quinta-feira, 21 de junho de 2012

EU QUERO SER ELEITO!


Na eleição de 2008 eu recebi, em Recife, um panfleto que prometia me preparar para ser candidato a vereador em um curso com duração de seis horas. Bastaria ligar para um número de telefone que aparecia no panfleto, agendar uma breve entrevista, efetuar o pagamento e já ir para o curso.



Não dei crédito para o panfleto, claro, mas resolvi guardá-lo não me perguntem por quê. Outro dia, folheando minha agenda de 2008 encontrei o tal panfleto. Busquei na internet e descobri que existe um verdadeiro mercado com todo tipo de material e cursos para quem quer ser candidato a um cargo eletivo.



Existe o “kit campanha”. É uma cesta de produtos que oferece aos candidatos, a preços módicos, um resumo do que as grandes campanhas têm a preços exorbitantes. Acostumadas a atuar no atacado, as consultorias resolveram, usando a experiência das grandes campanhas, oferecer produtos no varejo. Numa agência de marketing eleitoral ou pela internet, um candidato pode adquirir um pacote com consultoria individual e o “enxoval de campanha” completo.



A campanha para vereador sai por R$ 36.800,00 e a de prefeito fica por R$ 43.500,00. Se o candidato negociar os serviços em separado os preços caem. Inclusive, se aceita pagamento parcelado em cartão de crédito. Li uma entrevista com um diretor do núcleo de marketing político de uma dessas empresas de consultoria. Ele confirma o que já se sabe. Diz ter descoberto um nicho de mercado que é vender material para candidatos que não têm condição de contratar uma equipe de marketing permanente.



Existe, por exemplo, o chamado pacote “essencial” feito para prefeitos. Ele promete uma campanha vitoriosa. Aliás, duvido que se prometa algo diferente. Ele vem com material gráfico, jingle, programa de rádio, sessão de fotos, encontros com consultores para treinamentos de mídia e assessoria de imagem. E ainda oferece sessões de relaxamento.



Vi outra oferta na internet, mais em conta. Um consultor político vende, por R$ 200, um kit com livro e DVD intitulado “quero ser eleito”. No site aparece o seguinte texto promocional: “o programa que está revolucionando e democratizando as campanhas eleitorais em todo país”. A 2ª edição do kit já vendeu 14 mil cópias desde o início de 2011.



Eu não sei que revolução é essa, pois eles não ensinam nada muito diferente do que já vem se praticando por aí. A diferença é que o material vem dentro de uma caixa. Do que sei sobre o sistema político democrático e sobre a teoria democrática desconfio que um livro e um DVD consigam democratizar o processo eleitoral brasileiro com todos os seus problemas e distorções.



Um candidato ligado ao mundo digital pode comprar um pacote de campanha na internet. Por R$ 5.000,00 terá criação e hospedagem de website, administração de perfis e monitoramento em redes sociais. Mas se for um candidato tradicional pode, por R$ 6.000,00, adquirir serviços gráficos, propaganda para radio, TV e carro de som. Com mais R$ 10.000,00 ele adquire uma consultoria de imagem pessoal.



Se o candidato quer ver como anda seu desempenho eleitoral pode contratar uma pesquisa qualitativa e de intenção de votos por R$ 8.000,00. Claro, a análise da pesquisa vem no pacote. Se você não sabe redigir um discurso, não tem problema. Por R$ 150,00 leva um, basta informar o tema. Com mais R$ 200,00 leva um pacote com projetos de lei para ter o que apresentar a titulo de propostas de campanha.



Tudo seria muito interessante se não fosse por um pequeno detalhe. Esses “kits de campanha” não vêm com o essencial – o voto do eleitor. Aquele instrumento pelo qual o cidadão escolhe seu representante.