Na terça-feira da semana passada
o prefeito Romero Rodrigues realizou uma solenidade no Palácio do Bispo para
oficializar o apoio financeiro de sua gestão aos encontros religiosos, que
acontecem nos dias de carnaval, e para as escolas de samba. Dois dias depois
ele se reuniu com os presidentes do Campinense Clube e do Treze Futebol Clube
para renovar os contratos de patrocínio que a Prefeitura Municipal de Campina
Grande havia firmado com os dois times no ano passado.
O prefeito liberou R$ 340 mil
para os eventos religiosos e as escolas de samba e R$ 70 mil para os dois
times. A prefeitura assumiu, ainda, uma dívida de R$ 240 mil que a gestão do
ex-prefeito Veneziano Vital havia deixado em aberto para com os dois times. Num
momento de tão graves dificuldades financeiras, quando os servidores públicos
municipais ainda estam com salários atrasados e fornecedores não sabem bem quando
receberão os atrasados da gestão passada, Romero Rodrigues justificou sua
atitude. Disse ele que “apesar das dificuldades financeiras, o governo não
deixaria de apoiar os eventos que projetam Campina no cenário turístico
nacional”. Tem razão o prefeito, pois os eventos injetam recursos na economia
da cidade e a divulgam pelo Brasil afora.
Mas, a única forma de a
Prefeitura Municipal contribuir para com a realização dos eventos é entregando
recursos financeiros aos seus promotores? Não custa lembrar que a maioria dos
eventos são auto-sustentáveis do ponto de vista econômico. Um que não gera lucro
é o desfile das escolas de samba, pois é feito em via pública e as escolas não
fazem investimento algum, elas só tem gastos. Assim, a prefeitura entregou R$
50 mil a Associação Campinense das Escolas de Samba e Troças Carnavalescas.
O Encontro da
Consciência Cristão, um evento evangélico que acontece no Parque do Povo,
recebeu R$ 140 mil da prefeitura. O evento é patrocinado por um sem número de
empresas e os evangélicos lotam suas dependências todos os dias pagando
ingressos. Para o pastor Euder Faber, coordenador do evento, a ação do prefeito
merece reconhecimento, pois contribui para o crescimento espiritual do povo de
Campina Grande. Mas, porque o poder público deve promover o crescimento
espiritual de seus cidadãos?
É bom não esquecer que o Estado brasileiro é constitucionalmente laico,
ou seja, ele não pode aceitar ou receber influências religiosas. À prefeitura
municipal cabe dar as condições estruturais e garantir alguns serviços para o
sucesso do evento. É bom não esquecer que a prefeitura já dá grande
contribuição para o evento evangélico quando cede o Parque, que é de todo o
povo de Campina Grande, para que um determinado ramo religioso promova seu
evento.
É estranho que o local onde se realiza nossa festa maior, o São João, seja
privatizado por alguns dias para a realização de um evento religioso. Eu fico
me perguntando se a coordenação do evento tem alguma contrapartida a dar a
prefeitura. Fabio Ronaldo, do Encontro da Nova Consciência, disse que a
contribuição da prefeitura, no valor de R$ 90 mil, valoriza o entendimento
entre diversos segmentos espirituais. É a mesma coisa, não é função da
prefeitura promover o ecumenismo.
Se fosse assim a
prefeitura promoveria um único evento reunindo todas as religiões em um único lugar.
Alias, eu não entendo porque tantos falam na prática do ecumenismo, mas cada
religião se recolhe a um determinado lugar como forma de evitar contatos. Com
os outros encontros religiosos não foi diferente. O Crescer, que é o encontro
dos católicos, recebeu R$ 55 mil e reforçou a ideia do fortalecimento
espiritual do povo campinense. A exceção foi o Movimento de Integração do
Espírita Paraibano – MIEP. Segundo seu coordenador, Ivanildo Fernandes, o MIEP
não recebe ajuda oficial por questões filosóficas e doutrinárias. Mas, ele não
nega a importância da prefeitura para se garantir a continuidade dos eventos
religiosos.
Quanto ao futebol
não é tão diferente. Como se justifica que dois times, com duas grandes
torcidas, das maiores do norte-nordeste do Brasil por sinal, precisem receber
dinheiro público? Como se explica que eles não sejam auto-suficientes? Porque a prefeitura deve financiar dois times de
futebol se eles têm uma inestimável fonte de renda que é sua torcida que paga
ingressos para vê-los jogar? O futebol é um negócio e como tal deve ser
tratado.
Será que é prioridade do poder público
financiar times de futebol que nunca prestam contas de suas movimentações
financeiras, que sempre recebem estas “ajudas”, mas que estam sempre em situação
falimentar? O poder público ajuda os times de futebol quando faz, por exemplo,
obras de infraestrutura como a reforma que se inicia no Estádio Amigão. A
Prefeitura não tem que dar o peixe para os times, deve, no máximo, dizer onde
eles podem pesca-los.
O fato é que permanece em nossa cultura
política a ideia de que antes de existir um cidadão religioso e/ou torcedor de
um time de futebol, existe um cidadão-eleitor e que não é de bom tom
desagradá-lo em suas paixões para não se perder votos.
Um comentário:
Ótima analise, mas deixa eu só colocar mais lenha... O evento denominado Encontro da Consciência Cristã, o que fica no Parque do Povo, é o primeiro evento sequenciado que impedem o trafego de transeuntes e veículos, se quero ir numa rua por trás do parque tenho que arrodear todo quarteirão por que a Empresa Estrutural não permite que as pessoas passem pelo local, e ainda são arrogantes e agem como os novos donos, a queixa é geral da população local. Outra, dos encontros, o primeiro ainda trazia turistas que era o da Nova Consciência, os outros foram sendo criados com o intuito de segregar, e o pior, não deixa nada de positivo para a cidade, nem histórica, nem financeira, cidades com menor estrutura (como no caso Garanhuns) criam eventos que movimentam economicamente a cidade, com dados do ano passado Garanhuns que tem 130 mil habitantes, e no carnaval recebeu 20 mil turistas no Festival de Jazz e Blues e movimentou R$1,6 milhões, deixando renda a todos... Qual valor estes encontros deixaram no munícipio??? E agora teremos mais dois eventos onde se permanecerá cercado o Parque do Povo, sem licitação, e com uma só empresa lucrando e o pior, a dita empresa em parte é de um senador do estado irmão de um certo cabeludo... É a coisa tá feia. Emerson Tenebra
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