Nos dias do
Carnaval de 2013 eu me dei ao trabalho de, discretamente, assistir alguns
eventos dos muitos encontros religiosos que acontecem em Campina Grande. Não,
eu não estava buscando uma dessas religiões, ou mesmo uma seita, para aderir.
Eu não estava motivado por questões espirituais, pois eu tenho um modo um tanto
quanto particular de manifestar minhas crenças sem que seja preciso entrar em
templos, participar de eventos ou mesmo frequentar algum tipo de ritual tribal.
Na verdade, eu estava interessado em saber de que maneira os organizadores
desses eventos investem e/ou gastam as verbas que a Prefeitura Municipal de
Campina Grande lhes entrega a título de subvenção, ou seja, em nome de uma
ajuda do poder público.
Eu estava, ainda estou, interessado em saber como é que o nosso dinheiro
está sendo utilizado nesses eventos religiosos. E qual foi a minha surpresa
quando, num desses eventos, ouvi a seguinte pregação que era proferida por um
líder religioso. Dizia ele a uma audiência repleta de fiéis atentos: “Vocês não
tem que ter vergonha de ofertar ao Senhor Jesus. Vocês podem ofertar da maneira
que quiserem. Se quiserem em dinheiro é só vir aqui ao lado. Mas, se quiserem
passar o cartão, os nossos colaboradores estam indo aí, perto de vocês, com as
maquinetas”. Eu fiquei pasmo e incrédulo em meio a tantos crentes. As pessoas
estavam sendo convidadas (ou deveríamos dizer intimadas?) a doarem seus dízimos
através do cartão de crédito. Será que eles aceitariam que se parcelasse o
dízimo em dez vezes sem juros?
Na mesma hora, lembrei-me das indulgências que os cristãos pagavam durante
a Idade Média. Em seus primórdios, a Igreja impunha pesadas penas morais e
carnais para que os cristãos pudessem remir seus pecados. A absolvição só era
dada aos penitentes que reconhecessem seus pecados e se submetessem a pesadas
penas. Era comum o pecador ser condenado a jejuar por 40 dias até o pôr do sol,
trajando molambos e usando o silício para a autoflagelação. Já na baixa Idade
Média a Igreja comutou as penitências pelo pagamento das indulgências. Tudo
ficou mais fácil. Bastava reconhecer os pecados e por ele pagar uma quantia que
era, claro, depositada nos cofres da própria Igreja.
Hoje em dia, muitas religiões cobram de seus fiéis seguidores o chamado
dízimo. Não deixa de ser uma forma das pessoas limparem suas consciências.
Também é uma maneira de não se perder a esperança de ir para o reino do Todo
Poderoso após a morte. Mas, se é assim, porque esses eventos precisam de
dinheiro público para serem realizados? Não bastaria as Igrejas pedirem a
contribuição dos seus seguidores para a montagem de seus eventos? Baseada em que a PMCG faz essas doações? No
ano passado, o prefeito Romero Rodrigues disse que, “apesar das dificuldades, o
governo não deixaria de apoiar eventos que projetam Campina no cenário
turístico nacional”. Tinha razão o prefeito, os eventos injetam recursos na
economia da cidade.
Mas, a única
forma da Prefeitura contribuir com esses eventos é entregando recursos
financeiros aos seus promotores? Não custa lembrar que a maioria dos eventos
são autossustentáveis do ponto de vista econômico. O Encontro da Consciência
Cristão, um evento que congrega quase todas as Igrejas evangélicas da cidade, e
que acontece no Parque do Povo, recebeu R$ 140 mil da prefeitura em 2013. Este
ano a subvenção foi de R$ 160 mil. O evento é patrocinado por empresas e os
evangélicos lotam suas dependências pagando ingressos e doando dízimos. Um dos
coordenadores do evento, o pasto Euder Faber, tem uma justificativa,
aparentemente plausível, para a subvenção da PMCG.
No ano passado,
ele afirmou que “a ação do prefeito merece reconhecimento, pois contribui para
o crescimento espiritual do povo de Campina Grande”. Mas, porque o poder
público deve promover o crescimento espiritual de seus cidadãos? Ao que me
conste, cabe à prefeitura promover o desenvolvimento econômico e social de seus
cidadãos. Até porque, nunca esqueçamos isso, o Estado brasileiro é
constitucionalmente laico, ou seja, ele não pode aceitar ou receber influências
religiosas. A prefeitura já dá grande contribuição para o evento evangélico
quando cede o Parque, que é de todo o povo de Campina Grande, não apenas dos
evangélicos, para que um determinado ramo religioso promova seu evento.
É estranho que o
local onde se realiza nossa festa maior, o São João, seja privatizado por
alguns dias para a realização de um evento religioso. Eu fico me perguntando se
a coordenação do evento tem alguma contrapartida a dar a prefeitura. O fato é
que todos os anos, quando da realização desses eventos, eu fico sempre a me
perguntar se é realmente necessário pagar para se ter fé. Amanhã, eu vou
continuar a analisar essa questão na segunda parte da coluna: “QUANTO VALE A SUA FÉ?”.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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