Eu voltei a conversar com meu amigo Citadino e ele
não anda nada satisfeito com o que tem visto na propaganda eleitoral dos
candidatos a prefeito de Campina Grande e João Pessoa. Mas, ele não me falou só
do guia eleitoral. Disse-me que foi ao site do TSE e viu que dos 415 candidatos
a vereador de Campina Grande, 41 estam com seus registros indeferidos, sendo
que 12 recorreram da decisão.
Ele não entende como um candidato pode ter seu
registro impugnado e mesmo assim seu nome continuar constando da lista de
candidatos. Podendo mesmo aparecer na urna eletrônica. Eu disse que é porque o
indeferido vai à justiça para reaver seu status de candidato. Citadino é
ingênuo, mas não é burro, e disse que os impugnados querem ter da justiça o que
não conseguem obter das urnas.
Citadino disse que tem três candidatos a vereador, em Campina, que são estudantes e declararam
não possuir bem algum. Mas, mesmo assim estam gastando entre 250 e 400 mil
reais em suas campanhas. Citadino ficou
impaciente e quis saber de onde virá esse dinheiro. Eu disse que é melhor ele
não me fazer perguntas difíceis, pois eu sou analista político e não um técnico
em finanças do Tribunal de Contas do Estado.
Citadino disse que tem candidatos a vereador que
declararam guardar dinheiro em casa. Disse que viu a declaração de um candidato
a reeleição onde ele afirma guardar a bagatela de 111 mil reais em casa, num
cofre. O fato é que virou moda entre os políticos guardarem seus valores em
casa. Citadino perguntou por que será que os políticos preferem manter dinheiro
em casa ao invés de guardar em um banco. Ele mesmo concluiu que deve ser porque
dinheiro em casa não precisa ter sua origem declarada. O dinheiro que se guarda
em casa entra e sai por vias nunca antes declaradas.
No caso dos candidatos a prefeito Citadino disse
que a única prestação de contas em que se pode crer é na de Sizenando Leal,
pois ele declara que vai gastar bem menos do que tem como patrimônio. Os outros seis candidatos declaram que vão gastar
bem mais do que o tamanho de seus patrimônios. O patrimônio deles varia entre
380.000 mil e 1 Milhão de reais. Mas, os gastos variam entre 2 e 6 milhões de
reais.
O que Citadino não entende é qual a garantia que
esses candidatos dão, de que vão honrar seus compromissos de campanha, se seus
patrimônios são bem menores do que o que eles pretendem gastar. Eu lembrei que
eles têm as doações que são registradas no TRE. Mas, Citadino me lembrou que
tem candidato que se recusa a dizer quem doou recursos para sua campanha, mesmo
sendo uma informação pública. Eu preferi me calar.
Eu provoquei Citadino sobre as propostas e ele
ficou irritadíssimo. Disse que os candidatos ficaram loucos de vez. Ele disse
que, em João Pessoa, prometeram que vão construir 11 mil casas. Como todo mundo
promete a mesma coisa, teve candidato que não se fez de rogado e disse que além
da casa vai dar geladeiras e fogões. Às vezes, Citadino é meio folgado e disse
que também quer uma casa.
Mas, ele quer uma casa mobiliada, com TV de plasma
e uma geladeira cheia de alimentos. Eu perguntei se ele não gostaria que a
geladeira viesse com muitas cervejas. Ele disse que só toma suco de laranja.
Citadino disse que os candidatos de Campina Grande
ficam disputando para ver quem promete construir mais casas populares, sem
dizer de onde virá o dinheiro. Mas, Citadino não é tolo e percebeu algo
interessante. Os candidatos prometem fazer a quantidade de casas referentes ao
seu número. Isso é uma estratégia para que o eleitor grave na mente o número do
candidato. Assim, se o número do candidato é 30, ele diz que vai fazer 30 mil
casas.
Meu intrépido observador viu que tem candidato
dizendo que vai dar um salário a mais para quem já é cadastrado no “Bolsa
Família”. Ele concluiu que vai ser dobrado feito tapioca. Tem candidato dizendo
que vai distribuir tablets para os estudantes da rede pública. Eu disse a
Citadino que isso funciona assim: o candidato promete às crianças, que não
votam, para que elas insistam com seus pais para que votem no candidato que fez
a promessa.
Citadino viu prometerem que vão instituir o passe
livre para estudantes. Tem candidato que não explica se é para todos os
estudantes de Campina Grande ou se apenas para os da rede pública. Citadino
disse que tem um amigo que trabalha numa empresa de transporte público que quer
saber quem é que vai apagar a conta. Ele não entende como se promete algo sem
se dizer como se vai pagar esse algo. E o pior é que nem eu, e muito menos Citadino,
entendemos também.