segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Yoani entre dois tipos de autoritarismo.











O humorista Millôr Fernandes dizia que “democracia é eu mandar em você e ditadura é você mandar em mim". Essa frase me veio à mente com a passagem da jornalista cubana Yoani Sánchez pelo Brasil na semana passada. Yoani é cubana, nascida em Havana, em 1975. Ela é jornalista e filóloga, ou seja, estuda línguas através de documentos escritos. Desde 2007 ela edita o blog Geração Y, onde fala da realidade política, social, econômica e cultural de seu país.





Yoani é conhecida internacionalmente pelas postagens que faz em seu blog com artigos, matérias, fotos e, principalmente, críticas sobre a realidade que vivencia em Cuba que, a mais de 50 anos, vive num regime ditatorial e socialista. A vida de Yoani é das mais difíceis, como de resto do povo cubano. Por ser uma crítica do regime dos irmãos Castro ela é monitorada de perto pelos órgãos de controle e censura do governo cubano. Sem contar que ela já foi presa inúmeras vezes.





Ela não pode acessar seu Blog em sua própria casa. Por causa disso ela se define como “blogueira cega". Assim, e como outras pessoas que vivem em ditaduras como a China, Síria e Egito, Yoani teve a ideia de “falar com o mundo” através da Internet. Ela conta que se viciou na aventura de um blog como um exercício que permite fazer, por trás de um computador, aquilo que lhe é proibido nos espaços públicos de seu país. Ela chama isso de um exercício de covardia, pois não deixa de ser uma autoproteção.





Ela fala dos problemas na educação e saúde, da pobreza e da falta de moradia. E fala dos maus tratos aos animais, do teatro, da música, do machismo do povo cubano. Trata-se de um retrato realista que incomoda o governo e leva os irmãos Castro a loucura. Yoani diz que o código binário dos computadores é bem mais transparente do que as ações dos que comandam seu país e que a Internet a faz falar com o mundo. Ela veio ao Brasil para o lançamento de um documentário sobre Cuba e ela própria.





A mãe de todas as ironias, e de todos os paradoxos, é que ela achava que vindo a um país democrático poderia se expressar livremente e relatar, sem censura, a situação de degradação político-econômica que seu país enfrenta. Mas, qual foi sua surpresa ao desembarcar na Bahia e ser recebida por um bando de jovens militantes de esquerda que, ensandecidos, a xingavam com palavrões e a acusavam de ser agente da CIA e de estar a serviço do capitalismo internacional.





Essa gente se deixa levar pelas balelas de que Cuba é o paraíso socialista tropical e que deve ser defendida das ameaças do monstro imperialista norte-americano. Na verdade, eles defendem o que desconhecem, pois são alienados da realidade que Yoani conhece. Militantes da União da Juventude Socialista e do PC do B, de setores do PT e de obscuras ONG’s, além de estudantes filiados a União Nacional dos Estudantes (UNE) aproveitaram a vinda de Yoani para exercitarem seus pendores ditatoriais.




 



Foi um show de autoritarismo fundamentalista e de falta de educação. Será que ninguém nunca disse a essa meninada mal criada que temos que tratar bem nossos visitantes, mesmo que não concordemos com a forma deles pensarem ou agirem? Simpática, educada e inteligente Yoani foi de uma paciência sem fim. Controlou-se diante das agressões e, em geral, apenas ria. Para quem enfrenta a ditadura dos irmãos Castro, agressões de militantes com espinhas no rosto não fazem cócegas.





Em Salvador e Recife ela foi recebida sob protestos. Anacrônicos militantes, que desconhecem os valores democráticos, faziam barulho e diziam estar defendendo o socialismo cubano. Mas, Yoani, experiente, tinha sempre uma boa resposta a dar. Ela disse que os militantes deviam valorizar a liberdade que possuem, pois em Cuba manifestações contrárias ao governo são repelidas com truculência pelas autoridades. Convenhamos, ela deu uma tapa com luva de pelica.





Se Yoani morasse no Brasil se filiaria ao partido de Marina Silva, pois disse que não é de esquerda ou direita. Ela afirmou que é por Cuba e que não crê em definições ideológicas, pois um governo não pode dizer que é de esquerda com ações retrogradas. Em Brasília, Yoani foi ao Congresso Nacional onde todo mundo tentou tirar uma casquinha dela. A oposição a carregou nos braços dizendo que ela foi perseguida pelo governo federal. A situação disse que ela estava sendo usada como massa de manobra.





E assim foi, por onde passou Yoani despertou paixões e ódios. Poucas pessoas prestaram atenção no que ela tinha para dizer. A maioria das pessoas queria usá-la para maximizar seus interesses políticos. O que menos importava era Yoani e suas dores. Yoani ficou encantada com as paisagens que viu e com a liberdade política que temos. É uma pena que aqueles jovens aloprados, que a xingaram, desconheçam a recente história brasileira onde quem se atrevesse a fazer o que eles fizeram era preso, torturado e morto.








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