quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

AFINAL, PORQUE O PORTO DE MARIEL É UM BOM NEGÓCIO?

Na segunda-feira eu afirmei que não concordo que governos democráticos mantenham laços amistosos com governos ditatoriais. Eu me referia às relações que governos do PT mantêm com a ditadura dos irmãos Castro na ilha de Cuba. Afirmei, ainda, que relações entre nações se dão por interesses econômicos e geopolíticos, que estam longe de serem humanitários. Os países não costumam estabelecer laços de afetividade. Por causa disso, recebei um saudável desafio.  Alguns ouvintes, que acompanham o POLITICANDO, pediram que eu mostrasse o que o Brasil ganha, se é que ganha, com o financiamento e a construção do Porto de Mariel em Cuba. A ideia é verificar se estamos tendo prejuízos com os negócios em Cuba.

É que se tem dito que o governo brasileiro não deveria investir em Cuba, pois somos uma sociedade necessitada de muitas coisas e com muitos problemas sociais. Além disso, se diz que o PT só ajuda Cuba por causa de supostas afinidades ideológicas. O jornalista Heródoto Barbeiro, da Record News, entrevistou Thomas Zanotto, que é o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Foi uma conversa esclarecedora, despida de ranços partidários. Zanotto representa a FIESP que, para o PT e para Lula, é o centro da reação ao governo de Dilma Rousseff. De fato, a FIESP é o ninho do “tucanismo” liberal que tem reagido aos programas sociais e à política econômica dos governos petistas.

A entrevista com Zanotto é crível, pois a análise feita, e as informações fornecidas, partem de uma esclarecida oposição ao governo Dilma. Natural seria ver a FIESP contra os negócios entre o Brasil e Cuba. Mas, o que se vê é o inverso. A primeira questão, abordada na entrevista, é sobre que interesses econômicos teria o Brasil para investir no Porto de Mariel em Cuba. Zanotto pôs a questão política de lado e abordou a problemática pelo viés econômico. Zanotto disse que os investimentos do Brasil, em Cuba, começaram no governo de Fernando Henrique Cardoso. Foram os economistas tucanos que primeiro perceberam as possibilidades de comércio com os cubanos.

Ao contrário do que querem crer os seguidores da estrela vermelha, não foram os petistas que sacaram as funções geopolítica e econômica da Ilha de Cuba em relação à América Central e ao mar do Caribe.  Segundo Zanotto, foi no governo de FHC que o Brasil começou a liberar créditos alimentícios para Cuba. Funciona assim: o Brasil abre linhas de crédito para que Cuba compre alimentos, com a condição de que as compras só possam ser feitas no Brasil. Essa é uma forma de o Brasil ganhar duas vezes. Ganha quando empresta dinheiro a Cuba e quando Cuba usa o crédito para fazer compras no Brasil. A esquerda bolivariana diria que isso é o capitalismo internacional explorando países pequenos e pobres.

Para Zanotto o interesse do Brasil por Cuba é estratégico. Ele é bem mais econômico do que político e ideológico. Ele afirma que, como o Brasil tem baixa inserção econômica no Caribe, investir em Cuba facilitaria a abertura para um mercado pouco explorado. O Porto de Mariel é um manancial de oportunidades. Não se trata do porto em si, mas da criação de uma zona econômica, industrial e de processamento de exportação, que tem cerca de 500 quilômetros quadrados. Vejam como o negócio foi bom para o Brasil. O porto foi financiado pelo governo do Brasil, através do BNDES. Ele foi todo construído por empresas brasileiras, tendo a Odebrecht a frente. 80% dos equipamentos envolvidos na construção do porto são brasileiros. As compras foram feitas no Brasil.

 
É o mesmo caso dos alimentos. O Brasil empresta dinheiro a Cuba, para a construção do porto, mas os equipamentos que lá serão utilizados devem ser comprados no Brasil. O dinheiro sai e entra no país com taxas de juro, claro. Outra preocupação dos que acham que o governo brasileiro está sustentando Cuba é quando as garantias dos pagamentos desses financiamentos. Zanotto afirmou que os cubanos vão quitar suas dívidas, junto ao BNDES, com as próprias receitas do porto. Zanotto disse que existem cerca de 300 empresas brasileiras operando em solo cubano e que a grande maioria está no Porto de Mariel. O governo cubano criou uma legislação trabalhista exclusiva para elas e lhes dá liberdade total para as remessas de lucro.

Cuba está tentando seguir o modelo da China. É aquela história de “um país, dois sistemas”. Os Cubanos entenderam que não dá mais para sobreviver as custas do mito do paraíso socialista caribenho e que a economia de mercado tem lá suas vantagens. O empresariado brasileiro entendeu que as boas relações entre os irmãos Castro e o PT poderia lhe trazer bons dividendos. Se existem alguma nação sendo explorada aqui, com certeza não é o Brasil. Como diria Caetano Veloso, “sejamos imperialistas”.

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