Ontem, eu falei
das justificativas para que o poder público subvencione os eventos religiosos
em nossa cidade nos dias de carnaval. O prefeito Romero Rodrigues disse que é
fundamental apoiá-los, pois esses eventos trazem serenidade a Campina Grande.
Romero afirmou que os eventos religiosos promovem uma reflexão, que isso
estabelece a paz na cidade e, consequentemente, diminui a violência. Mas, essa
justificativa me parece frágil, pois os promotores da violência não participam
dos eventos. E não me consta que as pessoas que se dispõem a participar dos
eventos religiosos possam sair por aí praticando atos de violência. Se assim
fosse, bastaria promover eventos religiosos, todos os meses do ano, e não mais
sofreríamos com a violência.
O prefeito ainda lembrou que não há uma distribuição igualitária dos
valores subvencionados e que o critério que define a quantidade de recursos,
para cada evento, é o da demanda que este venha a apresentar. Isso faz total sentido.
Quanto mais pessoas acorrem a um desses eventos, mas popular ele fica e mais
densidade eleitoral apresenta. É bom não esquecer que nos encontros
evangélicos, por exemplo, a maioria dos frequentadores são moradores, e
eleitores, de Campina Grande. Em 2013, Fabio Ronaldo, do Encontro da Nova
Consciência, disse que a contribuição da prefeitura, no valor de R$ 90 mil,
valoriza o entendimento entre os diversos segmentos espirituais. Este ano a
“Nova Consciência” teve subvenção de R$ 100 mil.
Eu não entendo a relação desigual entre a demanda religiosa e a oferta
financeira. Pois se é fato que a subvenção aumentou, é fato, também, que este
evento tem diminuído de tamanho. Vejam como era a “Nova Consciência” há 10 anos
atrás e como ela é hoje. Isso talvez aconteça pela tendência que os
participantes da Nova Consciência têm de se restringirem a pequenos grupos,
cada vez mais infensos ao movimento. Se a demanda da Nova Consciência diminui a
cada ano, porque se aumentar a subvenção? Claro, os eventos das Igrejas
evangélicas foram ocupando cada vez mais espaço. Houve uma época em que a “Nova
Consciência” reinava sozinha durante o carnaval. Hoje, ela tem que dividir
espaço nessa Torre de Babel religiosa campinense.
Outros eventos religiosos foram contemplados com a benevolência do poder
público municipal que a cada ano, no período carnavalesco, abandona seu
laicismo constitucional para se tornar um braço material das religiões. O
encontro dos Católicos, o Crescer, recebeu R$ 55 mil em 2013 e este ano foi
contemplado com R$ 65 mil. Ainda receberam subvenções os “Remidos do Senhor”
(R$ 7,5 mil), uma certa “Igreja Adventista” (R$ 12 mil) e os “Amigos da Torá”
(R$ 15 mil). A exceção a essa regra é o Movimento de Integração do Espírita
Paraibano (MIEP) que este ano irá realizar sua 41ª edição. No tempo em que
Campina Grande se tornava um grande deserto de pessoas, nos dias de carnaval,
os espíritas já promoviam seu evento.
Segundo seu coordenador, Ivanildo Fernandes, o MIEP não recebe ajuda
oficial por questões filosóficas e doutrinárias. Mas, ele não nega a
importância da prefeitura para se garantir, por exemplo, questões relativas à
infraestrutura dos eventos. No entanto, Ivanildo foi categórico ao afirmar que
os espíritas são contra que se use o erário para se fazer proselitismo
religioso. Eles não concordam que se monte um evento, com dinheiro público,
para se buscar conquistar novos adeptos.
Mas, a polêmica está bem longe de ser resolvida. Pois, não se pode negar
que os eventos religiosos movimentam a cidade, do ponto de vista econômico,
justamente numa época do ano em que a cidade ficava condenada ao ostracismo.
Sempre se poderá dizer que o dinheiro que a prefeitura doa, para que as religiões organizem seus eventos, retorna para a cidade na forma, por exemplo, dos impostos pagos pelos estabelecimentos comerciais que recebem turistas religiosos. Já se disse, também, que não é justo se retirar verbas da saúde e da educação, por exemplo, para se promover eventos religiosos. O pastor Euder Faber garantiu que o dinheiro não sai das verbas da saúde e da educação. Ótimo, é bom saber disso. Mas, é preciso elencar prioridades numa conjuntura onde as demandas são sempre muito altas e os recursos são sempre muito baixos. O que não podemos nunca, jamais, esquecer é que, se o Estado é laico, questões espirituais não podem ser prioritárias para o poder público municipal.
Também, devemos
ficar alertas para o fato de que comercializar, em um mesmo espaço público,
produtos religiosos, indulgências e até mesmo a crença das pessoas não é ético,
não é moral, muito menos espiritual. De minha parte, sigo concordando com
Gilberto Gil que cantava que para falar com Deus não é preciso ter nada
material, basta ficar a sós, folgar os nós, apagar a luz, calar a voz e
encontrar a paz.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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