quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sobre palanques, atores e articulações políticas.



Alguns dias atrás em disse, aqui mesmo no POLITICANDO, que o palanque de 2012 não tinha sido desmontado e que o de 2014 já estava erguido. Na verdade, na heroica Paraíba existem vários palanques interligados pelos corredores das articulações políticas. Aqui a política eleitoral é mais importante do que o ato de governar. A movimentação pelo Estado é intensa e os atores políticos nem procuram mais disfarçar suas intenções eleitorais, se é que em algum momento tentaram.



Agora, especula-se sobre a vitalidade da aliança entre o governador Ricardo Coutinho e o Senador Cássio Cunha Lima. Esta aliança é como aquele casal que está em crise, mas vai vivendo de aparências, esperando que os filhos cresçam, para poder se separar. Nos últimos dias os holofotes dos palanques apontaram para dois atores políticos que mesmo sem cargos vem conseguindo participar das articulações. Eu falo do ex-prefeito de João Pessoa Luciano Agra e do ex-senador, pelo PMDB, Wilson Santiago.




Luciano Agra segue sendo a virginal noiva da política paraibana. Todos querem levá-lo ao altar situado na Praça dos Três Poderes, na Capital do Estado, e que por hora é ocupado por Ricardo Coutinho. Luciano Agra sabe disso. Ele montou um escritório para receber os que querem discutir com ele os rumos da eleição 2014. Claro, Agra pretende transformar este escritório em comitê eleitoral. É por isso que ele tem se movimentado tão intensamente.



Wilson Santiago trabalha para ser candidato a senador. Ele acredita que tem uma cadeira cativa no Senado Federal e quer voltar a nela se sentar a partir de 2015. O problema é que José Maranhão lhe fechou os acessos para o palanque do PMDB. Santiago se movimenta em busca de um palanque. Ele foi até São Paulo pedir as bênçãos de Lula. Na verdade, ele queria saber se o PT paraibano poderia lhe dar guarita. Claro, ele foi lembrar a Lula que sempre, ou quase sempre, lhe foi fiel.




Ao que tudo indica, Santiago vai para o PTB. Mas, ele só viabilizará sua candidatura se aumentar seu poder de barganha que vem decrescendo na media em que ele não ocupa cargo e vem sendo paulatinamente preterido das rodas da política. Luciano Agra recebeu o ex-prefeito Veneziano Vital em seu santuário. Afora o fato de terem compartilhado criticas ao governo do estado, não se sabe bem o que eles conversaram. Mas, o fato é que depois dessa conversa Veneziano mudou seu discurso. Antes, Veneziano se colocava como candidato único do PMDB ao governo do estado, após a conversa com Agra passou a dizer que está aberto a discussão, que aceita apoiar outros nomes desde que seja o melhor para a Paraíba e blá, blá, blá, blá...



Veneziano parece começar a se convencer que sua candidatura a governador ou senador não é viável. Se o ex-prefeito sair candidato a deputado federal, e for eleito, claro, já estaria de bom tamanho, considerando os recentes desgastes sofridos. Esta semana Luciano Agra recebeu o deputado Vituriano de Abreu (PSC). É que se formou um bloco partidário composto por PT, PSC e PP. Agra deve vir a se filiar a um desses três partidos e se candidatar a governador.



O discurso de Agra é de quem tem certeza que será candidato. Ele disse, entre uma visita e outra, que a procura pelo seu nome demonstra as “insatisfações com a atual conjuntura política do Estado, especialmente em relação ao atual modelo de gestão estadual”. É que Luciano sabe que só têm chances se capitalizar para si os sentimentos contrários a Ricardo Coutinho. A aposta de Agra, alta diga-se de passagem, é que os antigos adversários do governador e os insatisfeitos de toda sorte venham a apoiá-lo.



Mas, o governador não está parado. Foi a Brasília afagar o senador Cássio antes que algum aventureiro lance mão. Foi, também, oferecer abrigo para os descontentes do PMDB, a exemplo de Wilson Santiago. Ricardo foi a Brasília para consolidar, via deputados federais, os apoios que vem recebendo diariamente de prefeitos de todas as regiões da Paraíba depois que anunciou aquele pacote de bondades em obras e serviços para os municípios. O senador Cássio troca afagos e sorrisos com o governador, mas não esquece que seu negócio é a liderança política. Ele tem um encontro marcado com Luciano Agra e não deve ser para discutir a renúncia do Papa Bento XVI.



 


Essa relação política entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima é uma das mais abertas que já vi. Ambos andam saindo com quem bem entendem. Ricardo chama Wilson Santiago para conversar, sendo que Cássio é adversário de Santiago. Cássio marca encontros com Luciano Agra, sendo que Ricardo e Agra não se toleram. Alguém está blefando nessa história, pois não vai ser possível juntar adversários como estes nem tão cedo. Se uma dessas alianças vingar, acaba-se um casamento político. Às vezes a melhor coisa a fazer é buscar o divórcio. Adversários se suportando sob o mesmo palanque causam ciúmes, traições, crises e enfrentamentos.  Quando à separação é de fato, é melhor torná-la de direito.



P.S: Eu já tinha terminado de escrever esta coluna quando li uma declaração do senador Cássio Cunha Lima que não poderia ser mais clara. Após receber a visita do governador Ricardo Coutinho em seu gabinete, Cassio disse o que pensa sobre a possibilidade de o ex-senador Wilson Santiago vir a fazer parte da aliança política entre PSB e PSDB visando às eleições de 2014. Disse o Senador que: “Não tenho nada contra Wilson Santiago, mas é preciso saber se ele vem para o Governo para ocupar um lugar de destaque (...) porque temos outras alternativas que estão no projeto há mais tempo, a exemplo do senador Cícero Lucena, que pode competir à reeleição, do deputado Ruy Carneiro, que também pode disputar o Senado, ou até mesmo o vice-governador Rômulo Gouveia. Temos outras alternativas antes de Wilson Santiago e isso tem que ser analisado". Cássio Cunha Lima não poderia ter sido mais claro. Entendendo que Santiago viria para o PSB para disputar a vaga no Senado, ele quis lembrar a Ricardo Coutinho que existe uma aliança política onde o PSB banca o nome do governador e o PSDB banca o vice e um senador. Na verdade, Cássio quis dizer que Santiago é bem vindo, mas que vai ter que entrar na fila e não atrapalhar.




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Os picaretas no STF.





Certa vez o ex-presidente Lula afirmou que havia cerca de 300 picaretas com anel de doutor no Congresso Nacional. A frase é antiga e com o passar do tempo se comprovou que alguns dos picaretas faziam parte do PT, o partido do próprio Lula. O caro ouvinte sabe por que pessoas desonestas são chamadas de picaretas? Eu descobri que se passou a chamar de picaretas os que, se utilizando de artifícios e embustes, buscam abrir (ou cavar) caminhos por onde possam tirar proveito pessoal.




Mas, porque eu estou falando de picaretas? É que eu li uma matéria no site do Congresso em Foco dando conta que quase 200 deputados e senadores respondem a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal. O Congresso em Foco é um site jornalístico que acompanha as atividades legislativas no Congresso Nacional e os fatos políticos de Brasília. Ele é uma ferramenta das mais interessantes para que se acompanhe o desempenho dos representantes eleitos.





Eu não estou trazendo nenhuma novidade, claro. Nós bem sabemos o tipo de parlamentar que temos em Brasília, afinal de contas somos nós mesmos que escolhemos aqueles que vão nos representar. O que há de novo então? É que o Congresso em Foco fez um levantamento quantitativo da questão. Assim, ao invés de ficarmos por aí gritando a esmo que no Congresso só tem picareta e que político é tudo igual, podemos dispor de dados confiáveis para basear nossas afirmações.





Os pesquisadores do Congresso em Foco não estam fazendo meras especulações. Tampouco se baseiam na cobertura simplista que alguns órgãos da imprensa nacional fazem. Eles levantaram dados nos arquivos do STF, da Câmara e do Senado Federal. Eles descobriram que de cada três parlamentares, um responde a algum tipo de ação criminal no STF. A maioria das ações trata de crimes eleitorais e de improbidade administrativa. Mas, tem parlamentar sendo acusado de tudo quanto é crime.





Tem deputado que responde a acusações de homicídio, sequestro e tráfico de entorpecentes. Tem ação penal contra deputado que não paga pensão alimentícia e tem até parlamentar acusado de roubo e furto. De acordo com a lei brasileira, responder a um processo judicial não faz de ninguém culpado da acusação que lhe é atribuída. Nas democracias deve prevalecer o princípio da presunção da inocência, ou seja, todos são inocentes até que se prove o contrário. A condição política pode levar o parlamentar a ser falsamente acusado de algum crime. Inclusive, o parlamentar não pode ser levado a julgamento por crime de opinião.  Mas, o fato é que o Congresso em Foco não apurou um único processo de cunho político.




A questão é que os processos são sempre na área criminal. Temos 594 parlamentares em Brasília. São 513 deputados e 81 senadores. Desses, 160 deputados e 31 senadores estam envolvidos em 446 inquéritos. Quase 40% dos 81 senadores têm contas a acertar no STF. Existem os procedimentos preliminares de investigação e as ações penais, que são os processos que podem resultar em condenação. Um inquérito vira ação penal quando os ministros do STF entendem que há indícios de que o acusado cometeu algum crime.




Nos mais de 20 tipos de crimes imputados aos parlamentares pode se ver atos pouco republicanos, praticados em eleições e no exercício de cargos, e as encrencas cavernosas como envolvimento em homicídio, sequestro e associação para o tráfico. O que se vê com isso é o tipo de representação que enviamos para o Congresso. Pois, em geral, os atos pouco republicanos só começam a ser praticados uma vez se ocupando um cargo público. Já crimes como o tráfico de drogas antecedem a vida parlamentar.




Uma denúncia só chega ao STF quando tem solidez. Se levarmos em conta que muitos parlamentares tem problemas nos tribunais de contas estaduais, aí teremos quase a metade do Congresso sob suspeita. A tese dos picaretas ganha força então. Em um ano, o número de parlamentares com pendências no STF cresceu 40%. Temos 85 deputados e senadores, em 131 ações penais, como réus no STF. Muito se fala nas acusações que recaem sobre o Presidente do Senado, Renan Calheiros.





Mas, vejam que dos 11 senadores que integram a Mesa Diretora do Senado, 05 foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República em apenas 11 dias. Quase o mesmo acontece na Câmara dos Deputados. Mais de um terço dos integrantes do novo comando do Congresso Nacional terá de conciliar as atividades do mandato com as explicações devidas à Justiça. Ou seja, eles devem passar a maior parte do tempo cuidando de suas defesas.





Antes dessa Coluna você sabia que tinha um monte de picaretas no Congresso. Agora você tem ideia de quantos são e fica sabendo que acessando o Congresso em Foco tem como dispor de informações precisas. A partir de agora você pode xingar os políticos picaretas citando-os pelos nomes. Quando você estiver numa roda de amigos poderá chamar seu deputado de picareta e ainda dizer em quais artigos do código penal ele foi incurso.





terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A incrível história da cidade que não tem livrarias



Essa matéria, feita pela equipe da TV ITARARÉ e apresentada no Jornal da Itararé, trata da falta de livrarias em Campina Grande. A matéria foi feita a partir de uma Coluna POLITICANDO que eu fiz sobre a questão.
O fato é que em Campina Grande não existe uma única livraria que possa atender a contento as necessidades dos estudantes, da comunidade acadêmica, que não é pequena, e da própria sociedade.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Yoani entre dois tipos de autoritarismo.











O humorista Millôr Fernandes dizia que “democracia é eu mandar em você e ditadura é você mandar em mim". Essa frase me veio à mente com a passagem da jornalista cubana Yoani Sánchez pelo Brasil na semana passada. Yoani é cubana, nascida em Havana, em 1975. Ela é jornalista e filóloga, ou seja, estuda línguas através de documentos escritos. Desde 2007 ela edita o blog Geração Y, onde fala da realidade política, social, econômica e cultural de seu país.





Yoani é conhecida internacionalmente pelas postagens que faz em seu blog com artigos, matérias, fotos e, principalmente, críticas sobre a realidade que vivencia em Cuba que, a mais de 50 anos, vive num regime ditatorial e socialista. A vida de Yoani é das mais difíceis, como de resto do povo cubano. Por ser uma crítica do regime dos irmãos Castro ela é monitorada de perto pelos órgãos de controle e censura do governo cubano. Sem contar que ela já foi presa inúmeras vezes.





Ela não pode acessar seu Blog em sua própria casa. Por causa disso ela se define como “blogueira cega". Assim, e como outras pessoas que vivem em ditaduras como a China, Síria e Egito, Yoani teve a ideia de “falar com o mundo” através da Internet. Ela conta que se viciou na aventura de um blog como um exercício que permite fazer, por trás de um computador, aquilo que lhe é proibido nos espaços públicos de seu país. Ela chama isso de um exercício de covardia, pois não deixa de ser uma autoproteção.





Ela fala dos problemas na educação e saúde, da pobreza e da falta de moradia. E fala dos maus tratos aos animais, do teatro, da música, do machismo do povo cubano. Trata-se de um retrato realista que incomoda o governo e leva os irmãos Castro a loucura. Yoani diz que o código binário dos computadores é bem mais transparente do que as ações dos que comandam seu país e que a Internet a faz falar com o mundo. Ela veio ao Brasil para o lançamento de um documentário sobre Cuba e ela própria.





A mãe de todas as ironias, e de todos os paradoxos, é que ela achava que vindo a um país democrático poderia se expressar livremente e relatar, sem censura, a situação de degradação político-econômica que seu país enfrenta. Mas, qual foi sua surpresa ao desembarcar na Bahia e ser recebida por um bando de jovens militantes de esquerda que, ensandecidos, a xingavam com palavrões e a acusavam de ser agente da CIA e de estar a serviço do capitalismo internacional.





Essa gente se deixa levar pelas balelas de que Cuba é o paraíso socialista tropical e que deve ser defendida das ameaças do monstro imperialista norte-americano. Na verdade, eles defendem o que desconhecem, pois são alienados da realidade que Yoani conhece. Militantes da União da Juventude Socialista e do PC do B, de setores do PT e de obscuras ONG’s, além de estudantes filiados a União Nacional dos Estudantes (UNE) aproveitaram a vinda de Yoani para exercitarem seus pendores ditatoriais.




 



Foi um show de autoritarismo fundamentalista e de falta de educação. Será que ninguém nunca disse a essa meninada mal criada que temos que tratar bem nossos visitantes, mesmo que não concordemos com a forma deles pensarem ou agirem? Simpática, educada e inteligente Yoani foi de uma paciência sem fim. Controlou-se diante das agressões e, em geral, apenas ria. Para quem enfrenta a ditadura dos irmãos Castro, agressões de militantes com espinhas no rosto não fazem cócegas.





Em Salvador e Recife ela foi recebida sob protestos. Anacrônicos militantes, que desconhecem os valores democráticos, faziam barulho e diziam estar defendendo o socialismo cubano. Mas, Yoani, experiente, tinha sempre uma boa resposta a dar. Ela disse que os militantes deviam valorizar a liberdade que possuem, pois em Cuba manifestações contrárias ao governo são repelidas com truculência pelas autoridades. Convenhamos, ela deu uma tapa com luva de pelica.





Se Yoani morasse no Brasil se filiaria ao partido de Marina Silva, pois disse que não é de esquerda ou direita. Ela afirmou que é por Cuba e que não crê em definições ideológicas, pois um governo não pode dizer que é de esquerda com ações retrogradas. Em Brasília, Yoani foi ao Congresso Nacional onde todo mundo tentou tirar uma casquinha dela. A oposição a carregou nos braços dizendo que ela foi perseguida pelo governo federal. A situação disse que ela estava sendo usada como massa de manobra.





E assim foi, por onde passou Yoani despertou paixões e ódios. Poucas pessoas prestaram atenção no que ela tinha para dizer. A maioria das pessoas queria usá-la para maximizar seus interesses políticos. O que menos importava era Yoani e suas dores. Yoani ficou encantada com as paisagens que viu e com a liberdade política que temos. É uma pena que aqueles jovens aloprados, que a xingaram, desconheçam a recente história brasileira onde quem se atrevesse a fazer o que eles fizeram era preso, torturado e morto.








sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Senhores, por favor, não briguem!











Na quarta-feira a Câmara Municipal de Campina Grande iniciou seu ano legislativo com uma sessão solene onde o prefeito Romero Rodrigues apresentou a mensagem do Poder Executivo definindo as metas do governo para o ano de 2013. O prefeito relatou como encontrou a situação da prefeitura após a posse medindo bem as palavras, para não piorar ainda mais a situação, depois da declaração de que havia ladrões na gestão do prefeito Veneziano Vital.






Como é de praxe, o prefeito enumerou as ações que sua gestão pretende realizar ao longo do ano. Mas, as informações prestadas ecoaram nos ouvidos de todos, principalmente dos vereadores que até já tiveram o primeiro grande bate-boca do ano. Ontem aconteceu a primeira sessão ordinária do ano na Câmara Municipal. A pauta da sessão girava em torno das Comissões Permanentes da Casa. Havia duas questões a lidar. Uma, sobre o projeto que prevê o aumento do número de Comissões. E outra, sobre a composição das Comissões. Por causa disso, houve uma confusão daquelas no plenário. Quase todos os 23 vereadores se envolveram na discussão que ficou polarizada entre os vereadores Ivonete Ludgério e Pimentel Filho.






É difícil saber os reais motivos que levaram os vereadores a estrearem o ano legislativo com o velho, e nem tão bom, bate-boca de sempre. Houve um impasse sobre o aumento do número de comissões. A ideia é criar mais seis, além das sete comissões já existentes. É estranho que eles tenham entrado em confronto, pois todos são a favor do aumento das comissões. Noticiou-se que a questão da desavença está na forma como o projeto deve tramitar e não no conteúdo dele.






Mas, se a questão é de forma, e não de conteúdo, precisava mesmo de tanta confusão? Sabedores que vários setores da sociedade (a imprensa, por exemplo) estavam de olho na primeira sessão ordinária porque os vereadores não conseguiram se conter? O que me parece é que a confusão se deu não pela forma do tal projeto e sim porque os vereadores enxergam o plenário da Casa de Félix Araújo como uma arena onde devem se comportar como gladiadores que mostram suas armas assim que nela adentram.






O fato é que está começando o ano legislativo com um novo prefeito e com vários vereadores novatos. Os veteranos foram ontem ao plenário mais para mostrarem suas garras do que efetivamente discutir e aprovar algum projeto. Ontem estava em jogo a demonstração de força. Não por acaso os vereadores que protagonizaram a discussão foram Pimentel Filho, da oposição, e Ivonete Ludgério, da situação. É normal que ambos os lados escalem aqueles que vão encenar os embates.






Depois do acirramento das eleições de 2012 e das trocas de acusações entre atuais e antigos gestores é até natural que os vereadores estejam com os ânimos acirrados, mas daí já partirem para o enfrentamento na primeira sessão foi um exagero. Na verdade, os vereadores brigaram, e vão brigar muito mais, para ver quem pode mais nas Comissões Permanentes, pois elas definem o que vai a plenário para ser votado. As Comissões são os filtros por onde se coa o que é importante e constitucional.




 





O fato é que os vereadores deveriam evitar esses bate-bocas e não apenas pela péssima imagem que passam para a sociedade, mas por que o debate acalorado de ideias e propostas deve existir e não pode ser confundido com a simples baderna. O legislador é alguém que tem muito trabalho a realizar. Além das reuniões plenárias, ele frequenta as comissões e trabalha em seu gabinete recebendo pessoas e preparando, junto com assessores, os projetos e requerimentos que deve apresentar. Ao contrário do que se pensa, o trabalho do vereador é complexo e vem aumentando. Se o vereador não o cumpre é outra coisa, mas a cada nova eleição cresce o número de eleitores que esperam mais ação e atenção por parte de seus representantes.





É comum vermos dois tipos de imagens no parlamento. Numa temos a total desorganização, com vereadores em pé, em pequenas reuniões, todos falando ao mesmo tempo, e com a Mesa Diretora tentando por ondem na casa. Em outra, vemos um plenário quase vazio ou com vereadores sentados, distantes e desinteressados. Alguns leem jornais ou vasculham seus computadores. Neste caso, vemos parlamentares conversarem demoradamente em seus celulares.






Qual das duas o caro ouvinte prefere? Eu gosto mais da primeira. Prefiro a sinergia. Acho melhor que os vereadores fiquem de pé discutindo entre si os projetos a serem votados do que sentados perdidos em seus pensamentos. Não que eu ache correto aquele bate-boca sem fim, mas ele ainda é melhor do que a calmaria ineficaz. Apesar de que não custaria nada nossos vereadores explicarem porque quase iam as vias de fato ao discutirem um projeto que todos concordavam.




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tudo como dantes no quartel dos “Ricardos”.









Meus amigos, a verdade nua e crua é que as coisas no Brasil, pelo menos no mundo da política, só acontecem após o carnaval. Eu não duvido mais disso. A política paraibana esperou o fim das festas de momo para vir a público e veio de forma avassaladora. Na segunda-feira a Assembleia Legislativa da Paraíba retomou seus trabalhos, após longuíssimas férias, com a sessão que marcou a abertura do ano político. Essa sessão não é deliberativa e tem um ar um tanto quanto solene.





De acordo com o Regimento Interno da Assembleia os trabalhos são abertos oficialmente com a leitura da Mensagem do Governo do Estado, onde são definidas as metas do Poder Executivo para o ano político que se inicia. Também pelo Regimento quem deve ler a mensagem é o governador do estado ou seu representante, que pode ser o vice-governador ou um secretario de estado. Mas, é um hábito nosso que o governador em pessoa proceda à leitura.





Ao fazer isso, o chefe do poder executivo demonstra que respeita a casa que abriga os representantes do povo, bem como a Constituição, os atores e partidos políticos, além de todas as outras instituições que por ventura estejam representadas no momento. Essa sessão tinha tudo para ser das mais modorrentas não fosse o fato de o governador Ricardo Coutinho e o próprio presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ricardo Marcelo, não terem comparecido.





Ricardo Marcelo alegou estar afônico, ou seja, sem voz, e não foi presidir a sessão. Ele foi substituído pelo vice-presidente da casa, Deputado Edmilson Soares. A afonia do presidente era tão séria assim ou ele não quis ir por algum outro motivo? O governador também não foi à sessão e mandou o vice-governador Rômulo Gouveia para representa-lo.  A presença de Ricardo estava confirmada, mas ele a cancelou de última hora e foi para o Hotel Tambaú participar do Encontro Paraibano de Prefeitos.





Não que o encontro dos prefeitos não fosse importante, mas naquele momento o governador tinha que estar na Assembleia Legislativa lendo a mensagem elaborada por ele mesmo. Num rápido ajuste de agenda tudo se resolveria. Como se sabe o governador não é de se importar para com o desconforto daqueles que o esperam por horas a fio. Ele poderia muito bem ter ido à Assembleia e depois seguido para o encontro com os prefeitos. Todo mundo ficaria satisfeito no final.





Parece que os dois “Ricardos” não queriam se encontrar. É que essa disputa para ver quem manda mais é feita também de atos e gestos. Não ir aos domínios do adversário pode significar pouco caso, pode demonstrar desdém. Isso, em política, importa. A ausência do governador foi sentida e pode revelar o pouco respeito que Ricardo Coutinho tem para com a Casa de Epitácio Pessoa. A ausência de Ricardo Marcelo dá a impressão de que ele contesta ou não aceita o poder emanado pelo executivo.



 





Enquanto o vice-governador Rômulo Gouveia lia a mensagem era vaiado por participantes do Fórum Estadual dos Servidores, a maioria pertencente ao Fisco que protestava contra a política salarial do governo do estado. Porém, a mensagem trazia a implantação do reajuste salarial dos servidores dentro da data base de 1º de janeiro, com índices que variam de 5% a 16,5%. Mas, o tema central da mensagem era outro, que reedita o maior embate entre os dois poderes no ano passado.





Trata-se da solicitação para que a Mesa Diretora da Assembleia coloque em pauta, em regime de urgência, o pedido de aval do governo do Estado para contrair empréstimo junto a CEF (no valor de R$ 150 milhões) a fim de sanear as finanças da CAGEPA. Aqui, Ricardo Coutinho foi de uma humildade franciscana, e deve ter sido por isso que ele não foi ler a mensagem, que era para não demonstrar fraqueza. Numa entrevista, o governador disse que “apela ao presidente do poder legislativo para que coloque o pedido em pauta”. Ou seja, vai começar tudo de novo. A velha queda de braço entre poderes.





Só que dessa vez as coisas mudaram. O governo não está mais tão fragilizado na Assembleia. Segundo o líder do governo, deputado Hervázio Bezerra, a bancada da situação conta com 17 deputados, mas poderá em breve chegar a 20 parlamentares. Enquanto o vice tomava vaias dos servidores, o governador era aplaudido por 213 prefeitos paraibanos. Pudera, Ricardo Coutinho anunciou um pacote de R$ 80 milhões como recursos para o Pacto Social pelo Desenvolvimento da Paraíba.





Buba Germano, presidente da Federação das Associações de Municípios da Paraíba, afirmou que com esse pacote de bondades muitos prefeitos, inclusive do PMDB de José Maranhão, anunciaram apoio ao projeto de reeleição do governador Ricardo Coutinho. Assim, é a política paraibana. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Os poderes se reorganizam para os embates de 2013 visando, claro, o processo eleitoral de 2014. Os palanques de 2012 não foram desmontados, pelo contrário, estam sendo solidificados.





terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mais do mesmo!


 


Esta nascendo um novo partido. Ele ainda não tem nome certo e têm que cumprir, junto a Justiça Eleitoral, exigências como a de recolher 500 mil assinaturas, até outubro e em nove estados diferentes do país. Sem isso, não obterá registro para funcionar. Eu estou falando do “REDE Sustentabilidade” que é comandado por Marina Silva e conta com a participação de figuras políticas como Heloísa Helena e Eduardo Suplicy. A questão é que Marina Silva está sem partido para disputar a eleição de 2014.




Após a eleição de 2010, a situação dela ficou insustentável no PV. Não importaram os 20 milhões de votos, que causaram o 2º turno entre Dilma e Serra, o pragmatismo fisiologizado do PV e o moralismo evangelizado de Marina não podiam seguir juntos. Marina está criando um partido que seja coerente com sua cartilha ecológica, com seus valores político-religiosos e com sua profunda identificação com os movimentos sociais. Eu diria que isso não é possível! Mas, é tarefa quase kármica a que ela vem se dedicando.




Marina Silva é uma mulher de valores e princípios admiráveis. Na Política, ela é uma ilha cercada por todos os lados por aquele jeito pouco republicano de se agir. Marina é o tipo da pessoa que nos faz crer que a política vale a pena. Mas, como se manter pura num meio de tantas impurezas? Como ser ética num meio onde isso soa quase como um palavrão? Marina está criando sua REDE numa tentativa de ter o esteio para uma prática política guiada por valores e princípios éticos.




E é exatamente aí que aparecem os problemas. O discurso de Marina não está afiado. Pelo contrário, está truncado, cheio de contradições. Claro, é o tipo do discurso que nós, de tanto escutarmos, somos levados a, no mínimo, desconfiar. Sábado, no lançamento do embrião de seu novo partido, Marina disse que não quer uma legenda apenas para concorrer em eleições e criticou o que chama de "caciquismo" na política. Ela lembrou que a lógica a ser seguida é a de um partido a serviço das pessoas.



Marina deve lembrar que o fim a que se prestam os partidos é a luta, legítima, pela hegemonia no poder e que, nas democracias, isso se faz através de eleições. Ela tem que saber que o partido deve estar a serviço de seus integrantes, não das pessoas em geral. Quanto ao caciquismo, Marina deve entender que uma coisa é ser a liderança de um partido e outra é ser a dona de uma sigla com poder de vida e morte sobre ela. No Brasil, a linha que divide essas duas situações é tão fina quanto uma folha de papel.



Marina disse que a nova legenda questiona a "incapacidade da política de interferir", só não disse onde. Ela afirmou que a REDE "não tem conformação com o modelo anterior”. Parecia estar se referindo ao PV. Ou seria ao PT? Ou a outras tantas siglas? Marina correu riscos e disse que “saímos de um ativismo dirigido pelo sindicato e pela ONG com a modernização do ativismo autoral”. Estaria Marina apontando para seu afastamento dos movimentos sociais onde foi sendo formada?

 


Em outro momento, Marina se sentiu obrigada a falar do processo político do dia-a-dia. E não podia ser diferente, pois ela é candidata a presidente da República no ano que vem, coisa que tira o sono da presidente Dilma e do PT. Foi aí que ela se contradisse. Para ela a ideia é “fazer alianças pontuais, mas sem se rotular como governo ou oposição”. Por “alianças pontuais” se entende o quê? Que o novo partido vai se resguardar e só fazer alianças quando for para beneficiar a sociedade?



Ou que vai se aliar com alhos e bagulhos pelos interesses? Como todo político, Marina gosta de frases de efeito. Eu pesquei uma: “Temos a liderança multicêntrica. Não existe mais o movimento de arco e flecha. Uma hora sou arco e outra sou flecha. Só espero não ser o alvo”. Às vezes, Marina é mesmo a pessoa ingênua que aparenta ser. Querer não ser alvo sendo candidata a presidente pela 2ª vez é algo ingênuo. Na entrevista coletiva, perguntaram como Marina tratará o governo Dilma.



Aí, ela se igualou aos políticos mais tradicionais quando disse que não terá posição fechada. A frase é assim: "Não seremos nem situação, nem oposição. Precisamos de posição. Se Dilma fizer algo bom, vamos apoiar. Do contrário, não, ficaremos contra”. Mas, não foi isso que disse Gilberto Kassab no lançamento do seu partido, o PSD? Muitos chamaram, e, como eu, ainda chamam, Kassab de fisiológico. O que estaria sendo Marina Silva repetindo o mantra do político dito independente?



Marina disse, ainda, que seu partido não receberá doações eleitorais de empresas "sujas", a exemplo dos fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos. A ideia é oferecer aos eleitores uma opção mais pura e limpa nas eleições de 2014. Mas, em 2010, Marina Silva recebeu mais de R$ 2 milhões das empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. O jornalista Fernando Rodrigues chama isso de “pureza pela metade”. Eu chamo de pragmatismo político. E você, caro ouvinte, chama de quê?





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

É a economia, estúpido.






Em 1992, perguntavam ao marqueteiro James Carville porque Bill Cliton tinha sido reeleito presidente dos EUA mesmo com o escândalo Monica Lewisnki. A resposta tornou-se lei nas campanhas eleitorais: “É a economia, estúpido”. O que Carville queria dizer é que com o PIB americano em alta (um “PIBão”, como gosta de dizer o ministro Guido Mantega), e com a situação de pleno emprego, o eleitorado americano não iria trocar o certo pelo duvidoso.




Dizem que Lula perguntou a Dilma porque a popularidade dela é maior do que a dele quando era presidente. Dizem que Dilma teria respondido: “é a economia, estúpido!”.  Bom, eu não acho que Dilma tenha chamado Lula de estúpido. Mas, ela deveria mostrar a ele os dados que levam o brasileiro a lhe dar tal popularidade. Apesar de que isso não diz muito, pois a fórmula aplicada por Dilma é a mesma de Lula: estabilidade, com crescimento baseado no estímulo ao consumo, via programas sociais.




Em que pese o Produto Interno Bruto desacelerado, é o “PIBinho” que o ministro Guido fala, de a indústria ter recuado e os investimentos diminuído, existem aqueles indicadores que tocam diretamente ao brasileiro das classes C e D. Eu falo do emprego e da renda. São estes dois indicadores que influenciam o humor de grande parte do eleitorado. No governo Dilma emprego e renda seguem tendo um bom desempenho, daí ela ser bem avaliada e Lula ficar morrendo de inveja.




Pelos dados do IBGE, a renda média, nos dois primeiros anos de Dilma, teve aumento real de 2.9% ao ano. Isso é mais do que o dobro visto nos tempos de Lula. É por isso que ele jogou a toalha e desistiu de se candidatar a presidente em 2014. Nos oito anos de Lula a renda média aumentou 10.9%. Nesses dois anos de governo Dilma a renda cresceu 5.8%. Apenas em 2012, o ano do “PIBinho”, o rendimento médio subiu 3.2% acima da inflação, ou seja, um desempenho econômico acima da média.




Dilma foi eleita para tirar as férias de Lula. Só que ele não contava que ela poderia ter um melhor desempenho. Lula também não contava com seus problemas de saúde e nem que seus comparsas seriam condenados no caso do mensalão. A renda não é a única variável a influir nas decisões do eleitor. Mas, o fato é que o eleitorado tende a aprovar o governante quando está com mais dinheiro no bolso para gastar. Governos como o de Lula e Dilma sabem como ninguém explorar isso.




É por isso que vivemos numa espécie de populismo econômico. O governo cria uma série de programas assistencialistas e de estímulo ao crédito. Estes programas dão a sensação ao cidadão-eleitor que ele está bem por que pode consumir. A ideia do IPI reduzido para carros e eletrodomésticos é essa. O governo diminui um pouco a intensidade da mordida, que dá em nossos salários, para que possamos comprar mais. Assim se estimula o consumo que gera inflação, mas esse é outro assunto.




Quem definiu bem nossa situação foi a Nenê, de “A grande família”. Quando Lineu reclamou que Nenê estava consumindo muito, ela disse que a diferença dela para uma madame da Zona Sul é que a madame compra à vista e ela divide tudo em 10 prestações. É por esse estado de coisas que metade dos gastos do governo Dilma são direcionados aos programas sociais. Pois, claro, eles fazem o humor do eleitorado das classes C e D aumentar.




Os recursos que foram pagos às famílias dessas classes sociais em 2012 corresponderam a 50.4% das despesas do governo federal. A previdência, o amparo ao trabalhador e o programa Bolsa Família foram responsáveis por 9.2% do PIB do ano passado. Com o recente reajuste do salário mínimo e a reformulação do “Bolsa Família”, os programas sociais de transferência de renda vão alcançar peso inédito no gasto público e na economia do país neste ano de 2013.





Pelos dados presentes na execução orçamentária do governo federal o montante chegará a R$ 405 bilhões. Essa dinheirama toda será distribuída entre o regime geral da previdência, o amparo ao trabalhador e a assistência social. Estes números, sem paralelo entre países emergentes, ajudam a explicar a escorchante carga de impostos que nós pagamos anualmente. Sim, porque o governo só faz sua torta justiça social eleitoreira porque nós pagamos a conta.




O fato é que Dilma Rousseff fez o dever de casa direitinho. Ela fez, sim, tudo o que seu mestre, Lula, mandou e seguiu a cartilha econômico-populista-eleitoral a risca. Detalhe, a criatura saiu-se melhor do que o criador a tirar pelos números que vimos. E esse foi o problema. Quando Dilma disse a Lula que a popularidade dela cresce por causa da economia, ele deve ter dito que era para fazer o que ele mandou, mas que não precisava fazer tão bem feito.