Hoje, acontecerá, em Brasília,
eleição para a presidência do Senado Federal. O sucessor de José Sarney será
escolhido a partir da 10 horas em votação secreta. O eleito terá que contar com
o voto de 41 senadores, entre os 81 que compõem o Senado. Existe uma tradição,
que poucos ousam desrespeitar, de que os dois partidos com maior bancada no
Senado, assim também é na Câmara, tem o direito de indicar o presidente da
Casa. Vejamos como funciona esse expediente.
A maior bancada partidária se
reúne e decide quem será o candidato, de forma que fatalmente o escolhido é eleito.
Mas, podem-se lançar nomes para a disputa como forma de forçar negociações e/ou
negociatas ou para alterar a correlação de forças. As duas maiores bancadas no
Senado são PMDB e PT. Dilma, Lula, o PT e, claro, quase todos os peemedebistas
querem que o PMDB continue ocupando a cadeira da presidência. Claro, assim se
mantém a coalizão de governo e todo mundo fica bem.
Mas, como diria Carlos Drummond,
no meio do caminho tem uma pedra. Uma pedra, que atende pelo nome de Renan
Calheiros, postou-se no meio do caminho e cismou de voltar a ser presidente do
Senado. É que no Congresso as pedras não rolam mesmo. Sendo o PMDB a maior
bancada e contando com o apoio da segunda maior, a do PT, o plano é quase perfeito.
Escolherem Renan, com o beneplácito do governo, e ficaram todos felizes. Mas, faltou
combinar com os russos da Casa.
Partidos como PSB e PDT, além de lideranças
do quilate de Pedro Simon, discordaram da possibilidade de um “ficha mais do
que suja” como Renan Calheiros na presidência e se levantaram contra a estratégia
rolo compressor capitaneada pela dupla PMDB/PT. Ao mesmo tempo foram surgindo as “anti-candidaturas”,
seguindo a estratégia consagrada por Ulysses Guimarães que se lançava candidato
para ver o circo pegar fogo. Os senadores Pedro Taques (PDT) e Randolfe Rodrigues
(PSOL) se lançaram à disputa.
Rapidamente
recolheram apoios dos descontentes com a candidatura de Renan Calheiros. Não
mais do que de repente acendeu a luz vermelha do 2º turno na eleição e foi se
formando um movimento propondo um enfrentamento contra o governo. Foi numa
dessas que Severino Cavalcanti, o rei do baixo clero, foi eleito presidente na
Câmara dos Deputados. É assim mesmo, vez por outra os parlamentares se levantam
contra os ditames do governo federal.
É difícil prever quantos votos o “anti-Renan” terá. As perspectivas não
são boas para os “independentes”, pois o que os une é o fato de não quererem
Renan presidente do Senado. Sem contar que de independentes eles não tem
absolutamente nada. Jarbas Vasconcelos, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Pedro
Simon, Cristovam Buarque, são mais ou menos fortes porque se unem
ocasionalmente. Separados, como é comum vê-los, não conseguem colocar cinco
senadores dentro de um fusca.
Há dois anos,
quando Sarney foi reeleito presidente, os independentes lançaram Randolfe. Foi
um vexame. Sarney teve 70, dos 81 votos. As últimas notícias dão conta que a
oposição se uniu em torno da candidatura do senador Pedro Taques do PDT. O fato
é que Renan Calheiros deve ser eleito. O caro ouvinte deve perguntar: como, se
tanta gente não quer? É que, no Congresso, as coisas funcionam assim mesmo: ganha
aquele que estiver com a ficha mais suja que é justamente o que a sociedade não
quer.
O fato é que a
elite política quer que seja Calheiros, que optou pela estratégia de risco
zero. Ele não se pronuncia para não ter que dar explicações sobre as muitas acusações
que lhes pesam as costas. A mais recente é a do uso de notas fiscais de venda
de bois para justificar sua renda pessoal. Os indícios, fortes, é que as tais
notas foram falsificadas. É bom lembrar que Renan deixou a presidência do
senado em dezembro de 2007. Ele quase perdeu o mandato, no auge do
"Renangate", quando foi acusado de ter suas despesas, além da pensão
da Jornalista Mônica Veloso com quem tem um filho, pagas por um lobista ligado
a uma empreiteira. Ele foi julgado no plenário, mas foi absolvido.
Além dos votos das bancadas do PMDB e do PT,
Renan conta com os votos de senadores de outros partidos por conta de “favores”
que ele próprio e o PMDB andaram prestando. E tem
os “acertos” feitos com o PT que defende Renan tanto quanto os condenados do
caso Mensalão. Senadores do PSDB sinalizam votar em Renan porque ele os livrou
da “CPMI do Cachoeira”. É assim mesmo, uma mão lava a outra e todas se enxugam.
A estratégia de Renan é clara. Ele
não fala, não dá explicações, e espera na surdina que chegue a eleição, onde
seus comparsas, digo, colegas, o elegerão. Adianta pouco mobilizações na
sociedade, pois em momentos como esses o Congresso se fecha. Por fim, nos resta
ficar atentos para o comportamento que os três senadores da Paraíba terão nessa
eleição. Se vão referendar a estratégia rolo compressos de Renan Calheiros ou
se vão se aliar ao David que os ditos independentes acabaram de lançar.
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