam por si só e, para que referenciem resultados (nada mais do que isto), deve-se estudar suas metodologias dispostas nos sites do Supremo Tribunal Eleitoral (STE) e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) – eles têm os registros das pesquisas e informações sobre os métodos de coleta de dados utilizados pelos institutos.
De minha parte, observo primeiramente os dados sobre a rejeição dos candidatos, aferida a partir da questão: “em qual candidato você não vota em hipótese nenhuma?” Regra básica da análise eleitoral é considerar que só tem chances factíveis de se eleger aquele que, nos cinco meses antecedentes à eleição, não ultrapassar em momento algum os 27 pontos percentuais de rejeição. E porque não atentar, de início, para os índices de intenções de votos? Elementar, pois quando o entrevistado aponta uma preferência considera-se a real possibilidade dele mudar de opinião.
Em se tratando de opções eleitorais, preferir é diferente de escolher em definitivo. Significa que o eleitor acha melhor ou gosta mais de um determinado candidato e que dentre duas, três ou quatro opções ele faz uma escala considerando sua primeira melhor opção e assim sucessivamente. Neste caso preferir tem algo de incerteza. Já rejeitar é impositivo. É quando o eleitor não admite, recusa e até repele um determinado candidato
O cenário plebiscitário: o poste virou candidato e a oposição perdeu o discurso.
Vejamos a série histórica da sucessão presidencial, valorizando duas variáveis: a inconteste capacidade de Lula transferir votos para Dilma Rousseff e a forma como o PSDB, e seu candidato José Serra, atuam no jogo eleitoral. Atentemos para a evolução dos números, percebendo que a série é favorável a Dilma. Enquanto ela, partindo do nada, foi crescendo, Serra iniciou em um patamar alto, foi patinando e depois iniciou vertiginosa queda.
Em agosto de 2009 José Serra tinha uma rejeição de 21% e Dilma de 19%. Serra aparecia em primeiro lugar nas pesquisas tendo entre 19 e 25 pontos percentuais à frente de Dilma que apresentava uma preferência entre 16 e 24 pontos. Esta variação se dava entre as pesquisas feitas pelos institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, CNT/Sensus e Vox Populi. Já a aprovação do governo Lula e a aferição de sua popularidade seguiam acima dos 70%. Por isso mesmo, ele conseguia “plebiscitar” a eleição, i.e., a comparação entre os anos FHC e os anos Lula tornava-se o centro da discussão. Por essa lógica, Dilma e Serra seriam tão somente os representantes dessa suposta díade que a muito vem sendo alimentada por PT e PSDB. Sabemos, no entanto, que estes são, para o bem e para o mal, mais símeis do que divergentes.
A questão é que Dilma aceitou de bom grado ser o poste de Lula, mas Serra não só rejeitava este papel em relação a FHC, como ainda tenta (em vão) se diferenciar do ex-presidente. Deve ser por isso que FHC ainda não apareceu no guia eleitoral serrista. O problema não reside no fato de Serra querer ser diferente de FHC - este é um direito seu. O drama é Serra ter tentado se comparar a Lula. Quando a oposição quer se igualar a situação é por reconhecer suas fragilidades. O pior dos mundos para a oposição é ficar sem discurso, é elogiar políticas desenvolvidas pela situação para poder ficar bem com o eleitorado.
A eleição é plebiscitária devido ao estratagema de Lula que, egocentricamente, decidiu que ela deve girar em torno dele mesmo. O que faz Lula, no guia eleitoral, senão insistir no plebiscito? Ora implícita, ora explicitamente, ele exerce sua melopéia: “se você, eleitor, gostou dos meus dois governos, vote em Dilma, se não gostou vote em Serra e aprove os oito anos de FHC”. Em março de 2008 a candidatura Dilma era quase inexequível com índices de rejeição acima dos 40%. Com tamanha recusa nem Madre Teresa de Calcutá se elegeria. Neste momento, Dilma tinha o pior cenário possível por combinar baixo índice de intenção de voto com alto índice de rejeição. Inversamente proporcional Serra tinha alto índice de intenção de voto com baixo índice de rejeição.
Mas, a rejeição a Dilma foi diminuindo na medida em que Lula esclarecia que a havia escolhido para ocupar a presidência em seu lugar. Ele não dizia (nem diz) que será por um único mandato, enquanto tira “férias”, até que retorne (em 2015) para mais dois mandatos. Esse foi o cenário que Lula concebeu para soverter de uma vez por todas a tese da re-reeleição. A idéia do 3° mandato agredia em demasia sua biografia que pretende ser maior e melhor do que a de Getúlio Vargas. Eis o desespero do PSDB: ver Lula (e o PT) se perpetuarem no poder, abençoados pelas urnas, até pelo menos 2022. Não é a toa que vez por outro Serra afirma que o PT tenta fazer no Brasil o que o PRI fez no México, permanecendo por mais de 70 anos no poder
Ainda sobre o cenário de 2009, vale lembrar que, em junho, 81,5% avaliavam positivamente o governo Lula e em setembro este índice era de 76,8%. Essa queda se deu pela insistência de Lula em defender e proteger José Sarney e seus atos escusos na presidência do Senado. Lula havia enlouquecido? Não, fazia cálculos. Ao defender Sarney e et caterva atraia o PMDB para sua composição. Michel Temer veio a se tornar o vice de Dilma e o PSDB viu suas esperanças de compor uma robusta coligação se esvaírem. Sem conseguir a questionável (já que, teoricamente, pouco somaria) chapa “puro-sangue”, com Aécio Neves na vice-presidência, restou a Serra a “oferta” do DEM e o obscuro Índio da Costa caiu de pára-quedas na chapa tucana. Aliás, que motivos levaram os caciques do DEM declinarem da postulação de vice na chapa tucana?
A estratégia de Lula começou a funcionar a partir de dezembro de 2009. A diferença pró-Serra foi sendo pulverizada e Dilma foi subindo nos patamares de aceitação das pesquisas. Veja-se que a curva dos que sabiam que Dilma era a candidata de Lula foi sempre ascendente Em dezembro de 2009, 52% relacionavam Dilma a Lula. Em março de 2010 o Instituto CNT/Sensus divulgou que 53% dos brasileiros votariam no candidato apoiado por Lula, mesmo sem saber qual. Em maio o indicador foi a 61%. Com o guia eleitoral o percentual bateu à casa dos 80%. Isso demonstra o poder de transferência de votos de Lula para seu poste, digo, candidata.
O dilema do poste parece finalmente resolvido.
A campanha eleitoral começou com Dilma e Serra enfrentando seus demônios.
Dilma tendo que demonstrar que não é um mero instrumento nas mãos de Lula e que, em que pese o apoio e a indicação, pode fazer um governo autônomo. Ao mesmo tempo não pode dar a entender que tentará se descolar de seu mentor, pois muitos aceitam nela votar, mesmo sem conhecê-la bem, desde que preserve uma fidelidade inquebrantável a Lula. Ela precisava (ainda precisa) convencer bem o eleitorado de que merece os votos lulistas. Esta pode ser a primeira vez, no Brasil, que uma pessoa sem capital eleitoral algum se tornará presidente da República!
Provavelmente teremos, pela primeira vez, uma mulher presidente. Mas, é preciso ter claro que a questão de gênero é algo que pouco influencia. Inclusive pesquisas demonstram que mulheres (de nível social, idade, instrução e profissão variados) preferem votar em homens. Dilma poderá ser eleita quase que exclusivamente pelo instrumento da transferência de votos. Finalmente, o dilema do poste parece resolvido!
Existe, ainda, um espectro rondando a candidatura de Dilma Rousseff. Trata-se do câncer linfático por ela contraído - assunto delicado, que deve ser conduzir privadamente. Mas, em política não existem altruísmos e, como diria ACM, “em se tratando da luta pelo poder, abaixo do pescoço tudo é canela”. Foi assim que o colunista Cláudio Humberto revelou (no Jornal da Paraíba em 03 de agosto desse ano) que o PSDB via a melhor (se é que existe uma) forma de inquirir Dilma sobre seu estado de saúde. Ele relata que um alto tucano afirmou que (SIC) “o eleitor tem o direito de saber se o voto é para Dilma ou Michel Temer”. Serra quer provocar este debate, mas teme parecer cruel aos olhos dos eleitores e perder mais ainda. Sabemos que a doença de Dilma é um tema tabu no PT – seria a única ameaça à vitória dela. Em tempo, o eleitor deve saber que ao se votar no candidato a presidente vota-se automaticamente no vice. Ele existe para substituir o titular.
Já Serra tem a difícil tarefa de convencer o eleitor que é melhor do que Dilma e de tudo o que ela representa. Também, não poder negar os pontos positivos do governo e a estratosférica popularidade de Lula. Precisa minimizar a máxima de que “em time que está ganhando, não se mexe”. Perdeu e perde bastante tempo em sua campanha tendo de combater o discurso governista de que “se estamos bem, porque mudar”. Serra trava titânica luta contra o fato de que se Dilma é a continuidade do bem avaliado governo Lula, porque eleger alguém que é contra a tudo isso.
O grande problema de Serra é estar pela segunda vez na situação errada, mesmo que esteja legitimamente reivindicando o poder. Em 2002 ele caracterizava a proposta de continuidade do projeto liberal de FHC, mas a onda era a da mudança social. Agora ele trouxe a proposta de mudança, mas a onda é de continuidade. Ele até tentou surfar nesta onda. Chegou mesmo ao ponto do desespero usando a imagem de Lula em seu guia, mas na prancha lulista só cabe Dilma.
O que faltou a Serra foi discernimento para entender que seu momento havia passado e que as feridas da eleição de 2006, quando tentando se preservar impôs a Geraldo Alckmin o fardo da derrota, não haviam cicatrizado. Também faltou tato e argumentos para lidar com Aécio Neves – pedir a ele que sacrificasse uma eleição certa para o Senado, além de seu promissor futuro num momento pós-lulismo, em troca de um projeto fadado ao fracasso foi algo próximo da insensatez.
Enquanto meditava hamletianamente se seria ou não candidato, alimentando dúvidas sobre a exequibilidade de seu projeto.
Serra parecia não se dar conta que havia ficado sem opção – tinha mesmo que ser candidato, pois os canais alternativos haviam sido fechados pelo tucanato paulista. Ao se decidir, Serra cometeu um erro de estratégia que para muitos foi seu suicido político. Abandonou a tese de 2002, quando propunha ser a oposição dentro da continuidade, e acoitou a tática de ser a continuidade dentro da oposição. Perdeu a identidade, ficou com um discurso difuso. Teve momentos em que criticava seus companheiros de partido e de sua aliança (veja-se as duras criticas feitas ao DEM, no caso do “mensalão de Brasília”) e elogiava Lula. Por vezes parecia ser mais lulista do que a própria Dilma. Agia tal qual o cidadão que, tendo mudado de país, esqueceu seu idioma e não conseguiu apreender o do novo país.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Fantasia e miséria na Copa
O momento mais emocionante do jogo entre Brasil e Coreia do Norte, ontem, aconteceu antes que a bola rolasse. Foi durante a execução do hino do país adversário, quando as câmeras flagraram o atacante Jong Tae-se se debulhando em lágrimas. A expressão de choro permaneceu em seu rosto durante a partida. Se ele jogasse como chora, estaríamos fritos.
Medíocre, sem brilho, apático, previsível. O Brasil fez uma estreia sofrível na Copa do Mundo. Tostão e Paulo Vinícius Coelho saberão explicar mais e melhor as deficiências dessa seleção de gladiadores. Mas mesmo aí, nessa identidade de "guerreiros da pátria" que foi forjada, com a mão de Dunga, para fins de mercado, há um abismo entre o que a propaganda vende e a mercadoria que foi entregue em campo.
A culpa, claro, não é dos atletas que lá estão. Vários deles, meninos assustados, visivelmente no limite das suas capacidades. A seleção de Dunga é inimiga da fantasia. Isso torna mais flagrante, como ficou claro mais uma vez, o divórcio entre o que acontece dentro de campo e a parafernália de expectativas e entretenimento que se cria em torno dele. O business da Copa pede algo que o jogo não dá. Mas que é preciso arrancar dele ainda assim, nem que seja no gogó. E ninguém exprime melhor essa necessidade do que Galvão Bueno, dublê de locutor esportivo e animador do país. Mal termina o jogo e a Globo nos oferece uma sequência de imagens tediosamente iguais da massa espremida em praça pública e se acabando ao som de alguma música ruim país afora.
Os clichês da brasilidade então inundam a tela: é o bundalelê do cantor Latino em São Paulo, é "essa coisa gostosa nas areias de Copacabana que contagia o país inteiro", é "a chuva que não esfria o coração pernambucano". Tudo somado, é muita fantasia na TV para um espetáculo tão miserável. Ou muita miséria na TV para tão pouca fantasia em campo. Confundir tudo é a alma do negócio.
domingo, 13 de junho de 2010
Abaixo o patriotismo estulto
Começou a Copa, começaram as nefandas cenas explícitas de "patrioteirismo". Nada contra quem gosta de exibir seu fervor a cada quatro anos. Tudo contra a obrigatoriedade de fazê-lo, induzido por um tipo de jornalismo que troca a caneta e, principalmente, o microfone pela vuvuzela. E pela propaganda que diz que só sou brasileiro se for "brahmeiro" e guerreiro.
Que faço eu aqui, que não bebo e ainda por cima sou da paz? Tão da paz que não concebo o futebol como uma guerra de afirmação de uma tribo. É muito mais que isso. É um espetáculo. E, no espetáculo (qualquer um), o fundamental é a beleza, não a cor da camisa que vestem os participantes.
Não faz sentido, para mim pelo menos, torcer para que um filme brasileiro ruim leve a Palma de Ouro em Cannes, se na competição estiver também um filme argentino dos bons (ou iraquiano, ou palestino, ou afegão, para citar apenas tribos que, estas sim, estão necessitando da dose de autoestima positiça que ganhar uma taça traz).
O Brasil, no futebol, não tem mais nada a provar a quem quer que seja. É o único território em que somos, inequivocamente, os melhores do mundo. Tão melhores que nossos jogadores melhoraram os campeonatos espanhol, inglês, francês, italiano, até turco, meu Deus, ao passo que a ausência deles vampirizou o Campeonato Brasileiro, transformado em cemitério dos elefantes e em território dos que ainda não seduziram os "gringos".
Não, não sou contra o "patrioteirismo" por achar que só vale quando e se o Brasil algum dia ganhar o mundial de saúde, educação ou equidade. Ou um Nobel. Não é uma comparação válida. O que realmente me incomoda é que, se o patriotismo é o último refúgio dos canalhas (Samuel Johnson, 1709/1784), ser obrigado a tornar-se canalha a cada quatro anos é uma canalhice.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Sete argumentos para ver a Copa do Mundo cercado por mulheres.
E não falo das pedaladas de Robinho, do jogo insípido de Kaká e nem dos gols óbvios de Luiz Fabiano – o resto não merece comentários, aliás, o que esperar de um time cujo melhor jogador é o goleiro? Falo, de um meio-campo que tinha Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates (meu Deus!), apoiado por Leandro e Júnior, laterais ofensivos, diria letais. E aquela defesa que, com Oscar e Luisinho, saía tocando a bola e só dava chutão prá frente em último caso. Certo, Valdir Peres era um goleiro mediano, mas existe perfeição? E, de quebra, tinha Serginho Chulapa, centroavante eficiente, e Éder, com aquele canhão no pé lembrando a patada atômica de Rivelino. Dasayev, goleiro da URSS, siquer viu aquela bola que Falcão deixou passar e Éder mandou ver.
Já que “se não tem tú, vai tú mesmo”, como se dizia, pois é fato que não temos mais artistas da bola. Se tiver, eu vos imploro, me digam qual ou quais. E não vale “artista” fabricado em campo de grama artificial, pré-aposentado, guerreiro e/ou “brahmeiro”, obeso, alcoólatra, envolvido com traficantes e que freqüenta baile funk, que gosta de fazer “programinha diferenciado”, garoto propaganda de qualquer coisa, jogador-pagodeiro-evangelizado, enfim, não vale....
Então, o que mais nos resta? Como diria aquela petista aloprada, relaxar e gozar. Daí, que vem a calhar os argumentos de porque é bem melhor assistir aos jogos da Copa do Mundo cercado de mulheres. Eu, pelo menos, estarei cercado de três das mais belas: minhas duas filhas e minha esposa, que entende de futebol mais do que muito marmanjo por aí. Lembro, apenas, que não fui eu quem os criou, peguei-os em um site e fiz alguns retoques.
Elas curtem Copa do mundo - Por mais que odeiem o futebol, tudo muda de quatro em quatro anos. Muitas não torcem por time algum, mas na Copa torcem pelo Brasil e passam a entender dos meandros do futebol como se assistissem todas as mesas redondas, inclusive a de Milton Neves, sobre futebol que passam na TV no domingo a noite.
Elas entram no clima do jogo - Decoram o ambiente com bandeirinhas, bolas, faixas e qualquer outro adereço verde e amarelo. Querem camisas, pintura de rosto e de unhas e tudo mais que mostre um jeito de torcer com estilo. Claro, quando acaba a Copa vai tudo pro lixo e não queira guardar aquela bandeirinha de lembrança só porque o Brasil foi campeão. Ao contrário, de nós homens, as mulheres não se emocionam com o futebol, são de uma objetividade odiosa, daí que eu acho que Dunga tem a alma feminina – vai ser objetivo assim lá na Alemanha.
Na Copa, elas aceitam quase tudo – No dia-a-dia, quando nosso time joga, elas reclamam dos palavrões, passando pela cerveja, até o fato de “não passar nada que preste na TV, só futebol”. Mas, na Copa, podemos gritar e tomar todas; xingar o juiz e sua genitora; proferir os palavrões mais escabrosos (de corar Wanderley Luxemburgo e Felipão); fazer macumba contra a Argentina, preferencialmente. Isso tudo faz parte do clima da copa. Então, porque perder a chance? Aproveite, é só de quatro em quatro anos. Lembre que já fomos a todas as copas, já os coitados dos eslovenos, que vão pela segunda vez, não fazem nada disso.
Você vai poder dar aquela aula de futebol – Elas não querem saber da escalação do Flamengo naquele jogo, em 1979, contra o Vasco, em que Roberto Dinamite saiu machucado no 1° tempo e Zico fez um gol de falta aos 43 do 2º tempo. A escalação de seu time quando ele foi tri-campeão estadual é desdenhada por sua amada. Agora, você vai deixar sua garota impressionada por saber que Ryan Nelsen é o único jogador da Nova Zelândia a atuar na Europa; que o meio-campo da Eslovênia tem Strba, Kopunek, Hamsik e Weiss; que Gana é a única seleção que joga com um esquema 4-5-1. Imagine a admiração de sua digníssima ao ouvir você citar a escalação da Coréia do Norte, nosso primeiro adversário na Copa. E a alegria dela em te acompanhar para ver Costa do Marfim X Portugal, compreendendo que você precisa analisar nossos adversários da 1ª fase! Aproveite para dizer tudo aquilo que você sempre quis, mas ela nunca lhe deu ouvidos, mas seja rápido, pois a Copa dura apenas um mísero mês.
Elas fazem os preparativos para os jogos – Cervejas compradas no mercadinho da esquina? Nem pensar! Pacotinhos de oleosas batatas fritas? Deixe que o time de Dunga é quem vai fazer seu colesterol subir. Só na Copa elas fazem festa por causa do futebol. São sandubas, cervejas, caipirinha de saquê, vinho, acepipes em cumbuquinhas verdes e amarelas, pode até rolar um churrasco antes e depois do jogo, nunca durante. Na Copa do Mundo de 2002 teve jogo passando na TV bem cedo, por causa do fuso horário – foram os melhores cafés da manhã que tive em minha vida. Você não vai perder uma dessas, vai?
Elas não bancam o torcedor-técnico – Se sua cara-metade passa o jogo mexendo na escalação e no esquema tático, além de narrá-lo, tenho pena de ti, pois as mulheres não querem saber o como e o porquê, querem ver gol para gritar e te abraçar. Dane-se se Pato, Ganso e Neymar ficaram de fora. Apenas, recomenda-se desligar os celulares, vai que uma amiga, daquelas que não sabe que existe Copa do Mundo, liga na hora do jogo para colocar a conversa em dia!
E se todos os argumentos acima não te convenceram, tenho um demolidor, a não ser que você ..., enfim... a não ser que você tenha outros gostos.
Você estará cercado do que mais gosta: mulher, cerveja e futebol. Certo, caí no estereótipo. Mas, porque desprezar este trio? Se o item número 1 está, temporariamente, aprovando os itens 2 e 3, vamos lá, aproveite, é só de quatro em quatro anos, mesmo que tenhamos que torcer por Dunga e seus anões. Apesar de que poderia ser pior, já pensou ter que torcer por Dom Diego Armando Maradona e seus chiquititos?
Junho/2010.
domingo, 6 de junho de 2010
Gargalos da lulocracia – Parte II
A comunidade internacional deve desconfiar de alguém que, ao tempo em que se coloca como negociador da paz defende ditadores que prendem e matam. É estranho que Lula tenha chamado os iranianos, manifestantes contra a fraude que reconduziu Ahmadinejad a seu cargo, de (SIC) “torcida de time perdedor”, sabendo que podem ser presos e até executados sumariamente.
Não basta que Lula desfile pelos fóruns internacionais opinando sobre partidos e correntes políticas de outros países, sobre conflitos localizados entre nações, sobre o que dizem outros presidentes ou qualquer outra coisa que lhe venha à mente, inclusive suas costumeiras bravatas. Se está decidido a ser um líder internacional que se posicione sobre questões relevantes para a humanidade, como os direitos humanos. O que se espera de alguém que pleiteia o cargo de Secretário Geral da ONU são ações e declarações concretas, como a tácita rejeição ao uso da energia nuclear para fins não-pacíficos.
É preciso condenar países que desrespeitam os direitos humanos. Não se pode silenciar diante de denúncias para não contrariar aliados em uma condução a um cargo internacional. Cortejar chefes de Estados autoritários que querem produzir armas nucleares letais ou que provocam genocídios em seus países, como o sudanês Omar Al Bashir (sobre quem pesa um pedido de prisão internacional pelo envolvimento no conflito de Darfur - oeste do Sudão, onde a ONU conta 300.000 mortos desde 2003), desfigura Lula em sua cruzada internacional e reforça a imagem que muitos têm do Brasil, cultivada não sem razão, de uma republiqueta de bananas.
Mesmo o Brasil não tendo estatura moral para falar em desrespeito aos direitos humanos, seu presidente não pode ficar por aí afagando ditadores. O fato é que direitos humanos deve ser tema prioritário na agenda de qualquer país. Por que o Brasil não usa seu status de potência emergente, que se dirige ao FMI não mais para pedir dinheiro emprestado e sim para ser seu credor, para forçar o avanço da pauta dos direitos humanos nos foros internacionais que tem assento? Brevemente, teremos oportunidade ímpar. Acontecerá em Uganda a primeira reunião de revisão do estatuto do Tribunal Penal Internacional. É o momento de se promover o Sistema de Justiça Internacional e persuadir China e Estados Unidos a participarem deste tribunal.
A divisão dos poderes é um dos sustentáculos das democracias contemporâneas. O sistema de freios e contrapesos prevê que os poderes limitem-se uns aos outros por normas e práticas. Prova da debilidade de nossa democracia é este sistema presidencialista acima de todos (os outros poderes) e de tudo. Um super-presidente, que com seus tentáculos institucionais ou não, se coloca acima do bem e do mal e que pensa poder fazer e dizer o que bem quiser é algo ruim para a democracia, não a fortalece, pois essa forma de agir exclui a participação política da nação, algo que é o próprio oxigênio da democracia. Tristemente, não temos um sistema dotado de mecanismo que tolham, de forma eficiente, ações voluntariosas, arbitrárias e imprevistas dos governantes
A legalidade de uma escolha eleitoral, não legitima o governante a fazer o que bem quiser. Ser eleito, e reeleito, e dispor de vultosa popularidade não dão ao presidente Lula estofo para fazer o que aqui foi descrito. Presidentes e líderes são queridos pelo seu povo quando ativos, em perspectiva histórica isso pode mudar. Inebriado com o personagem - Presidente Lula - que criou, Luis Inácio tem confundido o papel do presidente com o de um super-herói que tudo pode menos errar. Ao julgar o que é certo e errado unilateralmente, Lula perde a percepção do justo e do injusto, do ético e do antiético, do que pode e do que não pode ser dito. Infelizmente, o que Lula parece mesmo ter perdido foi seus princípios.
Postscriptum
Acabo este artigo e vejo o Brasil colidindo com o Conselho de Segurança da ONU por causa do acordo que mediou com Irã e Turquia. Dos 15 países com assentos permanentes ou rotativos no Conselho, só 3 discordam das sanções propostas contra o Irã: Brasil, Turquia e Líbano.
Como se sabe, foi acordado que o Irã enriquecerá (a 20%) parte do seu urânio e o enviará para a Turquia que devolverá para uso civil. Qual a garantia que, com ou sem sanções, o Irã não acabará fabricando a bomba atômica? Se Ahmadinejad enriquecer o urânio, que não enviou aos turcos, para fazer bombas atômicas, qual será a responsabilidade do Brasil? Tendo sido signatário do acordo, não poderá, para o bem e para o mal, ficar neutro. Terá suas responsabilidades a assumir, mesmo não tendo sido lhe dado o papel de fiador, i.e., o Brasil não se colocou como indenizador, a um possível lesado, caso uma das partes descumpra o acordo ou parte dele.
Seria melhor ficar a favor das sanções (que prevêem o controle de financiamentos e transações bancárias e a venda e trânsito de armas) articuladas no Conselho de Segurança, considerando que Ahmadinejad não é confiável perante a opinião pública internacional já que, por exemplo, nega o holocausto. Na pior das hipóteses, a neutralidade seria uma postura mais interessante na medida em que não reforçaria a postura, questionável, dos EUA e nem as atitudes desse ditador tresloucado. Concordo com Maristela Basso, professora de Direito Internacional da USP, que afirmou que “se não somos otomanos nem enriquecemos o urânio persa, não passamos de pato nessa história”.
É bom lembrar que sanções existem para se ganhar tempo e não para invadir um país, mas podem ser o motivo que o governo iraniano precisa para aprofundar as pesquisas nucleares.O que busca o governo brasileiro nestas negociações? Protagonismo internacional, claro, e uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Como afirmei, Lula está em campanha para conseguir aquilo que FHC tentou e não logrou êxito – o cargo de secretário geral da ONU.
Não é ilegítimo o Brasil reivindicar esse reposicionamento em nível internacional, mas tinha que ser ao custo de uma cartada tão alta? Enquanto quase todo mundo quer um definitivo controle do uso da energia nuclear e banir de vez sua utilização atômica, o Irã faz ouvidos de mercador e o Brasil tem duas alternativas: uma, capitalizar para sim os holofotes e a outra, isolar-se. Espero, torço, pela primeira. Mas, acho inverossímil que o Brasil conquiste uma posição de destaque internacionalmente fazendo proselitismo político.
Maio-Junho/2010.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Gargalos da lulocracia – Parte I.
Ele tem uma popularidade sempre em alta, nunca em queda. Sua administração é muito bem avaliada; veja-se que na pesquisa CNT/SENSUS de 17/05 passado, 76,1% dos entrevistados aprovaram seu governo. E não desconsideremos que estamos no último ano do segundo mandato, onde certa exaustão de governantes e governados é natural. E persiste a aclamação da opinião pública internacional em torno da pessoa do presidente. Para muitos, ele ainda “é o cara”. Pessoalmente, desconfio que Obama nunca pensou isso, ironizava quando fez a graciosa afirmação.
No entanto, Lula segue ignorando as regras da boa convivência, agindo por ter plena convicção de que “nunca na história desse país, um presidente ...”. Como ele extrapola o bom senso com suas peripécias mundo afora, temo que chegue a negar a existência do Holocausto, para agradar o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e abjurar crimes históricos, cometidos em nome do socialismo, para acariciar os irmãos Castro, Hugo Chávez e sua camarilha bolivariana.
Lula não entende que, quando fala, expressa, além de sua opinião, a de um Chefe de Estado representante de princípios, opiniões e interesses de uma nação. Como afirmou Eliane Cantanhêde, na Folha de São Paulo, “(...) coloca sua popularidade a favor de más ideias e de péssimos atos”.
Sobre a problemática dos presos políticos de Cuba, nosso presidente teve uma postura oportunista. Alegando que é preciso “respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de deter as pessoas em função da legislação de Cuba”, ele recorreu a um tipo de formalismo útil apenas a quem se pretende neutro. Pior, foi desdenhar dos que faziam greve de fome, comparando-os a criminosos comuns do Brasil. Mais, ter-se deixado filmar e fotografar, entre sorrisos e abraços, ao lado de Fidel e Raúl Castro no dia do falecimento do dissidente Orlando Zapata (que fazia greve de fome) denotou glacial insensibilidade.
E para aumentar nossa vergonha e irritação, ainda teve a estulta “justificativa” de Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa da presidência da República, que disse: “violações dos direitos do homem existem por todo lado no mundo“. Idêntica racionalização faz o corrupto que diz roubar porque todos assim o fazem. Se todos são iguais na violação dos direitos humanos, então ninguém critica ninguém. Certo? Absolutamente errado, pois assim sólidas democracias vão ser niveladas ao nível de anacrônicas ditaduras.
Tudo isso revela um posicionamento. Do contrário, Lula teria recebido um grupo de dissidentes que pretendiam entregar-lhe um documento e obter uma manifestação de simpatia às mudanças democráticas no regime cubano. Foi como se Lula quisesse revelar ao mundo, e a nós brasileiros, seus pendores pretorianos – parecia querer avisar ou lembrar algo. Não creio que ele faria tamanha asneira se não tivesse um propósito bem estabelecido. Não combina com seu astuto perfil de político e ex-sindicalista.
Para se ter uma idéia do ultraje, a Anistia Internacional acusou o silêncio brasileiro em relação à forma contumaz como o governo cubano desrespeita os direitos de seus dissidentes. O comunicado dizia que “(...) direitos humanos são universais e indivisíveis. Se o Brasil quer ter um papel maior no cenário internacional, deveria mostrar um nível maior de integridade em relação aos direitos humanos”. Já Kerrie Howard, vice-diretora da Anistia para as Américas, vaticinou que “não se pode criticar a questão dos direitos humanos apenas quando é conveniente”. Referia-se ao fato de que a diplomacia brasileira tem-se calado, em fóruns internacionais, sobre violações aos direitos humanos promovidas pelos governos do Irã, Coréia do Norte, Sudão e, claro, Cuba.
E não esqueçamos que o Brasil ainda sentará no banco dos réus da Corte Interamericana de Direitos Humanos por teimar em descumprir as recomendações, de 2008, de punir os responsáveis pelos casos de prisão indevida, tortura e desaparecimento durante a ditadura militar e por se recusar a rever a Lei da Anistia. O Brasil pode ser condenado, internacionalmente, a não mais usar a Lei da Anistia como argumento para não punir acusados de crimes contra a humanidade. Os governos do Chile e Peru abandonaram suas leis de anistia depois de serem condenados na Corte de Costa Rica.
Aliás, é de se perguntar em que o Brasil se fia para não rever (ou passar a limpo) seu passado autoritário, pois países com situações democráticas tão frágeis quanto a nossa deram passos importantes neste sentido. Veja-se que o Peru condenou seu ex-presidente, Alberto Fujimori, por crimes contra a humanidade e que a Argentina sentenciou seu último presidente militar, Reynaldo Bignone, por sequestro e tortura. Já no Camboja, o camarada Duch, líder do sanguinário Khmer Vermelho, teve que responder por crimes contra a humanidade, cometidos há mais de 30 anos.
Como demonstra o último relatório da Anistia Internacional, divulgado dias atrás em Londres, quando o tema é direitos humanos o Brasil é reconhecido pela pertinácia como não os respeita. O relatório, que tem 2009 como ano-base, traz um rol sem fim de vítimas de tortura e de execuções por policiais, de chacinas e linchamentos, superlotação de presídios, populações faveladas à mercê do tráfico e/ou de milícias, assassinatos nas cidades e trabalho escravo no campo. São ocorrências degradantes, desumanas, cruéis e que devem envergonhar os que valorizam os direitos humanos. A Anistia citou, ainda, dois casos acontecidos já em 2010 como emblemáticos. Um, os casos dos motoboys espancados até a morte por PMs paulistas. Outro, o julgamento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por 7 a 2 que não cabe alterar a Lei da Anistia para julgar os torturadores da ditadura.
O ministro Carlos Ayres Britto (um dos dois votos vencidos) disse que: “diante do monstro que é o torturador, não se pode ter condescendência”. O que a Anistia pondera é que o Brasil é sim complacente para com o torturador; que transige para com aqueles que cometeram crimes contra a humanidade, pior, anui que eles continuem livremente a atuar em órgãos públicos. O mais grave foi que o STF referendou a vigência da Lei da Anistia desconsiderando o fato de que ela é incompatível com a Constituição Federal. Ao conciliar Estado democrático de direito e tortura, conseguiu uma proeza digna de ser registrada nos anais do direito internacional.
Demonstrativo, ainda, desse estado de coisas é a forma como o governo tratou o 3º Plano Nacional dos Direitos Humanos ao lançá-lo com temas complexos e defendendo a aprovação de 27 leis. Lula mandou recolhe-lo para que fosse alterado. O estorvo foi que o Plano previa a criação da Comissão Nacional da Verdade (existente em países da América Latina que, como o Brasil, enfrentaram ditaduras) para investigar atos cometidos durante o regime militar. A caserna estrilou, os comandantes das Forças Armadas ameaçaram demissão coletiva e o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, bastante solícito aos seus subordinados, pediu mudanças - no que foi prontamente atendido. Interessa assinalar a presteza com que os governos atendem solicitações do alto comando das Forças Armadas, prova que o fim da ditadura não acabou com as prerrogativas que os militares foram adquirindo ao longo do tempo.
O alarido dos quartéis girava em torno da frase que justificava a criação da tal Comissão. A versão original diz que ela deve apurar violações de direitos humanos “praticadas no contexto da repressão política”. Uma nova versão traz que investigará atos “praticadas no contexto de conflitos políticos”. Por quê? Para que a Comissão possa investigar além de militares, militantes da esquerda que lutaram contra a ditadura. Puro revanchismo, pois o ataque ainda parece ser a melhor defesa.
Lula pediu publicamente a Paulo Vannuchi, secretário de Direitos Humanos, para não centrar-se nas questões da ditadura. Também interessa pontuar como o governo destrata os problemas advindos de nosso passado autoritário. E pediu uma solução negociada entre as partes, de um lado Nelson Jobim que defende o esquecimento, via manutenção da Lei da Anistia, e de outro Vannuchi, querendo lembrar, justamente através da revisão da Lei da Anistia. Lula deveria escolher um lado, enquadrá-lo, e dar plenos poderes para o outro agir, no entanto, prefere contemporizar – quer ficar bem com todos, termina por desagradar a ambos com sua ambivalência contumaz.
Continua em Breve...
sábado, 29 de maio de 2010
Mas, que voz maravilhosa!
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Faça como Cidinha Campos, indigne-se!!!!
Se "só tem ladrão se candidatando", não vote ou anule seu voto.
Se cerca de 30% dos eleitores fizerem isso, o sinal amarelo (de alerta) se acenderá e será preciso fazer um novo desenho institucional (ou reforma política como queiram) que possa fazer, aqui, o que foi feito na Itália com a operação "Mãos Limpas".
É a democracia, estúpidos
MADRI - A discussão em torno da autonomia absoluta do Banco Central, levantada por José Serra, é na verdade a propósito da democracia. Democracia pressupõe que o eleitor escolha alguém (no Brasil chamado presidente da República), que tomará as decisões que julgar convenientes, entre elas o nível dos juros, o câmbio, o deficit ou superavit fiscal adequado.
Democracia não pressupõe que um funcionário subalterno tome tais decisões à revelia do presidente. É simples assim. O raciocínio subjacente à tese de que o Banco Central pode fazer o que quiser e o presidente da República não tem que se meter é radicalmente antidemocrático.
Pressupõe que o tal de povo pode, de repente, eleger um maluco para a Presidência (maluco do ponto de vista dos mercados, aos quais o Banco Central presta a maior reverência). Para contrabalançar esse risco, é preciso ter alguém sensato (sensato do ponto de vista dos mercados) para evitar maluquices.
Levado ao limite, tal raciocínio acabará por dispensar o voto popular, transferindo a escolha de uma boa vez para os sábios do mercado -os mesmos que estão na raiz da brutal crise ainda em curso. A primazia da política sobre os mercados apareceu ontem em artigo para "El País" de Felipe González, que pode ser acusado de muita coisa, menos de antimercado. Foi ele quem, como líder do Partido Socialista Operário Espanhol, limou o marxismo ainda existente no programa partidário.
Como presidente do governo, levou a Espanha à Comunidade Europeia, o segundo maior centro capitalista do mundo, após os EUA.González cobrou a regulação do sistema financeiro com este argumento: "Se não os regularmos [os mercados], eles acabam por regular-nos [aos governos e à sociedade], a seu capricho especulativo e com custos insuportáveis". Serra já tem com quem falar.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Suicídio institucional
Suicídio institucional
O Supremo Tribunal Federal conseguiu mais uma vez embrulhar as contradições brasileiras para presente. Decidiu que não lhe cabe interpretar a Lei da Anistia, de 1979. Decidiu que anistia é assunto do Poder Legislativo, não do Judiciário. Ou seja, tomou uma decisão política dizendo que não lhe cabe tomar decisões políticas. Na história recente do tribunal, não há nisso nenhuma novidade. Só que o caso da Lei da Anistia é particularmente grave. Não apenas pelo resultado, lamentável por si mesmo, mas, principalmente, porque o STF decidiu abdicar de seu papel de interpretar a legislação passada e presente à luz da Constituição de 1988.
O STF manteve em vigência uma lei sem examinar de fato se ela é compatível com a Constituição. É verdade que seria um exercício de ginástica intelectual digno de medalha conciliar Estado democrático de Direito e tortura. Mas esse é o ônus que caberia ao tribunal que, recusando o pedido de interpretação da lei apresentado pela OAB, pretendesse também preservar sua integridade institucional. Da maneira como agiu, o tribunal disse de público que, a depender da conveniência política do momento, pode perfeitamente deixar de exercer as suas funções. Nada pode ser mais perigoso para a democracia de um país. O STF resolveu embrulhar a contradição de sua decisão com o papel movediço da história. Decidiu basear sua decisão em uma "exceção histórica". A Lei da Anistia teria resultado de uma negociação política que teria produzido a "conciliação" do país. Nos termos do voto do presidente do STF, Cezar Peluso, "o Brasil fez uma opção pelo caminho da concórdia".
Mas o presidente do Supremo foi além de projetar no passado uma conciliação imaginária. Afirmou ainda que a "lei nasceu de um acordo de quem tinha legitimidade para celebrar esse pacto".A ministra Ellen Gracie não apenas aceitou a tese da legitimidade das partes em um acordo realizado em condições ditatoriais como criou algo que poderia ser chamado de o "paradoxo de Gracie". Para a ministra, a não recepção da Lei da Anistia pela Constituição de 1988 "conduziria ao paradoxo de retirar o benefício de todos quantos foram por ela alcançados". Em outras palavras, sem a Lei da Anistia não haveria a Constituição de 1988. Para sustentar o insustentável, o STF acabou por fazer da lei de 1979 o sustentáculo histórico da Constituição dita cidadã. Fez de uma lei aprovada sob a ditadura militar a fonte originária da ordem democrática vigente.É uma atitude bem mais do que paradoxal. É um autêntico suicídio institucional.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Disfunção Institucional.
Dirigir é difícil, não impossível. Apreender a legislação de trânsito é fácil. Intricado é enlear-se na teia do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Lá, enfrentando a burocracia e o caos administrativo, sente-se na pele a “Lei de Gerson” - essa instituição informal em nós engastada. Buscar vantagens, ao largo da ética, é, no DETRAN, um vício. Em tempo, a tal lei surgiu em 1976 quando o jogador Gérson protagonizava comercial para os Cigarros Vila Rica. A marca seria vantajosa por ser a melhor e ter um módico preço e ele dizia: “Gosto de levar vantagem em tudo. Leve vantagem você também!”
Instituição informal é o procedimento criado, e sancionado, fora dos aparelhos de Estado que cumpre o papel dele mediante a promessa de resultados eficazes. O informalismo é uma maneira, deliberada, de suplantar as instituições formais. Dá-se quando o agente público assenta que descumprirá, parcial ou totalmente, suas funções. No DETRAN, vêem-se funcionários negligenciando funções para promovê-las informalmente, tal qual o policial que se abstém de cumprir seu papel para prestá-lo em uma empresa de segurança privada.
Em um Centro de Formação de Condutores vi a dissimetria entre o que se ensina e o que se faz no trânsito. Não que seus instrutores estejam errados – é a realidade que está fora do prumo com quase 1 milhão de acidentes, cerca de 60.000 mortos e 8 bilhões de perdas materiais ao ano.
No CFC trata-se de cidadania e meio ambiente, conceitos aplicáveis em sociedades com capital social em patamares aceitáveis e este não é o nosso caso. Nele se ensina que dirigir defensivamente é prevenir-se contra o mau motorista e condições adversas. Trata-se até de como proceder altruisticamente. Mas, a realidade é outra. Temos que parar em certos cruzamentos e correr o risco de ter o carro tomado. O que fazer? Desobedecer a sinalização, claro. Parece mesmo que estamos sendo preparado para dirigir na Dinamarca, onde as instituições funcionam, não no Brasil onde a instituição informal “molhar a mão do guarda” é vigente.
Vejamos um quadro surrealista que Gabriel Garcia Marques não imaginária em sua Macondo. O total descompasso entre teoria e prática se descortina no DETRAN. Primeiro, enfrenta-se uma mal ajambrada fila por quase cinco horas para fazer um cadastro em 10 minutos. Depois, nova fila, mais uns 30 minutos, para a foto que comporá a CNH. Nestas filas detecta-se o que faz a vida burocrática do DETRAN pulsar. Naquela fúnebre marcha, por duas vezes, apareceram “prestativos” despachantes se oferecendo para me tirar da fila e levar-me ao atendente mediante a quantia de 70,00 reais. Imaginei que se dez, quinze ou vinte pessoas aceitassem tal proposta criar-se-ia uma segunda fila composta pelos que “furaram” a primeira.
No DETRAN, até para se obter uma informação tem-se dificuldade. A lógica é: se você quer bom atendimento, pague por ele! Esqueçamos as taxas auferidas ao Estado. Refiro-me as quantias informais que vão sendo solicitadas a cada facilidade oferecida. Existe, ainda, um mórbido prazer, dos que “habitam” o DETRAN, em ver infelizes, como eu, quarando naquela fila insana.
Lá, parece não se gerenciar as atividades. Porque dois procedimentos contínuos não podem ser feitos no mesmo quiche? Porque obrigar o cidadão a ficar numa fila, por quase cinco horas, apenas para que ele informe dados pessoais? Para irritá-lo até o ponto em que ele ceda as “vantagens” oferecidas pelas tais despachantes. Convenhamos, é tentadora a oferta de livrar-se de uma fila humilhante mediante um pagamento informal.
Mais um exemplo, hilário, da premeditada desorganização do DETRAN. Cedo, pessoas se aglomeram ante o portão central. Seguranças tentam organizá-las, mas o que importa é ser ágil. A cena é patética: o portão se abre e pessoas, carros e motos disputam uma frenética corrida pelos melhores lugares. Mas, os que chegam cedo são ultrapassados pelos que compram os primeiros lugares das filas – os mesmos que, tal qual Gerson, levam vantagem em tudo por acreditarem que “o mundo é dos mais espertos”, como me disse um petulante futuro motorista na lúgubre fila.
Feito o cadastro, vamos ao psicotécnico que, de tão antiquado, não afere se estamos de posse de nossas faculdades mentais. Depois, nos é dado um questionário sobre o uso de medicamentos e tratamentos de saúde e quer-se saber sobre o uso drogas ilícitas e consumo de álcool. O que acontece se a resposta for positiva? Susta-se a expedição da CNH? Depois de duas horas em mais uma fila fui para o exame oftalmológico. Usava meus óculos de grau e mesmo assim a doutora perguntou-me: “tem algum problema de vista?” Eu, pasmo, assenti. O exame durou cerca de 20 segundos. Disse à doutora que não enxergava uma letra siquer das que apareciam no visor. Ela, impassível, ordenou que eu saísse. Fica a dúvida: o que seria necessário para ser reprovado neste exame? Usar bengala, óculos escuros e ter um cão-guia à mão?
Os conflitos de interesses pululam pelo DETRAN. Agentes de trânsito, policiais militares, funcionários, comerciantes, etc, são “facilitadores” que, de posse dos mecanismos da instituição, detém os informalismo. Utilizam-se de seus cargos e postos de trabalho para, mediante pagamento, encaminhar demandas à margem da estrutura institucional. Provocam, deliberadamente, a disfunção institucional para forçar o pagamento, “por fora”, dos serviços que teriam que oferecer publicamente e de boa qualidade.
A grande perversão a ser notada é que, no interior do DETRAN, funcionam informalismos que solapam a instituição formal, tornando-a não crível. Isso só contribui para que nossa democracia siga frágil, pois as instituições que lhe dão forma (e conteúdo) são continua e cotidianamente transpassadas por instrumentos anti-republicanos.
postscriptum: Prova inequívoca da disfuncionalidade institucional do DETRAN é que passei exatos vinte e cinco dias para receber minha CNH, quando deveria recebê-la em um prazo máximo de cinco dias. Quando busquei saber sobre o andamento do processo recebi a lacônica informação: “sua carteira encontra-se na sala de impressão”. Mas, me foi dito, também, que eu poderia apressar a expedição do documento mediante “um pagamento por fora”. Minha CNH não estava no tal Departamento de Impressão, mas sim no “departamento da informalidade”.
Abril/2010.
sexta-feira, 12 de março de 2010
O silêncio de certa intelligentsia
SÃO PAULO - Os intelectuais de esquerda adoram um abaixo-assinado. Na luta pela redemocratização, ele foi um instrumento importante de mobilização da sociedade civil. Hoje, não se sabe ao certo o que seja (nem se existe) "a sociedade civil". E os intelectuais, sobretudo de esquerda, perderam em boa medida o protagonismo público.
Ainda assim, vira e mexe há abaixo-assinados por aí. Alguns em torno de causas abrangentes e justas, outros que parecem só um cacoete de antigamente. Diante de tudo isso, devemos nos perguntar agora: onde está o abaixo-assinado?
Sim. Ou os intelectuais de esquerda não estão incomodados com a fala bestial de Lula sobre Cuba? O assunto não comove a ponto de solicitar um repúdio coletivo? Seria demais exigir a retratação pública do presidente por igualar as vítimas de uma ditadura que liquidou seus opositores aos presos comuns de um país democrático?
Seria demais pressionar o governo brasileiro para que interceda em favor de dissidentes presos arbitrariamente e/ou a caminho da morte? Seria demais reafirmar (ou assumir, no caso de alguns) a defesa da democracia e dos direitos humanos como valores universais? O silêncio de certa intelligentsia, que insiste em tratar Cuba como um caso à parte, uma ilha da fantasia rodeada de piratas, é tão cúmplice das atrocidades de Fidel e seu asseclas quanto a fala boçal de Lula.Até quando a esquerda nativa (com exceções honrosas) vai encarar a crítica à tirania cubana como uma pauta da direita? Até quando irá confundir o justo apelo dos dissidentes com a "máfia de Miami"?
Até quando irão invocar avanços sociais hoje mais do que duvidosos como pretexto -aí, sim- para justificar os horrores do regime? O dissidente Guillermo Fariñas precisará morrer -ou nem isso bastará para romper a omissão criminosa? A Paquetá vermelha que incendiou bons corações nos anos 60 não existe, não passa de uma quimera mumificada. Então, apesar do atraso: cadê, cadê o abaixo-assinado?
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Afinal, para onde devemos olhar?
É preciso olhar para a frente
WADIH DAMOUS
As razões que justificam a campanha são muitas. Há, em primeiro lugar, razões humanitárias. A mais evidente delas diz respeito ao elementar direito das famílias de desaparecidos políticos de dar-lhes uma sepultura. Aliás, esse direito é recorrente na história da humanidade. Provavelmente, a primeira menção a ele se dá na "Ilíada", de Homero (século 8 a.C.), que nos fala de interrupções nos combates na Guerra de Troia para que os exércitos homenageassem seus mortos e enterrassem seus corpos. Séculos depois, Sófocles tratou do tema em sua peça "Antígona", encenada na Grécia em 422 a.C., como bem lembrou Marcello Cerqueira em recente artigo na edição de dezembro de 2009 da "Folha do IAB" (Instituto dos Advogados Brasileiros).
Assim, desde que a humanidade se reconhece como tal, é respeitado o direito das famílias de enterrar seus mortos. É o que faz, aliás, Antígona, na citada peça de Sófocles. Ela cavou com as próprias mãos a sepultura do irmão Polinices e pagou com a vida o desafio às ordens de Creonte, rei de Tebas. Polinices fora condenado à morte e a não ter direito a uma sepultura, para que seu corpo ficasse à disposição de cães e aves de rapina. Ele -a exemplo do que se repetiria com outros personagens até nossos tempos- desafiara o déspota de então.
No Brasil, conhecem-se casos de mães que, durante décadas, recusaram-se a mudar de endereço ou a trocar a fechadura da porta de casa, na esperança de que um filho preso um dia reaparecesse. Sabe-se de muitos natais em que famílias prepararam a ceia deixando uma cadeira vaga na mesa, enquanto esperavam, em vão, o retorno de um ente querido para festejar a data com os seus.
Conhecer o destino dos desaparecidos políticos, saber em que circunstâncias morreram, quem os assassinou e a mando de quem é um direito das famílias. Tanto quanto dar-lhes uma sepultura digna. Tal como quis Antígona para seu irmão Polinices.
Mas não só razões humanitárias exigem a abertura dos arquivos da repressão política. Os que se opõem a ela e propugnam que se ponha uma pedra sobre o assunto lembram a necessidade de olhar para o futuro, e não para o passado. É argumento de peso. Afinal, o ressentimento é, sempre, mau conselheiro. Na vida pessoal e na política.
Mas justamente a necessidade de construir um futuro democrático é que torna necessário o conhecimento dos horrores acontecidos durante a ditadura. Mesmo que isso signifique submeter a sociedade a um verdadeiro choque e desagradar aos militares. Arrastar o lixo para baixo do tapete só fará com que ele possa ressurgir mais tarde. Já a luz do Sol sobre o acontecido fará com que se criem anticorpos, impedindo a repetição da barbárie.
O golpe de 1964 é, até hoje, cultuado nos quartéis. Chegou-se ao ponto de, no primeiro governo Lula, um ministro da Defesa demitir-se por não obter apoio do presidente ao questionar uma ordem do dia, lida nos quartéis, de exaltação à ditadura. Ora, não é assunto exclusivo das Forças Armadas o tipo de formação ministrada aos nossos jovens que se dedicam à carreira militar. Ao contrário, essa questão é de interesse da sociedade. Não é aceitável que novas gerações de militares sejam formadas com mentalidade antidemocrática.
As Forças Armadas devem ser doutrinadas e preparadas para defender a Constituição e o Estado de Direito. Também para isso é importante a abertura dos arquivos. Ela trará para o centro da reflexão o papel desempenhado pelas Forças Armadas na ditadura e sua herança até hoje. É mais fácil defender o direito à memória e a abertura dos arquivos da repressão esquivando-se do conflito com as Forças Armadas e afirmando que elas não participaram, como instituição, de torturas e assassinatos.
Mas isso é falso. Ainda que torturadores e assassinos tenham sido ínfima minoria dentre os militares, eles não agiram à revelia do comando. Suas ações tiveram o aval dos chefes das Forças Armadas e da ditadura. É por isso que, hoje, o espírito de corpo se faz presente quando se fala em trazer luz sobre o que aconteceu ou em punir executores diretos dos crimes. Vivemos, então, uma situação "sui generis". Quase 25 anos depois de passarmos a um regime civil, os militares ainda se arvoram no direito de determinar os limites até onde podem ir a democracia e o conhecimento de nossa história recente. Por isso também, abrir os arquivos é essencial para quem quer construir um Brasil melhor. Isso é o que se recomenda para quem olha para a frente. Daí a Campanha pela Memória e pela Verdade.
Como Combater a Arrogância
"Muitos leitores perguntaram ao longo deste mês qual era a minha agenda oculta. Meus textos são normalmente transparentes, sou pró-família, pró-futura geração, pró-eficiência, pró-solidariedade humana e responsabilidade social. Mas, como todo escritor, tenho também uma agenda mais ou menos oculta. Sempre que posso dou uma alfinetada nas pessoas e nos profissionais arrogantes e prepotentes. É a reclamação mais freqüente de quem já discutiu com esses tecnocratas. Uma vez no governo, parece que ninguém mais ouve. Eles confundem ser donos do poder com ser donos da verdade. Fora do governo, continuam não ouvindo e, quando escrevem em revistas e jornais, é sempre o mesmo artigo: "Juro que eu nunca errei". Toda nossa educação "superior" é voltada para falar coisas "certas". Você só entra na faculdade se tiver as respostas "certas". Você só passa de ano se estiver "certo".
Aqueles com mestrado e Ph.D. acham equivocadamente que foram ungidos pela certeza infalível. Nosso sistema de ensino valoriza mais a certeza do que a dúvida. Valoriza mais os arrogantes do que os cientificamente humildes. É fácil identificar essas pessoas, elas jamais colocam seus e-mails ou endereços nos artigos e livros que escrevem. Para quê, se vocês, leitores, nada têm a contribuir? Elas nunca leram Karl Popper a mostrar que não existem verdades absolutas, somente hipóteses ainda não refutadas por alguém. Pessoalmente, não leio artigos de quem omite seu endereço ou e-mail. É perda de tempo. Se elas não ouvem ninguém, por que eu deveria ouvi-las ou lê-las? Todos nós deveríamos solenemente ignorá-las, até elas se tornarem mais humildes e menos arrogantes. Como não divulgam seus e-mails, ninguém contesta a prepotência de certas coisas que escrevem, o que aumenta ainda mais a arrogância dessas pessoas.
O ensino inglês e o americano privilegiam o feedback, termo que ainda não criamos em nossa língua – a obrigação de reagir à arrogância e à prepotência dos outros. Alguém precisa traduzir bullshit, que é dito na lata, sempre que alguém fala uma grande asneira. Recentemente, cinco famosos economistas brasileiros escreveram artigos diferentes, repetindo uma insolente frase de Keynes, afirmando que todos os empresários são "imbuídos de espírito animal". Se esse insulto fosse usado para caracterizar mulheres, todos estariam hoje execrados ou banidos. "A proverbial arrogância de Larry Summers", escreveu na semana passada Claudio de Moura e Castro, "lhe custou a presidência de Harvard." Lá, os arrogantes são banidos, mas aqui ninguém nem sequer os contesta. Especialmente quando atacam o inimigo público número 1 deste país, o empreendedor e o pequeno empresário.
Minha mãe era inglesa, e dela aprendi a sempre dizer o que penso das pessoas com quem convivo, o que me causa enormes problemas sociais. Quantas vezes já fui repreendido por falar o que penso delas? "Não se faz isso no Brasil, você magoa as pessoas." Existe uma cordialidade brasileira que supõe que preferimos nunca ser corrigidos de nossa ignorância por amigos e parentes, e continuar ignorantes para sempre. Constantemente recebo e-mails elogiando minha "coragem", quando, para mim, dizer a verdade era uma obrigação de cidadania, um ato de amor, e não de discórdia.
O que me convenceu a mudar e até a mentir polidamente foi uma frase que espelha bem nossa cultura: "Você prefere ter sempre a razão ou prefere ter sempre amigos?". Nem passa pela nossa cabeça que é possível criar uma sociedade em que se possa ter ambos. Meu único consolo é que os arrogantes e prepotentes deste país, pelo jeito, não têm amigos. Amigos que tenham a coragem de dizer a verdade, em vez dos puxa-sacos e acólitos que os rodeiam. Para melhorar este país, precisamos de pessoas que usem sua privilegiada inteligência para ouvir aqueles que as cercam, e não para enunciar as teorias que aprenderam na Sorbonne, Harvard ou Yale. Se você conhece um arrogante e prepotente, volte a ser seu amigo. Diga simplesmente o que você pensa, sem medo da inevitável retaliação. Um dia ele vai lhe agradecer."
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
NOSSA IMPRENSA É RENTÁVEL?
Se estou legislando em causa própria? Não tenham menor dúvida! Sou absoluta e assumidamente tendencioso. Mas, reflitamos se Controle Social da Imprensa (seja la o que isso venha a significar) não deve ser algo diferente de controle da liberdade de expressão e/ou de censura?
Stephen Kanitz - Artigos e Comentários
http://blog.kanitz.com.br/
NOSSA IMPRENSA É RENTÁVEL?
Muitos donos de jornais estão preocupados com o tema Controle Social da Imprensa, defendido por vários membros do PT, mas como já discutimos aqui, a questão que os donos de jornais e revistas deveriam estar preocupados é com sua rentabilidade a longo prazo.
Se não se tornarem REALMENTE rentáveis nos próximos anos e pagarem bons salários, seus próprios jornalistas irão defender a estatitazação da imprensa, para garantir a sua sobrevivência, e não a dos patrões. Muitos jornais e revistas passaram por processos de reestruturação nos últimos anos, quase quebraram, mas agora acham que estão bem. Digo acham, porque resolveram o problema financeiro de curto prazo, não o problema de rentabilidade a longo prazo.
A rentabilidade da imprensa atualmente, é calcada em 5 pontos críticos:
Boa parte das informações são fornecidas graciosamente por inúmeros voluntários, pessoas competentes que têm algo a dizer, que se dispõe a passar horas passando informações preciosíssimas a jornalistas, sem nada receber em troca.
Se colocarmos o valor do tempo destes cientistas políticos, economistas e advogados que dão entrevistas ou informações de graça, a imprensa estaria provavelmente no vermelho. A imprensa deveria pagar pela informação? Sim, pelo menos para compensar o tempo do entrevistado, para que ele não deixe de estar disponível quando o jornal quer. A Revista Exame, 30 anos atrás, inovou criando um departamento de análise de empresas, Melhores e Maiores, e a Folha criando o Data Folha. Mas isto são raridades.
Antigamente era um prazer dar uma entrevista de graça, porque o jornalista, bem pago, colocava nossas ideias de uma forma fantástica, colocavam ênfase quando era necessário, colocavam as ideias na ordem certa, enfim, acrescentavam valor ao nosso tempo. Dava prazer ler o texto final, "nem parece que fui eu quem disse isto". Hoje, nem todos aqueles que têm informações valiosas querem dar entrevistas à imprensa para jornalistas jovens e sem experiência. A chance de sua ideia sair errada, equivocada, deturpada é grande, e o prejuízo enorme. Pedir para corrigir o texto é pecado fatal, jamais o faça. Controle de qualidade não é um conceito usado na imprensa.
O Presidente da Phillips perdeu seu emprego porque depois da entrevista, tomando café, disse que se o Piauí não existisse, o Brasil não perderia muito mercado, ou algo nesse sentido, como exemplo de alguma outra ideia que estava comentando. Antigamente, o jornalista perceberia o deslize e que não era uma informação valiosa, comparada com as outras mais importantes ditas na entrevista. Mas foi o que saiu publicado, acabando com sua carreira.
Ninguém que tem algo a dizer quer dar entrevistas hoje em dia, devido a eventos como este que eu relatei. Existem até cursos de Midia Training, onde se ensina a "dizer o mínimo possível", "somente o essencial". Se você é dono de um jornal, um bom exercício seria calcular o valor de todo este tempo grátis, ao valor de mercado, e verificar se de fato o jornal acrescenta valor, ou não. Jornal baseado em voluntariado, deveria ser uma ONG sem fim lucrativos, e se não tomarem cuidado, é neste sentido que o Controle Social da Imprensa irá caminhar, com excelentes argumentos para convencer o Legislativo.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Comparação entre Lula e FHC segundo The Economist.
A ascensão econômica do Brasil é o tema da capa, de um editorial e de um especial de 14 páginas da edição desta semana da revista britânica The Economist, divulgada nesta quinta-feira.
Intitulado Brazil Takes Off ("O Brasil Decola", em tradução literal), o editorial afirma que o país parece ter feito sua entrada no cenário mundial, marcada simbolicamente pela escolha do Rio como sede olímpica em 2016.
A revista diz que, se em 2003 a inclusão do Brasil no grupo de emergentes Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) surpreendeu muitos, hoje ela se mostrou acertada, já que o país vem apresentando um desempenho econômico invejável.
A The Economist afirma também que o Brasil chega a superar outros Bric. "Ao contrário da China, é uma democracia, ao contrário da Índia, não possui insurgentes, conflitos étnicos, religiosos ou vizinhos hostis. Ao contrário da Rússia, exporta mais que petróleo e armas e trata invetidores estrangeiros com respeito."