domingo, 14 de abril de 2013

Uma comemoração cheia de espinhos.





                                
Certa vez, ainda no 1º mandato de Lula na presidência da República, Chico Buarque disse que Lula não era dos piores, mas que às vezes se excedia em seus discursos improvisados. O jornalista que entrevista Chico perguntou o que faltava a Lula. Chico Buarque foi lacônio e disse: “o que falta é um assessor do vai dar merda!”. Isso mesmo. Chico queria dizer que faltava alguém, que estivesse sempre por perto, para alertar o Presidente de que o que ele estava dizendo, ou fazendo, poderia dar errado.




É comum os governantes não terem pessoas capazes de alertá-los dos perigos que rondam um gestor. São raros os que possuem o tal assessor em condição de dizer: “não faça, ou não diga isso, pois pode terminar dando um problema sério”. Esta semana Romero Rodrigues completou 100 dias a frente da prefeitura de Campina Grande e teve clara demonstração que na gestão pública as flores tendem a murchar e os espinhos a crescerem. Como é de praxe a data tinha que ser registrada.




Tudo giraria em torno de avaliar como foram esses 100 primeiros dias, relatando o que foi feito num documento de 25 páginas, onde se destacam medidas tomadas em vários setores da administração pública. Havia a ideia de se anunciar um conjunto de ações que serão implementadas a partir de agora que a lua-de-mel política entre o prefeito e a sociedade acabou e que a dura realidade do dia-a-dia de uma administração já se apresenta.




Para isso se montou um evento na Av. Canal, no local onde obras de alargamento da avenida serão feitas numa tentativa de tornar o trânsito menos tumultuado do que é hoje em dia. A ideia era fazer uma cerimônia alusiva aos 100 dias de gestão. O prefeito discursaria para prestar contas do que já foi feito e anunciar o que se fará. Mas, no meio do caminho havia uma pedra chamada SINTAB e os tais assessores que avisam quando o caldo vai entornar ou não estavam presentes ou de fato inexistem.




Ao que parece ninguém do circulo próximo do prefeito Romero lembrou que os servidores públicos, que estam em greve por reajustes salariais, poderiam se aproveitar da situação para se manifestarem. O que era para ser festa, virou um grande tumulto. Um grupo de manifestantes, munidos de um potente carro-de-som e com aqueles narizes de palhaço promoveram um grande “apitaço” durante a solenidade. Enquanto o prefeito Romero Rodrigues discursava, eles promoviam uma barulheira sem fim.




A cena era dantesca. De um lado, Romero se esgoelava para se fazer entender num discurso que era bem articulado, mas que pelas circunstâncias foi ficando inaudível, como se atesta pela gravação feita pela equipe de jornalismo da Campina FM. Do outro lado, os manifestantes alardeavam suas palavras de ordem. O objetivo era protestar e tornar públicas suas reivindicações. Mas, a perspectiva de estragar a festa era clara. O “apitaço” e os narizes de palhaço queriam, e conseguiram, irritar o prefeito.




Sob um sol inclemente, uma temperatura de mais de 35º, um barulho infernal e dezenas de carros, ônibus e motos querendo passar é claro que aquilo tudo só podia terminar em confusão. Houvesse o tal assessor e nada disso teria acontecido. O vereador e presidente do SINTAB, Napoleão Maracajá, disse que os professores querem o pagamento do piso nacional do magistério com valor proporcional a 30 horas semanais. Maracajá era a pedra que não se preocupa com as dores da vidraça.


 


Os manifestantes chegaram a chamar o prefeito de mentiroso. Eles se referiam ao fato de que Romero Rodrigues assinou um documento, na eleição, onde se comprometia a pagar o tal piso proporcional a partir de janeiro. E a temperatura política só aumentava. O prefeito alegava que a greve não é compreensível, pois ele concedeu reajuste de 10% em fevereiro e já tinha anunciado a implantação do 14º salário dos professores que conseguirem atingir metas de qualidade definidas pela Secretaria de Educação.




 A coisa chegou ao nível do imponderável quando Romero Rodrigues e o líder sindical Sizenando Leal se enfrentaram como se fossem lutadores do UFC naquele evento, antes dos combates, onde os lutadores se encaram na tentativa da intimidação. Numa fotografia, se vê o prefeito (irritadíssimo) com seu dedo indicador a poucos centímetros do nariz de Sizenando que, é bom lembrar, foi candidato na última eleição. Sizenando segura o ombro do prefeito e o encara seriamente. Vê-se a gravidade da situação pela preocupação estampada no rosto da vereadora Ivonete Ludgerio. Talvez a presença dela tenha evitado o pior, se é que algo pode ser pior do que se perder o controle dessa forma. O fato é que faltou parcimônia de ambos os lados.




Promover uma solenidade naquela situação não foi das melhores ideias que nosso prefeito já teve. Chamar o chefe da administração municipal de mentiroso e tentar impedi-lo de falar é um tipo de atitude que deve ser repensada.Na verdade, os atores políticos envolvidos na situação estavam desprovidos do assessor do qual falava Chico Buarque. Faltou alguém soprar no ouvido deles aquela questão: “não é melhor parar, pois isso ainda pode dar numa grande m...”.



Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com



Nenhum comentário: