A história que diz que só fechamos a porta após entrar
o ladrão é a mãe de todas as metáforas e verdades sobre nós, brasileiros, tão
displicentes para com nossas coisas. Só reforcei a segurança de minha
residência ao saber de ocorrências com meus vizinhos. Não somos profiláticos,
não agimos preventivamente. Esperamos as chuvas para poder retirar o lixo das
ruas, assim como deixamos que elas faltem para pensar no que fazer. Os
paulistas só resolveram economizar água quando a Cantareira secou. Institucionalmente
é assim mesmo. Como não praticamos políticas de Estado e sim políticas de
governo, nossos gestores públicos costumam deixar os problemas se acumularem
para poderem tomar providências, quando tomam.
Estou atento ao caso crônico da insegurança nas escolas
públicas da Paraíba. Com uma ira incontida, vejo o amplo, absoluto, descaso do
governo estadual para com um problema que, tal qual a peste medieval, só se
alastra. Parece que nunca se agiu preventivamente para que nossas escolas não
fossem atingidas pela insegurança de cada dia. Quando elas passaram a ser
invadidas, saqueadas, vandalizadas, por uma marginalidade sem freios, o que se
fez institucionalmente? Se o governo só tivesse tomado medidas, em prol da
segurança nas escolas, após os primeiros atos de violência eu entenderia, pois
governantes não vem de Marte. Eles são, também, fruto dessa sociedade
desleixada para com a coisa pública. Mas, o que vem acontecendo é de uma
gravidade abismal. Escolas paraibanas seguem sendo violadas diariamente e o
governo nada faz, pelo contrário, age tal qual o avestruz que esconde a cabeça
num buraco para não ver que seu predador se aproxima.
Tenho acompanhado, de perto, esse estado de coisas
acintoso numa das escolas da rede pública de ensino, aqui mesmo, em Campina
Grande. Refiro-me a Escola Ademar Veloso da Silveira, bem mais conhecida como Estadual
de Bodocongó. Não por acaso, foi nessa escola onde fiz a prática de ensino para
concluir minha formação universitária de professor de história. Aí já se vão
uns vinte e tantos anos, mas lembro de como essa escola era depauperada pelo
descaso dos governantes. Com o tempo as coisas mudaram e o Estadual de
Bodocongó melhorou na qualidade de seu ensino e em suas condições infraestruturais.
Mas, essa escola, como as outras, está inserida numa realidade assoberbada por
uma violência desmedida. Pasmem, em 2015, o Estadual de Bodocongó já foi
invadido, roubado e depredado seis vezes.
Vou repetir, na esperança (inútil?) que alguém na
Secretaria de Educação do Estado da Paraíba esteja lendo essa coluna em forma
de desabafo. O Estadual de Bodocongó sofreu, apenas entre janeiro e
fevereiro deste ano, SEIS violações. Foram roubados computadores e
impressoras que funcionam, também, como fotocopiadoras. Uma delas não tinha
ainda sequer sido instalada para o uso da escola. O equipamento de som e a
televisão da “Rádio Escola AVS” foram danificados e/ou roubados. Grades e
portões, que deveriam barrar o ímpeto dos marginais, foram arrancados e jogados
ao chão como se fossem folhas de papel. Vi o desespero estampado nos rostos, de
professores e funcionários da escola, ao verem que equipamentos adquiridos ao
custo de projetos de pesquisa e extensão, e de muito trabalho, claro, haviam
sido mais uma vez roubados. Os bandidos arrombaram a dispensa da escola para
danificar a merenda. Pegaram vários quilos de carne e jogaram na quadra da
escola. Eles não tinham fome, foi pura maldade de quem se sente para acima e
além das instituições e da própria lei.
Visitando a escola, após a última ocorrência, ouvi
de um funcionário que a solução seria aplicar pena de morte nos marginais que
cometeram tais atos. Como a pena de morte não serve para resolver a
criminalidade, não vejo porque adotá-la. A pessoa que invade uma escola
pública, para roubá-la e/ou depreda-la, deveria ser presa para que se lhe
ensinasse a diferença entre as instituições correcionais e as educacionais.
Porém, isso é só a ponta de um iceberg que desconhecemos o tamanho. A diretoria
da escola já fez vários boletins de ocorrências junto à polícia que não reúne
as condições necessárias para investigar os crimes. Na verdade, o governo é que
deveria indicar como se prover segurança nas escolas, pois o policiamento
ostensivo contra a criminalidade deve ser sempre feito nas ruas. Supor que
colocar um policial em cada unidade escolar vai resolver toda essa situação é
algo cômodo, pois bem sabemos que a Polícia Militar não dispõe de efetivos para
isso, até porque o governo de Ricardo Coutinho segue se recusando a contratar
os policiais aprovados nos últimos concursos públicos.
Já a Secretaria de Educação do Estado da Paraíba
nada fez. Esperava-se que o órgão atuasse junto ao governo e a Secretaria de
Segurança Pública para que se estruturasse um esquema de segurança apropriado para
uma escola já tão fragilizada. Na verdade, a única coisa que a Secretaria fez
foi pressionar a Escola para que as aulas não parassem. A preocupação da
Secretaria é de como se daria a reposição de aulas caso os professores
decidissem paralisar suas atividades por absoluta falta de segurança. A 3ª
Gerência de Ensino de Campina Grande sequer enviou um funcionário ao Estadual
de Bodocongó para, pelo menos, fazer um relatório daqueles que ninguém lê e
logo é arquivado em uma gaveta qualquer. E agora, a quem recorrer? A divina
providência? Ou seria melhor implorar aos marginais que fossem roubar em outra
freguesia?
No começo do mês, quando o Ministro da Educação,
Cid Gomes, veio à Paraíba inaugurar uma escola, o governador Ricardo Coutinho
lançou o “Prêmio Solução Nota 10” que distribuirá prêmios para quem apontar
ideias para a redução da evasão escolar. O mesmo governo que parece preocupado
com a evasão é o que nada faz para coibir a violência nas escolas que, como
sabemos, é um dos motivos que fazem os bons alunos e os bons professores
temerem frequentar suas próprias escolas. O mesmo governo, recentemente reeleito,
com sensibilidade suficiente para liberar verbas para compra de equipamentos
para a escola, não é capaz de planejar a instalação, manutenção e segurança
desses equipamentos. Tampouco esse governo parece se preocupar com o bem estar
daqueles que dão vida a escola.
Em março de 2014 os alunos do Estadual de Bodocongó
fizeram uma manifestação, no centro da cidade, para mostrar o quanto se sentiam
inseguros. Naquele momento, os ladrões já tinham entrado várias vezes na escola,
pois sabiam que nada lhes impediria. Os estudantes foram à rua pedir ao governo
que fechasse a porta da Escola. O governo não só não a fechou, como ainda
impediu que os mecanismo institucionais, para provimento de segurança, fossem
efetivados. Na educação pública paraibana as portas estam sempre abertas para a
violência e a insegurança e sempre fechadas ao desenvolvimento sócio-cultural.
Porca miséria essa em que vivemos onde a educação segue não sendo prioridade.
AQUI FOI GILBERGUES SANTOS, NO EXERCÍCIO DIÁRIO DA ANÁLISE.
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