Eu
vou parodiar Chico Buarque que numa das músicas da Opera do Malandro disse que
foi “a Lapa e perdeu a viagem, pois
aquela tal malandragem não existe mais”. Eu fui ao Parque do Povo, no final
de semana, e perdi a viagem, pois aquele tal SÃO JOÃO não existe mais. A triste
constatação é que não temos mais uma festa popular.
O
que eu vi foi um lugar aonde as pessoas vão para se divertir sem que necessariamente
relacionem isso com o SÃO JOÃO e a cultura popular. Aliás, não é fácil perceber
que o SÃO JOÃO começou. Passou-se a primeira semana de nossa festa maior e,
pela cidade, tenho dificuldades em ver sinais de uma festa junina. Andei pelo
centro de Campina Grande. Quase não se vê os símbolos do SÃO JOÃO. A festa
começou, mas é como se a cidade não tivesse se preparado para ela.
Onde estam as bandeirolas, os
balões e as fogueiras cenográficas? Afora a decoração feita por particulares, a
prefeitura não promoveu, ainda, uma decoração sistemática da cidade. As duas
principais entradas de Campina Grande não avisam ao viajante que ele está
entrando na cidade do maior SÃO JOÃO do mundo. Eu sei que muitos não vão gostar
da comparação. Mas a principal entrada de Caruaru foi dotada de um portal
permanente para que se saiba que ali se respira SÃO JOÃO.
Em Campina Grande um viajante
desavisado pode vir a entrar e sair da cidade sem perceber ou mesmo saber que
já estamos em período junino. O próprio Parque do Povo foi perdendo sua
identidade. Vão longe os tempos em que, no FORRÓDROMO, se montava um grande
arraial com barracas e comidas típicas. A mãe de todas as ironias é que não se
encontra uma boa pamonha ou uma boa canjica no Parque do Povo, pois ele foi
higienizado. De lá se retirou os símbolos maiores da festa da colheita do
milho.
Outra ironia é que São João,
Santo Antônio e São Pedro foram confinados na parte interna da pirâmide. É como
se os organizadores da festa tivessem vergonha deles. Hoje, a estrutura montada
mais parece com uma grande feira de negócios. Aquilo que chamávamos de barracas
juninas parecem stands de venda. Aliás, a decoração que se vê no Parque do Povo,
no Açude Velho e no contorno da entrada principal de Campina são balões com as
logomarcas dos patrocinadores da festa. Certo. Que se coloquem os
patrocinadores. Mas, e os santos e a decoração junina, porque são praticamente inexistem?
Afinal, o que se quer esconder?
A maioria das “barracas juninas”
são, na verdade, filiais de restaurantes conhecidos da cidade. Algumas são mais
luxuosas do que suas matrizes. O Sítio São João foi banido do Parque do Povo!
Se antes o turista podia ver e aprender as coisas típicas de nossa cultural
junina, sem sair do quartel general do forró. Agora ele se desloca até um local,
onde o Sítio São João sobrevive desestruturado. É que querelas políticas
exilaram o SITIO SÃO JOÃO do seu local natural.
A
impressão que tenho é que os organizadores do SÃO JOÃO não gostam da festa e
que só a promovem por uma mera obrigação. Parece haver um propósito na
descaracterização - é como se quisessem fazer outra coisa, não uma festa de SÃO
JOÃO. A prefeitura de Campina Grande não
parece se preparar para o SÃO JOÃO. Afinal, porque quando a festa começa a
cidade ainda não está decorada?