Certa vez me dei ao trabalho de assistir
alguns dos encontros religiosos que acontecem anualmente em Campina Grande.
Não, eu não estava buscando uma religião, ou uma seita, para aderir. Não estava
motivado por questões espirituais, pois tenho um modo particular de manifestar
minhas crenças sem que tenha que entrar em templos, participar de eventos ou de
algum tipo de ritual tribal. Na verdade, estava interessado em saber de que
maneira os organizadores desses eventos investem, ou gastam, as verbas que a
Prefeitura Municipal de Campina Grande lhes entrega a título de subvenção. Eu
sigo querendo saber como o nosso dinheiro está sendo utilizado nesses eventos
religiosos.
Qual foi minha surpresa quando, num
desses eventos, ouvi a seguinte pregação proferida por um líder religioso.
Dizia ele para seus atentos fiéis (SIC): “Vocês não tem que ter vergonha de
ofertar ao Senhor Jesus e vocês podem fazer isso da maneira que quiserem. Se
forem ofertar em dinheiro é só vir aqui ao lado. Mas, se forem ofertar no
cartão, nossos colaboradores irão até aí onde vocês estam com as maquinetas”.
Fiquei pasmo, incrédulo, em meio a tantos crentes. As pessoas estavam sendo
convidadas (ou seria intimadas?) a doarem seus dízimos através do cartão de
crédito. Será que eles aceitariam que se parcelasse o dízimo em dez vezes sem
juros?
Lembrei as indulgências que os cristãos
pagavam. Em seus primórdios, a Igreja impunha pesadas penas morais e carnais
para que cristãos pudessem remir seus pecados. A absolvição só era dada aos
penitentes que reconhecessem seus pecados e se submetessem a pesadas penas. O
pecador era condenado a jejuar, trajando molambos e usando o silício para
autoflagelação. Depois a Igreja comutou as penitências pelo pagamento das
indulgências. Tudo ficou mais fácil. Bastava reconhecer os pecados e por ele
pagar uma quantia que, claro, era levada aos cofres da própria Igreja. Hoje, as
religiões cobram de seus fiéis o dízimo para que elas limpem suas consciências
e não percam a esperança de ir para o reino do Todo Poderoso após a morte.
Mas, se é assim, porque esses eventos
precisam de dinheiro público para serem realizados? Não bastaria as Igrejas
pedirem a contribuição dos seus seguidores para a montagem de seus eventos?
Baseada em que a Prefeitura de Campina Grande faz essas doações? O prefeito
Romero Rodrigues afirma que, “apesar das dificuldades, o governo não deixaria
de apoiar eventos que projetam Campina no cenário turístico nacional”. Certo,
eventos injetam recursos na economia da cidade. Mas, a única forma da Prefeitura
contribuir com esses eventos é entregando recursos aos seus promotores? Não
custa lembrar que a maioria dos eventos são autossustentáveis. O Encontro da
Consciência Cristão, um evento que congrega quase todas as Igrejas evangélicas
da cidade, e que acontece no Parque do Povo, recebeu, a título de subvenção, a
quantia de R$ 160 mil.
O evento é patrocinado por empresas e os
evangélicos lotam suas dependências pagando ingressos e doando dízimos. Um de
seus coordenadores, o pastor Euder Faber, tem uma justificativa, aparentemente
plausível, para a subvenção. No ano passado, ele afirmou que “a ação do
prefeito merece reconhecimento, pois contribui para o crescimento espiritual do
povo de Campina Grande”. Mas, porque o poder público deve promover o
crescimento espiritual de seus cidadãos? Ao que me conste, cabe à prefeitura
promover nosso desenvolvimento econômico e social. Até porque, o Estado
brasileiro é constitucionalmente laico, ele não pode aceitar ou receber
influências religiosas.
A prefeitura contribui para o evento
evangélico quando cede o Parque, que é do povo de Campina Grande, para que um
determinado ramo religioso promova seu evento. É estranho que o local onde se
realiza nossa festa maior, o São João, seja privatizado por alguns dias para a
realização de um evento religioso. Fico sempre me perguntando se a coordenação
do evento oferece alguma contrapartida a prefeitura. Ainda falando em
justificativas, ou racionalizações, vi o prefeito Romero Rodrigues dizendo, em
2014, que é fundamental apoiá-los, pois esses eventos trazem serenidade a
cidade. Romero afirmou que os eventos religiosos promovem uma reflexão, que
isso estabelece a paz na cidade e diminui a violência.
Um comentário:
"os evangélicos lotam suas dependências pagando ingressos e doando dízimos." Isso não é uma informação verdadeira, o sr deveria confirmar a veracidade das suas suposições antes de afirmá-las.
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