quarta-feira, 24 de setembro de 2014

AS PROMESSAS DO FANTÁSTICO MUNDO DE BOB

O filósofo francês Auguste Chartie não gostava de pessoas com ar inteligente. Ele dizia que essa é uma promessa que não se pode cumprir. O dramaturgo, também francês, Marcel Pagnol dizia que “promessas e pessoas perdem a força quando envelhecem”. Já Napoleão Bonaparte afirmou que a melhor maneira de manter a palavra é evitando empenhá-la e que para se cumprir uma promessa é preciso não fazê-la. Apesar de que um imperador/ditador, como Napoleão, podia se dar ao luxo de nada prometer. Eu desconheço que os franceses tenham se especializado em teorizar sobre promessas e propostas. O que eu bem sei, é que os políticos paraibanos entenderam que precisam dominar, com maestria, a arte de prometer de tudo um pouco e um muito também.

Prometer é diferente de propor. A promessa é um compromisso moral e tem um sentido religioso. Num passado bem distante não havia clara diferença entre religião e política. Apesar de que, hoje, no Brasil, religião e política se misturam como feijão e arroz. É por isso que nossos candidatos, assim como os religiosos, faziam e fazem promessas, quando deveriam fazer apenas propostas. A promessa é uma coisa do mundo ideal, etéreo. Para se fazer uma promessa, basta ficar de joelhos e apelar para algum santo. Já a proposta é uma declaração para que se obtenha uma concessão ou para que se realize um projeto. A proposta serve para tentar se estabelecer um contrato, para que se receba um voto, enfim, a proposta é algo concreto do mundo da política.

Enquanto o noivo promete que um dia se casará está tão somente operando no campo da moral, não há nada de concreto numa promessa. Mas, quando ele propõe a sua noiva registrar a união em cartório, se passa para o campo material, institucional. Assim, caro ouvinte, não espere pelas promessas dos candidatos. Exija deles projetos e proposta e rejeite as ideias mirabolantes que só existem no “fantástico mundo de Bob”, aquele personagem do desenho animado. Cuidado com os candidatos que dizem que não são políticos, que não gostam da política, que são administradores. Desconfie disso. Como pode um político não gostar da política? É a mesma coisa de um jogador não gostar de assistir jogos de futebol.

Os candidatos falam em administrar, mas desconhecem regras básicas da administração. Parecem não saber o que é planejamento estratégico. Eles não sabem o que é fazer um diagnóstico dos problemas para definirem que ações podem propor. Vejam a proposta de implantar o Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, em Campina Grande e João Pessoa. Foi diagnosticado que essa é a melhor forma de resolver os problemas do transporte público dessas cidades? Se foi, que se apresente o projeto. O fato é que virou moda prometer que se vai construir o VLT, como forma de resolver todos os problemas da tal “mobilidade urbana” que, por sinal, a maioria dos candidatos aos cargos do executivo e do legislativo desconhece o que vem a ser.



Os candidatos ignoram o que os administradores chamam de os 5W e os 2H. São 
ferramentas utilizadas para se fazer planejamento estratégico de ações públicas ou privadas. Os governantes que realmente administram sabem do que estou falando. Vindos do inglês, os 5W são: WHAT (O que deve ser feito?); WHO (Quem deve fazer?); WHY (Que benefício traz?); WHERE (Onde será feito?); WHEN (Quando deve ser feito?). Já os 2H, são: HOW (Como será feito?); e HOW MUCH (Quando custa para ser feito?). Nas eleições municipais de 2012, cinco dos sete candidatos a prefeito de Campina Grande prometiam que, se eleitos, construiriam um Centro Administrativo na cidade. Eles apenas respondiam a 1ª pergunta (o que fazer?), já as outras perguntas ficam no ar.

A perguntinha mágica (How much? Quanto custa?) não era feita, muito menos respondida. Experimente perguntar a um candidato de onde virão os recursos para se implementar a promessa dourada que ele repete sem parar durante a campanha. A resposta padrão é: “eu vou saber buscar os recursos, pois tenho experiência para isso”. Mas, vai buscar onde? Com quem? Quando? E, claro, quanto é que vai buscar? Os políticos gostam de acreditar que suas promessas são uma demanda da população. Daí, eles prometem sem pensar nas consequências, até porque não se dão ao trabalho de perguntar aos eleitores o que eles querem. Seria bom saber se o cidadão prefere um VLT, andando por fora da cidade, ou um ônibus operando de forma eficiente.

A maioria esmagadora das promessas feitas no Guia Eleitoral não passariam pelo rígido crivo dos 5W e dos 2H. Deve ser por isso mesmo que os governantes e os candidatos preferem seguir ignorando a existência dessas ferramentas. As propostas são feitas apenas para rechear um programa político. As promessas servem para florear o discurso do candidato, que não pode ficar de 4 a 5 meses repetindo chavões. As promessas servem para criar expectativas positivas.  Prometer é fácil. Já propor é mais complicado, pois cria vínculos e responsabilidades do representante para com o representado. Assim, toda vez que seu candidato começar a prometer não lhe dê ouvidos e peça para ele fazer propostas claras, objetivas e viáveis.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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