A expressão
“deixar a raposa no galinheiro” demonstra a paradoxal situação de quem nunca
poderia ocupar um determinado lugar. A raposa não poderia jamais tomar conta do
galinheiro pela predileção que tem em saborear galináceos. No Brasil, para onde
quer que olhemos tem sempre uma raposa tomando conta de um galinheiro. Não é
incomum vermos larápios contumazes do erário a frente de órgãos responsáveis
pelas finanças públicas.
No Congresso
Nacional, e nos parlamentos estaduais e municipais, o que mais se vê são
raposas ocupando galinheiros. As bancadas temáticas são exatamente isso. A
bancada da bola é formada por deputados provenientes do meio futebolístico. A
bancada cristã é, em sua grande maioria, disposta por pastores evangélicos. A
bancada ruralista é composta pelos homens do agronegócio. A bancada
sindicalista é montada pelos que são eleitos pelas categorias profissionais que
representam. Essas bancadas fomentam os lobbys, i.e., os grupos de pressão e/ou
interesse, que vão, literalmente, legislar em causa própria.
Não é de hoje
que acompanhamos, por exemplo, a celeuma em torno da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados. É que essa Comissão se tornou o galinheiro
mais cobiçado do Congresso pelas raposas, defensoras de uma agenda
conservadora, que querem revisar conquistas no campo dos direitos humanos e
sociais que fomos, às duras penas, conquistando. Como se não bastasse a
Comissão dos Direitos Humanos ter sido presidida pelo pastor evangélico e
Deputado Federal Marco Feliciano (PSC), que assumiu claramente uma postura
racista e homofóbica, agora o capitão do Exército, também deputado federal,
Jair Bolsonaro é um de seus membros e até quis presidi-la.
Bolsonaro é do Partido Progressista, uma das costelas da antiga ARENA, o
partido que dava sustentação ao regime militar implantado em 1964. Tal qual
Feliciano, Bolsonaro é racista, homofóbico e defensor intransigente da
instituição da pena de morte no Brasil. A Comissão dos Direitos Humanos foi
criada em 1995 e sempre foi presidida pelos partidos à esquerda do espectro
político. Como presidente ela já teve, por exemplo, o deputado carioca Miro
Teixeira, um histórico defensor de causas e direitos sociais. A questão é:
como, e porque, essa Comissão foi cair nas mãos de uma direita raivosamente
conservadora. Os partidos (o PT e o PMDB, inclusive e principalmente) são
responsáveis, pois essa comissão é tida como de menor relevância lá em
Brasília.
É isso mesmo que você acabou de ouvir. Na Câmara dos Deputados, a Comissão
dos Direitos Humanos não é valorizada, pois ela traz poucos dividendos
eleitorais. Feliciano e Bolsonaro cobiçam a Comissão para agradar eleitores tão
reacionários quanto eles. Bolsonaro disse que tentou ser presidente da Comissão
por um mero jogo político. A ideia era chantagear o PT e barganhar mais um
ministério. O PP propôs deixar a Comissão de Direitos Humanos nas mãos do PT em
troca das Minas e Energias. Antônio Augusto Queiroz, autor do livro “Por dentro
do governo” e membro do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (o
DIAP), disse que a Comissão não caiu nas mãos de Feliciano e Bolsonaro por mero
acaso ou acidente.
É que os partidos querem comissões relevantes, como a de Constituição e
Justiça e a de Finanças e Tributação. Como a Comissão dos Direitos Humanos não
é prioritária sobra para essa gente de mente obscura. O que conduz um militar
racista e homofóbico, para a questão dos direitos humanos, é este pesado jogo
de interesses. O jornal espanhol El País trouxe uma matéria com Bolsonaro. Ela
é, no mínimo, desconcertante para os que entendem que as liberdades civis e os
direitos sociais são fruto das lutas travadas, pelo mundo afora, a partir da
metade do século XIX.
Bolsonaro é daqueles que não tem vergonha de mostrar toda sua estupidez.
Pior, ela age com a convicção de que sua estultice deve ser apresentada como
qualidade. Ele fala as maiores barbaridades e ainda se vangloria de poder
dizê-las. Na entrevista ao El País, Bolsonaro desandou, para nossa vergonha, a
pronunciar uma verborragia insana. Ele chamou a presidente Dilma Rousseff de
“terrorista” numa demonstração de nenhum respeito para com a instituição que a
presidente representa. Ele disse que os “pobres devem parar de ter filhos” numa
claríssima reprodução do ideário nazista. Hitler defendia a esterilização de
mulheres pobres para estancar o crescimento das classes sociais desfavorecidas.
Bolsonaro disse,
ainda, que “as pessoas se tornam gays por causa do comportamento, do consumo de
drogas e das amizades” e que as “novelas incentivam por mostrarem gays sempre
bem sucedidos com carrões”. Ele disse, também, que “a minoria tem que se calar
e se curvar ante a maioria”. Foi pensando dessa forma que Hitler começou a
política de extermínio de judeus, ciganos, homossexuais, comunistas, numa
palavra, as ditas minorias. PORCA MISÉRIA ESSA NOSSA! Enquanto uns lutam por
direitos básicos, a Comissão de Direitos humanos se torna, tal qual o
galinheiro, presa fácil de raposas fundamentalistas que veem o que lhes são
diferentes como um mal a se combater.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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