Ontem, eu mostrei que
a maioria dos eleitores, tidos como de direita, dizem preferir votar em Marina
Silva e que a maioria, dos que são de esquerda, se mostram interessados em
votar em Dilma Rousseff. Eu mostrei, também, que isso não torna Marina uma
empedernida direitista e nem faz de Dilma uma fiel seguidora dos ideais de
esquerda. É quem num país como o nosso ser de esquerda ou de direita é, em
muitas situações, tão somente uma postura de ocasião. Já dizia Lula que ideologia
é uma coisa da juventude inconsequente e que na medida em que a pessoa vai
ficando mais velha, e mais sábia, vai aprendendo a deixar de lado essas coisas
que não levam a nada. O caro ouvinte duvida que Lula tenha dito isso?
Eu confesso que duvidei que ele tivesse sido capaz de dizer tamanha
estultice. Mas, ele disse. E não foi numa reunião fechada com meia-dúzia de
companheiros. Essa pérola do pensamento “lulista” foi dita num comício, em São
Paulo, nas eleições de 2005. Mas, o próprio Lula se desmentiu. Já reeleito
presidente, Lula saiu-se com outra grande frase de seu repertório de
improvisos. Ele disse que quando se é jovem, é normal ser de esquerda. Mas,
quando se vai ficando mais velho, aí é normal ir se tornando de direita. Norberto
Bobbio, um respeitado pensador italiano da política contemporânea, já dizia que
direita e esquerda se tornaram categorias universais da política e que fazem
parte das noções que informam o funcionamento de nossas sociedades.
No mundo bicolor dos tempos da Guerra Fria tudo era mais fácil. O
cidadão seria de direita se fosse a favor dos EUA, do capitalismo e da
liberdade. E ele seria de esquerda se fosse a favor da União Soviética, do
socialismo e da igualdade. Com o fim da Guerra Fria, e dessa bipolarização
maniqueísta, as coisas ficaram bem mais complexas. Igualdade e liberdade
puderam ser aceitas como coisas que possuem valor universal, para acima e além
de alguns interesses políticos. Norberto Bobbio se considerava emotivamente de
esquerda e se identificava com a defesa dos direitos do cidadão. Ele dizia que
uma esquerda digna desse nome tem, por obrigação, que resistir a tentativa
liberal de desmantelar os aparatos do Estado social.

Em geral, é de esquerda quem é a favor da liberalização da maconha
e contra o porte de armas. E é de direita quem justamente é contra a
liberalização e a favor do porte de armas. Eu disse, em geral, mas existem as
subdivisões. Na economia, a esquerda defende que o governo deve ser o maior
investidor, para promover desenvolvimento, e que quanto mais ele beneficiar a
população mais bem estar se gera. A esquerda ainda acredita que o
intervencionismo estatal pode ser bom. Para a direita é a livre iniciativa que leva
ao desenvolvimento, através de seus investimentos particulares. A direita
acredita que é melhor pagar menos impostos e contratar, junto a empresas
particulares, os serviços de educação e saúde, por exemplo.
A direita acredita que os adolescentes que cometem crimes devem ser
punidos como se fossem adultos. Já a esquerda defende que os adolescentes
infratores devem passar por um processo de reeducação dirigido pelo próprio
Estado. Em relação ao sindicalismo, a esquerda segue defendendo sua importância
como um instrumento de defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores. Já
para a direita, o sindicalismo é tão somente uma forma de projetar pessoas para
a política partidária. A esquerda brasileira é bastante apegada as suas
tradições, pois vejam que ela continua defendendo que as principais causas da
pobreza e da criminalidade são as desigualdades sociais e a falta de
oportunidades para todos os brasileiros.

AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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