Achamos que político é tudo igual. As eleições são,
também, todas iguais. Mas, ao mesmo tempo cada uma delas traz algo próprio. Uma
coisa que fica sendo a sua marca. Cabe aos candidatos definir que marca é essa.
Cada eleição tem um segredo próprio. Quem consegue
resolver este segredo, ou dilema, praticamente garante sua eleição. Ou pelo
menos não sai das urnas pior do que entrou. As eleições possuem praticamente o
mesmo roteiro, por onde candidatos e eleitores, além da mídia e das
instituições políticas, se guiam. São rotinas previsíveis com prazos e
procedimentos a cumprir.
Isso é ainda mais acentuado no Brasil já que temos
eleições a cada dois anos. Sem contar que não gostamos de fazer mudanças, do
contrário a Reforma Política já teria sido feita. Como não somos lá muito
afeitos a respeitar normas e como mudamos a lei a cada nova eleição, elas terminam
ganhando variações próprias e dinâmicas definidas que determinam procedimentos
únicos.
Cada eleição acontece
numa conjuntura própria, singular. E, como sabemos, conjunturas e nuvens mudam
ao sabor dos ventos. Existem fatos que ficam no entorno de cada eleição. Temos,
agora, o julgamento do Mensalão fazendo estragos em projetos eleitorais como do
ex-deputado João Paulo Cunha (PT) que teve que abortar sua candidatura a
prefeito de Osasco por já ter sido condenado.
Eleições são diferentes
pela dinâmica política ocorrida entre uma e outra. Barack Obama está tendo dificuldades nas eleições
desse ano. Se em 2008 ele poderia resolver a crise econômica, agora é
responsável por ela.
As mudanças socioculturais
que colocam ou retiram temas do debate eleitoral e a forma como o eleitor reage
a elas, dão novos ares aos processos eleitorais. Nas
eleições passadas discutíamos se era possível ou não utilizar as redes sociais
para fazer campanha. Nas eleições desse ano, o candidato que não tiver um
perfil em pelo menos uma rede social perde muito.
Cada eleição formula uma questão e o resultado que
vem das urnas é a resposta a essa questão. O que cada candidato deve fazer é
tomar posse dela, não permitindo que seus adversários façam o mesmo. Essa posse
tem que ser feita de tal forma que os eleitores se convençam que só aquele
determinado candidato é que pode responder o segredo da eleição. A resposta do
eleitor é eleger o candidato que resolveu o dilema.
O que faz um candidato resolver o dilema, ou seja,
ser eleito é a capacidade que ele tem de perceber qual é a questão do momento
e, claro, de apresentar a resposta que seja convincente aos olhos dos eleitores.
E essa é uma tarefa das mais difíceis. Bill Clinton
foi eleito presidente dos EUA, em 1992, graças à percepção que seu chefe de
campanha, James Carville, teve quando pronunciou a famosa frase: “é a economia,
estúpido!”. O que Carville queria dizer é que
a questão daquele momento era se os empregos estavam assegurados para que se
continuasse a gerar prosperidade. Carville matou a charada e Bill Clinton
ganhou a eleição.
Resolver o dilema da eleição é um problema de
natureza intelectual e estratégico. A que se ter conhecimento e bastante
experiência política para se detectar qual é a agenda de cada eleição. Descoberta
qual é a agenda, é preciso impô-la aos adversários. Esta é uma tarefa das mais
difíceis, pois em maior ou menor grau, todos estão tentando o mesmo. Na eleição para governador em 2010 vimos bem
isso.
José Maranhão tentou o tempo todo impor sua agenda
de campanha para Ricardo Coutinho, não obteve êxito e Ricardo foi eleito
explorando os erros estratégicos que Maranhão cometia. José Serra perdeu duas
eleições presidenciais porque não percebia qual era o dilema delas. Em 2002 ele
surfava na onda do continuísmo, mas a maré era de mudança. Em 2010 ele surfou
na onda da mudança, mas a maré era de continuidade.
Mas, não basta impor uma agenda. É preciso acertar
o alvo. É o eleitor quem tem que aceitar que a agenda proposta é a do momento.
Tem candidatos com projetos políticos perfeitos, ideais, que não encantam por
não deterem a questão do momento.
Enfim, cada eleição tem sua questão central em
torno da qual os candidatos são comparados aos olhos do eleitor. Se você, caro
candidato, não consegue percebê-la, lamento, a derrota inevitavelmente virá.
O fato é que a questão do momento deve ser imposta
pelo cidadão. É eleito quem consegue detectar que questão é essa e traduzi-la
na forma de propostas concretas, não em promessas que só cabem no fantástico
mundo de Bob.