segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO INSEGURA E DESCASO INSTITUCIONAL

A história que diz que só fechamos a porta após entrar o ladrão é a mãe de todas as metáforas e verdades sobre nós, brasileiros, tão displicentes para com nossas coisas. Só reforcei a segurança de minha residência ao saber de ocorrências com meus vizinhos. Não somos profiláticos, não agimos preventivamente. Esperamos as chuvas para poder retirar o lixo das ruas, assim como deixamos que elas faltem para pensar no que fazer. Os paulistas só resolveram economizar água quando a Cantareira secou. Institucionalmente é assim mesmo. Como não praticamos políticas de Estado e sim políticas de governo, nossos gestores públicos costumam deixar os problemas se acumularem para poderem tomar providências, quando tomam.

Estou atento ao caso crônico da insegurança nas escolas públicas da Paraíba. Com uma ira incontida, vejo o amplo, absoluto, descaso do governo estadual para com um problema que, tal qual a peste medieval, só se alastra. Parece que nunca se agiu preventivamente para que nossas escolas não fossem atingidas pela insegurança de cada dia. Quando elas passaram a ser invadidas, saqueadas, vandalizadas, por uma marginalidade sem freios, o que se fez institucionalmente? Se o governo só tivesse tomado medidas, em prol da segurança nas escolas, após os primeiros atos de violência eu entenderia, pois governantes não vem de Marte. Eles são, também, fruto dessa sociedade desleixada para com a coisa pública. Mas, o que vem acontecendo é de uma gravidade abismal. Escolas paraibanas seguem sendo violadas diariamente e o governo nada faz, pelo contrário, age tal qual o avestruz que esconde a cabeça num buraco para não ver que seu predador se aproxima.

Tenho acompanhado, de perto, esse estado de coisas acintoso numa das escolas da rede pública de ensino, aqui mesmo, em Campina Grande. Refiro-me a Escola Ademar Veloso da Silveira, bem mais conhecida como Estadual de Bodocongó. Não por acaso, foi nessa escola onde fiz a prática de ensino para concluir minha formação universitária de professor de história. Aí já se vão uns vinte e tantos anos, mas lembro de como essa escola era depauperada pelo descaso dos governantes. Com o tempo as coisas mudaram e o Estadual de Bodocongó melhorou na qualidade de seu ensino e em suas condições infraestruturais. Mas, essa escola, como as outras, está inserida numa realidade assoberbada por uma violência desmedida. Pasmem, em 2015, o Estadual de Bodocongó já foi invadido, roubado e depredado seis vezes.

Vou repetir, na esperança (inútil?) que alguém na Secretaria de Educação do Estado da Paraíba esteja lendo essa coluna em forma de desabafo. O Estadual de Bodocongó sofreu, apenas entre janeiro e fevereiro deste ano, SEIS violações. Foram roubados computadores e impressoras que funcionam, também, como fotocopiadoras. Uma delas não tinha ainda sequer sido instalada para o uso da escola. O equipamento de som e a televisão da “Rádio Escola AVS” foram danificados e/ou roubados. Grades e portões, que deveriam barrar o ímpeto dos marginais, foram arrancados e jogados ao chão como se fossem folhas de papel. Vi o desespero estampado nos rostos, de professores e funcionários da escola, ao verem que equipamentos adquiridos ao custo de projetos de pesquisa e extensão, e de muito trabalho, claro, haviam sido mais uma vez roubados. Os bandidos arrombaram a dispensa da escola para danificar a merenda. Pegaram vários quilos de carne e jogaram na quadra da escola. Eles não tinham fome, foi pura maldade de quem se sente para acima e além das instituições e da própria lei.

Visitando a escola, após a última ocorrência, ouvi de um funcionário que a solução seria aplicar pena de morte nos marginais que cometeram tais atos. Como a pena de morte não serve para resolver a criminalidade, não vejo porque adotá-la. A pessoa que invade uma escola pública, para roubá-la e/ou depreda-la, deveria ser presa para que se lhe ensinasse a diferença entre as instituições correcionais e as educacionais. Porém, isso é só a ponta de um iceberg que desconhecemos o tamanho. A diretoria da escola já fez vários boletins de ocorrências junto à polícia que não reúne as condições necessárias para investigar os crimes. Na verdade, o governo é que deveria indicar como se prover segurança nas escolas, pois o policiamento ostensivo contra a criminalidade deve ser sempre feito nas ruas. Supor que colocar um policial em cada unidade escolar vai resolver toda essa situação é algo cômodo, pois bem sabemos que a Polícia Militar não dispõe de efetivos para isso, até porque o governo de Ricardo Coutinho segue se recusando a contratar os policiais aprovados nos últimos concursos públicos.

Já a Secretaria de Educação do Estado da Paraíba nada fez. Esperava-se que o órgão atuasse junto ao governo e a Secretaria de Segurança Pública para que se estruturasse um esquema de segurança apropriado para uma escola já tão fragilizada. Na verdade, a única coisa que a Secretaria fez foi pressionar a Escola para que as aulas não parassem. A preocupação da Secretaria é de como se daria a reposição de aulas caso os professores decidissem paralisar suas atividades por absoluta falta de segurança. A 3ª Gerência de Ensino de Campina Grande sequer enviou um funcionário ao Estadual de Bodocongó para, pelo menos, fazer um relatório daqueles que ninguém lê e logo é arquivado em uma gaveta qualquer. E agora, a quem recorrer? A divina providência? Ou seria melhor implorar aos marginais que fossem roubar em outra freguesia?

No começo do mês, quando o Ministro da Educação, Cid Gomes, veio à Paraíba inaugurar uma escola, o governador Ricardo Coutinho lançou o “Prêmio Solução Nota 10” que distribuirá prêmios para quem apontar ideias para a redução da evasão escolar. O mesmo governo que parece preocupado com a evasão é o que nada faz para coibir a violência nas escolas que, como sabemos, é um dos motivos que fazem os bons alunos e os bons professores temerem frequentar suas próprias escolas. O mesmo governo, recentemente reeleito, com sensibilidade suficiente para liberar verbas para compra de equipamentos para a escola, não é capaz de planejar a instalação, manutenção e segurança desses equipamentos. Tampouco esse governo parece se preocupar com o bem estar daqueles que dão vida a escola.

Em março de 2014 os alunos do Estadual de Bodocongó fizeram uma manifestação, no centro da cidade, para mostrar o quanto se sentiam inseguros. Naquele momento, os ladrões já tinham entrado várias vezes na escola, pois sabiam que nada lhes impediria. Os estudantes foram à rua pedir ao governo que fechasse a porta da Escola. O governo não só não a fechou, como ainda impediu que os mecanismo institucionais, para provimento de segurança, fossem efetivados. Na educação pública paraibana as portas estam sempre abertas para a violência e a insegurança e sempre fechadas ao desenvolvimento sócio-cultural. Porca miséria essa em que vivemos onde a educação segue não sendo prioridade.

AQUI FOI GILBERGUES SANTOS, NO EXERCÍCIO DIÁRIO DA ANÁLISE.

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