quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O que você prefere um técnico ou um político?



 



Reza a lenda que João Saldanha, técnico de futebol responsável pela montagem da seleção brasileira de 1970, disse que preferia treinar onze craques indisciplinados a ter que aturar onze pernas de pau bem comportados. João Saldanha, conhecido pelas polêmicas que protagonizava, respondia a uma provocação de Zagallo que, ao assumir a seleção tricampeã no México, teria dito que encontrou um monte de craques indisciplinados e fora de controle. Num tempo em que não era moda ser politicamente correto, João Saldanha e Zagallo bateram boca durante algum tempo por nada, pois não importava se o jogador era ou não um bom moço, o que interessava é que ele jogasse muito bola.





Eu lembrei dessa história por causa da discussão que tomou conta os processos de transição de governo. Tenho visto políticos, jornalistas e analistas discutindo sobre se é melhor montar um governo de técnicos ou um governos de políticos. Hoje em dia é comum as pessoas elogiarem governos que se inauguram com perfil técnico. Os partidos e políticos estam tão desgastados por um cenário onde a corrupção é regra que se tende a achar que governos sem políticos é algo interessante, como se isso fosse possível.




Eu devo dizer que duvido se, na montagem de um governo, se deve considerar esse dilema, pois o ideal para um governante é se cercar de políticos com formação técnica e de técnicos que tenham claro que é na dimensão política que se dá a ação governamental. Tenho visto governos enfrentarem problemas por não conseguirem fazer com que seus políticos e seus técnicos se entendam. O governador Ricardo Coutinho que o diga, pois a maioria dos problemas de seu primeiro ano de governo foi fruto desse falso dilema.





A tentação de oferecer um produto diferenciado à população tem sido maior do que a necessidade de se conduzir as coisas públicas através de decisões políticas. O prefeito eleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, tem utilizado o argumento técnico para pautar parte de suas escolhas. O seu Secretário de Comunicação, Marcus Alves, afirmou que “Cartaxo está montando um governo com perfil eminentemente técnico e que até mesmo os nomes políticos têm que entender às necessidades das pastas para as quais foram indicados”.




Certo. O discurso é bem feito. Mas, na prática Luciano Cartaxo pode vir a ter muitos problemas na medida em que um eminente técnico não teria obrigação de entender das coisas da política. Assim, como o político que ocupa uma secretaria apenas para atender demandas partidárias e/ou fisiológicas pode vir a ter um péssimo desempenho por não ter a menor ideia de como funciona a máquina de sua secretaria.






A radiografia do governo de Cartaxo já nos diz algo. Até agora ele indicou 29 nomes para compor seu governo. Desses, 10 são ligados ao PT, 09 são pessoas indicadas pelo atual prefeito Luciano Agra e os outros 10 são nomes de perfil técnico. Cartaxo terá um governo triangular dividido entre políticos de sua cota, da cota de seu principal aliado e os que são tidos como técnicos, ou seja, despolitizados. Se Cartaxo conseguirá coordenar esses três setores tão diferentes é uma coisa que só o tempo dirá. Duvido que uma equipe de governo montada dessa forma possa se manter coesa. Não deve demorar para o prefeito ficar isolado com sua equipe, Luciano Agra criar um governo paralelo com os seus e os dois se baterem para ver quem comanda os técnicos.





Romero Rodrigues deve anunciar os nomes que vão compor seu secretariado. A prioridade é para um governo de perfil técnico. Vejam que quando ele anunciou a equipe que vai compor a Secretaria de Saúde destacou o perfil técnico dos que nomeará. Romero afirmou não haver interferência política ou partidária na escolha dos nomes para a saúde. Ele disse que: “Todos os escolhidos foram por critérios estritamente técnicos. Em momento algum questionei em quem estas pessoas votaram nas eleições”.





A secretaria de saúde, Lúcia Derks, é médica e numa entrevista fez questão de destacar o perfil eminentemente técnico de sua equipe. Por isso, espera-se que Romero Rodrigues mantenha a escrita em outras secretarias como a da educação. Importa bastante que esses técnicos tenham um bom desempenho. Importa que eles atuem libertos de ingerências políticas externas, de interesses econômicos privados e até mesmo daquelas influências familiares que tanto atrapalham.




Mas, fundamentalmente, importa que o técnico entenda que para além e acima dele e de sua visão científica e/ou acadêmica existe a dimensão política onde escolhas precisam ser feitas para beneficiar pessoas. Interessa, ainda, que os políticos entendam que o conhecimento técnico deve ser utilizado para gerar bem estar e não para beneficiar este ou aquele interesse particularizado.




Se o caro ouvinte quer saber o que eu prefiro, digo que entre o craque desequilibrado e o bom moço perna de pau eu fico com o craque de bola que é um bom moço. Eu sei que é difícil encontrar, mas não é impossível. Basta saber procurar.



Nenhum comentário: