O STF concluiu o julgamento da Ação Penal 470, ou
“Processo do Mensalão”. Foram várias e longuíssimas sessões onde 25 pessoas
foram condenadas. Agora, não resta muito que fazer, a não ser torcer para que
as sentenças sejam cumpridas. Apesar de que o presidente do STF, ministro
Joaquim Barbosa, está propondo rever a dosimetria de alguns condenados como
José Dirceu. É que ele teve uma pena menor do que a de Marcos Valério e, como
se sabe, Dirceu comandava Valério, não o contrário.
É bom esclarecer que desses 25 condenados, 13 vão
cumprir parte de suas penas em regime fechado. Aqueles que tiveram penas
superiores a oito anos terão que ser recolhidos a uma penitenciária, mesmo que
lá fiquem por pouco tempo. Os que foram condenados a cumprir entre quatro e
oito anos de cadeia, ficarão no regime semiaberto onde o condenado dorme na
penitenciária e passa o dia fora. As penas inferiores a quatro podem ser
substituídas por penas alternativas.
Mas, antes que se diga que isso não é justo. Que o
Brasil é o país da impunidade. Que tudo aqui acaba em pizza, eu sugiro que
analisemos o processo de uma perspectiva positiva, ou seja, vamos mudar o
ângulo de nosso olhar. Penso que não temos razões para nos rendermos aos
discursos fáceis. Pela primeira vez no Brasil um grande esquema de corrupção
foi desbaratado e os envolvidos foram julgados, condenados e culpados. E isso
não é pouco.
Pessoas que sempre se colocaram acima do bem e do
mal. Pessoas que se viam mais fortes do que as instituições que ocupavam, e das
quais se locupletavam, enfrentaram um processo e, ao final, foram condenadas. Assim,
importaria menos o tamanho das penas a serem cumpridas e bem mais o fato que
nunca poderemos dizer que a impunidade venceu. Mais importante do que o sentido
prática, físico, da punição é o sentido político e ético que se está deixando
para o país.
Mais importante do que a
expectativa de vermos Zé Dirceu chegando a um presídio, algemado, e com um
uniforme de presidiário é termos presenciado um processo onde ficou claro que,
sim, é possível se punir corruptos. Mais importante do que exercitarmos nosso
comportamento masoquista para com os políticos é vermos que dentro dos limites
do Estado democrático de direito, tendo a mais alta corte desse país como
cenário principal, a justiça foi literalmente feita.
Aliás, o fato do
julgamento do mensalão ter sido feito pelo STF foi de grande valia para a
sociedade. É que aquela Corte, sempre muito distante de nossa realidade, foi
apresentada ao cidadão brasileira ao vivo e a cores. Assim, pudemos ficar
sabendo quem são aqueles ministros e o que fazem. Pudemos saber como agem e
reagem a uma série de situações. Pudemos até saber de seus humores e da falta
deles. Deu até para saber como são as relações entre uns e outros.
Joaquim Barbosa (o presidente), Ricardo
Lewandowski (o vice), Celso de Mello, Marco Aurélio Garcia, Gilmar Mendes,
Cármem Lúcia, Dias Toffoli, Luis Fux e Rosa Weber são os ministros
protagonistas desse já clássico julgamento. Foi providencial conhecê-los mais e
melhor, pois eles não compõem um tribunal qualquer. Eles são membros da Suprema
Corte desse país. Eles são imbuídos de um poder tal que pode rever atos do executivo
e do legislativo. Acima deles não existe absolutamente nada.
Vejam que a maioria dos ministros do STF foram
nomeados pelo presidente Lula, líder maior do PT, o partido que esteve sentado
no banco dos réus no julgamento. Aliás, Lula deve ter se arrependido
profundamente de ter nomeado Joaquim Barbosa. Se não fosse ele o julgamento
poderia não ter tido a dimensão que teve. É provável que terminasse em uma
enorme pizza, já que a disposição do revisor do processo, Lewandowski, parecia mesmo ser de inocentar a
maioria dos réus.
Por falar em Lula. Essa é a parte desanimadora de todo
processo. Lula foi blindado. Foi deixado de lado. Impressiona como nenhum dos
acusados se dispôs a revelar o envolvimento de Lula para obter a delação
premiada. Essa é justamente a parte que faltou desse
processo. A participação de Lula tinha que ser esmiuçada. Se ele viria a ser
julgado e até condenado não se pode dizer. Mas esse silenciamento em torno de Lula
é inadmissível. Como é inadmissível
que essa quadrilha tenha se organizado de forma tão sofisticada.
Assim, volto ao ponto positivo que foi o STF,
seguindo regras do Estado de Direito, ter julgado e condenado os mensaleiros.
Mas, que não se pense que tudo acabou. Joaquim Barbosa determinou que as testemunhas
do mensalão do PSDB, o chamado "mensalão mineiro", comecem a ser
ouvidas. No STF o processo foi intitulado como ação penal 536. Em breve o show
continua. Tucanos tremei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário