Meus amigos, a
verdade nua e crua é que as coisas no Brasil, pelo menos no mundo da política,
só acontecem após o carnaval. Eu não duvido mais disso. A política paraibana
esperou o fim das festas de momo para vir a público e veio de forma
avassaladora. Na segunda-feira a Assembleia Legislativa da Paraíba retomou seus
trabalhos, após longuíssimas férias, com a sessão que marcou a abertura do ano
político. Essa sessão não é deliberativa e tem um ar um tanto quanto solene.
De acordo com o Regimento Interno
da Assembleia os trabalhos são abertos oficialmente com a leitura da Mensagem
do Governo do Estado, onde são definidas as metas do Poder Executivo para o ano
político que se inicia. Também pelo Regimento quem deve ler a mensagem é o
governador do estado ou seu representante, que pode ser o vice-governador ou um
secretario de estado. Mas, é um hábito nosso que o governador em pessoa proceda
à leitura.
Ao fazer isso, o chefe do poder
executivo demonstra que respeita a casa que abriga os representantes do povo,
bem como a Constituição, os atores e partidos políticos, além de todas as
outras instituições que por ventura estejam representadas no momento. Essa
sessão tinha tudo para ser das mais modorrentas não fosse o fato de o
governador Ricardo Coutinho e o próprio presidente da Assembleia Legislativa, o
deputado Ricardo Marcelo, não terem comparecido.
Ricardo
Marcelo alegou estar afônico, ou seja, sem voz, e não foi presidir a sessão.
Ele foi substituído pelo vice-presidente da casa, Deputado Edmilson Soares. A
afonia do presidente era tão séria assim ou ele não quis ir por algum outro
motivo? O governador também não foi à sessão e mandou o vice-governador Rômulo
Gouveia para representa-lo. A presença
de Ricardo estava confirmada, mas ele a cancelou de última hora e foi para o
Hotel Tambaú participar do Encontro Paraibano de Prefeitos.
Não que o encontro
dos prefeitos não fosse importante, mas naquele momento o governador tinha que
estar na Assembleia Legislativa lendo a mensagem elaborada por ele mesmo. Num
rápido ajuste de agenda tudo se resolveria. Como se sabe o governador não é de
se importar para com o desconforto daqueles que o esperam por horas a fio. Ele
poderia muito bem ter ido à Assembleia e depois seguido para o encontro com os
prefeitos. Todo mundo ficaria satisfeito no final.
Parece que os dois “Ricardos” não queriam se encontrar. É que essa
disputa para ver quem manda mais é feita também de atos e gestos. Não ir aos
domínios do adversário pode significar pouco caso, pode demonstrar desdém.
Isso, em política, importa. A ausência do governador foi sentida e pode revelar
o pouco respeito que Ricardo Coutinho tem para com a Casa de Epitácio Pessoa. A
ausência de Ricardo Marcelo dá a impressão de que ele contesta ou não aceita o
poder emanado pelo executivo.
Enquanto o vice-governador Rômulo Gouveia lia a mensagem era vaiado por
participantes do Fórum Estadual dos Servidores, a maioria pertencente ao Fisco que
protestava contra a política salarial do governo do estado. Porém, a mensagem
trazia a implantação do reajuste salarial dos servidores dentro da data base de
1º de janeiro, com índices que variam de 5% a 16,5%. Mas, o tema central da
mensagem era outro, que reedita o maior embate entre os dois poderes no ano
passado.
Trata-se da
solicitação para que a Mesa Diretora da Assembleia coloque em pauta, em regime
de urgência, o pedido de aval do governo do Estado para contrair empréstimo
junto a CEF (no valor de R$ 150 milhões) a fim de sanear as finanças da CAGEPA.
Aqui, Ricardo Coutinho foi de uma humildade franciscana, e deve ter sido por
isso que ele não foi ler a mensagem, que era para não demonstrar fraqueza. Numa
entrevista, o governador disse que “apela ao presidente do poder legislativo para
que coloque o pedido em pauta”. Ou seja, vai começar tudo de novo. A velha
queda de braço entre poderes.
Só que dessa vez as coisas mudaram. O governo
não está mais tão fragilizado na Assembleia. Segundo o líder do governo,
deputado Hervázio Bezerra, a bancada da situação conta com 17 deputados, mas
poderá em breve chegar a 20 parlamentares. Enquanto
o vice tomava vaias dos servidores, o governador era aplaudido por 213
prefeitos paraibanos. Pudera, Ricardo Coutinho anunciou um pacote de R$ 80
milhões como recursos para o Pacto Social pelo Desenvolvimento da Paraíba.
Buba Germano, presidente da
Federação das Associações de Municípios da Paraíba, afirmou que com esse pacote
de bondades muitos prefeitos, inclusive do PMDB de José Maranhão, anunciaram
apoio ao projeto de reeleição do governador Ricardo Coutinho. Assim, é a
política paraibana. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Os poderes se
reorganizam para os embates de 2013 visando, claro, o processo eleitoral de
2014. Os palanques de 2012 não foram desmontados, pelo contrário, estam sendo
solidificados.
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