Na passagem do século XX para o
século XXI falava-se de uma nova era e de revoluções. Fala-se de um futuro
dourado como se fosse possível alcança-lo. Ninguém lembrava que o futuro não
nos pertence, pois quando ele chega é presente e quando se vai é passado.
Ao amanhecer do dia 01 de janeiro
de 2000, meu filho (que tinha seis anos) foi até o quintal, olhou para o céu, e
disse: “pai, continua tudo do mesmo jeito”. Ele tinha razão, não havia mudanças
palpáveis e palatáveis, apenas a data do calendário era outra. Até hoje
questiono se o novo século trouxe um novo tempo – em que pese termos visto
muita coisa interessante. Vimos os atentados terroristas, em 2001, a eleição de
um negro nos EUA e de um ex-operário sindicalista no Brasil.
Desde então, a cada 01 de janeiro
vou até a rua e olho para o céu para ver se algo mudou. Mas, ele está lá sempre
azul, as nuvens sempre brancas e o sol a brilhar e a nos esquentar cada vez
mais, pois o aquecimento global é fato. Procuro olhar também para os lados e
para baixo e vejo coisas que o ano velho empresta ao novo, tornando este tão
gasto como aquele. Infelizmente, continuo vendo mendigos remexendo os depósitos
de lixo em busca das sobras dos regabofes da noite de ano novo.
Vejo, também, pessoas com as
cabeças baixas indo cumprir suas jornadas. Vejo o otimismo estulto dos que
pensam que terão um ano novo feliz por terem comprado roupas, celulares, carros
novos e todas as maravilhas que o mundo do consumo oferece. E como deixar de
perceber a alienação dos que aproveitam o feriado para comemorarem como
idiotas, como diria Renato Russo, com suas bebedeiras sem fim e seus “paredões”
aloprados.
Ainda percebo
crentes de todos os matizes confiando a Deus a responsabilidade de prover muito
dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender, como se não fosse nossa a
prerrogativa de buscá-los, e como se Deus pudesse existir apenas para isso. O
próximo ano repetirá as mazelas desse ano que está acabando. Por isso que
Marcelo Rubens Paiva não desejava um feliz ano novo e sim um feliz ano velho.
Por isso que eu estou aqui a destilar um pessimismo que, torço, para que não
seja contagiante.
A fome e a avassaladora
desigualdade em nossa sociedade, a violência, a seca e as enchentes, os
escândalos de corrupção, a depauperação do espaço urbano e a desmontagem das
instituições vão, infelizmente, se repetirem. Em 2013 não teremos eleições, não
teremos guia eleitoral e não teremos os debates. Em compensação não teremos,
também, a sonhada reforma política. Em 2013 vamos nos concentrar nos
preparativos para a Copa do Mundo de 2014, sonhando em ganha-la.
O fato é que temos
a passagem do ano, os primeiros dias do mês de janeiro vão se passando e vamos
constatando que nada mudou e que temos os mesmos problemas e as mesmas
dificuldades de todo começo de ano. Mal começa o ano e já temos as mesmas
contas para pagar, o mesmo corre-corre do material escolar dos filhos e aquela
ansiedade para que o carnaval chegue, passe, para aí sim podermos realmente
começar o ano.
Eu não sei quem
disse que o ano no Brasil só começa depois do carnaval, o que eu sei é que
continuamos com aquela mania de deixarmos para fazer coisas importantes só após
os festejos de momo. É como dizia Chico Buarque: “estou me guardando para
quando o carnaval chegar”. Mas, depois
tem a páscoa e aí já vem o São João e todos àqueles inúmeros feriados que só
fazem nossa preguiça estulta aumentar.
Eu, com esse meu realismo incorrigível (que
muitos chamam de pessimismo) lembro sempre de Camões que dizia que “jamais
haverá ano novo, se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos”. Por isso
mesmo peço, imploro, ao caro ouvinte que não se deixe levar pelo meu realismo
pessimista. Também não vou dar conselhos que isso é coisa das mais sérias.
Farei o seguinte: darei uma sugestão.
Que tal se cada um de nós escolhermos um erro cometido neste ano de 2012 para
fazer a promessa interna de não repeti-lo em 2013? Imagine que dessa forma
nossas vidas podem melhorar bastante. Não
é o ano que pode ser novo. Nós é que podemos tentar mudar, para nos fazermos
mais novos. Em todo caso desejo felicidades a todos seja 2013 um ano velho ou
novo.
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