Em recente entrevista, concedida
ao jornalista Arimatéa Souza aqui mesmo na Campina FM, o vereador Ivan Batista
do PMDB foi bastante revelador em relação a como anda a visão dos políticos em
relação à atuação deles no legislativo. Quando perguntado se ele vai integrar a
bancada de oposição ao prefeito Romero Rodrigues, e qual deveria ser a postura
desta bancada que, diga-se de passagem, vem encolhendo em proporções
microscópicas, Ivan Batista foi certeiro.
Disse ele que: “Eu peço que você lembre que em 20 anos que
estive na Câmara eu não sei o que é estar na oposição (...) o vereador não tem
que fazer oposição”. E para ser enfático, Ivan disse que: “Nunca tive perfil de oposição, nem de
situação ou de subserviência”. Que o vereador não saiba o que é fazer
oposição se entende na medida em que é próprio do instinto de sobrevivência dos
políticos estar ao lado da situação. Mas, daí achar que um vereador não deve
fazer oposição já é algo mais complexo.
Num estranho exercício para
explicar seu posicionamento, Ivan Batista disse que se o parlamentar estiver na
Assembleia Legislativa, onde os deputados são de diversas cidades e segmentos
diferentes, até pode ter uma postura de oposição. Mas, se ele estiver na Câmara
Municipal, onde “só tem colegas irmanado
em prol da cidade”, então ele não deve ser de oposição. Eu confesso que não
entendi. Os vereadores são todos iguais? Representam os mesmos interesses e
segmentos? O vereador Pimentel Filho, também do PMDB, disse que é preciso dar uns
meses de crédito ao novo gestor e que “além
de estar em um partido você tem um dever com a cidade, então, não posso
simplesmente ser contra ou a favor de alguém”.
A primeira vista, os vereadores dão
a entender que ficarão neutros. É como se eles quisesses dizer quem não são contra
e nem a favor, muito menos pelo contrário. Mas, vamos analisar bem essa
questão, ela não é tão simples como aparenta. As frases dos dois vereadores
revelam algo que já deixou de ser mera exceção na política brasileira. A
afirmação demonstra o que hoje é uma regra. É o que chamo do efeito Kassabista.
Eu explico.
No ato em que anunciou que estava
criando uma nova sigla partidária, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab,
disse (SIC) que o Partido Social Democrático (PSD) "não seria de direita, não seria de esquerda, nem de centro".
Kassab disse, também, que o PSD seria dotado de "um programa a favor do Brasil". Ainda bem que Kassab quer que seja assim,
imagine se ele quisesse que seu partido tivesse um programa contra o Brasil.
Se um partido não é
de direita, de esquerda ou mesmo de centro, então ele é o quê? Para que um
ajuntamento político possa ser chamado de partido ele tem que ter um conjunto
de ideias que lhe dê identidade política. Como a definição atesta ele é
partido, não é inteiro. Esse ajuntamento é parte de um todo, e só pode ser
parte porque tem coisas que a diferenciam do todo. Quando o partido diz não que
não tem uma postura definida, é a mesma coisa de dizer que não existe.
Dizer que não é azul, nem vermelho, que não é açúcar, nem sal, dizer que
não é de direita e nem de esquerda é o eufemismo encontrado para não se assumir
posturas. Em prol dos interesses é mais cômodo o movimento pendular do que se
postar em um lugar definido. O eufemismo é uma retórica, uma figura de
linguagem, que consiste na substituição de um termo ou expressão rude, que pode
chocar ou que é inconveniente, por outro que seja suave ou agradável.
Assim, ao invés de um político como Kassab assumir que é fisiológico, ele
diz que seu partido não é direita, nem de esquerda, nem de centro. Para não ter que dizer que seu partido não tem
programa político, até porque não precisa de um, o cacique racionaliza. É por
isso que Kassab disse que o PSD tem um programa a favor do Brasil. Quer coisa
mais agradável de se ouvir? O fato é que nunca antes na história desse país, um
político foi tão explícito a respeito do caráter fisiológico de seu partido. O
deputado federal, e ex-goleiro do Grêmio, Danrlei de Deus (que, não por acaso,
é do PSD de Kassab) disse que as pessoas do seu partido “têm opiniões e tem liberdade”
e que em votações eles não são nem de esquerda, nem de direita.
O fato é que cada vez mais os políticos
disfarçam menos os reais interesses que trazem para seus partidos. Cada vez
mais ter uma posição político-ideológica pode vir a atrapalhar a atuação do
ator político. Cada vez que você ouvir um político dizer que não é isso ou
aquilo, muito menos pelo contrário, saiba que ele está querendo dizer que age
movido única e exclusivamente por seus interesses pessoais.
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