Certa tradição da política
brasileira, quem nem sempre é respeitada, diz que os primeiros 100 dias de um novo
governo devem ser de trégua e paz entre a situação e a oposição. Um corrente
discurso diz que é preciso deixar o novo gestor tomar pé da situação. Já vi
muitos governantes pedirem uma trégua nos 100 primeiros dias. Fernando Haddad,
prefeito de São Paulo, pediu aos partidos e atores políticos, a imprensa e a
própria sociedade que tivessem paciência enquanto ele dava forma a sua gestão.
O fato é que se convencionou o
prazo de três meses para que o novo gestor faça tudo que não lhe foi permitido
no período de transição do poder. De fato, 100 dias é um prazo razoável para
que o novo administrador tome posse de seus domínios. Para muitos, esses 100
dias de trégua servem como justificativa ou racionalização para o que se deixa
de fazer e para o que se faz de errado. Mas, a tradição é implacável. Passados
100 dias brancos, terminada a trégua, vem à pressão e a cobrança.
Nos três primeiros meses é na
cota da gestão passada onde são depositadas todas as culpas. Nos 100 primeiros
dias o novo gestor pode dizer que não deve ser responsabilizado por nada, pois
tem que lidar com a herança maldita da gestão passada. Mas, agora não tem mais
jeito. Acabou-se a lua-de-mel entre o governante e a sociedade. Agora o que se
espera é que o prefeito governe, que resolva os problemas e que cumpra com as
promessas. Pois, afinal de contas, ele foi eleito para isso.
Os tais problemas herdados da
gestão anterior são, agora, os problemas da gestão atual e precisam, devem, ser
resolvidos. Assim como os méritos e avanços na atual administração são conquistas
do atual governo. Não adianta o ex-prefeito, ou mesmo os que fizeram parte de
sua gestão, ficarem pelas redes sociais aludindo esta ou aquela conquista como
sendo fruto da gestão anterior. Definitivamente, isso não convence o cidadão/eleitor.
Neste momento o cidadão comum não quer mais saber quem deixou e quem tirou o
lixo das ruas. Também não se interessa em saber quem tapou os buracos. O que se
quer é o lixo recolhido e os buracos tapados. Ponto final.
Vejam que Fernando Haddad acabou
com a taxa da inspeção veicular, que era uma promessa de campanha. Mas, poucos
querem saber disso. O que importa é que a taxa deixou de ser cobrada e de
onerar o bolso do cidadão paulistano. Haddad assumiu e teve que lidar com os problemas e transtornos causados
pelas chuvas e pelas enchentes. Todos sabem que ele não pode ser
responsabilizado por isso. Mas, e daí? Quem quer saber disso? O que se quer é
ver os problemas resolvidos.
Aqui em Campina
Grande não foi diferente. Nos primeiros dias se tratava de por a casa em ordem.
Esse era o discurso não só do prefeito Romero Rodrigues como de seu
secretariado. Claro, eles não tinham mesmo outra coisa a fazer. Mas, vejam que
a sociedade campinense esperava que o novo prefeito organizasse um mutirão para
que se recolhesse o lixo espalhado pela cidade e que fora deixado pela gestão
anterior. A lógica é um tanto quanto cruel, mas funciona assim.
O prefeito Romero
providenciou com celeridade o recolhimento do lixo. O que se disse foi que ele não
fez mais do que a obrigação. Mas, se lixo não tivesse sido recolhido um
turbilhão de criticas seriam feitas ao novo prefeito que acabara de tomar
posse. Os 100 primeiros dias serviram para que o prefeito pudesse, mediante a
trégua concedida, compor sua base aliada na Câmara Municipal. Romero fez isso
muito bem. Vejam que algo em torno de 17 vereadores lhe emprestaram apoio neste
momento.
Nestes três primeiros meses se viu ações que mostram o calibre do
governante. Foi o caso da prefeitura ter assumido a direção de um hospital que
estava em estado falimentar, evitando que um equipamento social deixasse de
servir a população. Mas, nada pode ser mais complexo do que administrar uma
cidade como Campina Grande. Vejam que o SINTAB não quis saber de trégua e
partiu para uma greve dos professores da rede municipal.
Independente disso, o fato é que os 100 dias acabaram e as bandeiras brancas
estam sendo recolhidas. Agora, é o momento do secretariado do prefeito Romero
Rodrigues vir à luz do sol para apresentar seus planos de ação para toda a
gestão. A sociedade já sabe o que aconteceu e bem sabe dos problemas
deixados pela gestão anterior. Mas não me parece que se queira ficar falando
disso, do contrário a chapa de oposição de Romero Rodrigues não teria sido
eleita. Desculpem-me, mas terei que usar o velho chavão:
agora, é hora de olhar para frente. Assim se passaram 100 dias e as coisas
começam a entrar num eixo. O que se quer saber, agora, é o que vai acontecer
nos próximos 100, 200, 300, 400, 500 dias.
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