quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Qual o dilema da eleição de São Paulo?






A eleição em São Paulo começou com a rivalidade entre PSDB e PT, com José Serra querendo ser candidato para viabilizar mais uma postulação para a presidência e com o PT prostrado esperando que Lula decidisse quem seria seu candidato.  Sem contar, as pequenas candidaturas, com suas siglas de aluguel, lutando por um lugar ao sol. Com as indefinições do PT e do PSDB, sobre quem seriam seus candidatos, até nisso eles se parecem, Celso Russomanno começou a aparecer.




Em agosto Serra (PSDB) e Russomanno (PRB) tinham 26% cada um, segundo o IBOPE. Paulo Haddad (PT) tinha 9%. Soninha (PPS), Chalita (PMDB) e Paulino da Força (PDT) tinham 5% cada um. Os outros seis candidatos tinham 1% ou menos do que isso. Agora, temos uma reviravolta. Ainda segundo o IBOPE, Russomanno está isolado em 1º lugar com 34%. Haddad vem em 2º com 18% e Serra em 3º com 17%. Chalita está em 4º com 7%. Soninha em 5º com 4%. Paulinho e Giannazi (PSOL) tem 1% cada um.




Outro dado importante é que nas simulações para o 2º turno Russomanno venceria tanto Haddad como Serra. No quesito rejeição, Serra, como sempre, ocupa o 1º lugar com 40%. Soninha vem em 2º com de 17% e Haddad em 3º com 16%. De forma sintomática, Russomanno tem uma rejeição de apenas 4 pontos percentuais. Hoje, ele é virtualmente o prefeito de São Paulo contrariando algumas lógicas seguidas regiamente no mundo da política.




Uma delas é que candidato com pouco tempo no guia eleitoral não ganha eleição. Serra e Haddad têm, cada um, 7’39”, Russomanno tem apenas 2’11”. Serra e Haddad montaram robustas coligações com partidos fortes, Russomanno tem uma coligação de nanicos. Haddad tem Lula como padrinho. Serra tem Fernando H. Cardoso. E Russomanno tem quem? Uma liderança nacional que lhe transfira votos? Não, não tem. Provavelmente, ele será mais uma daquelas peças que o eleitorado de São Paulo gosta de pregar.




A cabeça do eleitor paulistano não foi feita para ser entendida, pois o que ele gosta mesmo é surpreender. De 1983 até agora São Paulo teve prefeitos tão diferentes quanto foi possível se encontrar.  De Paulo Maluf e Jânio Quadros, passando por Mario Covas, até Luiza Erundina e Martha Suplicy.




Então qual é o fenômeno desse momento? Russomanno decifrou o dilema dessa eleição. Ele conseguiu entender, não me perguntem como, que o eleitor paulistano se cansou da bipolarização PSDB/PT. O paulistano entendeu que esta disputa parece superada na medida em que estes dois partidos têm poucas diferenças entre si. Eles não são diferentes ideologicamente, pelo contrário, possuem programas de governo bem parecidos.



Vejam que são comprometidos com a mesma política econômica pautada na estabilidade econômica e no crescimento pelo consumo. De tão parecidos praticam o mesmo expediente de aliciamento de apoios no parlamento, mais conhecido como mensalão.






O paulistano pode não ser lá muito coerente em seus votos, mas não é burro, percebeu o falso dilema e resolveu apoiar alguém que soube se colocar como alternativa. Mas, isso não explica o fenômeno por completo. Outra questão é a inclinação do paulistano aos valores conservadores. Candidatos com tendências liberais em São Paulo sofrem para conseguir apoios, que o diga Soninha defendendo a liberalização da maconha e outras modernidades assustadoras.




O fato é que Russomanno convence bem que é o candidato que mais reúne os valores do conservadorismo, tais como: individualismo, crença de que a iniciativa privada pode resolver problemas sociais e forte rejeição a que o Estado intervenha na sociedade.




Russomanno nega a política como uma instância inevitável da vida. Ele é acha que político é tudo igual e que politica só atrapalha. Ele surfa na onda do neoconservadorismo, pois os paulistanos pedem um politico desse tipo, como se quisessem parar o trem da modernidade.



Ele capitou apoios na comunidade evangélica ao ponto dos outros candidatos serem rechaçados por pastores e seus fiéis. A eleição descambou para a religião e rompeu. E rompeu com as garantias constitucionais de liberdade de culto e de expressão.




Mas, como a eleição de São Paulo ajuda a desenhar o cenário dos futuros embates eleitorais em Campina Grande? Pela exaustão das bipolaridades partidárias. Agora mesmo temos candidaturas que se colocam como independentes, mesmo não sendo.




É possível que no futuro tenhamos candidaturas passando ao largo dos grupos políticos hegemônicos. O neoconservadorismo paulistano pode vir a acontecer em Campina Grande a tirar por candidatos que praticam valores como a negação da política.




Historicamente, nossa cidade acompanha movimentos políticos surgidos nos grandes centros do país. Dessa forma, não descarto que, no futuro, possamos vir a ter um Celso Russomanno na política local. Alguém se habilita?