O tema do POLITICANDO de hoje é fruto de um
fenômeno político-social que cada vez mais chama a atenção dos estudiosos e que
o sociólogo francês Pierre Bourdieu chamou de a “descoloração da política”. Bourdieu
se referia a um fenômeno mundial que nos leva a priorizar cada vez mais os
temas relacionados ao comportamento humano e às celebridades do mundo do
entretenimento. Esse fenômeno nos
afastaria das coisas do mundo da política.
A descoloração da politica se dá na medida em que
nos preocupamos mais com o comportamento e a vida particular dos políticos do
que com as ações que eles realizam na vida pública. Bourdieu afirmava que cada
centímetro dado, pela imprensa, para tratar da vida particular dos políticos
causa um esvaziamento da política e uma completa inversão da função inicial da
imprensa.
Mas, Bourdieu não refletiu em cima de nossa realidade
política. Bourdieu não deve ter tido conhecimento que políticos de um país
chamado Brasil não fazem a mínima distinção entre suas vidas privadas e suas
carreiras políticas. A vida particular dos nossos governantes e representantes
não deveria mesmo ser de nossa conta. Não deveríamos querer saber de nada que
não fosse relacionado às atividades por eles desenvolvidas no mundo da
política.
De que importaria saber que aquele influente
político, que ocupa um importante cargo em Brasília, coleciona amantes assim
como junta gravatas? De que importa saber que aquele prefeito teve ou tem um
caso amoroso com uma mulher influente da sociedade? Não, não importa. Isso não
deve ser da conta de ninguém. Não cabe a mim, por exemplo, especular sobre
excentricidades, obsessões e hábitos pouco ortodoxos que alguns políticos
praticam em suas vidas particulares.
Mas, o fato é que a vida pessoal dos políticos
termina por interessar na medida em que eles mesmos não sabem separar as coisas
pessoais das coisas da res pública,
ou seja, as coisas da vida pública, republicana. O político que consegue fazer uma clara divisão
entre estes dois mundos pode, por exemplo, ter uma vida social ativa sem que
especulações de toda sorte venham a atrapalhar sua atuação política.
Esse parece ser o caso do
senador mineiro Aécio Neves que leva uma vida social das mais agitadas, sempre
acompanhados de belas mulheres, mas isso não faz com que sua atuação política
seja afetada, pelo menos na aparência. Na medida em que o político consegue
separar bem as coisas de sua vida privada das coisas de sua vida pública ele
está se protegendo. Uma ótima forma de evitar especulações é fazendo as coisas
sempre às claras.
Um político pode ter uma ou mais amantes? Sim, pode.
O que ele não pode é nomear sua amante para que ela ocupe um cargo público. O
que não é admissível é o Estado financiar as aventuras amorosas de seus
dirigentes. Vejam o caso de Rosemary Noronha, a namoradinha de Lula, que foi
nomeada para gerenciar o escritório do governo federal em São Paulo. Rose se
apresentava como a namorada de Lula para praticar tráfego de influência dentre
outras coisas.
Neste caso não existem duas vidas, uma privada e
outra pública, existe uma única vida onde interesses políticos e as coisas da
alcova se encontram em um único patamar. Aqui o privado perpassa o público e
vice-versa. Vejamos aqui, em Campina Grande, como se estabelece a confusão
entre público e privado. No fatídico dia das convenções partidárias, enquanto a
cidade esperava que se homologassem as candidaturas que disputariam a
prefeitura, a confusão era enorme.
É que para que as
principais candidaturas fossem homologadas tinha que haver um processo de
discussão familiar por assim dizer. Havia arestas particulares que precisavam
ser aparadas para que só então se definissem nomes. É como se houvessem duas
convenções. Uma particular, familiar, e outra pública. Sendo que a primeira
seleciona os nomes que vão ser aclamados na segunda. O jornalista Arimatéa Souza chama isso de as transversalidades
dos acontecimentos políticos.
Mas, e a pergunta sobre em que medida a vida
privada de um político não deve ser alvo de especulações? Na medida em que ele
não confunde as coisas e não traz para seu gabinete, onde despacha atos públicos, as relações que
mantém em sua vida particular. A política brasileira sofre um processo de
descoloração não apenas pela relação que temos com ela, mas por causa do
comportamento pouco republicano que tantos políticos reproduzem.
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