sábado, 22 de fevereiro de 2014

“QUANTO VALE A SUA FÉ? PARTE II”


Ontem, eu falei das justificativas para que o poder público subvencione os eventos religiosos em nossa cidade nos dias de carnaval. O prefeito Romero Rodrigues disse que é fundamental apoiá-los, pois esses eventos trazem serenidade a Campina Grande. Romero afirmou que os eventos religiosos promovem uma reflexão, que isso estabelece a paz na cidade e, consequentemente, diminui a violência. Mas, essa justificativa me parece frágil, pois os promotores da violência não participam dos eventos. E não me consta que as pessoas que se dispõem a participar dos eventos religiosos possam sair por aí praticando atos de violência. Se assim fosse, bastaria promover eventos religiosos, todos os meses do ano, e não mais sofreríamos com a violência.

O prefeito ainda lembrou que não há uma distribuição igualitária dos valores subvencionados e que o critério que define a quantidade de recursos, para cada evento, é o da demanda que este venha a apresentar. Isso faz total sentido. Quanto mais pessoas acorrem a um desses eventos, mas popular ele fica e mais densidade eleitoral apresenta. É bom não esquecer que nos encontros evangélicos, por exemplo, a maioria dos frequentadores são moradores, e eleitores, de Campina Grande. Em 2013, Fabio Ronaldo, do Encontro da Nova Consciência, disse que a contribuição da prefeitura, no valor de R$ 90 mil, valoriza o entendimento entre os diversos segmentos espirituais. Este ano a “Nova Consciência” teve subvenção de R$ 100 mil.

Eu não entendo a relação desigual entre a demanda religiosa e a oferta financeira. Pois se é fato que a subvenção aumentou, é fato, também, que este evento tem diminuído de tamanho. Vejam como era a “Nova Consciência” há 10 anos atrás e como ela é hoje. Isso talvez aconteça pela tendência que os participantes da Nova Consciência têm de se restringirem a pequenos grupos, cada vez mais infensos ao movimento. Se a demanda da Nova Consciência diminui a cada ano, porque se aumentar a subvenção? Claro, os eventos das Igrejas evangélicas foram ocupando cada vez mais espaço. Houve uma época em que a “Nova Consciência” reinava sozinha durante o carnaval. Hoje, ela tem que dividir espaço nessa Torre de Babel religiosa campinense.

Outros eventos religiosos foram contemplados com a benevolência do poder público municipal que a cada ano, no período carnavalesco, abandona seu laicismo constitucional para se tornar um braço material das religiões. O encontro dos Católicos, o Crescer, recebeu R$ 55 mil em 2013 e este ano foi contemplado com R$ 65 mil. Ainda receberam subvenções os “Remidos do Senhor” (R$ 7,5 mil), uma certa “Igreja Adventista” (R$ 12 mil) e os “Amigos da Torá” (R$ 15 mil). A exceção a essa regra é o Movimento de Integração do Espírita Paraibano (MIEP) que este ano irá realizar sua 41ª edição. No tempo em que Campina Grande se tornava um grande deserto de pessoas, nos dias de carnaval, os espíritas já promoviam seu evento.

Segundo seu coordenador, Ivanildo Fernandes, o MIEP não recebe ajuda oficial por questões filosóficas e doutrinárias. Mas, ele não nega a importância da prefeitura para se garantir, por exemplo, questões relativas à infraestrutura dos eventos. No entanto, Ivanildo foi categórico ao afirmar que os espíritas são contra que se use o erário para se fazer proselitismo religioso. Eles não concordam que se monte um evento, com dinheiro público, para se buscar conquistar novos adeptos.  Mas, a polêmica está bem longe de ser resolvida. Pois, não se pode negar que os eventos religiosos movimentam a cidade, do ponto de vista econômico, justamente numa época do ano em que a cidade ficava condenada ao ostracismo.

 

Sempre se poderá dizer que o dinheiro que a prefeitura doa, para que as religiões organizem seus eventos, retorna para a cidade na forma, por exemplo, dos impostos pagos pelos estabelecimentos comerciais que recebem turistas religiosos. Já se disse, também, que não é justo se retirar verbas da saúde e da educação, por exemplo, para se promover eventos religiosos. O pastor Euder Faber garantiu que o dinheiro não sai das verbas da saúde e da educação. Ótimo, é bom saber disso. Mas, é preciso elencar prioridades numa conjuntura onde as demandas são sempre muito altas e os recursos são sempre muito baixos. O que não podemos nunca, jamais, esquecer é que, se o Estado é laico, questões espirituais não podem ser prioritárias para o poder público municipal.

Também, devemos ficar alertas para o fato de que comercializar, em um mesmo espaço público, produtos religiosos, indulgências e até mesmo a crença das pessoas não é ético, não é moral, muito menos espiritual. De minha parte, sigo concordando com Gilberto Gil que cantava que para falar com Deus não é preciso ter nada material, basta ficar a sós, folgar os nós, apagar a luz, calar a voz e encontrar a paz.

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