O pastor e deputado federal Marco
Feliciano é um incansável quando se trata de dar declarações polêmicas. Ele é
daqueles que não consegue se calar, ou mesmo medir as palavras, diante de
situações em que é confrontado ou questionado. Marco Feliciano pertence ao
Partido Social Cristão que abriga grande quantidade de pastores evangélicos que
buscam, na política, viabilizar interesses religiosos. O PSC havia migrado para
a base de apoio do governo federal.
Em
reconhecimento ao gesto, e atendendo aos pedidos do pastor/ministro Marcelo
Crivella, a presidente Dilma Rousseff articulou a indicação de Marco Feliciano
para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados. Alguns ouvintes, que acompanham diariamente o POLITICANDO, me perguntaram
por que tanta confusão para presidir uma comissão que nem é tão importante
assim se comparada, por exemplo, a Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania.
É que é na Comissão de Direitos
Humanos e Minorias que temas importantes para as religiões cristãs, e a própria
sociedade, são tratados a exemplo da criminalização da homofobia, da regulamentação
da prostituição e dos direitos civis para casais do mesmo sexo. Essa confusão
se deu porque o governo federal não mede esforços quando se trata de aumentar
sua base aliada. Desculpem-me o trocadilho, mas não importa se a raposa vai
tomar conta do galinheiro, importa é ter maioria na Câmara dos Deputados.
A bancada evangélica na Câmara
Federal se uniu em torno do propósito de comandar uma Comissão que, por
definição, atende a muitos de seus interesses. Marco Feliciano foi ungido ao
cargo por ser o mais obscuro e midiático dos pastores/deputados. É bom não
esquecer que esta Comissão esteve sempre nas mãos dos partidos de esquerda
desde que foi criada em 1998. O PC do B a comandou uma vez, o PDT esteve a sua
frente três vezes e o PT a presidiu por dez vezes consecutivas.
Percebam a gravidade da situação.
Dilma tirou a presidência da Comissão que trata dos crimes de tortura e morte,
cometidos na ditadura militar, das mãos da esquerda e a entregou para aqueles
que acham que essas coisas não devem ser discutidas. Fosse Marco Feliciano mais
discreto em seus posicionamentos nada disso estaria acontecendo. O fato é que
ele é um histórico ativista em defesa de causas racistas e homofóbicas, além de
ser contra a afirmação dos direitos civis das chamadas minorias.
Se Feliciano não tivesse dito que
os negros são “descendentes amaldiçoados de Noé” e que a “podridão dos
sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio e ao crime”, a Comissão funcionaria
normalmente e ele a estaria presidindo com suas ideias medievais. Mas,
Feliciano não se contém. Mesmo com os protestos contra sua permanência na
presidência da Comissão e com as articulações políticas para tirá-lo do cargo,
ele pronunciou mais uma de suas frases obscuras. Chegando para participar de um
culto evangélico em Passos, sul de Minas Gerais, Feliciano afirmou que a
Comissão de Direitos Humanos era “dominada por Satanás antes de sua chegada ao
posto”. Pronto, mais protestos. Mais confusões.
Das duas uma. Ou
Feliciano sofre de uma doença mórbida que o força a ser sempre sincero. Ou ele
é acometido de um tipo raro de flatulência verbal que o faz tornar público
aquilo que só deveria ser dito em recintos fechados e para poucas pessoas. Na
verdade, Feliciano não passa de um ator que representa bem a farsa que lhe
deram. Ele é o bufão, o bobo da corte, que ao encenar esse papel grotesco e
obscuro serve a vários propósitos. Aliás, alguém está perdendo com toda essa
confusão?
Renan Calheiros
esbanja um sorriso vitorioso cada vez que Feliciano e seus adversários se
engalfinham pelos corredores da Câmara dos Deputados. Ninguém mais pede a sua
renúncia. Todos esqueceram que Renan, e Satanás, continuam onde sempre estiveram.
Os pastores/políticos evangélicos ganham com esse embate, pois conseguiram se
mostrar unidos numa ação coordenada para alcançar um objetivo específico. Eles
falavam em nome de suas Igrejas, agora falam em nome de uma força única.
Vejam que os evangélicos tem todo interesse em, por exemplo, que a
Comissão de Direitos Humanos não criminalize a homofobia. Até porque, se isso
acontecer, vai ser preciso criar um presídio para abrigar todos os que
manifestam suas fobias sociais. Ganham os manifestantes que se dizem a favor
dos direitos humanos, pois estam tendo seus 15 minutos de glória midiática.
Claro, eles são tão autoritários quanto os pastores do PSC. Vejam a forma
violenta como agem. Na verdade, quem perde com tudo isso são os que recusam esse
obscurantismo antidemocrático. Quem perde são os que sabem que Marco Feliciano
não é a exceção e sim a regra neste país medievalizado.
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