A capacidade de
transferência de votos de um líder político pode variar entre uma eleição e
outra. Ou seja, ela não é constante. Como se sabe, Lula bancou a eleição de
Dilma Rousseff em 2010. Quem não lembra que ele dizia que votar em Dilma era,
na verdade, votar em Lula. De fato, foi isso mesmo que aconteceu. Hoje, pairam
dúvidas sobre de que maneira Lula influenciará no projeto visando à reeleição
de Dilma. Entre os petistas, há quem defenda que Lula deve aparecer pouco. Há
quem ache que Lula pode até atrapalhar mais do que ajudar, devido à forma
complacente como ele se comportou em relação, por exemplo, a condenação dos mensaleiros.
O fato, é que não basta um líder político pedir para se votar num
determinado candidato, ele tem que ser merecedor, aos olhos do eleitor, claro,
da transferência de votos. É preciso que se saiba que a transferência de votos
não é algo automático. Não basta o líder politico pedir para se votar em quem
ele bem queira. Cada eleição tem o seu dilema. Em 2010, muito se questionou
como é que Dilma poderia ser eleita enquanto seus companheiros de partido
enfrentavam o banco dos réus. Mas, hoje, Dilma poderá dizer que, ao contrário
de Lula, nada fez para impedir não só o julgamento como a condenação. A
presidente poderá se mostrar independente de Lula exemplificando um
comportamento diverso em questões como o mensalão.
Em 2010 Dilma era o poste de Lula, mas em 2014 ela deverá ter e ser seu
próprio poste. Para quem não conhece, eu explico o dilema do poste. Em 2008, se
dizia que existiam políticos, tão populares e tão bem avaliados, que poderiam
eleger até mesmo um poste. O dilema do poste se tornou conhecido com o advento
da reeleição, a proibição dos governantes buscarem vários mandatos para o mesmo
cargo e as restrições impostas para que colocassem parentes como sucessores,
principalmente nos municípios. Foi o
caso de Campina Grande em 2012 quando Veneziano Vital terminava seu 2º mandato.
Ele não podia mais ser candidato e a legislação eleitoral lhe vedava a
possibilidade de lançar alguém de seu grupo político-familiar.
A solução foi sacar alguém de sua equipe para lhe fazer às vezes de sucessor
político. Ter um aliado de confiança como sucessor é estratégico, pois os
partidos e os políticos não querem deixar o governo para um adversário, por
motivos mais do que óbvios. Além do mais, quando o líder político torna-se cabo
eleitoral está trabalhando em prol de sua própria popularidade. Enquanto ele
pede votos para seu aliado, aumenta sua exposição, fala do que fez e turbina
seus projetos políticos futuros. Nas eleições estaduais de 2010, Ricardo
Coutinho e Cássio Cunha Lima selaram uma aliança. Ambos lutaram para não se
colocarem na incômoda posição de poste da liderança.
Mas, Ricardo saiu fragilizado daquele processo perante Cássio. É que
Ricardo só se elegeu governador graças à capacidade de transferência de votos
de Cássio. Se não fossem aqueles mais de 1 milhão de votos que o senador teve,
provavelmente o governador da Paraíba, hoje, seria José Maranhão. Este é um
jogo delicado, pois se em caso de vitória a demonstração de força é inequívoca,
em caso de derrota, o poder da liderança fica sendo questionado. Vejam, por
exemplo, o caso de Veneziano que não elegeu seu poste, digo sua candidata.
Não fazer o
sucessor é uma das piores derrotas que um líder político pode sofrer. Este é
sempre um jogo de aposta alta. Foi este o dilema que Lula enfrentou em 2010,
resolvido a seu favor. Hoje, Dilma parece se dar ao luxo de não enfrentar este
dilema. Ricardo Coutinho não vai enfrentar o dilema do poste, pois é candidato
a reeleição. Cássio Cunha Lima tem ponderado ser candidato a governador, talvez
por entender que, nas eleições 2014, não haverá espaço para postes, cadeiras,
bimbos e outras coisas. Entendamos o dilema do poste por outro ângulo. Se
Veneziano Vital tivesse saído das eleições 2012 vitorioso, se ele tivesse
elegido seu poste, hoje suas pretensões eleitorais seriam bem mais sólidas e
ele não estaria enfrentando tantas dificuldades.
O tamanho do
dilema é proporcional à situação que possui cada ator político. Em 2012, Romero
Rodrigues tinha uma situação bem mais cômoda, pois Cássio Cunha Lima vinha
colecionando vitórias em se tratando da taxa de transferência de votos. Até as
eleições de 2012, a questão girava em torno de se o líder transfere votos, de
quanto ele consegue transferir e se isso elege até um poste. Neste ano o dilema
parece ser outro. Parece haver uma tendência a se rejeitar os postes sejam eles
quais forem. Com tantos candidatos buscando reeleição, e com os exemplos da
relação política entre Dilma e Lula, os principais líderes da política nacional
e regional vão preferir irem diretamente às urnas, deixando seus postes bem
guardados e ao alcance da mão para quaisquer eventualidades.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES
SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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