A condução de
Eduardo Cunha, que é deputado federal pelo PMDB do Rio de Janeiro, a
presidência da Câmara dos Deputados foi um cruzado de direita na face central
do seu principal aliado, o PT. O processo que o elegeu foi todo anti-petista.
Ao ponto que a Mesa Diretora da Câmara Federal açambarcou todo tipo de partido,
dos maiores aos menores, dos mais legítimos aos mais vendáveis, menos o PT.
Eduardo Cunha está à frente de uma composição de 14 partidos. Tem de tudo um
pouco. Tem o PSB de Luiza Erundina, passando pelo PSDB de Aécio Neves e
chegando ao PP de Paulo Maluf. Mas, ao partido de Lula e Dilma não foi ofertada
nem uma cadeirinha nessa eclética mesa. O PT não pode ficar nem com a 4ª
suplência de secretario.
O PMDB conseguiu a proeza de ser situação e oposição ao mesmo tempo.
Enquanto Michel Temer governa e Renan Calheiros segura as pontas na presidência
do Senado, Eduardo Cunha comanda uma oposição raivosa e oportunista ao governo
federal. A vida não está mesmo fácil, os petistas que o digam. Como diria um
amigo meu, no dia em que chover sopa, eles vão estar com garfos na mão. O PT
enfrenta a mãe de todos os paradoxos, pois ganhou a eleição e logo depois uma
profunda crise se abateu sobre ele. Mas, a eleição de Eduardo Cunha causa
efeitos bem mais significativos do que essa pendenga entre os partidos para ver
quem acumula mais cargos. Não vamos resumir essa situação a uma estratégia,
vitoriosa, diga-se de passagem, do PMDB para emparedar o PT.
A vitória de Eduardo Cunha teve especial sabor para os setores mais
conservadores da Câmara. A bancada evangélica comemorou a vitória de Cunha como
se tivesse chegado o dia da grande revelação. Eu explico. Cunha é um evangélico
de quatro costados. Ele pertence à Igreja neopentecostal Sara Nossa Terra e
segue o bispo Robson Rodovalho. Desde 2002, quando assumiu seu 1º mandato na
Câmara, que ele compõe a bancada que, de tão conservadora, se coloca contra os
projetos de cunha liberal. Em sua campanha para a presidência da Câmara Federal
ele prometeu aos deputados, da chamada “bancada de Deus”, que barraria todo
tipo de projeto de lei sobre os direitos civis de homossexuais, sobre as
células tronco, sobre o aborto e por aí vai.
Eduardo Cunha se assume como um parlamentar em defesa dos valores da
família cristã. Em 2014 ele foi um dos que se bateu contra uma portaria do
Ministério da Saúde que disciplinava procedimentos para que se fizesse o aborto
em hospitais públicos. Na campanha, para presidência da Mesa Diretora, ele
prometeu por em tramitação o projeto de lei que criminaliza a prática do
infanticídio indígena que é tratado, pela FUNAI e por antropólogos, como uma
tradição de várias etnias indígenas.
Eduardo Cunha demonstra poucas simpatias para algumas demandas vindas da
Secretaria Especial das Mulheres que é ligada diretamente a Presidência da
República. Uma delas, a principal, é toda a discussão em torna da
descriminalização do aborto. Agora mesmo vejo a notícia de que Eduardo Cunha
está tentando interferir na composição da Secretaria da Mulher - uma estrutura da
Câmara Federal que inclui a Procuradoria da Mulher e a Coordenadoria dos
Direitos da Mulher. A deputada Érika Kokay (PT-DF) disse: “Nós não aceitamos a interferência do Eduardo Cunha no processo da
bancada da mulher, que é quem decide sobre questões femininas”. Deu-se o
imbróglio. Será que vai haver guerra dos sexos na Câmara Federal?
O deputado Cunha sabe bem o que quer e sabe o poder que tem em mãos, pois
é ele quem decide o que vai e o que não vai à votação. Cunha tem uma lista dos
temas que, no que depender dele, não irão jamais às Comissões e ao plenário.
Ele já disse que: "Aborto, regulação
da mídia, união civil de pessoas do mesmo sexo e descriminalização da maconha
só serão votados passando por cima do meu cadáver". Cunha parece querer dar um tom
fundamentalista a esse debate. Em resposta ao deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ),
que já reagiu de forma estridente a um discurso seu contra os direitos civis
dos homossexuais, Cunha foi agressivo: "Não
tenho que ser bonzinho. Eles querem que esta seja a agenda do País, mas não
é".
O que o deputado Cunha parece não entender é que não existe uma agenda
única para este país tão descontroladamente diversificado. Com sua visão de
mundo, religiosamente fechada, como ele se aperceberá que nosso
multiculturalismo é um fato? Eduardo Cunha preside a instituição que é um
retrato de nosso país, daí que ele não pode, por causa de suas crenças, decidir
o que se vai discutir. Apesar de quê ele não está só, pois representa vários
setores, conservadores como ele, de nossa sociedade. Ao dizer que certos temas
só serão discutidos se passarem por cima do seu cadáver Cunha mostra-se
autoritário, além de fundamentalista. Agindo assim, ele só será o presidente de
Marco Feliciano e Jair Bolsonaro. Com
Eduardo Cunha a diversidade social deixa de existir e voltamos a Idade Média.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES
SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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