Na segunda-feira
eu afirmei que não concordo que governos democráticos mantenham laços amistosos
com governos ditatoriais. Eu me referia às relações que governos do PT mantêm
com a ditadura dos irmãos Castro na ilha de Cuba. Afirmei, ainda, que relações
entre nações se dão por interesses econômicos e geopolíticos, que estam longe
de serem humanitários. Os países não costumam estabelecer laços de afetividade.
Por causa disso, recebei um saudável desafio.
Alguns ouvintes, que acompanham o POLITICANDO, pediram que eu mostrasse
o que o Brasil ganha, se é que ganha, com o financiamento e a construção do
Porto de Mariel em Cuba. A ideia é verificar se estamos tendo prejuízos com os
negócios em Cuba.
É que se tem dito que o governo brasileiro não deveria investir em Cuba,
pois somos uma sociedade necessitada de muitas coisas e com muitos problemas
sociais. Além disso, se diz que o PT só ajuda Cuba por causa de supostas
afinidades ideológicas. O jornalista Heródoto Barbeiro, da Record News,
entrevistou Thomas Zanotto,
que é o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo. Foi uma conversa esclarecedora, despida de
ranços partidários. Zanotto representa a FIESP que, para o PT e para Lula, é o
centro da reação ao governo de Dilma Rousseff. De fato, a FIESP é o ninho do
“tucanismo” liberal que tem reagido aos programas sociais e à política
econômica dos governos petistas.
A entrevista com Zanotto é crível, pois a análise feita, e as informações
fornecidas, partem de uma esclarecida oposição ao governo Dilma. Natural seria
ver a FIESP contra os negócios entre o Brasil e Cuba. Mas, o que se vê é o
inverso. A primeira questão, abordada na entrevista, é sobre que interesses
econômicos teria o Brasil para investir no Porto de Mariel em Cuba. Zanotto pôs
a questão política de lado e abordou a problemática pelo viés econômico.
Zanotto disse que os investimentos do Brasil, em Cuba, começaram no governo de
Fernando Henrique Cardoso. Foram os economistas tucanos que primeiro perceberam
as possibilidades de comércio com os cubanos.
Ao contrário do que querem crer os seguidores da estrela vermelha, não
foram os petistas que sacaram as funções geopolítica e econômica da Ilha de
Cuba em relação à América Central e ao mar do Caribe. Segundo Zanotto, foi no governo de FHC que o
Brasil começou a liberar créditos alimentícios para Cuba. Funciona assim: o
Brasil abre linhas de crédito para que Cuba compre alimentos, com a condição de
que as compras só possam ser feitas no Brasil. Essa é uma forma de o Brasil
ganhar duas vezes. Ganha quando empresta dinheiro a Cuba e quando Cuba usa o
crédito para fazer compras no Brasil. A esquerda bolivariana diria que isso é o
capitalismo internacional explorando países pequenos e pobres.
Para Zanotto o
interesse do Brasil por Cuba é estratégico. Ele é bem mais econômico do que
político e ideológico. Ele afirma que, como o Brasil tem baixa inserção
econômica no Caribe, investir em Cuba facilitaria a abertura para um mercado
pouco explorado. O Porto de Mariel é um manancial de oportunidades. Não se
trata do porto em si, mas da criação de uma zona econômica, industrial e de
processamento de exportação, que tem cerca de 500 quilômetros quadrados. Vejam
como o negócio foi bom para o Brasil. O porto foi financiado pelo governo do
Brasil, através do BNDES. Ele foi todo construído por empresas brasileiras,
tendo a Odebrecht a frente. 80% dos equipamentos envolvidos na construção do
porto são brasileiros. As compras foram feitas no Brasil.
É o mesmo caso
dos alimentos. O Brasil empresta dinheiro a Cuba, para a construção do porto,
mas os equipamentos que lá serão utilizados devem ser comprados no Brasil. O
dinheiro sai e entra no país com taxas de juro, claro. Outra preocupação dos
que acham que o governo brasileiro está sustentando Cuba é quando as garantias
dos pagamentos desses financiamentos. Zanotto afirmou que os cubanos vão quitar
suas dívidas, junto ao BNDES, com as próprias receitas do porto. Zanotto disse
que existem cerca de 300 empresas brasileiras operando em solo cubano e que a
grande maioria está no Porto de Mariel. O governo cubano criou uma legislação
trabalhista exclusiva para elas e lhes dá liberdade total para as remessas de
lucro.
Cuba está
tentando seguir o modelo da China. É aquela história de “um país, dois
sistemas”. Os Cubanos entenderam que não dá mais para sobreviver as custas do
mito do paraíso socialista caribenho e que a economia de mercado tem lá suas
vantagens. O empresariado brasileiro entendeu que as boas relações entre os
irmãos Castro e o PT poderia lhe trazer bons dividendos. Se existem alguma
nação sendo explorada aqui, com certeza não é o Brasil. Como diria Caetano
Veloso, “sejamos imperialistas”.
Você tem algo a dizer sobre essa
COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO,
COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário