Na série de entrevistas sobre políticas públicas
para o enfrentamento a drogadição com os sete candidatos a prefeito de nossa cidade
eu vi um show de obviedades. O objetivo era saber quais são as propostas dos
candidatos no sentido de promover políticas públicas contra as drogas.
Parece-me que vamos continuar sem saber.
Eu comparei as
declarações que os candidatos deram na série sobre segurança pública com as que
foram dadas nesta série sobre o enfrentamento a drogadição. O caro ouvinte quer
saber o que conclui? Ou melhor, quer saber
qual a nítida impressão que tive ao comparar as duas séries? Cada candidato
parece ter um único texto sobre os dois temas. É como se eles tivessem colado,
mudando algumas coisas.
Todos fazem questão, cada um a seu modo, de
afirmarem que a segurança pública e a questão das drogas não estão no âmbito de
competência do governo municipal. Dos
sete candidatos, cinco iniciaram suas entrevistas fazendo essa afirmação. É
sempre o mesmo discurso. Eles começam dizendo que a questão não é
responsabilidade do poder público municipal.
É como se eles quisessem dizer: “no futuro, se eu
for eleito, não me cobrem por uma coisa que eu não tenho obrigação legal de
lidar”. Mas, para não passarem a impressão de descaso para com questões que
afetam a sociedade, eles citam políticas públicas como propostas.
E é aí é que eles demonstram não estarem preparados
para enfrentar a questão das drogas. Eles reproduzem pontos do discurso sobre a
segurança pública na tentativa de dizerem como vão lidar com as drogas.
Dos sete candidatos, quatro disseram que vão dotar
as escolas públicas com monitoramento eletrônico para combater o tráfico de
drogas, da mesma forma que disseram que é assim que combaterão a violência.
Disseram que a Guarda Municipal vai atuar no
combate às drogas. Aí é o de sempre. “Vamos aumentar o efetivo de guardas”; “a
guarda vai atuar junto à polícia”; “vamos criar mais uma guarda”; vamos isso,
vamos aquilo.
É não tem jeito. Virou moda. Nesta eleição, os
candidatos não param de propor a criação de todo tipo de guarda. Propuseram a
criação de uma guarda comunitária e a criação de uma guarda anjos da escola.
É impressionante, mas ninguém traz um estudo sério
demonstrando que câmeras nas escolas ou guarda municipal diminuem os índices de
jovens viciados em drogas. Ninguém traz uma proposta relevante.
E tem a mãe de todas as propostas. Aquela que os
candidatos elegem como a que é imbatível, que não pode ser questionada. É a
proposta, ou promessa, que está acima do bem e do mal. Os sete candidatos enfatizaram a criação, para os
de oposição, e a ampliação, para os de situação, das chamadas escolas de tempo
integral. Existe uma espécie de ideia-força entre eles nesta proposta.
Quanto mais tempo a criança e o jovem ficarem na
escola, menos serão expostos as drogas, a violência e criminalidade. Por essa
lógica, a escola seria uma espécie de bolha onde crianças e jovens ficariam
protegidos. Se essa ideia-força é correta, se a escola de tempo integral é
realmente eficiente para manter nossos filhos longe das drogas, eu sugiro que
eles fiquem nelas em regime de internato.
Claro, os candidatos dizem que vão construir mais
praças, locais de lazer e vilas olímpicas. É que eles acreditam que basta
colocar um equipamento desses num certo lugar para fazer com que as drogas se
evaporem. Meu caro Arquimedes eu vou lhe parafrasear: “data máxima vênia e, com
o devido respeito, vocês, caros candidatos, não entendem nada do assunto”.