quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

AFINAL, QUEM VAI ACATAR A LEI DA FICHA LIMPA?


Cada eleição tem suas especificidades. São as variáveis únicas, ou as características próprias, que diferenciam a eleição que está por vir da eleição que se foi. As eleições 2014 já possuem seu primeiro grande diferencial. É que essa será a primeira vez que a Lei da Ficha Limpa será aplicada em eleições gerais. Isso pode parecer pouco, o caro ouvinte poderá me dizer: “mas, e daí, se pouca coisa mudou desde o advento dessa lei?”. De fato, quando o assunto, no Brasil, é reforma política as coisas andam a passos de tartaruga e sem nenhuma vontade. Mas, alguma coisa mudou, pois os partidos políticos estam trabalhando para retirar, de suas listas de candidatos, o político “ficha suja”.

 Lentamente, eles vão entendendo que não adianta tentar registrar a candidatura de um político, que já teve contas rejeitadas, ou que já foi enquadrado na tal conduta vedada – o eufemismo adotado para que se finja que não se cometeu algum tipo de crime. A Lei da Ficha Limpa foi publicada no Diário Oficial, i.e., passou a ter validade, em 07/06/2010. Mas, ela só foi aplicada pela primeira vez nas eleições municipais de 2012. É que havia uma enorme polêmica sobre quando, e como, ela deveria passar a valer.  A elite política fez de tudo para que essa lei não fosse utilizada. Questionou-se, junto a STF, se ela era constitucional, se não feria o princípio da razoabilidade e da inocência prévia e se ela poderia valer para a eleição de 2012.
  
As eleições de 2014 serão as primeiras onde a lei poderá ser aplicada em sua íntegra sem que se preocupe com seus efeitos retroativos. Isto se algum advogado, a soldo de algum partido, não resolver questionar algum aspecto sombrio da lei. O que mais preocupa os políticos é o item que torna inelegível, nos próximos oito anos contados da decisão, os que tiverem suas contas, de exercício de cargo ou função pública, rejeitadas pelas chamadas irregularidades insanáveis. O que tira o sono dos políticos é que o ato doloso da improbidade administrativa não tem passado ao largo da Lei da Ficha Limpa. Foi com base nisso que o TSE negou registro, a mais de 200 candidatos, eleitos prefeitos em 2012 pelo Brasil afora.
  
É por isso que o TCE/PB está fazendo o levantamento dos gestores com contas julgadas irregulares entre 2006 e 2014. A partir disso serão elaboradas as famosas, e temidas, listas dos “fichas sujas” para serem remetidas a justiça eleitoral. Interessa ver que no último “troca-troca” partidário as legendas andaram rejeitando políticos com a ficha suja por recearem chamar atenção da justiça eleitoral. Os partidos querem sair bem na foto quando dizem que não possuem candidatos ficha suja. Mas, isso não significa que exista a disposição, no meio político, de não mais cometer as tais hipóteses de inelegibilidade. A ameaça de ser atingido pela lei da Ficha Limpa não deve servir para desencorajar os contumazes praticantes das tais condutas vedadas.
  
O presidente do PSDB paraibano, deputado Ruy Carneiro, disse que seu partido desencoraja políticos, enquadrados na Lei da Ficha Limpa, a tentarem garantir a legenda tucana para disputarem cargos. Mas, ao mesmo tempo, ele lamentou que amigos seus não puderam disputar a eleição de 2012 por estarem respondendo a processos junto ao TRE. Já o ex-governador José Maranhão afirmou que seu partido, o PMDB, não se preocupa com a Lei da Ficha limpa. Segundo ele, não se encontra no PMDB ninguém que destoe dos padrões éticos e eleitorais definidos pelo diretório estadual. José Maranhão só não explica como é que seu partido controla os padrões éticos de todos os seus filiados.
  
O ex-senador Efraim Morais afirmou que “o Democratas está limpo” e que não apresentará postulações descumpridoras da lei. Efraim disse que o DEM não aceita enquadrados na Lei da Ficha Limpa. Que bom que é assim, temia que fosse o contrário. O presidente do PT estadual, Charliton Machado, disse que seu partido vai cumprir aquilo que diz a legislação. Charliton disse que o PT será duro com qualquer filiado seu que por ventura venha a ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Mas, isso é o mínimo que se espera do partido que ocupa o poder central do país. Apesar de que se o PT julga seus mensaleiros inocentes o que dirá daqueles que tiveram contas rejeitadas? O presidente do PPS, Nonato Bandeira, foi sensato em sua avaliação.
  
Ele disse que partidos e sociedade não estam fazendo mais do que a obrigação em observar o que diz a lei e até mesmo em identificar os políticos “fichas sujas”. Nonato afirmou que tem aconselhado alguns “fichas sujas” a não se candidatarem. Não deixa de auspicioso ver que os partidos baixaram a guarda em relação à lei da Ficha Limpa. Mas, preocupa o fato deles agirem como se estivessem fazendo um enorme favor em respeitá-la. É estranho ver que eles queiram ganhar votos em cima do fato de estarem respeitando a lei. Afinal, quando é que vamos entender a atitude de ser honesto não pode ser um diferencial e sim uma obrigação?

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