sexta-feira, 28 de setembro de 2012

“It’s the economy, stupid”







Nas eleições nos EUA em 1992, havia uma polêmica sobre que tema deveria dominar os debates entre os candidatos. George Bush (o pai) só queria falar do fim da guerra fria e da vitoriosa Guerra do Golfo em sua campanha para a reeleição. Como fazem ainda hoje, os americanos só pensavam no bolso. Bill Clinton tentava a todo custo impor a discussão econômica de olho nas pesquisas eleitorais. Assim, a disputa se dava entre o discurso patriótico de Bush e o discurso econômico de Clinton.




Foi quando James Carville, chefe de campanha de Bill Clinton, perdeu a paciência e pronunciou a famosa frase: “It’s the economy, stupid”. Ou seja, “é a economia, estúpido”. Ele queria dizer que o que importa para os eleitores é a economia. Clinton passou a dizer que a economia vai bem se os empregos estão assegurados, pois gera uma maior arrecadação de impostos que por sua vez leva a mais investimentos do Estado na sociedade.




Este exemplo mostra que a forma como o eleitor percebe a situação econômica influi em seu ânimo na hora de decidir em quem votar. Não esqueçamos que FHC se elegeu no embalo da estabilidade econômica, com o sucesso do plano Real. Eu quero dizer que não vejo a economia determinando tudo. No lugar de Carville teria dito “It’s the politic, stupid”. Ou seja, teria dito que a política é a instância mais importante, pois é nela onde se tomam as decisões, inclusive as econômicas.




Mas, porque eu estou falando nisso? Lembro-me dessa história todas as vezes que vejo os candidatos a prefeito de Campina Grande prometer de tudo. Só falta mesmo dizer que se eleitos vão realinhar os planetas. Agora mesmo virou moda entre os candidatos a promessa de ampliar o leque de serviços grátis ofertados pela prefeitura. Quase todos os candidatos já prometeram que, se eleitos, vão implantar algum tipo de serviço, pelo qual o cidadão não precisará pagar.




Aí tem de tudo e vale tudo. Em João Pessoa prometeram internet grátis e casa com geladeira e fogão. Aqui, prometem passe livre nos transportes públicos para estudantes, idosos, portadores de necessidade especiais, funcionários da prefeitura, etc, etc, etc. Prometem eventos culturais com preços subsidiados. Prometem que vão dar computador para estudante. Prometem remédios, roupas, alimentos, enfim, em troca do voto o cidadão vai ganhar uma verdadeira cesta de serviços.




Tudo isso “no 0800” como dizemos. Tudo “de grátis”, como dizem os paulistanos. Aliás, de graça? Não, claro que não. Quase nada é de graça. Se brincar até o oxigênio é pago, pois, só entramos nos lugares onde podemos respirar mais e melhor se pagarmos.




O conferencista, Stephen Kanitz, afirmou que “tudo é grátis e que tem até o bolsa algo grátis”. Para ele, é a compra de votos com dinheiro público, uma espécie de mensalão ao contrário. Não é a toa que as prefeituras quebram econômica e politicamente. Não há recursos para cumprir todas as promessas feitas. E quando se tenta cumpri-las o desequilíbrio nas contas irremediavelmente acontece e logo em seguida o desgaste político.




Vejamos, por exemplo, a promessa de instituir passe livre para estudantes da rede pública, inclusive nos finais de semana e no período de férias. O problema é que a coisa não fica de graça. Alguém tem que pagar a conta.



Eu só conheço três alternativas. A primeira é a prefeitura bancar, através de subsídios, os estudantes entrando nos ônibus pela porta de trás. A segunda é repassar para a tarifa os custos dos que andam sem pagar. O usuário paga sua tarifa e parte da tarifa dos que tem passe livre.




A terceira alternativa é o prefeito conseguir convencer os empresários do setor que eles já lucraram bastante e que devem abrir mão de parte desse lucro. Este prefeito, como sabemos, não nasceu ainda.










O caro ouvinte deve atentar para o fato que para que seu filho possa andar de graça no ônibus, a sua própria tarifa vai ficar mais cara. Ou seja, de uma forma ou de outra quem vai terminar pagando a conta da promessa é o próprio eleitor.




Quando um candidato prometer que o Estado vai ofertar um serviço público, tem que dizer quem pagará a conta. Deveria ser obrigado, por lei, a dizer de onde viria o dinheiro para que determinado grupo da sociedade acessasse um serviço sem por ele pagar. Se os candidatos não estam preocupados em se tornarem reféns de promessas irrealizáveis, muito menos eu. O problema é que sempre tem uma parcela do eleitorado que paga para ver e vota na esperança que a promessa seja efetivada.




Para o bem e para o mal, essas questões econômicas importam sim. Por isso que todas às vezes que vejo nossos candidatos prometerem desenfreadamente eu procuro me lembrar da frase do chefe de campanha de Bill Clinton.