quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A CRUZADA CONSERVADORA DO DEPUTADO CUNHA

A condução de Eduardo Cunha, que é deputado federal pelo PMDB do Rio de Janeiro, a presidência da Câmara dos Deputados foi um cruzado de direita na face central do seu principal aliado, o PT. O processo que o elegeu foi todo anti-petista. Ao ponto que a Mesa Diretora da Câmara Federal açambarcou todo tipo de partido, dos maiores aos menores, dos mais legítimos aos mais vendáveis, menos o PT. Eduardo Cunha está à frente de uma composição de 14 partidos. Tem de tudo um pouco. Tem o PSB de Luiza Erundina, passando pelo PSDB de Aécio Neves e chegando ao PP de Paulo Maluf. Mas, ao partido de Lula e Dilma não foi ofertada nem uma cadeirinha nessa eclética mesa. O PT não pode ficar nem com a 4ª suplência de secretario.

O PMDB conseguiu a proeza de ser situação e oposição ao mesmo tempo. Enquanto Michel Temer governa e Renan Calheiros segura as pontas na presidência do Senado, Eduardo Cunha comanda uma oposição raivosa e oportunista ao governo federal. A vida não está mesmo fácil, os petistas que o digam. Como diria um amigo meu, no dia em que chover sopa, eles vão estar com garfos na mão. O PT enfrenta a mãe de todos os paradoxos, pois ganhou a eleição e logo depois uma profunda crise se abateu sobre ele. Mas, a eleição de Eduardo Cunha causa efeitos bem mais significativos do que essa pendenga entre os partidos para ver quem acumula mais cargos. Não vamos resumir essa situação a uma estratégia, vitoriosa, diga-se de passagem, do PMDB para emparedar o PT.
 
A vitória de Eduardo Cunha teve especial sabor para os setores mais conservadores da Câmara. A bancada evangélica comemorou a vitória de Cunha como se tivesse chegado o dia da grande revelação. Eu explico. Cunha é um evangélico de quatro costados. Ele pertence à Igreja neopentecostal Sara Nossa Terra e segue o bispo Robson Rodovalho. Desde 2002, quando assumiu seu 1º mandato na Câmara, que ele compõe a bancada que, de tão conservadora, se coloca contra os projetos de cunha liberal. Em sua campanha para a presidência da Câmara Federal ele prometeu aos deputados, da chamada “bancada de Deus”, que barraria todo tipo de projeto de lei sobre os direitos civis de homossexuais, sobre as células tronco, sobre o aborto e por aí vai.

Eduardo Cunha se assume como um parlamentar em defesa dos valores da família cristã. Em 2014 ele foi um dos que se bateu contra uma portaria do Ministério da Saúde que disciplinava procedimentos para que se fizesse o aborto em hospitais públicos. Na campanha, para presidência da Mesa Diretora, ele prometeu por em tramitação o projeto de lei que criminaliza a prática do infanticídio indígena que é tratado, pela FUNAI e por antropólogos, como uma tradição de várias etnias indígenas.

Eduardo Cunha demonstra poucas simpatias para algumas demandas vindas da Secretaria Especial das Mulheres que é ligada diretamente a Presidência da República. Uma delas, a principal, é toda a discussão em torna da descriminalização do aborto. Agora mesmo vejo a notícia de que Eduardo Cunha está tentando interferir na composição da Secretaria da Mulher - uma estrutura da Câmara Federal que inclui a Procuradoria da Mulher e a Coordenadoria dos Direitos da Mulher. A deputada Érika Kokay (PT-DF) disse: “Nós não aceitamos a interferência do Eduardo Cunha no processo da bancada da mulher, que é quem decide sobre questões femininas”. Deu-se o imbróglio. Será que vai haver guerra dos sexos na Câmara Federal?

O deputado Cunha sabe bem o que quer e sabe o poder que tem em mãos, pois é ele quem decide o que vai e o que não vai à votação. Cunha tem uma lista dos temas que, no que depender dele, não irão jamais às Comissões e ao plenário. Ele já disse que: "Aborto, regulação da mídia, união civil de pessoas do mesmo sexo e descriminalização da maconha só serão votados passando por cima do meu cadáver".  Cunha parece querer dar um tom fundamentalista a esse debate. Em resposta ao deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que já reagiu de forma estridente a um discurso seu contra os direitos civis dos homossexuais, Cunha foi agressivo: "Não tenho que ser bonzinho. Eles querem que esta seja a agenda do País, mas não é".
 
O que o deputado Cunha parece não entender é que não existe uma agenda única para este país tão descontroladamente diversificado. Com sua visão de mundo, religiosamente fechada, como ele se aperceberá que nosso multiculturalismo é um fato? Eduardo Cunha preside a instituição que é um retrato de nosso país, daí que ele não pode, por causa de suas crenças, decidir o que se vai discutir. Apesar de quê ele não está só, pois representa vários setores, conservadores como ele, de nossa sociedade. Ao dizer que certos temas só serão discutidos se passarem por cima do seu cadáver Cunha mostra-se autoritário, além de fundamentalista. Agindo assim, ele só será o presidente de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro. Com Eduardo Cunha a diversidade social deixa de existir e voltamos a Idade Média.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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