Desde 1998, acompanho,
como analista, eleições em nosso país. Já vi de tudo um pouco. Não deveria, mas
vez por outra termino me surpreendo.
Temos casos que chamam
atenção pela rapidez com que os fatos se dão e pela capacidade de mudar
bruscamente a paisagem eleitoral. Vejamos um deles.
Acreditava-se que a
eleição em João Pessoa
seria das mais tranquilas. A candidatura do prefeito Luciano Agra era
indiscutível e sua reeleição tida como certa.
Mas, eis que
“Imponderável da Silva” (personagem de Nelson Rodrigues) surgiu. Agra se
retirou da disputa e mudou drasticamente o cenário político da capital.
Convenhamos, não é toda
dia que um prefeito líder nas pesquisas, com cerca de 60% de aprovação de sua
gestão, desiste de buscar sua reeleição.
A pergunta que não quer
calar é: porque um governante tão bem avaliado desiste abruptamente do embate, considerando
suas boas chances de vencer?
Racionalizando seu ato,
Agra disse “não ser afeito ao jogo bruto
da política, aos sofismas e frases de efeito”. Melhor para ele, pois ficou
fora de um jogo onde, como diria o inefável ACM, “abaixo do pescoço tudo é canela”
Tinha razão Agra, sua
candidatura foi implodida pelos seus aliados, num jogo de bastidores que o
desgastou ao ponto do desespero e da desistência.
A decisão final foi
tomada em comum acordo com o governador Ricardo Coutinho? Ou será que se seguiu
o modus operandis ricardista de tomar
decisões unilaterais?
A escolha de Estelizabel
Bezerra para seguir na disputa parece ter sido, também, uma decisão solitária
do governador. Mas, Imponderável da Silva já tinha fincado pé na capital.
Enquanto o “Coletivo Girassol”,
uma espécie de eufemismo para os ricardistas, agitava as bandeiras, os aliados
descontentes zeravam o jogo, sinalizando que não aceitariam mais uma imposição
de Coutinho.
Lançaram o Secretario Estadual
de Comunicação Nonato Bandeira e deu-se o imbróglio, pois manda a boa norma da
política que aliados fiquem juntos, não separados!
Ricardo, ao que parece,
disse a Nonato e a Estelizabel que fossem a luta e conquistassem a maior
quantidade de corações e mentes até as convenções partidárias.
Nonato aparece bem na
disputa. O PPS fez um congresso e contou com presenças expressivas do arco de
aliança do governador, a exemplo de Cássio Cunha Lima e, claro, Luciano Agra.
Estelizabel tem
dificuldades para ir além do arco dos movimentos sociais. Ela até tentou
estabelecer um canal de diálogo com Cássio Cunha Lima, mas ele não se mostrou
receptivo.
Vejamos como se
expressam as preferências. Cássio ignorou classicamente Estelizabel quando
disse que o partido dela (PSB) não tinha definido, ainda, sua candidatura.
Disse que o PSDB tem a
candidatura própria do senador Cícero Lucena. Mas, até os pombos da Praça da
Bandeira sabem que Cássio e Cícero não mais se afinam. Por fim, Cássio foi
abraçar Nonato Bandeira.
Estelizabel acusou o
golpe e recorreu ao Imponderável a Silva. Vemos agora a movimentação de Ricardo
Coutinho buscando, pasmem, a rota de José Maranhão.
Ricardo e Maranhão
conversam, sabemos. Se Nonato é mesmo candidato, com apoio de Cássio, Estelizabel
pode ser a vice de Maranhão. E o governador SE faria presente nos dois pólos.
o
confuso cenário da eleição pessoense se refletirá em 2014. Teve razão Luciano
Agra em rejeitar o jogo bruto da política? Não sei! Sei que quem tem razão é o
antropólogo Roberto DaMatta que diz que a política brasileira não é para principiantes.