quarta-feira, 20 de março de 2013

E a política entrou em campo






Depois de quase quatro anos sem ir ao Estádio Governador Ernany Sátiro, o Amigão, retornei no domingo passado para ver o maior e melhor time do Nordeste brasileiro sagrar-se campeão da Copa do Nordeste. Foi emocionante ver o Campinense Clube ser campeão daquela maneira. Isso, por si só, pagou o ingresso. Mas, eu não tenho certeza se também pagou os riscos enfrentados por mim e por aquela massa fantástica de torcedores raposeiros.





O fato é que ir ao Estádio Amigão é antes de tudo uma grande aventura. A começar pela chegada ao estádio que não tem boas vias de acesso e nem estacionamento. O terreno em volta do estádio sequer é plano e não existem placas de sinalização. Na parte interna o que se vê é a total degradação. Pior, jorra água por entre as brechas do concreto armado e as paredes são imundas. Sem contar que não é possível andar dois ou três metros sem ter que colocar os pés naquela fétida mistura de água, urina e lixo.





E olhem que eu não fui ao banheiro em momento algum. Mas, ouvi relatos de quem foi. Não vou reproduzi-los, pois o horário não permite. As arquibancadas estam em petição de miséria e os assentos precisam de manutenção, ou mesmo de serem trocados. No campo de jogo a única coisa que parece não ter problemas é o gramado. Apesar de que não se sabe se ele vai suportar as chuvas quando, e se, elas vierem. O Amigão não tem placar eletrônico, mas o sistema de iluminação é razoável.





É preciso não esquecer que o Amigão foi inaugurado em 1975 sem ter sido concluído. As arquibancadas, que ficariam por trás das traves, inexistem não por uma opção dos engenheiros, mas sim porque nunca se quis construí-las. Talvez, este seja o momento. A situação da marquise que cobre um das arquibancadas é temerária. Os jornalistas se amontoavam em cubículos chamados de cabine. Tinha repórter pendurado por todos os lados buscando o melhor ângulo para a transmissão televisava da partida.





O que me chamou atenção é que quase ninguém se preocupou com esse estado de coisas. A torcida não queria saber. Claro, com a Raposa comendo a bola quem vai se preocupar com uma rachadura que segue de cima até embaixo da arquibancada sombra? A polícia também não se preocupou, pois seu dever era cuidar da segurança de todos. Em que pese que a situação que descrevo ameaçava sobremaneira a própria segurança dos torcedores.




Mas, o caro ouvinte quer saber quem não estava nem um pouco preocupado? Acertou quem disse os políticos. Estes não queriam saber de problemas, pois importava aparecer nos momentos que antecederam o grande jogo. Aonde eu via torcedores, os políticos viam eleitores. Isso é o que realmente importava para eles. Enquanto os verdadeiros atores do espetáculo estavam nos bastidores, os atores políticos se esbaldavam. Muitos abraços, fotos e sorrisos. Houve, claro, os discursos para que cada um pudesse mostrar o quanto foi útil para que aquilo tudo pudesse acontecer.








Os vereadores Nelson Gomes Fº e Ivonete Ludjério entregaram uma medalha de honra ao mérito ao representante do canal que detém direitos de transmissão de imagens da Copa do Nordeste. Eles tinham aprovado uma propositura sobre isso. Se o ato foi aprovado no plenário da Câmara Municipal, porque a entrega da medalha e os discursos não foram feitos na Casa de Félix Araújo? Porque tinham que ser feitos no Estádio? Elementar, os eleitores, digo torcedores, não vão à Câmara de Vereadores.





O prefeito Romero Rodrigues esteve presente e, antes mesmo que partida se iniciasse, deu uma volta olímpica em torno do gramado acenando e sorrindo para os torcedores que retribuíram com aplausos. Claro, depois ele discursou e posou para as fotos. Eu não sei se o prefeito Romero torce pelo Campinense Clube. Mas, o fato é que ele envergava uma vistosa camisa rubro-negra. Mas, isso importa pouco. O que de fato interessava era a oportunidade que não podia ser desperdiçada.





O governador Ricardo Coutinho esteve presente. Ao adentrar no Estádio, ele afirmou que o Amigão seria fechado na terça-feira (ontem) para longa reforma. Ele até disse que as obras não haviam ainda começado por causa da grande final da Copa do Nordeste. Mas, o governador vai mudar de ideia? Pois, Campinense e Treze vão jogar no Amigão no próximo domingo. Aliás, o governador foi mais discreto. Não vestiu uma camisa do Campinense, apesar de dizer que o time é um patrimônio da Paraíba.





A disputa era para ver quem mais exaltava o Campinense. O governador só veio até o Amigão para capitalizar para si o grande feito rubro-negro. Mas, isso não evitou a vaia que a torcida atribuiu ao governador assim que se anunciou que ele havia chegado. O Vice-governador, Rômulo Gouveia, estava também presente. Mas ele não foi vaiado. Sendo de Campina Grande fazia mais sentido sua presença do que a do governador. Mas, que político poderia perder tal oportunidade? O fato é que os políticos tentam se mostrar mais importantes do que os times de futebol. Historicamente o futebol vem sendo usado pelos políticos. Infelizmente, eles não querem entender que o futebol é uma coisa do povo. Apesar de que a política também é.





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