Quando do anuncio da aliança entre o governador Eduardo Campos
e a ex-senadora Marina Silva eu recomendei boas doses de cautela para os mais
afoitos, pois em se tratando de política eleitoral as aparências não só enganam
como desenganam. Alguns saudavam a união entre Eduardo e Marina como o fato que
mudaria o cenário eleitoral. Outros diziam que a reeleição de Dilma estava
ameaçada. E tinha os iludidos de sempre que se apegam as novidades sem fazer
uma leitura detida da realidade. Eu vi a movimentação do PSB com a REDE
Sustentabilidade tão somente como o que ela era, i.e., como uma aproximação
entre forças políticas visando um embate eleitoral. Agora, vamos ver como essa
questão é retratada pela radiografia do momento.
Chegou, então, a hora de analisar a primeira pesquisa,
sobre a eleição presidencial/2014, feita após o anuncio da aliança entre Marina
Silva e Eduardo Campos. Os dados podem nos mostrar se essa aliança tem o
potencial que promete. Talvez eles revelem se a reeleição de Dilma é algo
realmente viável. E ainda tem algumas questões acerca do comportamento da
oposição no processo, mas especificamente sobre o PSDB e suas indefinições
sobre que ator ganhará o papel do “anti-Dilma”. Sempre lembrando, claro, que
estou apenas analisando este momento. Aliás, eu vou sugerir ao caro ouvinte que
nunca, jamais, tome o momento político-eleitoral que estiver analisando como a
demonstração do resultado final.
A pesquisa, feita pelo Ibope, foi encomendada
pela Rede Globo e pelo Estado de S. Paulo. Daí, tenho mais uma sugestão a
fazer. Dê as pesquisas o benefício da dúvida não só por causa de quem as
encomenda, mas por que elas têm lá suas vulnerabilidades. A pesquisa, divulgada
ontem, alegrou os petistas. É que ela traz dados que demostram uma real
possibilidade da presidente Dilma se reeleger já no 1º turno. Eu,
particularmente, não acredito que uma eleição tão complexa se resolva
facilmente.
A pesquisa ouviu 2.002 eleitores, em 143 municípios
brasileiros, entre os dias 17 e 21 de outubro, i.e., ela começou a ser feita 12
dias depois do anuncio da aliança entre Marina e Eduardo. Tempo suficiente para
o eleitor fazer alguma análise do fato. O IBOPE desenhou três cenários e, em
pelo menos dois deles, os adversários elencados para Dilma não conseguiriam
forçar a realização de um 2º turno. A preço de hoje, a maior ameaça para o
projeto de reeleição de Dilma chama-se Marina Silva. A pesquisa atesta a força
de Marina e não traz boas notícias para Aécio Neves, pois mostra José Serra com
mais potencial para tirar votos de Dilma do que ele. Isso pode dar algum ânimo
a Serra para voltar a pleitear sua candidatura junto ao PSDB.
No 1º cenário Dilma tem 41% das intenções de voto,
contra 14% de Aécio e 10% de Eduardo. Vamos considerar, aqui, que a margem de erro
da pesquisa é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, e que Aécio
e Eduardo somam 24 pontos. Com este cenário não haveria 2º turno, pois Dilma
abre um frente de cerca 15 pontos sobre Aécio e Eduardo. Assim, se a oposição
quer ter sucesso eleitoral em 2014 terá que abrir mão ou do governador ou do
senador. O problema é: quem aceita sair do jogo? Este cenário mostra que o PT
sabia bem o que fazia quando partiu para impedir o registro da REDE
Sustentabilidade. O governo sabia (sabe ainda) que tirar Marina do páreo é um
importante passo no projeto da reeleição.
No 2º cenário, permanece Aécio, sai Eduardo e entra
Marina. Dilma fica com 39%, Marina com 21% e Aécio com 13%. Este cenário torna real
um 2º turno, pois Dilma só teria algo em torno de 5% de vantagem sob a soma dos
percentuais de Marina e Aécio. Este cenário enfraqueceria Eduardo e fortaleceria
Marina quando PSB e REDE tiverem que enfrentar o dilema de terem dois
candidatos para o mesmo cargo. Marina vai lembrar a Eduardo que ela leva algo
em torno de 11% pontos de vantagem sobre ele.
O 3º cenário é improvável na
medida em que, teoricamente pelo menos, Marina e José Serra não seriam candidatos.
Ela porque o PSB já teria definido que o candidato é Eduardo Campos e ele porque
o PSDB teria fechado questão em torno de Aécio Neves. Mas, os números servem,
dentre outras coisas, para implodir pretensões eleitorais e libertar vontades
represadas. Neste cenário, Dilma tem 39%, Marina tem 21% e Serra 16%. Somados,
Marina e Serra chegariam a 37% e forçariam um 2º turno.
Se vontades individuais não se sobrepuserem ao
projeto da oposição, que é voltar ao poder depois 12 anos de governo petista,
este cenário seria o melhor de todos para a oposição, pois leva Dilma a um 2º
turno e com empate técnico. Os cenários mostram que a união entre Marina e
Eduardo não fortaleceria a oposição no embate eleitoral com o governo, pois
Eduardo segue com o pior percentual de todos e Marina só força o 2º turno se
estiver junto com o PSDB.
A fotografia do momento mostra que a eleição
será mais complexa do que se pensa. Mostra que bater o projeto de reeleição de
Dilma requer bem mais coisa do que uma simples aliança pirotécnica entre atores
políticos tão diferentes com Marina e Eduardo.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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