sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Deus como coisa útil



Eu resolvi correr riscos. Eu vou falar de política, claro, e de religião a propósito dos eventos religiosos que começarão em Campina Grande. Eu vou falar da forma utilitária como muitas pessoas lidam com a religião que professam. Na verdade, eu vou apontar algumas questões que acho que deveriam ser postas nos debates a serem realizados.








A sociedade da informação requer espaços para anunciar suas novidades, curiosidades e produtos. As redes sociais, os blogs e os sites são os outdoors virtuais onde se diz o que bem quer. Mas, parece pouco, pois vemos automóveis anunciando de tudo. Vemos para-brisas declarando que o casal proprietário do carro está “CASADO PARA SEMPRE”. Desconhecem que relações, assim como carros, se sujeitam as ações corrosivas do tempo.





Têm carros com frases engraçadas: “ANDO NESTE CARRO, MAS DEUS ME DARÁ UM CROSS FOX NOVO.” Além do bom humor, ela transparece que a pessoa só se vê feliz em um carro novo e que espera que Deus lhe dê um. Interessante é que eu não vejo adesivos com o desejo de se ter um carro pela via do trabalho. Por quais motivos Deus daria um carro a quem quer que seja? Se eu fosse pedir um carro a Deus, pediria logo um Aston Martin, que é o carro do James Bond.





A questão é que esperamos que Deus ou o Estado nos dê aquilo que bem poderíamos obter pelo trabalho. É que fomos escravizados no passado, por isso encaramos o trabalho como um pesado fardo a carregar. Assim, esperamos de outros, aquilo que deveríamos conseguir pelo esforço próprio. Afinal, somo o “país da boquinha”, onde virou hábito não buscar se firmar pela excelência do trabalho ou pelo mérito. No país da “Lei de Gérson” e do “você sabe com quem está falando?”, o Estado é visto como um butim a se conquistar. Deus seria algo útil, da qual as pessoas se aproximam para tirar proveito.





Em relação às frases temos menos a convicção de cada um e mais o fenômeno em que a fé, a religião e Deus são tratados de forma utilitária. As pessoas vão abraçando ramos do cristianismo para obter benesses. Vejamos alguns exemplos, recolhidos por mim e por prestativos colaboradores, aos quais agradeço. Numa frase se afirma que: “ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR”, ou seja, Jesus teria como função única ajudar seus seguidores.





Em outra se diz que “DEUS CUIDA DE MIM”. Aqui, Deus é privatizado e tem a função de tratar de uma só pessoa. E tem uma frase que é o cúmulo da prepotência: “TODOS ME SEGUEM, SÓ DEUS ME ACOMPANHA”. Neste caso, o indivíduo se vê como o centro, todos o seguem e Deus o acompanha por onde quer que vá.





E existem as simplificações conformistas: “ORA QUE MELHORA”. Simples assim! Não precisa fazer mais nada. Basta orar e ficar sentado (ou ajoelhado) que tudo vai melhorar. O bom emprego (público, de preferência), o carro novo, a casa própria, o consumismo desenfreado, numa palavra, a boa vida, acontecerão automaticamente feitas às orações. Quisera fosse assim!





Mas, é bom não esquecer, as benesses divinas só são alcançadas mediante pagamento do dízimo. Segundo interpretações e/ou deturpações as “graças” só são alcançadas mediante pagamento, i.e., é dando que se recebe! Em outra frase a preocupação gira em torno do eu: “SE JESUS VOLTASSE HOJE COMO EU ESTARIA?”. Não importa a volta de Jesus e sim como estará o fiel, pois o retorno de Jesus só deve significar algo para ele próprio. Aqui, o mundo gira em torno do eu.






E vamos às frases onde Deus é um instrumento para se obter um carro novo. As mais famosas são: “PRESENTE DE DEUS”; “ESSE FOI JESUS QUE ME DEU”; “PROPRIEDADE EXCLUSIVA DE DEUS”. Por que Jesus daria carros a seus seguidores? Com que fins Jesus seria proprietário de um veículo? Qual o sentido de afixar um adesivo desses num carro? Imaginem quanto inverossímil é um deus que se preocupa em dar carros para seus seguidores.




A racionalização disso mostra que se adere a esta ou aquela Igreja para poder se “ganhar” um carro, numa relação mercantil. É isso que se coloca para os futuros crentes – venha para nossa Igreja e terás tudo o que quiseres. Você quer um carro novo? Assim seja! Mas, não esqueça, se deixar de pagar o dízimo estarás cometendo o maior de todos os pecados e não ganharás carro novo.



Uma colaboradora recolheu a seguinte frase: “DEUS QUANDO QUER FAZ ASSIM”. Assim? Como? A frase tenta, implicitamente, provar que Deus só faz maravilhas para alguns poucos iluminados que crêem cegamente nele. Vão longe os tempos em que os fiéis buscavam o reino dos céus. Hoje, eles se “contentam” com um carro novo. Todos querem as benesses de Deus, mas não lembram que existe um período probatório aqui mesmo na terra.




Li certa vez, não lembro onde, que “acreditar é mais fácil do que pensar. Daí, existirem mais crentes do que pensadores”. Eis outra mensagem subliminar, não pense, não reflita, apenas creia cegamente e você será “divinamente” recompensado.






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