sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O PT E SEUS DEMÔNIOS

De uma coisa eu não reclamo: o Partido dos Trabalhadores é uma fonte inesgotável de as
suntos para quem tem que analisar nossa realidade política diariamente. O PT é meu manancial infindável de inspiração para escrever o POLITICANDO. Seja do ponto de vista histórico, seja tratando da atualidade, o PT é um case para os analistas. Agora mesmo temos que explicar como e porque o partido, que está iniciando seu quarto mandato consecutivo no governo federal, enfrenta tantas crises internas. Se o PT fosse uma dessas siglas nanicas de vida fácil, que vendem seus corpos partidários e seus tempos no guia eleitoral em troca de cargos no 2º e 3º escalões, eu não dedicaria uma linha sequer a ele. Mas, o PT é o partido ao qual a pertence a presidente da República.

O PT tem a maior bancada na Câmara Federal, são 70 deputados. Possui 13 senadores, 5 governadores de Estado e ainda administra 635 cidades pelo Brasil afora, São Paulo e João Pessoa dentre elas. Porque, afinal, esse partido enfrenta tantas crises? Um eleitor paulistano que acha que todo nordestino é filiado ao PT , que lê a Revista Veja semanalmente e que acredita que o Brasil seria melhor sem o Nordeste, diria que o PT vive em crise devido as questões éticas e morais, ou melhor, pela falta delas. Mas, isso explica apenas uma parte da questão. Quando o PT era um empedernido defensor da moral e dos bons costumes, quando só sabia ser pedra e não tinha, ainda, se tornado vidraça, já vivia suas intermináveis crises políticas e ideológicas.

Quem não lembra o tempo em que as tendências petistas se engalfinhavam para ver quem teria mais cargos na Executiva Nacional? Apesar de que, hoje em dia, só existem dois Partidos dos Trabalhadores – o de Lula e o de Dilma. Sim, o PT é uma das siglas mais enlameados que temos no Brasil, pois foi ele quem aprimorou a histórica estratégia nacional, chamada mensalão, de gratificar parlamentares em troca de votos pró-governo no Congresso Nacional. Eu disse aprimorou, pois não foi o PT quem inventou a roda mensaleira. Mas, o PT não se emenda mais. Ontem, seu tesoureiro, João Vaccari Neto, foi levado a uma delegacia da Polícia Federal, em São Paulo, para depor no caso da Operação Lava Jato. Ele não foi intimado, muito menos convidado. Agentes da PF tiveram que pular o muro, da casa de Vaccari, para lhe entregar o mandato de condução coercitiva, uma espécie de eufemismo para a velha e não tão boa prisão para averiguação. Mais uma vez, dirigentes nacionais do PT vão aparecer nas páginas policiais dos grandes jornais. Mas, quisera José Dirceu que os problemas do PT fossem apenas pela escassez de atitudes éticas por parte de seus dirigentes.

Dilma se reelegeu, o PT cresceu como nunca, Lula já é candidato para 2018, mas os petistas não se entendem. A quase derrota de Dilma expôs as fragilidades do PT. A presidente chegou a admitir que seu partido quase botou tudo a perder. Lula, claro, não está nem aí para isso por se colocar acima e além de seu partido e do governo. Hoje, Lula só se preocupa com as experiências em seu laboratório particular, a prefeitura de São Paulo, e com sua querida cobaia, o prefeito Fernando Haddad. 

Sabe como é que dá para saber que a crise interna petista está dando picos de radicalidade? É quando seus dirigentes vão à imprensa desautorizar atos dos governantes do próprio PT. Este é um antigo modus operandi petista. Seu vice-presidente, Alberto Cantalice, andou pelas redes sociais e pela imprensa desancando a política econômica de Dilma. Apesar de que ele foi lúcido ao defender que o governo tem que criar novas alíquotas para taxar as grandes fortunas. Marta Suplicy afirmou o óbvio ululante quando disse que se o PT não mudar vai terminar acabando. Na verdade o PT já se acabou. Aquele partido que lutou contra a ditadura, e se opunha ao neoliberalismo tucano, não mais existe. Hoje, o que existe é uma estrutura fisiologizada que depende das entranhas governamentais para sobreviver. A crise do PT é fruto da consciência que os petistas têm de que precisam mudar. O problema é que eles não sabem como fazer para mudar.

Dilma foi reeleita, mas o PT se comporta como derrotado, sem moral para impor a si mesmo a tal mudança. A crise é tão séria que o deputado Arlindo Chinaglia foi pedir apoio, pasmem, ao PSDB na eleição para presidente da Câmara dos Deputados. Os tucanos devem ter dado altas gargalhadas. Aliás, o PT desaprendeu a atuar no Congresso. Vejam que a nova Mesa Diretora da Câmara dos Deputados não traz um único petista em sua composição. O PT governa, mas quem dá as cartas é o PMDB. O PT está em crise porque o sistema político-partidário brasileiro está esgotado, em que pese ele ter sua própria crise endêmica. Mas, não se iluda Marta Suplicy, o PT não vai se acabar, muito menos mudar. O PT é o que é.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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