No início da semana eu tratei das pesquisas eleitorais e de como os
atores políticos racionalizam e justificam seus resultados. Os candidatos que aparecem mal avaliados em pesquisas costumam ter uma
justificativa na ponta da língua. De tão repetidas elas mais se parecem
mantras.
É
comum ouvirmos que a pesquisa é a fotografia de um momento. Que ela apenas
mostra o sentimento e a opinião dos eleitores em um determinado momento. Os
candidatos que aparecem mal nas intenções de voto ou que têm altos índices de
rejeição sabem bem o que dizer, mas em geral convencem muito pouco. Os candidatos gostam de dizer que as pesquisas não
atentam para o sentimento das ruas, como se os entrevistados fossem eleitores
em Marte, não na Terra.
Muitos dizem que “ao andarem pelas ruas
recebem demonstrações de carinho e manifestações de apoio a sua candidatura e
que isso contraria as pesquisas”. Os candidatos que aparecem com um dígito nas
pesquisas gostam de dizer que a verdadeira pesquisa é das urnas e que é a opinião
expressa pelo voto que importa. E isso é verdade, claro. O que realmente
importa é a quantidade de votos que o candidato terá. Até porque pesquisa
eleitoral não elege ninguém.
Compreende-se que
candidatos usem esse tipo de discurso, pois se estam em campanha e não decolam
nas pesquisas deve haver algum problema. Isso pode ser sinal de estagnação, que
é o pior dos mundos para uma candidatura.
A questão é que, de
tanto racionalizar, têm aqueles candidatos que passam a acreditar nas suas
justificativas. Alguns aderem às teorias conspiratórias para demonstrarem
porque nunca se saem bem nas pesquisas. Nunca aceitam seus problemas internos,
preferem crer que seus adversários tramam para derrotá-lo. O caro ouvinte deve
conhecer um exemplo, pelo menos, do que estou falando. Daquele candidato que
diz que as pesquisas são falsas e que ele vai ser eleito.
E tem aqueles que gostam de tratar os
resultados desfavoráveis em pesquisas como uma maquinação dos institutos e da
imprensa contra suas candidaturas. Dizem
que o que importa é a opinião do povo nas ruas. Que existe um complô para
destruí-los já que eles têm a preferência manifesta pelo povo nas ruas. Neste
caso o povo e as ruas são entidades míticas que não se pode questionar. Quando
se fala do povo recebendo um político nas ruas parece se falar de algo
sobrenatural.
Nestas situações, o candidato
nunca dá voz ao povo. Jamais diz que na rua tal do bairro tal foi muito bem
recebido pelos moradores da maioria das casas. Os marqueteiros trabalham a
cabeça dos candidatos para que eles aprendam a falar dessa forma. Exercita-se a
capacidade de dizer tudo, sem explicar nada.
Eu falei que tem políticos que
passam a acreditar nas coisas que dizem, mesmo que elas não sejam verdadeiras.
Alguns conseguem ser tão convincentes na forma de falar que ficamos tentados a
neles acreditar. Existem políticos que de tanto repetirem a mesma coisa passam
a tratá-la como uma verdade acima do bem e do mal. Parecem perder a noção do
certo e do errado.