Arquimedes
eu estou fazendo 43 anos. Ou seja, não sou mais um jovem imprudente e nem estou
ganhando lenços e meias. Eu me sinto bem. Cabelos brancos não me inquietam e o
colesterol está controlado.
Tenho esposa e filhos que me
amam, um pouquinho de experiência e já pude fazer algumas coisas boas. Uma
coisa que gosto é ter nascido no ano de 1969. Por isso, farei uma seleção de
fatos acontecidos em 1969 que queria ter assistido de perto. Mas, por favor,
não se preocupem se eles são bons ou ruins, pois o mundo real é diferente do
mundo ideal.
Em 1969 os faroestes “MEU ÓDIO
SERÁ SUA HERANÇA” e “BUTCH CASSIDY & SUNDANCE KID”, com Paul Newman e Robert
Redford, chegavam aos cinemas. Violência pura, mas com classe.
Meus heróis, THE BEATLES, fizeram
“ABBEY ROAD” - arte em forma de disco. Eu nasci embalado por Something,
Come Together, Here Come The Sun, Golden Slumbers, etc. Os Beatles se apresentaram pela última vez no
telhado da Apple Records, em Londres. A polícia veio e acabou o show, eles
riram e John Lennon disse: “o sonho acabou – the drimer is over”. Lennon disse
que era só mais uma banda de rock que acabava. Certo, era “apenas” uma banda de
rock, mas que banda! Azar meu, cheguei quando eles iam embora.
Em 1969 tinha PINK
FLOYD, a experimentação levada às últimas consequências. Tinha LED ZEPPELIN com guitarras pesadas e
distorções. Tinha CAETANO VELOSO, ainda abaixo do bem e do mal, com seu “Álbum
Branco”. Tinha MUTANTES e GAL COSTA com seu 1º disco.
Brian Jones, dos ROLLING STONES,
apareceu morto numa piscina. Fiéis ao lema “pedras
rolantes não criam musgo”, os Stones lhe dedicaram o show do Hyde Park, em Londres,
três dias após a tragédia.
CHICO BUARQUE lançou um disco e
foi divulgá-lo na Itália. Lá mesmo ficou, pois a obtusidade militar não o
pouparia. Caetano e GILBERTO GIL foram presos, humilhados e exilados, mas Gil
deixou “aquele abraço”.
O IV
FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO e o V FESTIVAL DA MPB aconteceram, polêmicos
como queria a época e ricos em talentos, apesar de “Dom & Ravel” – os Chitãozinho
e Xororó da época, só que pior e a serviço da ditadura.
Em 1969 o “PASQUIM”, irreverente
e debochado, vendeu 200 mil cópias com LEILA DINIZ na capa. VINÍCIUS DE MORAES
tomava seu cachorro engarrafado e compunha, com TOM JOBIM, belas canções.
E teve o festival de WOODSTOCK
regado a sexo, drogas & ROCK AND ROLL. Imagine ver, ao vivo, JOE COCKER
cantando “A Little Help From My Friends”, com aquele vozeirão de bluzeiro do
meio-oeste americano?
Em 1969 surgiram o CONCORDE e BOEING
747, a ARPANET (embrião da internet). E se isolou um gene. Mas, nada como ver NEIL
ARMSTRONG pisar em solo lunar. De quebra, foi à 1ª transmissão de TV via
satélite para o mundo. Contou-me minha mãe que assistiu aquilo tudo surpresa e
emocionada, enquanto eu resumia 1969 ao precioso líquido que jorrava do peito
dela.
Teve
a estreia do Jornal Nacional, com Cid Moreira, já de cabelos brancos. Jackie Stewart
foi campeão na fórmula 1 e Pelé fez seu milésimo gol. CAMPINENSE CLUBE e FLAMENGO
não ganharam nada – resguardavam-se para me alegrarem no futuro.
Nos EUA, Charles Manson comandava
o assassinato da atriz Sharon Tate e o fato foi usado para se desviar a atenção
do povo americano para as atrocidades que o exército norte-americano cometia no
VIETNÃ.
Nixon entrou na casa branca,
250.000 pessoas marcharam em Washington pedindo paz, Kadhafi tomou o poder com
um golpe e Yasser Arafat tornou-se líder da OLP.
Guerrilheiros sequestraram o
embaixador Charles Elbrick dos EUA. Mas a ditadura deu o troco e fuzilou MARIGHELLA
no final de 1969. Lamarca desertou do quartel onde servia, foi a luta armada,
fez uma cirurgia plástica e namorou a musa da revolução, Iara Iavelberg. Tudo
em 69, não dava para perder tempo.
Costa e Silva decretou a 7ª Constituição
brasileira e teve uma trombose. Uma junta de três militares assumiu e logo foi
chamada de “os 3 patetas”. Em 1969 já fazíamos graça de nossas desgraças.
Para moldar a geração que viria
(a minha) o decreto-lei nº 869 pôs “Educação Moral e Cívica” no sistema educacional.
E Paulo Maluf assumiu a prefeitura de São Paulo, iniciando uma eficiente
carreira de predador do estado.
Escrevendo, eu me lembrei do
filme “A INCRÍVEL HISTÓRIA DE BENJAMIM
BUTTON”, aquele que nasce velho e morre bebê. Pensei que poderia ter nascido
em 1926 com 80 anos. Assim eu teria 43 anos em 1969 e veria os fatos que aqui
descrevi. Mas, como Benjamim Button, hoje eu teria dois meses de vida. É melhor
deixar como esta.
Daisy é a paixão de Benjamim
Button. No filme, enquanto ele rejuvenesce, ela envelhece, mas o amor deles
resiste ao tempo. Eu também tenho uma Daisy que com seu amor, ternura e alegria
oxigena minha vida, impedindo que eu mesmo envelheça.