Certa vez, ainda no 1º mandato de
Lula na presidência da República, Chico Buarque disse que Lula não era dos
piores, mas que às vezes se excedia em seus discursos improvisados. O
jornalista que entrevista Chico perguntou o que faltava a Lula. Chico Buarque
foi lacônio e disse: “o que falta é um
assessor do vai dar merda!”. Isso mesmo. Chico queria dizer que faltava
alguém, que estivesse sempre por perto, para alertar o Presidente de que o que
ele estava dizendo, ou fazendo, poderia dar errado.
É comum os governantes não terem
pessoas capazes de alertá-los dos perigos que rondam um gestor. São raros os
que possuem o tal assessor em condição de dizer: “não faça, ou não diga isso, pois pode terminar dando um problema
sério”. Esta semana Romero Rodrigues completou 100 dias a frente da
prefeitura de Campina Grande e teve clara demonstração que na gestão pública as
flores tendem a murchar e os espinhos a crescerem. Como é de praxe a data tinha
que ser registrada.
Tudo giraria em torno de avaliar
como foram esses 100 primeiros dias, relatando o que foi feito num documento de
25 páginas, onde se destacam medidas tomadas em vários setores da administração
pública. Havia a ideia de se anunciar um conjunto de ações que serão implementadas
a partir de agora que a lua-de-mel política entre o prefeito e a sociedade
acabou e que a dura realidade do dia-a-dia de uma administração já se
apresenta.
Para isso se montou um evento na
Av. Canal, no local onde obras de alargamento da avenida serão feitas numa
tentativa de tornar o trânsito menos tumultuado do que é hoje em dia. A ideia
era fazer uma cerimônia alusiva aos 100 dias de gestão. O prefeito discursaria
para prestar contas do que já foi feito e anunciar o que se fará. Mas, no meio do
caminho havia uma pedra chamada SINTAB e os tais assessores que avisam quando o
caldo vai entornar ou não estavam presentes ou de fato inexistem.
Ao que parece
ninguém do circulo próximo do prefeito Romero lembrou que os servidores
públicos, que estam em greve por reajustes salariais, poderiam se aproveitar da
situação para se manifestarem. O que era para ser festa, virou um grande
tumulto. Um grupo de manifestantes, munidos de um potente carro-de-som e com
aqueles narizes de palhaço promoveram um grande “apitaço” durante a solenidade.
Enquanto o prefeito Romero Rodrigues discursava, eles promoviam uma barulheira
sem fim.
A cena era
dantesca. De um lado, Romero se esgoelava para se fazer entender num discurso
que era bem articulado, mas que pelas circunstâncias foi ficando inaudível,
como se atesta pela gravação feita pela equipe de jornalismo da Campina FM. Do
outro lado, os manifestantes alardeavam suas palavras de ordem. O objetivo era
protestar e tornar públicas suas reivindicações. Mas, a perspectiva de estragar
a festa era clara. O “apitaço” e os narizes de palhaço queriam, e conseguiram,
irritar o prefeito.
Sob um sol inclemente, uma temperatura de mais de 35º, um barulho
infernal e dezenas de carros, ônibus e motos querendo passar é claro que aquilo
tudo só podia terminar em confusão. Houvesse o tal assessor e nada disso teria
acontecido. O vereador e presidente do SINTAB, Napoleão Maracajá, disse que os
professores querem o pagamento do piso nacional do magistério com valor
proporcional a 30 horas semanais. Maracajá era a pedra que não se preocupa com
as dores da vidraça.
Os manifestantes chegaram a chamar o prefeito de mentiroso. Eles se
referiam ao fato de que Romero Rodrigues assinou um documento, na eleição, onde
se comprometia a pagar o tal piso proporcional a partir de janeiro. E a
temperatura política só aumentava. O prefeito alegava que a greve não é
compreensível, pois ele concedeu reajuste de 10% em fevereiro e já tinha
anunciado a implantação do 14º salário dos professores que conseguirem atingir
metas de qualidade definidas pela Secretaria de Educação.
A coisa chegou ao nível do imponderável quando
Romero Rodrigues e o líder sindical Sizenando Leal se enfrentaram como se
fossem lutadores do UFC naquele evento, antes dos combates, onde os lutadores
se encaram na tentativa da intimidação. Numa fotografia, se vê o prefeito
(irritadíssimo) com seu dedo indicador a poucos centímetros do nariz de
Sizenando que, é bom lembrar, foi candidato na última eleição. Sizenando segura
o ombro do prefeito e o encara seriamente. Vê-se a gravidade da
situação pela preocupação estampada no rosto da vereadora Ivonete Ludgerio.
Talvez a presença dela tenha evitado o pior, se é que algo pode ser pior do que
se perder o controle dessa forma. O
fato é que faltou parcimônia de ambos os lados.
Promover uma solenidade naquela
situação não foi das melhores ideias que nosso prefeito já teve. Chamar o chefe
da administração municipal de mentiroso e tentar impedi-lo de falar é um tipo
de atitude que deve ser repensada.Na verdade, os atores políticos envolvidos na
situação estavam desprovidos do assessor do qual falava Chico Buarque. Faltou
alguém soprar no ouvido deles aquela questão: “não é melhor parar, pois isso ainda pode dar numa grande m...”.
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