Esta nascendo um novo partido.
Ele ainda não tem nome certo e têm que cumprir, junto a Justiça Eleitoral,
exigências como a de recolher 500 mil assinaturas, até outubro e em nove
estados diferentes do país. Sem isso, não obterá registro para funcionar. Eu
estou falando do “REDE Sustentabilidade” que é comandado por Marina Silva e
conta com a participação de figuras políticas como Heloísa Helena e Eduardo
Suplicy. A questão é que Marina Silva está sem partido para disputar a eleição
de 2014.
Após a eleição de 2010, a
situação dela ficou insustentável no PV. Não importaram os 20 milhões de votos,
que causaram o 2º turno entre Dilma e Serra, o pragmatismo fisiologizado do PV
e o moralismo evangelizado de Marina não podiam seguir juntos. Marina está criando um partido
que seja coerente com sua cartilha ecológica, com seus valores político-religiosos
e com sua profunda identificação com os movimentos sociais. Eu diria que isso
não é possível! Mas, é tarefa quase kármica a que ela vem se dedicando.
Marina Silva é uma mulher de valores e princípios admiráveis. Na
Política, ela é uma ilha cercada por todos os lados por aquele jeito pouco
republicano de se agir. Marina é o tipo da pessoa que nos faz crer que a
política vale a pena. Mas, como se manter pura num meio de tantas impurezas?
Como ser ética num meio onde isso soa quase como um palavrão? Marina está
criando sua REDE numa tentativa de ter o esteio para uma prática política
guiada por valores e princípios éticos.
E é exatamente aí que aparecem os problemas. O discurso de Marina não
está afiado. Pelo contrário, está truncado, cheio de contradições. Claro, é o
tipo do discurso que nós, de tanto escutarmos, somos levados a, no mínimo,
desconfiar. Sábado, no lançamento do embrião de seu novo partido, Marina disse
que não quer uma legenda apenas para concorrer em eleições e criticou o que
chama de "caciquismo" na política. Ela lembrou que a lógica a ser
seguida é a de um partido a serviço das pessoas.
Marina deve lembrar
que o fim a que se prestam os partidos é a luta, legítima, pela hegemonia no
poder e que, nas democracias, isso se faz através de eleições. Ela tem que
saber que o partido deve estar a serviço de seus integrantes, não das pessoas
em geral. Quanto ao caciquismo, Marina deve entender que uma coisa é ser a
liderança de um partido e outra é ser a dona de uma sigla com poder de vida e
morte sobre ela. No Brasil, a linha que divide essas duas situações é tão fina
quanto uma folha de papel.
Marina disse que a nova legenda questiona a
"incapacidade da política de interferir", só não disse onde. Ela afirmou
que a REDE "não tem conformação com o modelo anterior”. Parecia estar se
referindo ao PV. Ou seria ao PT? Ou a outras tantas siglas? Marina correu riscos e disse que “saímos de um
ativismo dirigido pelo sindicato e pela ONG com a modernização do ativismo
autoral”. Estaria Marina apontando para seu afastamento dos movimentos sociais
onde foi sendo formada?
Em outro
momento, Marina se sentiu obrigada a falar do processo político do dia-a-dia. E
não podia ser diferente, pois ela é candidata a presidente da República no ano
que vem, coisa que tira o sono da presidente Dilma e do PT. Foi aí que ela se
contradisse. Para ela a ideia é “fazer alianças pontuais, mas sem se rotular
como governo ou oposição”. Por “alianças pontuais” se entende o quê? Que o novo
partido vai se resguardar e só fazer alianças quando for para beneficiar a
sociedade?
Ou que vai se aliar com alhos e
bagulhos pelos interesses? Como todo político, Marina gosta de frases de
efeito. Eu pesquei uma: “Temos a liderança multicêntrica. Não existe mais o movimento
de arco e flecha. Uma hora sou arco e outra sou flecha. Só espero não ser o
alvo”. Às vezes, Marina é mesmo a pessoa ingênua que aparenta ser. Querer não
ser alvo sendo candidata a presidente pela 2ª vez é algo ingênuo. Na entrevista
coletiva, perguntaram como Marina tratará o governo Dilma.
Aí, ela se igualou aos políticos
mais tradicionais quando disse que não terá posição fechada. A frase é assim: "Não
seremos nem situação, nem oposição. Precisamos de posição. Se Dilma fizer algo
bom, vamos apoiar. Do contrário, não, ficaremos contra”. Mas, não foi isso que
disse Gilberto Kassab no lançamento do seu partido, o PSD? Muitos chamaram, e,
como eu, ainda chamam, Kassab de fisiológico. O que estaria sendo Marina Silva repetindo
o mantra do político dito independente?
Marina disse, ainda, que seu
partido não receberá doações eleitorais de empresas "sujas", a
exemplo dos fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos. A
ideia é oferecer aos eleitores uma opção mais pura e limpa nas eleições de
2014. Mas, em 2010, Marina Silva recebeu mais de R$ 2 milhões das empreiteiras
Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. O jornalista Fernando Rodrigues chama isso
de “pureza pela metade”. Eu chamo de pragmatismo político. E você, caro
ouvinte, chama de quê?
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