Poucas vezes na política paraibana tivemos um
suspense tão grande como agora. Eu falo da expectativa que se deu em torno do próximo
reitor da Universidade Estadual da Paraíba – a UEPB. Deixem-me relatar os
fatos. Em maio passado houve uma eleição, ou melhor, um processo de consulta à
comunidade acadêmica. Neste pleito, tínhamos cinco candidatos a reitor. Os três
mais bem votados passaram a compor uma lista tríplice que foi enviada ao
governador Ricardo Coutinho.
De acordo com a lei, não basta ganhar o processo de
escolha para ser o reitor da UEPB. É preciso que o governador nomeie o reitor
dentre aqueles que compõem a lista tríplice. E mais, o governador não é
obrigado a nomear aquele que ficou em primeiro lugar, ele pode indicar qualquer
um dos três. Assim, houve a consulta, a lista foi enviada para o governador e
desde então se aguardou a nomeação. É esse o X da questão. É que ou bem temos
um processo eleitoral, onde o eleito torna-se reitor, ou bem o governador
escolhe unilateralmente, dentre o corpo docente da UEPB, aquele que será o
reitor. Uma coisa é eleição, outra bem diferente é um ato de nomeação.
O que não pode mais acontecer é essa dubiedade no
processo de escolha. A comunidade acadêmica até opina para formar a lista
tríplice, mas aquele que ela colocou em primeiro lugar na lista pode não ser o
nomeado. Isso é legal? Sim! É legítimo? Não! O prazo final para a nomeação é
exatamente hoje. O mandato da reitora Marlene Alves encerra-se hoje. A grande
questão é: o que esperou o governador Ricardo Coutinho para nomear o novo
reitor UEPB? Porque tantas dúvidas?
Será que a longa queda de braço entre o governador
Ricardo Coutinho e a Reitora Marlene Alves, sobre a questão da Lei da
Autonomia, tem alguma coisa a ver com esse suspense todo? Digo suspense, porque
não acredito que exista alguma indefinição. Sabemos que o governador aguardou
que todo o processo eleitoral se encerrasse para poder tomar sua decisão.
Ricardo Coutinho temia que o processo político na UEPB interferisse na eleição
para prefeito de Campina Grande, ou vice-versa.
De fato, ele tinha suas razões já que a reitora
Marlene Alves era pré-candidata a prefeita de Campina Grande. Com a reitora
candidata, seria quase impossível separar as coisas. As ingerências políticas
aconteceriam para além e acima dos interesses acadêmicos. Mas, as eleições
municipais acabaram. Os dias foram passando e as expectativas da comunidade
acadêmica da UEPB foram aumentando. Especulações de toda sorte, dentro e fora
da UEPB, eram feitas.
Os professores Rangel
Jr., Cristovam Andrade e Eliana Maia, cujos nomes compõem a tal lista tríplice,
continuaram em campanha. Uma lenta e longa campanha. Passavam-se os dias e a
movimentação, nos bastidores e na imprensa, era intensa. Rangel Jr., preferiu
silenciar. Aproveitou o tempo para concluir e defender sua tese de doutorado. Rangel
entendeu que uma declaração desastrosa poderia por tudo a perder. Mas, ele não abandonou
as articulações. Nos bastidores se movimentou intensamente.
Eliana Maia deu
seguimento as suas atividades na UEPB, sem se descuidar da possibilidade de se
tornar reitora. Com uma inserção política inferior a dos outros dois
candidatos, Eliana aparecia menos. Mas,
não será surpresa vê-la ocupando uma pró-reitoria no próximo reitorado.
Cristovam Andrade seguiu
outra estratégia. Ocupou os espaços disponíveis na imprensa e utilizou-se da
estrutura da Associação dos Docentes da UEPB, da qual é presidente, para
manter-se em evidência e oxigenar seus embates com a reitora Marlene Alves.
Enquanto isso, o governador Ricardo Coutinho seguia
ensimesmado em relação à UEPB. Compenetrado e fiel a seu estilo centralizador,
dizia apenas que na hora certa tomaria a decisão. Esse clima de suspense foi,
sim, criado e incentivado pelo próprio governador. Ricardo dizia que caberia a
ele, e somente ele, tomar a decisão. Recentemente, veio a Campina Grande e,
numa entrevista, disse que estava estudando o currículo dos três candidatos
para poder tomar a decisão.
Coutinho disse ainda que “eu saberei decidir o que
é melhor para a UEPB”. Em outra entrevista, voltou a questionar a autonomia
financeira da UEPB. Ele perguntava se era justo que tanto dinheiro público
fosse destinado a uma única instituição. Por fim, o governador realizou uma
espécie de sabatina com os candidatos. Primeiro, chamou cada um individualmente
e depois fez uma reunião coletiva. O que o governador queria não se sabe bem,
até porque ele nunca esclareceu o que pretendia.
Como ele disse que iria estudar o currículo de cada
um e procurar conhece-los mais e melhor, deduzo que estava tomando a lição com
os candidatos, que a estudaram durante a consulta à comunidade acadêmica. Assim,
os alunos, digo candidatos, foram até o professor,
digo governador, para, numa espécie de chamada oral, dizerem como pretendem
gerir a UEPB e seu grandioso orçamento.
O fato, é que a realidade se impôs ao governador. É
certo que ele tem a lei ao seu lado. Mas é certo, também, que ele não pode
passar ao largo da decisão que a comunidade acadêmica da UEPB tomou.
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