O Humorista Millôr Fernandes dizia que democracia é eu mandar em
você e que ditadura é você mandar em mim. Millôr foi um mestre do humor e um
dos melhores criadores de frases que eu já vi. Mas, ele sofria dura
concorrência. Hoje, eu vou lembrar frases magistrais de alguns políticos
brasileiros. Quando eles tentam explicar o inexplicável não dá outra, só sai
pérolas do pensamento político verde-e-amarelo. Nossos políticos são grandes
frasistas.
A presidente Dilma
disse essa semana algo interessante na tentativa de explicar que o leilão da
camada pré-sal não foi uma privatização. Dilma, com aquele jeito sério e
sisudo, também não resiste a uma boa frase com pitadas de bom humor. A
presidente disse que seu governo não faz privatização e sim parcerias. Ela ainda
afirmou que quem faz e fez privatizações é o PSDB e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. Mais um pouco e ela ia lembrar das “privatarias” de José
Serra.
Adorei o eufemismo. A
presidente foi inteligente e substituiu um termo pesado, uma expressão
inconveniente para quem é candidato, por outra mais suave, mais agradável aos
ouvidos do eleitor brasileiro. Assim, saiu o pejorativo termo privatização e
entrou o termo parceira, que dá ideia de união. É como se todos estivessem
irmanados pelo bem do Brasil. Mas, não importa o termo, o Brasil vendeu mesmo parte
considerável da camada pré-sal para os chineses.
Paulo Maluf, símbolo do
comportamento antirrepublicano no Brasil, é um frasista de marca maior. Maluf é
um praticante do humor politicamente incorreto. Ele perde tudo, perde a viagem,
perde o amigo e até o eleitor, mas não perde a chance de uma boa frase. Certa
vez Maluf disse que “se você tiver uma fazenda e, na hora da colheita, tiver
que optar entre um administrador petista e uma nuvem de gafanhoto, fique com os
gafanhotos”. Fantástico. Nunca pensei que diria isso, mas eu concordo com
Maluf. É que o jeito petista de administrar o Estado brasileiro causa tantos
estragos quanto uma nuvem de gafanhotos sobre uma plantação. Vejam que a
extensão dos danos causados pelos mensaleiros petistas ainda não foi
devidamente calculado.
José Sarney disse certa vez que “Governo é como violino: você toma
com a esquerda e toca com a direita”. Essa frase é de um realismo que assusta. Os
políticos são assim. Quando candidatos o discurso é de esquerda, uma vez
eleitos, a prática é de direita. Fernando Henrique Cardoso morou muito tempo no
Chile e na França, pode estudar bastante e requintar seu estilo. Foi por isso que
ele constatou que “os brasileiros são caipiras, desconhecem o outro lado, e,
quando conhecem, encantam-se”. Na verdade, FHC estava se referindo a ele
próprio que quando conheceu o outro lado passou a pensar e a agir como o outro
lado. Nada mais caipira do que um presidente brasileiro pensando como se fosse
um presidente da França.
Quando era presidente Fernando Collor se sentia como Luis XIV, o
Rei-Sol. Certa vez, numa entrevista, afirmou (se dirigindo a jornalistas pelos
quais nutria profundo desprezo) que: “Eu faço a historia vocês escrevem a
historia”. Collor era assim mesmo. Ele se sentia o astro-rei, o protagonista da
história, o presidente que ia acabar com a inflação com um único tiro. Ele era
o cara e tinha certeza disso, tanto é que disse, em outro momento, que “eu
tenho aquilo roxo”.
E Severino Cavalcanti, o
rei do baixo clero, que confessou, quando deixou a Câmara dos deputados, que
havia empobrecido com a política. Coitado, ficou tão pobrezinho que teve que ir
assaltar os cofres da prefeitura de sua cidade. O governador do Ceará, Cid
Gomes, disse em 2011 que o "professor deve trabalhar por amor não por
dinheiro". Eis a frase autoexplicativa. O que mais dizer diante de um
cinismo sem limites desse? Mas, Cid Gomes
não fez nada de mais. Apenas deixou escapar o que a maioria dos governantes
pensam sobre os professores da rede público de ensino.
Política com
longo histórico em termos de frases é Martha Suplicy, aquela mesma do “relaxa e
goza”. Outro dia, Martha disse que “se o horário oficial é o de Brasília, por
que a gente tem que trabalhar na segunda e na sexta?”. Exato. Porque, Martha
Suplicy, você tem que trabalhar tanto? Podia só trabalhar uma vez por semana e
depois ficar só ... relaxando. Para finalizar tem um clássico da fraseologia
política brasileira. Rogério Magri, que era ministro de Collor, foi flagrado
levando seu cão de estimação a um veterinário num carro oficial e deu a
seguinte explicação: “mas, cachorro também é gente”.
Que o caro
ouvinte não pense que eu estou apenas fazendo graça. Na verdade, estou
demonstrando que por trás das gracinhas de nossos políticos estam as verdades
que eles tanto acreditam.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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