As notícias sobre as precárias condições
administrativas que vários prefeitos encontraram em suas respectivas
prefeituras não param de chegar de várias cidades das cinco regiões do Brasil. E
essas notícias causam, claro, indignação e revolta. Além de sabermos das
bandalheiras praticadas por gestores que, por enquanto, classificarei como
irresponsáveis, temos que ver nossas cidades expostas à execração pública num
programa de TV como o “Fantástico” da Rede Globo.
O fato é que não houve processos
de transição republicanos na quase totalidade dos municípios. As tais comissões
de transição são peças de retórica que servem para decorar um cenário pretensamente
democrático. O fato é que os prefeitos só descobrem a real gravidade dos
problemas quando tomam posse. Aí é um tal de chamar entrevista coletiva para
expor os problemas encontrados. Claro, ninguém quer assumir a culpa pelos
problemas criados em gestões passadas.
A reportagem do Fantástico foi
cruel para com a imagem das cidades, pois a pergunta que não quer calar é: como
se pode eleger alguém capaz de cometer tamanho desmando? É que em última
instância o eleitor tem sim sua cota de responsabilidade. Vimos prefeituras
depredadas, sem móveis e equipamentos. Em algumas os vasos sanitários dos
banheiros foram arrancados. Numa delas havia um buraco com 12 metros de
diâmetro. Em muitas não tinha energia por falta de pagamento das contas de luz.
Numa cidade do Piauí, os
dados dos computadores da secretaria de educação foram apagados. Não é possível
saber nada sobre os alunos da rede municipal dessa cidade. Aliás, esse é o
principal problema a se lidar – a falta de dados e informações.
É que os prefeitos
dão ordens para que os discos rígidos dos computadores das secretarias ordenadoras
de despesas sejam formatados. Assim dificultam o rastreamento das fraudes e dos
desvios de dinheiro público cometidos. Tal qual um criminoso que apaga suas
impressões digitais da cena do crime cometido, esses gestores deletam os dados
e informações que podem vir a incriminá-los. O fato é que essa gente deve
começar a ser tratada pelo que são – criminosos.
Em Holambra, interior
de São Paulo, a ex-prefeita levou computadores e móveis alegando serem de sua
propriedade. E ela disse que é normal que o prefeito compre móveis para a
prefeitura. Só faltou dizer que é normal roubar os bens públicos. O problema é
que, no Brasil, a separação entre público e privado nunca foi feita. Aliás, se
prefere que seja assim mesmo, tudo misturado para que não se possa dizer o que
é de quem. Entre nós impera, ainda, a lógica de que se é público não é de
ninguém.
O suprassumo do absurdo
se deu em Canavieiras, BA. Encontrou-se, escondido no gabinete do prefeito, um
sistema de escuta. É que o prefeito que deixou o poder queria saber se seu
substituto cometeria os mesmos desmandos, as mesmas bandalheiras. Em
Juazeirinho, aqui na Paraíba, a prefeitura está falida. Não tem luz e nem água.
A prefeita empossada afirma ter encontra a quantia de R$ 2,10 no cofre da
prefeitura. Detalhe, Juazeirinho sofre bastante com o flagelo da seca.
Em Campina Grande os desmandos são tantos que
já se pode afirmar que o ex-prefeito Veneziano Vital teve uma atitude
deliberada, além de irresponsável, na forma como lidou com a gestão municipal
nos últimos meses de sua administração. Alguns
prefeitos praticam propositadamente a política da terra arrasada, antes de
entregarem a gestão, como forma de desgastar seus substitutos. Pobre coitados,
pensam que assim vão prejudicar seus opositores e fazê-los derrotados em
eleições futuras.
Veneziano pensou que prejudicaria
Romero deixando de pagar o funcionalismo público municipal. Parece ter
entendido que a população responsabilizaria o novo prefeito pelo lixo que
deixou espalhado pela cidade. Enganou-se o ex-prefeito. Dificilmente a
população campinense se esquecerá da situação de penúria que se encontrava Campina
Grande naqueles dias de natal. Sempre haverá quem possa lembrar quais foram os
reais responsáveis por aquele deplorável estado de coisas.
Os secretários municipais que
abandonaram suas secretarias nos últimos dias de 2012 acham que assim criaram
grandes embaraços para seus substitutos. Ledo engano. Os novos secretários devem
ser melhores em suas gestões do que os anteriores. É que administrar em cima do
nada é fácil. As comparações serão inevitáveis. Quando os serviços básicos da
administração municipal estiverem regularizados as pessoas dirão, e com razão,
que a atual gestão é melhor do que a anterior. Essa gente que acha que não tem
obrigação de deixar a casa organizada para aqueles que vão assumi-la deve ser
banida da política. Se as instituições nada fizerem, você, caro ouvinte/eleitor
pode fazer algo bem simples: basta nunca mais votar neles.
O Tribunal de Contas do Estado
está atento para a situação de abandono e sucateamento em municípios da
Paraíba. Fábio Nogueira, presidente do TCE, tem dito aos novos prefeitos para
relatarem as irregularidades ao Ministério Público e ao TCE. O recado de Fábio
Nogueira não poderia ser mais claro e tem até tons premonitórios. Disse ele
que: “Esses dados serão levados em consideração pela corte do Tribunal quando
for realizada a apreciação das contas desses gestores”. Que assim seja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário