quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

QUANTO VALE A SUA FÉ? PARTE I


Nos dias do Carnaval de 2013 eu me dei ao trabalho de, discretamente, assistir alguns eventos dos muitos encontros religiosos que acontecem em Campina Grande. Não, eu não estava buscando uma dessas religiões, ou mesmo uma seita, para aderir. Eu não estava motivado por questões espirituais, pois eu tenho um modo um tanto quanto particular de manifestar minhas crenças sem que seja preciso entrar em templos, participar de eventos ou mesmo frequentar algum tipo de ritual tribal. Na verdade, eu estava interessado em saber de que maneira os organizadores desses eventos investem e/ou gastam as verbas que a Prefeitura Municipal de Campina Grande lhes entrega a título de subvenção, ou seja, em nome de uma ajuda do poder público.

Eu estava, ainda estou, interessado em saber como é que o nosso dinheiro está sendo utilizado nesses eventos religiosos. E qual foi a minha surpresa quando, num desses eventos, ouvi a seguinte pregação que era proferida por um líder religioso. Dizia ele a uma audiência repleta de fiéis atentos: “Vocês não tem que ter vergonha de ofertar ao Senhor Jesus. Vocês podem ofertar da maneira que quiserem. Se quiserem em dinheiro é só vir aqui ao lado. Mas, se quiserem passar o cartão, os nossos colaboradores estam indo aí, perto de vocês, com as maquinetas”. Eu fiquei pasmo e incrédulo em meio a tantos crentes. As pessoas estavam sendo convidadas (ou deveríamos dizer intimadas?) a doarem seus dízimos através do cartão de crédito. Será que eles aceitariam que se parcelasse o dízimo em dez vezes sem juros?

Na mesma hora, lembrei-me das indulgências que os cristãos pagavam durante a Idade Média. Em seus primórdios, a Igreja impunha pesadas penas morais e carnais para que os cristãos pudessem remir seus pecados. A absolvição só era dada aos penitentes que reconhecessem seus pecados e se submetessem a pesadas penas. Era comum o pecador ser condenado a jejuar por 40 dias até o pôr do sol, trajando molambos e usando o silício para a autoflagelação. Já na baixa Idade Média a Igreja comutou as penitências pelo pagamento das indulgências. Tudo ficou mais fácil. Bastava reconhecer os pecados e por ele pagar uma quantia que era, claro, depositada nos cofres da própria Igreja.

Hoje em dia, muitas religiões cobram de seus fiéis seguidores o chamado dízimo. Não deixa de ser uma forma das pessoas limparem suas consciências. Também é uma maneira de não se perder a esperança de ir para o reino do Todo Poderoso após a morte. Mas, se é assim, porque esses eventos precisam de dinheiro público para serem realizados? Não bastaria as Igrejas pedirem a contribuição dos seus seguidores para a montagem de seus eventos?  Baseada em que a PMCG faz essas doações? No ano passado, o prefeito Romero Rodrigues disse que, “apesar das dificuldades, o governo não deixaria de apoiar eventos que projetam Campina no cenário turístico nacional”. Tinha razão o prefeito, os eventos injetam recursos na economia da cidade.

Mas, a única forma da Prefeitura contribuir com esses eventos é entregando recursos financeiros aos seus promotores? Não custa lembrar que a maioria dos eventos são autossustentáveis do ponto de vista econômico. O Encontro da Consciência Cristão, um evento que congrega quase todas as Igrejas evangélicas da cidade, e que acontece no Parque do Povo, recebeu R$ 140 mil da prefeitura em 2013. Este ano a subvenção foi de R$ 160 mil. O evento é patrocinado por empresas e os evangélicos lotam suas dependências pagando ingressos e doando dízimos. Um dos coordenadores do evento, o pasto Euder Faber, tem uma justificativa, aparentemente plausível, para a subvenção da PMCG.

 

No ano passado, ele afirmou que “a ação do prefeito merece reconhecimento, pois contribui para o crescimento espiritual do povo de Campina Grande”. Mas, porque o poder público deve promover o crescimento espiritual de seus cidadãos? Ao que me conste, cabe à prefeitura promover o desenvolvimento econômico e social de seus cidadãos. Até porque, nunca esqueçamos isso, o Estado brasileiro é constitucionalmente laico, ou seja, ele não pode aceitar ou receber influências religiosas. A prefeitura já dá grande contribuição para o evento evangélico quando cede o Parque, que é de todo o povo de Campina Grande, não apenas dos evangélicos, para que um determinado ramo religioso promova seu evento.

É estranho que o local onde se realiza nossa festa maior, o São João, seja privatizado por alguns dias para a realização de um evento religioso. Eu fico me perguntando se a coordenação do evento tem alguma contrapartida a dar a prefeitura. O fato é que todos os anos, quando da realização desses eventos, eu fico sempre a me perguntar se é realmente necessário pagar para se ter fé. Amanhã, eu vou continuar a analisar essa questão na segunda parte da coluna: “QUANTO VALE A SUA FÉ?”.

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