Há uns dias atrás eu conversei
com um ex-gestor público e ele me disse que o poder lhe deu uma certeza que
depois se transformou em grande frustração. Ele falava do fato de que é
impossível agradar a todos e que é preciso lidar com os insatisfeitos. Por
causa dessa conversa lembrei uma frase de Maquiavel. Ele dizia que o governante
deve fazer o bem aos poucos e a praticar o mal de uma vez só. O que o filósofo
queria dizer é que um governante não pode querer tomar apenas medidas boas.
Nada pior do que um governante tentando
agradar a todos. Essa é uma das mais perigosas tentações de quem detém o poder,
pois na política as demandas são sempre maiores dos que os recursos. A regra da governança é “não seja bom o tempo
todo”. Não queira agradar a todos, pois governar é, antes de tudo, fazer
escolhas. Uma das normas da política é que ao se escolher se criam satisfeitos
e desgostosos. A você, gestor público, cabe aprender a lidar com isso da melhor
maneira possível.
Vejam, por exemplo, como é tenso o
momento de se montar o secretariado de um governo que vai começar. Eu
desconheço que tenha havido um caso em que existiam mais cargos do que pessoas
para assumi-los. Pelo contrário, a quantidade de aliados ávidos por cargos é
sempre maior do que a quantidade de postos a disposição do gestor para que se
realizem as nomeações. A montagem e manutenção de um governo é sempre sensível
por esse aspecto.
Vejam que há alguns dias o PTN
anunciou que rompeu com o governo de Ricardo Coutinho. Em Nota, o partido
afirma que deixa de ser governista por não ter sido reconhecido como merecia e
por não ter participado efetivamente do governo. Na verdade, o que aconteceu é
que o PTN não foi atendido em seus pleitos. Ele não deve ter sido contemplado
com todos os cargos que gostaria. O governador Ricardo Coutinho fez suas
escolhas e aí, não tem jeito, sempre vamos ter os insatisfeitos.
Eu já disse muito, aqui no
POLITICANDO, que ter poder é possuir a capacidade de impor a sua vontade aos
outros. Mas, essa capacidade precisa ser bem administrada, pois do contrário se
volta contra aquele que a usa. Nada mais destrutivo para um governante do que
uma massa de descontentes a lhe bater a porta para cobrar que, o apoio dado na
eleição, deve ser transformado em cargos de confiança, empregos públicos, ou
seja lá em que for.
O historiador
Britânico Lord Acton dizia que “O poder
tende a corromper e o poder absoluto tende a corromper absolutamente”. O
governante que não atenta para a tomada de decisão, e que coloca seu próprio
poder acima disso, corre sérios riscos. Sabemos que o poder transforma as
pessoas. Algumas se embriagam com ele de tal forma que não veem um palmo além
de suas narinas. É comum, nos primeiros meses de mandato, o governante não
saber identificar os limites do seu poder.
Temos casos de governantes que foram engolidos pelo poder que pensavam
controlar. Jânio Quadros, que renunciou para chantagear o Congresso e o
Exército, e Fernando Collor, que achou ser possível aniquilar os outros poderes,
são dois ótimos exemplos. O governante precisa ter cuidado com a situação que
lhe rodeia. Os símbolos do poder, o comportamento das pessoas, a sensação de
estar no alto da cadeia de comando podem ser perturbadoras.
O poder pode maquiar a realidade para o próprio governante. Fernando
Henrique Cardoso disse que, enquanto foi presidente, não abria portas, não
dirigia carros, não apanhava um objeto que caísse, sequer escolhia as gravatas
que iria usar. Essa simbologia pode trazer consequências graves para o poderoso
de plantão. De posse da sensação que o poder lhe dá, o governante pode cair na
tentação de querer agradar a todos. Pior, o poder mascara a realidade a tal
ponto que faz o governante achar que basta a vontade política para resolver
todos os problemas.
O ex-gestor com
quem conversei disse que sua vontade política parecia não conhecer limites até
que ele topou com as barreiras impostas por sua oposição e pelas limitações
financeiras, materiais e humanas. Daí veio à frustração para com o poder. Com o
tempo, o gestor percebe que as reivindicações, apelos e solicitações dos que o
apoiaram são tantas que a vontade de agradar a todos simplesmente deixa de
existir. Em alguns casos ela é substituída pela vontade de fazer o mal em
pequenas parcelas.
Muitos não resistem à tentação e recorrem ao
expediente de criar cargos a esmo para alocar aliados. Vejam que o governo
federal dispõe, hoje, de 38 ministérios. A presidente Dilma não parece conhecer
outra frase famosa de Maquiavel. É
aquela que diz que: “O primeiro método para estimar a inteligência de um
governante é olhar para os homens que ele tem à sua volta”. O problema é que os
governantes preferem ser chamados de estúpidos a perderem seus aliados.
Um comentário:
Você faz isso, seu pai fez isso, seu chefe faz isso! É o preço que se paga com o poder.
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