Na linguagem política nada pode
ser mais usado do que o conceito de poder. Alias, falar em política é falar em
poder. O poder é um conceito que não é exclusivo da política, ele é utilizado
em nosso cotidiano e em vários aspectos de nossa vida. O filósofo inglês Bertrand
Russell afirmava que o "poder é a produção de efeitos desejados". Poder
é uma palavra autoexplicativa. Por poder se entender a capacidade de se fazer
algo, ou de se obter algo. Poder é um conceito próximo do termo influência.
Ter poder significa ter os meios para se
conseguir algo ou para levar alguém a fazer alguma coisa, não importando se ela
quer ou não fazer. O poder é a capacidade que sicrano tem de levar fulano a
atingir beltrano. Mas, em que consiste o poder na política? Qual a função do
poder em nossa vida familiar e social? Qual a diferença entre ter poder e ter influência?
Porque nos organizamos com base no poder e não em outros princípios ou valores?
O poder pode ser visto como uma
massa de energia que a sociedade coloca, através das eleições, nas mãos do
governante para que ele realize os objetivos dos cidadãos. Claro, que isso só
deve acontecer dentro dos marcos legais. Mas, isso tudo está ficando muito
teórico. Vamos tentar tornar mais prático. Essa massa de energia que se coloca
na mão do governante é composta de recursos financeiros e de recursos físicos
em operação como usinas, estradas, redes de energia, etc.
Essa massa de energia, chamada
poder, é composta, também, de recursos de pessoal. São os funcionários públicos
que são contratados para operar as instalações públicas e fazer a
"máquina" do governo funcionar. Claro, quem comanda esta massa de
energia detém o poder. Quem comanda o governo, se responsabilizando pelo seu funcionamento,
e pelo provimento de bens e serviços para a população, tem não só de direito,
como de fato, poder.
E é bom não esquecer que este poder
político se dá em vários níveis. Numa cidade, num estado, num país, mas também
nas várias instituições políticas que compõem o Estado-nação. Mas, tudo isso continua
muito teórico, eu vou tentar simplificar. Porque será que as pessoas lutam para ter poder? Apenas pelo simples
prazer de ter poder? Não, pois o poder não se basta a si próprio. Luta-se para
se ter poder como forma de se adquirir os meios que permitem comandar a massa
de energia.
É de posse dessa massa de energia que é possível se realizar os objetivos
individuais e coletivos, pois o poder tem uma natureza impositiva. O poder não
pede, manda. O poder não convida, impõem. O poder não sugere, determina. Mas,
esse poder que não pede tem que ser dotado de estrutura legal, senão vira algo
acima do bem e do mal. Nossa maior contradição política foi criar um
instrumento que usa a força física para garantir que as decisões políticas serão
respeitadas.
É sim uma contradição termos um
aparato dotado de força para garantir que as decisões do poder serão cumpridas
e obedecidas pelos cidadãos. Mas, se não fosse assim como faríamos aquilo que
nos é imposto? Quem cumpriria uma lei se soubesse que não seria cobrado por
algum aparato de poder dotado de força? Você, caro ouvinte, faria isso? Ou
teríamos que ser todos um bando de “madres teresas de Calcutá” para que o
aparato de força não fosse necessário?
Convenhamos que o poder é um meio eficiente para a realização de tarefas
e para afetar comportamento. Você já tentou imaginar como viveríamos se não
fosse essa massa de energia que nos impede ou nos leva a fazer coisas? Mas,
essa minha discussão continua bastante teórica! Eu vou tentar mais uma vez
tornar as coisas mais práticas. Vejam que ninguém gosta de pagar impostos, mas
se este pagamento fosse voluntário, não haveria como financiar o governo.
Ninguém gosta de ir à guerra, mas se esta
decisão fosse voluntária, não se organizaria as Forças Armadas para a defesa
nacional. Todos querem dirigir seus carros como bem entendem. Mas se fosse
assim, o trânsito seria bem pior do que de fato é. Os exemplos são muitos, mas em todos os casos só
podemos chegar a uma conclusão sobre o poder: ruim com ele, pior sem ele. Se
nossa convivência social não fosse baseada na influência, persuasão e até
imposição como poderíamos nos organizar?
É por isso que os grupos
políticos se lançam na luta pelo poder, através das eleições. Quem o conquista o
governo, e, com ele, o poder, ganha o direito legítimo de usar aquela
"massa de energia" para realizar os objetivos para os quais foi
escolhido. Certo. Continua tudo muito teórico. Mas, é que tem que ser assim
mesmo. A política e o poder quando tratados dessa forma são vistos como um mal
necessário. Mas, quando tratados na prática se tornam tudo aquilo que
abominamos, mas não vivemos sem.
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