sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O BALÃO DE ENSAIO DA VEREADORA

 

Raíssa Lacerda é vereadora pelo PSD em João Pessoa. Ela é filha do ex-vice governador da Paraíba, José Lacerda. Na quarta-feira, ela protagonizou um ato, que pretendia ser heroico, mas que terminou virando uma grande patacoada política. A vereadora reuniu a imprensa e anunciou seu rompimento com o governador Ricardo Coutinho. Raissa se disse decepcionada pela maneira como ele estaria tratando a sociedade. Ela afirmou que o governador não recebe nem mesmo seus secretários. Raissa se queixou de não conseguir falar com o governador a mais de um ano e disse ter se desiludido com as promessas que não foram cumpridas. Em tom de amargura ela falou: “Eu acreditei tanto nesse governador. Ele prometia tratar tão bem o servidor”.

Além das criticas e desabafos, a vereadora Raissa aproveitou a entrevista para manifestar suas vontades políticas. Ela é do bloco dos que torcem para que a aliança entre o PSB de Ricardo Coutinho e o PSDB de Cássio Cunha Lima chegue ao fim. Até aí tudo bem, pois a vereadora, como qualquer pessoa, tem direito a expressar suas opiniões. O problema foi o tom prá lá de piegas que ela adotou. Primeiro, disse que “a Paraíba vai, em breve, voltar a sorrir, com uma revelação maravilhosa”. Ela se referia a possibilidade de Cássio Cunha Lima ser candidato a governador. Depois, com uma pieguice de novela mexicana, ela arrematou: “o povo vai pular de tanta alegria, vai voltar o afago, vai voltar o diálogo de quem gosta de escutar”.

Parece que a vereadora não quer ficar exposta ao sol, caso o senador Cássio Cunha Lima retorne ao Palácio da Redenção. Mas, o que ela deixou de dizer foram os motivos reais que a levaram a tomar tal atitude. A primeira questão é que ela nunca digeriu o fato de, sendo filha de quem é, não ter sido apoiada pelo governador, quando de sua postulação a uma vaga na Câmara Municipal de João Pessoa em 2012.  O outro motivo foi exposto por Luis Torres, Secretario de Comunicação do governo. Torres disse que o que inspirou a vereadora foi “... uma ou duas alterações, em cargos comissionados, de nomes que eram ligados a ela, na cidade de São José de Piranhas”.

Mas, em política, um fato nunca se dá de forma isolada. Eu explico. O ato tresloucado da vereadora Raissa pode ter sido, também, um (mais um) balão de ensaio para se testar a viabilidade do fim da aliança entre o governador Ricardo e o senador Cássio. Antigamente, antes de se fazer subir uma aeronave com passageiros, se lançava um pequeno balão para verificar a direção dos ventos.  Na política, balão de ensaio pode ser um boato, ou um fato, que se lança ao ar para que se possa sondar reações e opiniões. Como todo balão, o de Raissa subiu, subiu, e explodiu. A ideia era provocar uma reação em cadeia. Como alguns “cassistas”, do governo de Ricardo, torcem pelo fim da aliança, queria-se provoca-la com uma ação incendiária aparentemente inconsequente.

Pareceu-me que intensão era de, através do ato da vereadora, acender o rastilho de pólvora que, adiantaria os acontecimentos, e provocaria o fim da aliança, com o consequente lançamento da candidatura de Cássio Cunha Lima ao governo. Mas, faltou mesmo combinar com os russos. José Lacerda, tal qual o pai o noiva, não sabia o que sua filha pretendia fazer. Mesmo não concordando com o rompimento, ele foi até o governador para entregar o cargo de secretario de articulação política. O governador Ricardo foi hábil. Ele não só convenceu Lacerda a ficar no governo, como ainda o fez dar uma declaração repudiando o ato infeliz de sua filha. Lacerda disse que ficou comovido com a atitude de Ricardo Coutinho. Mas, como essa família é emotiva!


O presidente estadual do PSD, partido de Raíssa, e vice-governador do Estado, Rômulo Gouveia, deu uma declaração para explodir o balão de ensaio da vereadora. Primeiro, ele disse que seu partido dá apoio incondicional a reeleição de Ricardo Coutinho. Disse, também, que a opinião da vereadora Raíssa é pessoal, isolada, e que não reflete a opinião de seu partido. Rômulo afirmou que fica ao lado de Ricardo em qualquer cenário político, inclusive no que venha a contemplar o rompimento da aliança. Como é remota a possibilidade de Rômulo se afastar de Cássio, e como o governador e seu vice se mostram unidos, o balão de ensaio da vereadora se evaporou na atmosfera. O fato é que ela deu uma cartada muito alta para um cacife político tão baixo.

O vereador Renato Martins, também do PSD, repreendeu a atitude de Raissa. Ele disse que a vereadora estava fora de si, quando fez tais declarações, porque em perfeito juízo o que se quer é criar soluções. Com sua atitude kamikaze, a vereadora Raíssa se isolou. Já os estrategistas da política paraibana acompanharam o voo desse balão e souberam tirar as lições necessárias para quando forem lançar a verdadeira aeronave rumo às eleições de outubro.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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