Eu resolvi correr riscos. Eu vou
falar de política, claro, e de religião a propósito dos eventos religiosos
que começarão em Campina Grande. Eu vou falar da forma utilitária como muitas
pessoas lidam com a religião que professam. Na verdade, eu vou apontar algumas
questões que acho que deveriam ser postas nos debates a serem realizados.
A sociedade da informação requer
espaços para anunciar suas novidades, curiosidades e produtos. As redes
sociais, os blogs e os sites são os outdoors virtuais onde se diz o que bem
quer. Mas, parece pouco, pois vemos automóveis anunciando de tudo. Vemos para-brisas
declarando que o casal proprietário do carro está “CASADO PARA SEMPRE”.
Desconhecem que relações, assim como carros, se sujeitam as ações corrosivas do
tempo.
Têm carros com frases engraçadas:
“ANDO NESTE CARRO, MAS DEUS ME DARÁ UM CROSS FOX NOVO.” Além do bom humor, ela
transparece que a pessoa só se vê feliz em um carro novo e que espera que Deus
lhe dê um. Interessante é que eu não vejo adesivos com o desejo de se ter um
carro pela via do trabalho. Por quais motivos Deus daria um carro a quem quer
que seja? Se eu fosse pedir um carro a Deus, pediria logo um Aston Martin, que
é o carro do James Bond.
A questão é que esperamos que
Deus ou o Estado nos dê aquilo que bem poderíamos obter pelo trabalho. É que
fomos escravizados no passado, por isso encaramos o trabalho como um pesado
fardo a carregar. Assim, esperamos de outros, aquilo que deveríamos conseguir
pelo esforço próprio. Afinal, somo o “país da boquinha”, onde virou hábito não
buscar se firmar pela excelência do trabalho ou pelo mérito. No país da “Lei de
Gérson” e do “você sabe com quem está falando?”, o Estado é visto como um butim
a se conquistar. Deus seria algo útil, da qual as pessoas se aproximam para
tirar proveito.
Em relação às
frases temos menos a convicção de cada um e mais o fenômeno em que a fé, a
religião e Deus são tratados de forma utilitária. As pessoas vão abraçando
ramos do cristianismo para obter benesses. Vejamos alguns exemplos, recolhidos
por mim e por prestativos colaboradores, aos quais agradeço. Numa frase se
afirma que: “ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR”, ou seja, Jesus teria como função
única ajudar seus seguidores.
Em outra se diz que “DEUS CUIDA DE MIM”. Aqui, Deus é privatizado e tem a
função de tratar de uma só pessoa. E tem uma frase que é o cúmulo da
prepotência: “TODOS ME SEGUEM, SÓ DEUS ME ACOMPANHA”. Neste caso, o indivíduo
se vê como o centro, todos o seguem e Deus o acompanha por onde quer que vá.
E existem as simplificações conformistas: “ORA QUE MELHORA”. Simples
assim! Não precisa fazer mais nada. Basta orar e ficar sentado (ou ajoelhado)
que tudo vai melhorar. O bom emprego (público, de preferência), o carro novo, a
casa própria, o consumismo desenfreado, numa palavra, a boa vida, acontecerão
automaticamente feitas às orações. Quisera fosse assim!
Mas, é bom não
esquecer, as benesses divinas só são alcançadas mediante pagamento do dízimo. Segundo
interpretações e/ou deturpações as “graças” só são alcançadas mediante
pagamento, i.e., é dando que se recebe! Em outra frase a preocupação gira em
torno do eu: “SE JESUS VOLTASSE HOJE COMO EU ESTARIA?”. Não importa a volta de
Jesus e sim como estará o fiel, pois o retorno de Jesus só deve significar algo
para ele próprio. Aqui, o mundo gira em torno do eu.
E vamos às frases
onde Deus é um instrumento para se obter um carro novo. As mais famosas são:
“PRESENTE DE DEUS”; “ESSE FOI JESUS QUE ME DEU”; “PROPRIEDADE EXCLUSIVA DE
DEUS”. Por que Jesus daria carros a seus seguidores? Com que fins Jesus seria proprietário de um
veículo? Qual o sentido de afixar um adesivo desses num carro? Imaginem quanto
inverossímil é um deus que se preocupa em dar carros para seus seguidores.
A racionalização disso mostra que
se adere a esta ou aquela Igreja para poder se “ganhar” um carro, numa relação
mercantil. É isso que se coloca para os futuros crentes – venha para nossa
Igreja e terás tudo o que quiseres. Você quer um carro novo? Assim seja! Mas,
não esqueça, se deixar de pagar o dízimo estarás cometendo o maior de todos os
pecados e não ganharás carro novo.
Uma colaboradora recolheu a
seguinte frase: “DEUS QUANDO QUER FAZ ASSIM”. Assim? Como? A frase tenta,
implicitamente, provar que Deus só faz maravilhas para alguns poucos iluminados
que crêem cegamente nele. Vão longe os tempos em que os fiéis buscavam o reino
dos céus. Hoje, eles se “contentam” com um carro novo. Todos querem as benesses
de Deus, mas não lembram que existe um período probatório aqui mesmo na terra.
Li certa vez, não lembro onde, que
“acreditar é mais fácil do que pensar. Daí, existirem mais crentes do que
pensadores”. Eis outra mensagem subliminar, não pense, não reflita, apenas
creia cegamente e você será “divinamente” recompensado.
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